Grandes empresas aumentam ações sustentáveis, mas percepção do público preocupa, diz pesquisa


Levantamento da Capgemini com executivos aponta aumento de estratégias voltadas para controle de emissões de gases de efeito estufa, economia circular e tecnologia verde

Por Luis Filipe Santos

As grandes empresas do mundo estão se preocupando mais com as mudanças climáticas e aumentaram o número de ações voltadas à sustentabilidade nos últimos dois anos, apontou um levantamento realizado pela Capgemini com executivos. Contudo, também é comum entre eles o medo de passar uma percepção errada aos consumidores, de que estariam cometendo greenwashing e as ações não seriam sinceras — o estudo aponta que esse temor tem razão de existir.

A pesquisa A World In Balance 2024 (a palavra balance, em inglês, serve tanto para balanço financeiro quanto para equilíbrio, portanto o título poderia ser lido como ”Um mundo em equilíbrio 2024″) ouviu 2.152 executivos empregados em 727 organizações, cada uma com mais de US$ 1 bilhão em receita anual, de 13 países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Embora os executivos brasileiros não tenham sido ouvidos, a avaliação é de que o mercado brasileiro tem características parecidas, como a exigência do consumidor em relação às empresas.

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De acordo com a pesquisa, houve um aumento de 22 pontos percentuais na adoção de práticas e iniciativas sustentáveis pelas organizações de 2022 a 2024 — de 100 pontos base em 2022 para 112 em 2023 e 122 em 2024, nos três anos em que a pesquisa foi realizada. Austrália, Espanha e Suécia são destaques positivos, enquanto Alemanha e Índia tiveram resultados ruins. Entre os setores pesquisados, o varejo e a indústria de serviços de saúde foram as que mais avançaram, enquanto os de serviços públicos (fornecimento de água ou energia, por exemplo) e aeroespacial ficaram para trás.

No total, 84% dos executivos disseram acreditar que suas organizações estão no caminho certo para cumprir as metas de reduções de emissões de gases que causam o efeito estufa, e menos de dez por cento afirmaram que há atraso. Entre outros números, 75% implementaram um programa de gestão de água, acima dos 55% em 2022; 72% afirmaram que a reciclagem é um aspecto central da produção, um crescimento de 19 pontos porcentuais em dois anos, e 69% estão redesenhando produtos para remover matérias-primas de combustíveis fósseis, acima dos 47% em 2022.

Estudo da Capgemini mostra executivos mais preocupados com questões climáticas e com a imagem das empresas perante o público Foto: Tiago Queiroz / Estadão
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A avaliação é de que as mudanças respondem a dois fatores principais: a pressão dos consumidores e as novas leis e regulamentações, sempre mais exigentes. “É um avanço gradativo, que acompanha a quantidade dos executivos preocupados com a imagem das empresas. É importante ter ações que possam ser rastreáveis e demonstrem políticas relativas ao meio ambiente”, afirma Emanuel Queiroz, vice-presidente de Sustentabilidade na Capgemini Brasil.

Conforme o levantamento, 69% dos executivos dizem que antecipar regulamentações futuras mais rigorosas é um fator-chave para as iniciativas de sustentabilidade, contra 57% em 2023. No entanto, 66% dos entrevistados admitem que não tomariam medidas sustentáveis se não fossem obrigados, seja pela pressão popular ou pela regulamentação.

As ações visando tornar as companhias sustentáveis precisam ser auditáveis e demonstradas em relatórios disponibilizados aos investidores e ao público, e também é necessário gerar mais dinheiro. “Invariavelmente, as medidas precisam trazer resultado financeiro, se não trouxer, as empresas deixarão de fazê-lo”, cita Queiroz. Ele vê que os resultados financeiros foram os principais motores para buscar mais eficiência em processos e evitar desperdícios de água e outros recursos, assim como para buscar novas tecnologias (e biotecnologias).

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A tecnologia é vista como fundamental: dois terços dos executivos concordam que suas organizações nunca serão capazes de atingir suas metas de sustentabilidade sem tecnologia climática, o que pode ser desde novas biotecnologias a outras que já estão sendo desenvolvidas, como o hidrogênio verde e biocombustíveis para a transição energética.Também pode significar a volta de outras antigas, agora mais seguras e com custos menores, como a energia nuclear.

