Americanas: como as ‘ordens do Beto’ Sicupira definiram estratégias e a cultura da empresa


Apesar de os sócios alegarem desconhecimento sobre dívida de R$ 43 bilhões, funcionários afirmam que Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, tinha presença significativa no dia a dia da empresa

Por Talita Nascimento, Altamiro Silva Junior e Matheus Piovesana

“Ordem do Beto” era uma expressão frequente na Americanas até para questões do dia a dia que, normalmente, não competem ao conselho de administração, segundo funcionários da empresa. O ‘Beto’ da frase era Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Juntos, os três são os maiores acionistas da Americanas e sócios da varejista desde 1983.

No passado, eles eram os controladores da companhia, mas reduziram participação no último arranjo societário, anunciado em 2021. Relatos como os feitos por empregados da varejista, sob condição de anonimato, e documentos jurídicos mostram que Sicupira tinha papel ativo na gestão da empresa. Nos últimos dias, ele tem assumido a frente em negociações com bancos credores. Junto a um membro da família de Lemann, Paulo Alberto Lemann, Sicupira tem assento no Conselho de Administração da Americanas, em recuperação judicial.

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A referência às ordens de Sicupira era tão frequente, diz uma ex-executiva da companhia entrevistada na condição de anonimato, que determinados pedidos pareciam ter sido creditados ao acionista como forma de evitar questionamentos dos empregados.

Funcionários, que também preferem não se identificar, dizem que Sicupira era presença frequente na sede da empresa, no centro do Rio. “Era uma vez por mês, às vezes, uma vez a cada dois meses. Mas o Miguel (Gutierrez, presidente da Americanas) falava sempre com ele”, diz uma fonte que era próxima à diretoria da companhia. ”Era comum ouvir do Miguel: ‘Vou ver isso aqui com o Beto’ ou ‘falei com o Beto’”, diz outro ex-funcionário.

Carlos Alberto Sicupira em evento do Pão de Açúcar Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado - 10.ago.2009
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Segundo esse ex-funcionário, na época da junção da B2W e da Lojas Americanas, os encontros se intensificaram. Esse processo ocorreu durante a pandemia, o que desencadeou chamadas de vídeo recorrentes, nas quais Sicupira aparecia mais do que em reuniões presenciais. Ele, aliás, é conhecido como o nome que revitalizou a marca Americanas.

Quando estava na sede da companhia, seu contato era mais restrito à cúpula da empresa. Diretores abaixo de cada vice-presidência até faziam apresentações, mas não permaneciam na sala o tempo todo. O contato com os funcionários de mais baixa patente era quase nulo.

De maneira geral, os relatos apontam que a cúpula da companhia não tinha grande autonomia. Em reuniões com banqueiros, por exemplo, Gutierrez chegava a sair da sala para ligar para Sicupira na hora de tomar decisões. “Era um C-level (presidente executivo) mais fraco, menos autônomo do que o que se vê no setor”, disse uma fonte do segmento varejista.

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Unidade da Americanas no centro de Curitiba; varejista tem mais de 16 mil credores e dívida de R$ 43 bilhões Foto: Rodolfo Buhrer/Fotoarena

Os três acionistas de referência têm como marca a busca feroz por resultados nas empresas em seu portfólio. Uma das fontes ouvidas pela reportagem traduz essa postura como uma espécie de “cultura do medo”.

As interações com Gutierrez não eram exatamente conversas, eram imposições muitas vezes justificadas como ordens superiores. Nas palavras dos advogados do BTG, nos autos do processo que move contra a empresa, era a cultura do “sucesso a qualquer custo”.

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Documentos judiciais de bancos credores que processam a Americanas também relatam a presença marcante de Sicupira nas decisões do dia a dia do grupo e a participação ativa na gestão. Essa, aliás, é a tese dos advogados para responsabilizar não só Sicupira, como Lemann e Telles pelos problemas do grupo, que os bancos dizem abertamente ser fraude e os três alegam não ter tido conhecimento.

