O conflito na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vai ganhar na próxima semana um novo capítulo, que promete colocar mais lenha em um briga que eclodiu desde a eleição de Josué Gomes da Silva ao cargo. Dessa vez, representantes de 86 sindicatos conseguiram marcar para as 14h da próxima segunda-feira, 12, uma assembleia geral com o objetivo de mudar o comando da entidade.
Esse movimento é um desdobramento de outro que teve início em outubro, mas cuja assembleia não foi chamada pelo presidente da federação das indústrias.
O “levante” teve por trás Paulo Skaf, que esteve à frente da Fiesp por quase 20 anos. Segundo fontes que participam da alta cúpula da entidade, as assinaturas para convocar a assembleia partiram essencialmente de sindicatos menores do Estado, com os grandes sindicatos patronais ficando de fora.
Uma fonte afirma que o atual imbróglio joga luz sobre os chamados “sindicatos de gaveta”, que têm pouca ou nenhuma representatividade, mas acabam sendo úteis para fins políticos.
Por trás do embate está uma questão politica, que continuou acesa mesmo após o fim das eleições, no inicio de novembro. Skaf, que não tinha manifestado apoio antes do primeiro turno, voltou a se manifestar publicamente antes do segundo turno, apoiando Jair Bolsonaro, candidato que foi derrotado.
Do outro lado está Josué, filho de José Alencar, que foi vice de Lula e morreu em 2011. Um dos pontos de tensão foi a decisão da entidade de divulgar um manifesto em favor da democracia, o que foi visto como um aceno favorável a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Josué, no entanto, jamais declarou seu voto. Uma fonte próxima ao presidente da entidade disse que o presidente da Fiesp errou ao divulgar o documento pró-democracia, algo que acabou abrindo uma oportunidade para seus opositores.
Presidentes de sindicatos patronais, que estão atuando em defesa do atual comando da entidade, iniciaram conversas com alguns dos sindicatos que assinaram a convocação da assembleia. No entanto, segundo uma fonte, Josué “está pela bola sete”. O movimento capitaneado por Skaf também já foi definido como “golpe na Fiesp”.
Possibilidade real
Internamente, a possibilidade de impeachment de Josué é vista como real, já que o grupo, já possui mais do que 50% do total de sindicatos filiados à entidade. Por isso, já há representantes de sindicatos vendo a atual crise como uma oportunidade de se discutir o perfil dos sindicatos associados e a representatividade de cada.
Segundo uma outra fonte, que também falou na condição de anonimato, a situação para Josué estava mais positiva. A fonte frisou que “o próprio Skaf se deu conta das consequências de um golpe”.
Josué, contudo, não está parado. Está sendo assessorado juridicamente pelo jurista Miguel Reale Jr. Um ponto que está sendo analisado mais a fundo é se a chamada da assembleia cumpriu com o prazo mínimo estabelecido pelo estatuto da federação. “A assembleia poderá iniciar uma polêmica jurídica”, diz uma fonte. Até o momento, a assembleia segue de pé, mas interlocutores não descartam que essa agenda mude antes do fim da semana.
Josué é um dos principais cotados para assumir a pasta do Mdic, que será recriado no governo Lula e, segundo aliados, poderá ser uma saída para a crise na Fiesp.
No atual pedido para a convocação da assembleia houve mais assinaturas do que na primeira tentativa. Em outubro, o requerimento entregue reuniu 78 assinaturas, de um total de 112 delegados dentro do estatuto da Fiesp. O estatuto exige 50% para a convocação de uma reunião. “A Fiesp não pode ser uma panelinha de muitos sindicatos que não representam ninguém”, disse uma fonte.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), José Ricardo Roriz Coelho, disse à reportagem que o movimento neste momento “está totalmente fora do razoável” e que “a entidade deveria estar convergente para se construir uma proposta de mais competitividade para a indústria”. Reforçou que, na sua opinião, a entidade precisa ser apartidária e manifestou seu apoio a Josué.
Procurada, a Fiesp não comentou.