Limites

Um dado negativo captado pela pesquisa é que em 2023, os executivos planejavam aumentar os investimentos em sustentabilidade, o que não se concretizou. O investimento médio anual em iniciativas e práticas de sustentabilidade representou 0,82% da receita total em 2024, abaixo dos 0,92% em 2023.

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Para Queiroz, a explicação é um cenário geopolítico mais complicado. “As empresas ficaram mais avessas ao risco e a aumentos de custos. A incerteza geopolítica leva empresas a mudar a estratégia relativa à biodiversidade e à comunicação com consumidores e fornecedores”, explica. Segundo o líder da Capgemini Brasil, o que não trouxesse retorno financeiro imediato ficaria para trás. Outro ponto é que a pesquisa aponta ainda existir um grande espaço para crescimento da preocupação ambiental, apesar dos avanços em relação aos dois anos anteriores.

Mensurar e reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global ainda é desafiador. As emissões de escopos 1 e 2, da ação direta da própria companhia e da energia que ela utiliza, já são largamente medidas, mas as de escopo 3, que contabiliza as de toda a cadeia de fornecimento, ainda não são totalmente avaliadas. Pouco mais de um terço das organizações pode calcular completamente as emissões do escopo 3, enquanto 86% já estão preparadas para o escopo 1.

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É importante lembrar que os executivos ouvidos na pesquisa são de grandes empresas, que têm muito mais condições de fazer esse inventário do que as médias e pequenas, e ainda assim encontram dificuldades.

Percepção do público

O temor de que as medidas sejam vistas como “insinceras” cresceu muito entre os executivos: saltou de 11% em 2023 para 62% em 2024. E o medo precisa existir: de acordo com o levantamento, 52% dos consumidores acreditam que as companhias realizam greenwashing das suas medidas, ante 33% em 2023. A desconfiança é ainda maior entre os mais jovens, das gerações millennial (67%) e Z (76%).

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A comunicação é vista como importante, assim como a divulgação de relatórios de sustentabilidade auditados e críveis, o que é cada vez mais exigido pelo mercado e por agentes reguladores em diversos países. Mas o mais importante é sempre a reação dos consumidores, que pode determinar o sucesso de uma estratégia comercial. " A diferença da estratégia é a aceitação do público. Empresas que investem em sustentabilidade têm retorno maior”, garante Queiroz, mencionando estudos anteriores da própria Capgemini.

As grandes empresas do mundo estão se preocupando mais com as mudanças climáticas e aumentaram o número de ações voltadas à sustentabilidade nos últimos dois anos, apontou um levantamento realizado pela Capgemini com executivos. Contudo, também é comum entre eles o medo de passar uma percepção errada aos consumidores, de que estariam cometendo greenwashing e as ações não seriam sinceras — o estudo aponta que esse temor tem razão de existir.

A pesquisa A World In Balance 2024 (a palavra balance, em inglês, serve tanto para balanço financeiro quanto para equilíbrio, portanto o título poderia ser lido como ”Um mundo em equilíbrio 2024″) ouviu 2.152 executivos empregados em 727 organizações, cada uma com mais de US$ 1 bilhão em receita anual, de 13 países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Embora os executivos brasileiros não tenham sido ouvidos, a avaliação é de que o mercado brasileiro tem características parecidas, como a exigência do consumidor em relação às empresas.

De acordo com a pesquisa, houve um aumento de 22 pontos percentuais na adoção de práticas e iniciativas sustentáveis pelas organizações de 2022 a 2024 — de 100 pontos base em 2022 para 112 em 2023 e 122 em 2024, nos três anos em que a pesquisa foi realizada. Austrália, Espanha e Suécia são destaques positivos, enquanto Alemanha e Índia tiveram resultados ruins. Entre os setores pesquisados, o varejo e a indústria de serviços de saúde foram as que mais avançaram, enquanto os de serviços públicos (fornecimento de água ou energia, por exemplo) e aeroespacial ficaram para trás.