Em petição do Bradesco, os advogados dizem que, ao esconder por anos os erros no balanço, Sicupira e os sócios “puderam apurar artificialmente maiores lucros, e assim receber mais dividendos”. Só nos últimos 10 anos, prazo estimado dos problemas contábeis, os pagamentos de dividendos somaram R$ 1,8 bilhão, segundo processo elaborado pelo Warde, escritório contratado pelo Bradesco.

Entre banqueiros e executivos de bancos credores, a presença de Sicupira na companhia é tida como certa. Um executivo do mercado financeiro afirma que a presença do investidor no conselho da Americanas tinha destaque. Outro diz ser impossível que Sicupira não soubesse do rombo contábil, dada a sua proximidade com a administração da companhia, em especial com Gutierrez.

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Em ação do Itaú, por exemplo, ele é nominalmente citado entre as pessoas ligadas à companhia às quais o banco gostaria de ter acesso a e-mails. Na do Bradesco, a citação é genérica, mas o escopo - ex e atuais executivos e conselheiros, em um período de dez anos - envolve Sicupira. Procurados, Sicupira, Lemann e Telles não responderam a pedidos de entrevista. A Americanas não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

“Ordem do Beto” era uma expressão frequente na Americanas até para questões do dia a dia que, normalmente, não competem ao conselho de administração, segundo funcionários da empresa. O ‘Beto’ da frase era Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Juntos, os três são os maiores acionistas da Americanas e sócios da varejista desde 1983.

No passado, eles eram os controladores da companhia, mas reduziram participação no último arranjo societário, anunciado em 2021. Relatos como os feitos por empregados da varejista, sob condição de anonimato, e documentos jurídicos mostram que Sicupira tinha papel ativo na gestão da empresa. Nos últimos dias, ele tem assumido a frente em negociações com bancos credores. Junto a um membro da família de Lemann, Paulo Alberto Lemann, Sicupira tem assento no Conselho de Administração da Americanas, em recuperação judicial.

A referência às ordens de Sicupira era tão frequente, diz uma ex-executiva da companhia entrevistada na condição de anonimato, que determinados pedidos pareciam ter sido creditados ao acionista como forma de evitar questionamentos dos empregados.

Funcionários, que também preferem não se identificar, dizem que Sicupira era presença frequente na sede da empresa, no centro do Rio. “Era uma vez por mês, às vezes, uma vez a cada dois meses. Mas o Miguel (Gutierrez, presidente da Americanas) falava sempre com ele”, diz uma fonte que era próxima à diretoria da companhia. ”Era comum ouvir do Miguel: ‘Vou ver isso aqui com o Beto’ ou ‘falei com o Beto’”, diz outro ex-funcionário.

Carlos Alberto Sicupira em evento do Pão de Açúcar Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado - 10.ago.2009

Segundo esse ex-funcionário, na época da junção da B2W e da Lojas Americanas, os encontros se intensificaram. Esse processo ocorreu durante a pandemia, o que desencadeou chamadas de vídeo recorrentes, nas quais Sicupira aparecia mais do que em reuniões presenciais. Ele, aliás, é conhecido como o nome que revitalizou a marca Americanas.

Quando estava na sede da companhia, seu contato era mais restrito à cúpula da empresa. Diretores abaixo de cada vice-presidência até faziam apresentações, mas não permaneciam na sala o tempo todo. O contato com os funcionários de mais baixa patente era quase nulo.

De maneira geral, os relatos apontam que a cúpula da companhia não tinha grande autonomia. Em reuniões com banqueiros, por exemplo, Gutierrez chegava a sair da sala para ligar para Sicupira na hora de tomar decisões. “Era um C-level (presidente executivo) mais fraco, menos autônomo do que o que se vê no setor”, disse uma fonte do segmento varejista.

Unidade da Americanas no centro de Curitiba; varejista tem mais de 16 mil credores e dívida de R$ 43 bilhões Foto: Rodolfo Buhrer/Fotoarena

Os três acionistas de referência têm como marca a busca feroz por resultados nas empresas em seu portfólio. Uma das fontes ouvidas pela reportagem traduz essa postura como uma espécie de “cultura do medo”.