No total, 84% dos executivos disseram acreditar que suas organizações estão no caminho certo para cumprir as metas de reduções de emissões de gases que causam o efeito estufa, e menos de dez por cento afirmaram que há atraso. Entre outros números, 75% implementaram um programa de gestão de água, acima dos 55% em 2022; 72% afirmaram que a reciclagem é um aspecto central da produção, um crescimento de 19 pontos porcentuais em dois anos, e 69% estão redesenhando produtos para remover matérias-primas de combustíveis fósseis, acima dos 47% em 2022.

Estudo da Capgemini mostra executivos mais preocupados com questões climáticas e com a imagem das empresas perante o público Foto: Tiago Queiroz / Estadão

A avaliação é de que as mudanças respondem a dois fatores principais: a pressão dos consumidores e as novas leis e regulamentações, sempre mais exigentes. “É um avanço gradativo, que acompanha a quantidade dos executivos preocupados com a imagem das empresas. É importante ter ações que possam ser rastreáveis e demonstrem políticas relativas ao meio ambiente”, afirma Emanuel Queiroz, vice-presidente de Sustentabilidade na Capgemini Brasil.

Conforme o levantamento, 69% dos executivos dizem que antecipar regulamentações futuras mais rigorosas é um fator-chave para as iniciativas de sustentabilidade, contra 57% em 2023. No entanto, 66% dos entrevistados admitem que não tomariam medidas sustentáveis se não fossem obrigados, seja pela pressão popular ou pela regulamentação.

As ações visando tornar as companhias sustentáveis precisam ser auditáveis e demonstradas em relatórios disponibilizados aos investidores e ao público, e também é necessário gerar mais dinheiro. “Invariavelmente, as medidas precisam trazer resultado financeiro, se não trouxer, as empresas deixarão de fazê-lo”, cita Queiroz. Ele vê que os resultados financeiros foram os principais motores para buscar mais eficiência em processos e evitar desperdícios de água e outros recursos, assim como para buscar novas tecnologias (e biotecnologias).

A tecnologia é vista como fundamental: dois terços dos executivos concordam que suas organizações nunca serão capazes de atingir suas metas de sustentabilidade sem tecnologia climática, o que pode ser desde novas biotecnologias a outras que já estão sendo desenvolvidas, como o hidrogênio verde e biocombustíveis para a transição energética.Também pode significar a volta de outras antigas, agora mais seguras e com custos menores, como a energia nuclear.

Limites

Um dado negativo captado pela pesquisa é que em 2023, os executivos planejavam aumentar os investimentos em sustentabilidade, o que não se concretizou. O investimento médio anual em iniciativas e práticas de sustentabilidade representou 0,82% da receita total em 2024, abaixo dos 0,92% em 2023.

Para Queiroz, a explicação é um cenário geopolítico mais complicado. “As empresas ficaram mais avessas ao risco e a aumentos de custos. A incerteza geopolítica leva empresas a mudar a estratégia relativa à biodiversidade e à comunicação com consumidores e fornecedores”, explica. Segundo o líder da Capgemini Brasil, o que não trouxesse retorno financeiro imediato ficaria para trás. Outro ponto é que a pesquisa aponta ainda existir um grande espaço para crescimento da preocupação ambiental, apesar dos avanços em relação aos dois anos anteriores.

Mensurar e reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global ainda é desafiador. As emissões de escopos 1 e 2, da ação direta da própria companhia e da energia que ela utiliza, já são largamente medidas, mas as de escopo 3, que contabiliza as de toda a cadeia de fornecimento, ainda não são totalmente avaliadas. Pouco mais de um terço das organizações pode calcular completamente as emissões do escopo 3, enquanto 86% já estão preparadas para o escopo 1.

É importante lembrar que os executivos ouvidos na pesquisa são de grandes empresas, que têm muito mais condições de fazer esse inventário do que as médias e pequenas, e ainda assim encontram dificuldades.

Percepção do público

O temor de que as medidas sejam vistas como “insinceras” cresceu muito entre os executivos: saltou de 11% em 2023 para 62% em 2024. E o medo precisa existir: de acordo com o levantamento, 52% dos consumidores acreditam que as companhias realizam greenwashing das suas medidas, ante 33% em 2023. A desconfiança é ainda maior entre os mais jovens, das gerações millennial (67%) e Z (76%).

A comunicação é vista como importante, assim como a divulgação de relatórios de sustentabilidade auditados e críveis, o que é cada vez mais exigido pelo mercado e por agentes reguladores em diversos países. Mas o mais importante é sempre a reação dos consumidores, que pode determinar o sucesso de uma estratégia comercial. " A diferença da estratégia é a aceitação do público. Empresas que investem em sustentabilidade têm retorno maior”, garante Queiroz, mencionando estudos anteriores da própria Capgemini.

As grandes empresas do mundo estão se preocupando mais com as mudanças climáticas e aumentaram o número de ações voltadas à sustentabilidade nos últimos dois anos, apontou um levantamento realizado pela Capgemini com executivos. Contudo, também é comum entre eles o medo de passar uma percepção errada aos consumidores, de que estariam cometendo greenwashing e as ações não seriam sinceras — o estudo aponta que esse temor tem razão de existir.

A pesquisa A World In Balance 2024 (a palavra balance, em inglês, serve tanto para balanço financeiro quanto para equilíbrio, portanto o título poderia ser lido como ”Um mundo em equilíbrio 2024″) ouviu 2.152 executivos empregados em 727 organizações, cada uma com mais de US$ 1 bilhão em receita anual, de 13 países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Embora os executivos brasileiros não tenham sido ouvidos, a avaliação é de que o mercado brasileiro tem características parecidas, como a exigência do consumidor em relação às empresas.

De acordo com a pesquisa, houve um aumento de 22 pontos percentuais na adoção de práticas e iniciativas sustentáveis pelas organizações de 2022 a 2024 — de 100 pontos base em 2022 para 112 em 2023 e 122 em 2024, nos três anos em que a pesquisa foi realizada. Austrália, Espanha e Suécia são destaques positivos, enquanto Alemanha e Índia tiveram resultados ruins. Entre os setores pesquisados, o varejo e a indústria de serviços de saúde foram as que mais avançaram, enquanto os de serviços públicos (fornecimento de água ou energia, por exemplo) e aeroespacial ficaram para trás.

No total, 84% dos executivos disseram acreditar que suas organizações estão no caminho certo para cumprir as metas de reduções de emissões de gases que causam o efeito estufa, e menos de dez por cento afirmaram que há atraso. Entre outros números, 75% implementaram um programa de gestão de água, acima dos 55% em 2022; 72% afirmaram que a reciclagem é um aspecto central da produção, um crescimento de 19 pontos porcentuais em dois anos, e 69% estão redesenhando produtos para remover matérias-primas de combustíveis fósseis, acima dos 47% em 2022.

Estudo da Capgemini mostra executivos mais preocupados com questões climáticas e com a imagem das empresas perante o público Foto: Tiago Queiroz / Estadão

A avaliação é de que as mudanças respondem a dois fatores principais: a pressão dos consumidores e as novas leis e regulamentações, sempre mais exigentes. “É um avanço gradativo, que acompanha a quantidade dos executivos preocupados com a imagem das empresas. É importante ter ações que possam ser rastreáveis e demonstrem políticas relativas ao meio ambiente”, afirma Emanuel Queiroz, vice-presidente de Sustentabilidade na Capgemini Brasil.

Conforme o levantamento, 69% dos executivos dizem que antecipar regulamentações futuras mais rigorosas é um fator-chave para as iniciativas de sustentabilidade, contra 57% em 2023. No entanto, 66% dos entrevistados admitem que não tomariam medidas sustentáveis se não fossem obrigados, seja pela pressão popular ou pela regulamentação.

As ações visando tornar as companhias sustentáveis precisam ser auditáveis e demonstradas em relatórios disponibilizados aos investidores e ao público, e também é necessário gerar mais dinheiro. “Invariavelmente, as medidas precisam trazer resultado financeiro, se não trouxer, as empresas deixarão de fazê-lo”, cita Queiroz. Ele vê que os resultados financeiros foram os principais motores para buscar mais eficiência em processos e evitar desperdícios de água e outros recursos, assim como para buscar novas tecnologias (e biotecnologias).