As interações com Gutierrez não eram exatamente conversas, eram imposições muitas vezes justificadas como ordens superiores. Nas palavras dos advogados do BTG, nos autos do processo que move contra a empresa, era a cultura do “sucesso a qualquer custo”.

Documentos judiciais de bancos credores que processam a Americanas também relatam a presença marcante de Sicupira nas decisões do dia a dia do grupo e a participação ativa na gestão. Essa, aliás, é a tese dos advogados para responsabilizar não só Sicupira, como Lemann e Telles pelos problemas do grupo, que os bancos dizem abertamente ser fraude e os três alegam não ter tido conhecimento.

Em petição do Bradesco, os advogados dizem que, ao esconder por anos os erros no balanço, Sicupira e os sócios “puderam apurar artificialmente maiores lucros, e assim receber mais dividendos”. Só nos últimos 10 anos, prazo estimado dos problemas contábeis, os pagamentos de dividendos somaram R$ 1,8 bilhão, segundo processo elaborado pelo Warde, escritório contratado pelo Bradesco.

Entre banqueiros e executivos de bancos credores, a presença de Sicupira na companhia é tida como certa. Um executivo do mercado financeiro afirma que a presença do investidor no conselho da Americanas tinha destaque. Outro diz ser impossível que Sicupira não soubesse do rombo contábil, dada a sua proximidade com a administração da companhia, em especial com Gutierrez.

Em ação do Itaú, por exemplo, ele é nominalmente citado entre as pessoas ligadas à companhia às quais o banco gostaria de ter acesso a e-mails. Na do Bradesco, a citação é genérica, mas o escopo - ex e atuais executivos e conselheiros, em um período de dez anos - envolve Sicupira. Procurados, Sicupira, Lemann e Telles não responderam a pedidos de entrevista. A Americanas não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

“Ordem do Beto” era uma expressão frequente na Americanas até para questões do dia a dia que, normalmente, não competem ao conselho de administração, segundo funcionários da empresa. O ‘Beto’ da frase era Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Juntos, os três são os maiores acionistas da Americanas e sócios da varejista desde 1983.

No passado, eles eram os controladores da companhia, mas reduziram participação no último arranjo societário, anunciado em 2021. Relatos como os feitos por empregados da varejista, sob condição de anonimato, e documentos jurídicos mostram que Sicupira tinha papel ativo na gestão da empresa. Nos últimos dias, ele tem assumido a frente em negociações com bancos credores. Junto a um membro da família de Lemann, Paulo Alberto Lemann, Sicupira tem assento no Conselho de Administração da Americanas, em recuperação judicial.

A referência às ordens de Sicupira era tão frequente, diz uma ex-executiva da companhia entrevistada na condição de anonimato, que determinados pedidos pareciam ter sido creditados ao acionista como forma de evitar questionamentos dos empregados.

Funcionários, que também preferem não se identificar, dizem que Sicupira era presença frequente na sede da empresa, no centro do Rio. “Era uma vez por mês, às vezes, uma vez a cada dois meses. Mas o Miguel (Gutierrez, presidente da Americanas) falava sempre com ele”, diz uma fonte que era próxima à diretoria da companhia. ”Era comum ouvir do Miguel: ‘Vou ver isso aqui com o Beto’ ou ‘falei com o Beto’”, diz outro ex-funcionário.

Carlos Alberto Sicupira em evento do Pão de Açúcar Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado - 10.ago.2009

Segundo esse ex-funcionário, na época da junção da B2W e da Lojas Americanas, os encontros se intensificaram. Esse processo ocorreu durante a pandemia, o que desencadeou chamadas de vídeo recorrentes, nas quais Sicupira aparecia mais do que em reuniões presenciais. Ele, aliás, é conhecido como o nome que revitalizou a marca Americanas.

Quando estava na sede da companhia, seu contato era mais restrito à cúpula da empresa. Diretores abaixo de cada vice-presidência até faziam apresentações, mas não permaneciam na sala o tempo todo. O contato com os funcionários de mais baixa patente era quase nulo.

De maneira geral, os relatos apontam que a cúpula da companhia não tinha grande autonomia. Em reuniões com banqueiros, por exemplo, Gutierrez chegava a sair da sala para ligar para Sicupira na hora de tomar decisões. “Era um C-level (presidente executivo) mais fraco, menos autônomo do que o que se vê no setor”, disse uma fonte do segmento varejista.

Unidade da Americanas no centro de Curitiba; varejista tem mais de 16 mil credores e dívida de R$ 43 bilhões Foto: Rodolfo Buhrer/Fotoarena

Os três acionistas de referência têm como marca a busca feroz por resultados nas empresas em seu portfólio. Uma das fontes ouvidas pela reportagem traduz essa postura como uma espécie de “cultura do medo”.

As interações com Gutierrez não eram exatamente conversas, eram imposições muitas vezes justificadas como ordens superiores. Nas palavras dos advogados do BTG, nos autos do processo que move contra a empresa, era a cultura do “sucesso a qualquer custo”.

Documentos judiciais de bancos credores que processam a Americanas também relatam a presença marcante de Sicupira nas decisões do dia a dia do grupo e a participação ativa na gestão. Essa, aliás, é a tese dos advogados para responsabilizar não só Sicupira, como Lemann e Telles pelos problemas do grupo, que os bancos dizem abertamente ser fraude e os três alegam não ter tido conhecimento.

Em petição do Bradesco, os advogados dizem que, ao esconder por anos os erros no balanço, Sicupira e os sócios “puderam apurar artificialmente maiores lucros, e assim receber mais dividendos”. Só nos últimos 10 anos, prazo estimado dos problemas contábeis, os pagamentos de dividendos somaram R$ 1,8 bilhão, segundo processo elaborado pelo Warde, escritório contratado pelo Bradesco.

Entre banqueiros e executivos de bancos credores, a presença de Sicupira na companhia é tida como certa. Um executivo do mercado financeiro afirma que a presença do investidor no conselho da Americanas tinha destaque. Outro diz ser impossível que Sicupira não soubesse do rombo contábil, dada a sua proximidade com a administração da companhia, em especial com Gutierrez.

Em ação do Itaú, por exemplo, ele é nominalmente citado entre as pessoas ligadas à companhia às quais o banco gostaria de ter acesso a e-mails. Na do Bradesco, a citação é genérica, mas o escopo - ex e atuais executivos e conselheiros, em um período de dez anos - envolve Sicupira. Procurados, Sicupira, Lemann e Telles não responderam a pedidos de entrevista. A Americanas não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

“Ordem do Beto” era uma expressão frequente na Americanas até para questões do dia a dia que, normalmente, não competem ao conselho de administração, segundo funcionários da empresa. O ‘Beto’ da frase era Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Juntos, os três são os maiores acionistas da Americanas e sócios da varejista desde 1983.

No passado, eles eram os controladores da companhia, mas reduziram participação no último arranjo societário, anunciado em 2021. Relatos como os feitos por empregados da varejista, sob condição de anonimato, e documentos jurídicos mostram que Sicupira tinha papel ativo na gestão da empresa. Nos últimos dias, ele tem assumido a frente em negociações com bancos credores. Junto a um membro da família de Lemann, Paulo Alberto Lemann, Sicupira tem assento no Conselho de Administração da Americanas, em recuperação judicial.

A referência às ordens de Sicupira era tão frequente, diz uma ex-executiva da companhia entrevistada na condição de anonimato, que determinados pedidos pareciam ter sido creditados ao acionista como forma de evitar questionamentos dos empregados.

Funcionários, que também preferem não se identificar, dizem que Sicupira era presença frequente na sede da empresa, no centro do Rio. “Era uma vez por mês, às vezes, uma vez a cada dois meses. Mas o Miguel (Gutierrez, presidente da Americanas) falava sempre com ele”, diz uma fonte que era próxima à diretoria da companhia. ”Era comum ouvir do Miguel: ‘Vou ver isso aqui com o Beto’ ou ‘falei com o Beto’”, diz outro ex-funcionário.