A tecnologia é vista como fundamental: dois terços dos executivos concordam que suas organizações nunca serão capazes de atingir suas metas de sustentabilidade sem tecnologia climática, o que pode ser desde novas biotecnologias a outras que já estão sendo desenvolvidas, como o hidrogênio verde e biocombustíveis para a transição energética.Também pode significar a volta de outras antigas, agora mais seguras e com custos menores, como a energia nuclear.

Limites

Um dado negativo captado pela pesquisa é que em 2023, os executivos planejavam aumentar os investimentos em sustentabilidade, o que não se concretizou. O investimento médio anual em iniciativas e práticas de sustentabilidade representou 0,82% da receita total em 2024, abaixo dos 0,92% em 2023.

Para Queiroz, a explicação é um cenário geopolítico mais complicado. “As empresas ficaram mais avessas ao risco e a aumentos de custos. A incerteza geopolítica leva empresas a mudar a estratégia relativa à biodiversidade e à comunicação com consumidores e fornecedores”, explica. Segundo o líder da Capgemini Brasil, o que não trouxesse retorno financeiro imediato ficaria para trás. Outro ponto é que a pesquisa aponta ainda existir um grande espaço para crescimento da preocupação ambiental, apesar dos avanços em relação aos dois anos anteriores.

Mensurar e reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global ainda é desafiador. As emissões de escopos 1 e 2, da ação direta da própria companhia e da energia que ela utiliza, já são largamente medidas, mas as de escopo 3, que contabiliza as de toda a cadeia de fornecimento, ainda não são totalmente avaliadas. Pouco mais de um terço das organizações pode calcular completamente as emissões do escopo 3, enquanto 86% já estão preparadas para o escopo 1.

É importante lembrar que os executivos ouvidos na pesquisa são de grandes empresas, que têm muito mais condições de fazer esse inventário do que as médias e pequenas, e ainda assim encontram dificuldades.

Percepção do público

O temor de que as medidas sejam vistas como “insinceras” cresceu muito entre os executivos: saltou de 11% em 2023 para 62% em 2024. E o medo precisa existir: de acordo com o levantamento, 52% dos consumidores acreditam que as companhias realizam greenwashing das suas medidas, ante 33% em 2023. A desconfiança é ainda maior entre os mais jovens, das gerações millennial (67%) e Z (76%).

A comunicação é vista como importante, assim como a divulgação de relatórios de sustentabilidade auditados e críveis, o que é cada vez mais exigido pelo mercado e por agentes reguladores em diversos países. Mas o mais importante é sempre a reação dos consumidores, que pode determinar o sucesso de uma estratégia comercial. " A diferença da estratégia é a aceitação do público. Empresas que investem em sustentabilidade têm retorno maior”, garante Queiroz, mencionando estudos anteriores da própria Capgemini.

As grandes empresas do mundo estão se preocupando mais com as mudanças climáticas e aumentaram o número de ações voltadas à sustentabilidade nos últimos dois anos, apontou um levantamento realizado pela Capgemini com executivos. Contudo, também é comum entre eles o medo de passar uma percepção errada aos consumidores, de que estariam cometendo greenwashing e as ações não seriam sinceras — o estudo aponta que esse temor tem razão de existir.

A pesquisa A World In Balance 2024 (a palavra balance, em inglês, serve tanto para balanço financeiro quanto para equilíbrio, portanto o título poderia ser lido como ”Um mundo em equilíbrio 2024″) ouviu 2.152 executivos empregados em 727 organizações, cada uma com mais de US$ 1 bilhão em receita anual, de 13 países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, Países Baixos, Noruega, Espanha, Suécia, Reino Unido e Estados Unidos. Embora os executivos brasileiros não tenham sido ouvidos, a avaliação é de que o mercado brasileiro tem características parecidas, como a exigência do consumidor em relação às empresas.

De acordo com a pesquisa, houve um aumento de 22 pontos percentuais na adoção de práticas e iniciativas sustentáveis pelas organizações de 2022 a 2024 — de 100 pontos base em 2022 para 112 em 2023 e 122 em 2024, nos três anos em que a pesquisa foi realizada. Austrália, Espanha e Suécia são destaques positivos, enquanto Alemanha e Índia tiveram resultados ruins. Entre os setores pesquisados, o varejo e a indústria de serviços de saúde foram as que mais avançaram, enquanto os de serviços públicos (fornecimento de água ou energia, por exemplo) e aeroespacial ficaram para trás.