Carlos Alberto Sicupira em evento do Pão de Açúcar Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado - 10.ago.2009

Segundo esse ex-funcionário, na época da junção da B2W e da Lojas Americanas, os encontros se intensificaram. Esse processo ocorreu durante a pandemia, o que desencadeou chamadas de vídeo recorrentes, nas quais Sicupira aparecia mais do que em reuniões presenciais. Ele, aliás, é conhecido como o nome que revitalizou a marca Americanas.

Quando estava na sede da companhia, seu contato era mais restrito à cúpula da empresa. Diretores abaixo de cada vice-presidência até faziam apresentações, mas não permaneciam na sala o tempo todo. O contato com os funcionários de mais baixa patente era quase nulo.

De maneira geral, os relatos apontam que a cúpula da companhia não tinha grande autonomia. Em reuniões com banqueiros, por exemplo, Gutierrez chegava a sair da sala para ligar para Sicupira na hora de tomar decisões. “Era um C-level (presidente executivo) mais fraco, menos autônomo do que o que se vê no setor”, disse uma fonte do segmento varejista.

Unidade da Americanas no centro de Curitiba; varejista tem mais de 16 mil credores e dívida de R$ 43 bilhões Foto: Rodolfo Buhrer/Fotoarena

Os três acionistas de referência têm como marca a busca feroz por resultados nas empresas em seu portfólio. Uma das fontes ouvidas pela reportagem traduz essa postura como uma espécie de “cultura do medo”.

As interações com Gutierrez não eram exatamente conversas, eram imposições muitas vezes justificadas como ordens superiores. Nas palavras dos advogados do BTG, nos autos do processo que move contra a empresa, era a cultura do “sucesso a qualquer custo”.

Documentos judiciais de bancos credores que processam a Americanas também relatam a presença marcante de Sicupira nas decisões do dia a dia do grupo e a participação ativa na gestão. Essa, aliás, é a tese dos advogados para responsabilizar não só Sicupira, como Lemann e Telles pelos problemas do grupo, que os bancos dizem abertamente ser fraude e os três alegam não ter tido conhecimento.

Em petição do Bradesco, os advogados dizem que, ao esconder por anos os erros no balanço, Sicupira e os sócios “puderam apurar artificialmente maiores lucros, e assim receber mais dividendos”. Só nos últimos 10 anos, prazo estimado dos problemas contábeis, os pagamentos de dividendos somaram R$ 1,8 bilhão, segundo processo elaborado pelo Warde, escritório contratado pelo Bradesco.

Entre banqueiros e executivos de bancos credores, a presença de Sicupira na companhia é tida como certa. Um executivo do mercado financeiro afirma que a presença do investidor no conselho da Americanas tinha destaque. Outro diz ser impossível que Sicupira não soubesse do rombo contábil, dada a sua proximidade com a administração da companhia, em especial com Gutierrez.

Em ação do Itaú, por exemplo, ele é nominalmente citado entre as pessoas ligadas à companhia às quais o banco gostaria de ter acesso a e-mails. Na do Bradesco, a citação é genérica, mas o escopo - ex e atuais executivos e conselheiros, em um período de dez anos - envolve Sicupira. Procurados, Sicupira, Lemann e Telles não responderam a pedidos de entrevista. A Americanas não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

“Ordem do Beto” era uma expressão frequente na Americanas até para questões do dia a dia que, normalmente, não competem ao conselho de administração, segundo funcionários da empresa. O ‘Beto’ da frase era Carlos Alberto Sicupira, sócio de Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Juntos, os três são os maiores acionistas da Americanas e sócios da varejista desde 1983.

No passado, eles eram os controladores da companhia, mas reduziram participação no último arranjo societário, anunciado em 2021. Relatos como os feitos por empregados da varejista, sob condição de anonimato, e documentos jurídicos mostram que Sicupira tinha papel ativo na gestão da empresa. Nos últimos dias, ele tem assumido a frente em negociações com bancos credores. Junto a um membro da família de Lemann, Paulo Alberto Lemann, Sicupira tem assento no Conselho de Administração da Americanas, em recuperação judicial.

A referência às ordens de Sicupira era tão frequente, diz uma ex-executiva da companhia entrevistada na condição de anonimato, que determinados pedidos pareciam ter sido creditados ao acionista como forma de evitar questionamentos dos empregados.

Funcionários, que também preferem não se identificar, dizem que Sicupira era presença frequente na sede da empresa, no centro do Rio. “Era uma vez por mês, às vezes, uma vez a cada dois meses. Mas o Miguel (Gutierrez, presidente da Americanas) falava sempre com ele”, diz uma fonte que era próxima à diretoria da companhia. ”Era comum ouvir do Miguel: ‘Vou ver isso aqui com o Beto’ ou ‘falei com o Beto’”, diz outro ex-funcionário.

Carlos Alberto Sicupira em evento do Pão de Açúcar Foto: Paulo Giandalia/Agência Estado - 10.ago.2009

Segundo esse ex-funcionário, na época da junção da B2W e da Lojas Americanas, os encontros se intensificaram. Esse processo ocorreu durante a pandemia, o que desencadeou chamadas de vídeo recorrentes, nas quais Sicupira aparecia mais do que em reuniões presenciais. Ele, aliás, é conhecido como o nome que revitalizou a marca Americanas.

Quando estava na sede da companhia, seu contato era mais restrito à cúpula da empresa. Diretores abaixo de cada vice-presidência até faziam apresentações, mas não permaneciam na sala o tempo todo. O contato com os funcionários de mais baixa patente era quase nulo.

De maneira geral, os relatos apontam que a cúpula da companhia não tinha grande autonomia. Em reuniões com banqueiros, por exemplo, Gutierrez chegava a sair da sala para ligar para Sicupira na hora de tomar decisões. “Era um C-level (presidente executivo) mais fraco, menos autônomo do que o que se vê no setor”, disse uma fonte do segmento varejista.

Unidade da Americanas no centro de Curitiba; varejista tem mais de 16 mil credores e dívida de R$ 43 bilhões Foto: Rodolfo Buhrer/Fotoarena

Os três acionistas de referência têm como marca a busca feroz por resultados nas empresas em seu portfólio. Uma das fontes ouvidas pela reportagem traduz essa postura como uma espécie de “cultura do medo”.

As interações com Gutierrez não eram exatamente conversas, eram imposições muitas vezes justificadas como ordens superiores. Nas palavras dos advogados do BTG, nos autos do processo que move contra a empresa, era a cultura do “sucesso a qualquer custo”.

Documentos judiciais de bancos credores que processam a Americanas também relatam a presença marcante de Sicupira nas decisões do dia a dia do grupo e a participação ativa na gestão. Essa, aliás, é a tese dos advogados para responsabilizar não só Sicupira, como Lemann e Telles pelos problemas do grupo, que os bancos dizem abertamente ser fraude e os três alegam não ter tido conhecimento.

Em petição do Bradesco, os advogados dizem que, ao esconder por anos os erros no balanço, Sicupira e os sócios “puderam apurar artificialmente maiores lucros, e assim receber mais dividendos”. Só nos últimos 10 anos, prazo estimado dos problemas contábeis, os pagamentos de dividendos somaram R$ 1,8 bilhão, segundo processo elaborado pelo Warde, escritório contratado pelo Bradesco.

Entre banqueiros e executivos de bancos credores, a presença de Sicupira na companhia é tida como certa. Um executivo do mercado financeiro afirma que a presença do investidor no conselho da Americanas tinha destaque. Outro diz ser impossível que Sicupira não soubesse do rombo contábil, dada a sua proximidade com a administração da companhia, em especial com Gutierrez.

Em ação do Itaú, por exemplo, ele é nominalmente citado entre as pessoas ligadas à companhia às quais o banco gostaria de ter acesso a e-mails. Na do Bradesco, a citação é genérica, mas o escopo - ex e atuais executivos e conselheiros, em um período de dez anos - envolve Sicupira. Procurados, Sicupira, Lemann e Telles não responderam a pedidos de entrevista. A Americanas não se pronunciou até a publicação desta reportagem.

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