No total, 84% dos executivos disseram acreditar que suas organizações estão no caminho certo para cumprir as metas de reduções de emissões de gases que causam o efeito estufa, e menos de dez por cento afirmaram que há atraso. Entre outros números, 75% implementaram um programa de gestão de água, acima dos 55% em 2022; 72% afirmaram que a reciclagem é um aspecto central da produção, um crescimento de 19 pontos porcentuais em dois anos, e 69% estão redesenhando produtos para remover matérias-primas de combustíveis fósseis, acima dos 47% em 2022.

Estudo da Capgemini mostra executivos mais preocupados com questões climáticas e com a imagem das empresas perante o público Foto: Tiago Queiroz / Estadão

A avaliação é de que as mudanças respondem a dois fatores principais: a pressão dos consumidores e as novas leis e regulamentações, sempre mais exigentes. “É um avanço gradativo, que acompanha a quantidade dos executivos preocupados com a imagem das empresas. É importante ter ações que possam ser rastreáveis e demonstrem políticas relativas ao meio ambiente”, afirma Emanuel Queiroz, vice-presidente de Sustentabilidade na Capgemini Brasil.

Conforme o levantamento, 69% dos executivos dizem que antecipar regulamentações futuras mais rigorosas é um fator-chave para as iniciativas de sustentabilidade, contra 57% em 2023. No entanto, 66% dos entrevistados admitem que não tomariam medidas sustentáveis se não fossem obrigados, seja pela pressão popular ou pela regulamentação.

As ações visando tornar as companhias sustentáveis precisam ser auditáveis e demonstradas em relatórios disponibilizados aos investidores e ao público, e também é necessário gerar mais dinheiro. “Invariavelmente, as medidas precisam trazer resultado financeiro, se não trouxer, as empresas deixarão de fazê-lo”, cita Queiroz. Ele vê que os resultados financeiros foram os principais motores para buscar mais eficiência em processos e evitar desperdícios de água e outros recursos, assim como para buscar novas tecnologias (e biotecnologias).

A tecnologia é vista como fundamental: dois terços dos executivos concordam que suas organizações nunca serão capazes de atingir suas metas de sustentabilidade sem tecnologia climática, o que pode ser desde novas biotecnologias a outras que já estão sendo desenvolvidas, como o hidrogênio verde e biocombustíveis para a transição energética.Também pode significar a volta de outras antigas, agora mais seguras e com custos menores, como a energia nuclear.

Limites

Um dado negativo captado pela pesquisa é que em 2023, os executivos planejavam aumentar os investimentos em sustentabilidade, o que não se concretizou. O investimento médio anual em iniciativas e práticas de sustentabilidade representou 0,82% da receita total em 2024, abaixo dos 0,92% em 2023.

Para Queiroz, a explicação é um cenário geopolítico mais complicado. “As empresas ficaram mais avessas ao risco e a aumentos de custos. A incerteza geopolítica leva empresas a mudar a estratégia relativa à biodiversidade e à comunicação com consumidores e fornecedores”, explica. Segundo o líder da Capgemini Brasil, o que não trouxesse retorno financeiro imediato ficaria para trás. Outro ponto é que a pesquisa aponta ainda existir um grande espaço para crescimento da preocupação ambiental, apesar dos avanços em relação aos dois anos anteriores.

Mensurar e reduzir as emissões de gases que causam o aquecimento global ainda é desafiador. As emissões de escopos 1 e 2, da ação direta da própria companhia e da energia que ela utiliza, já são largamente medidas, mas as de escopo 3, que contabiliza as de toda a cadeia de fornecimento, ainda não são totalmente avaliadas. Pouco mais de um terço das organizações pode calcular completamente as emissões do escopo 3, enquanto 86% já estão preparadas para o escopo 1.

É importante lembrar que os executivos ouvidos na pesquisa são de grandes empresas, que têm muito mais condições de fazer esse inventário do que as médias e pequenas, e ainda assim encontram dificuldades.

Percepção do público

O temor de que as medidas sejam vistas como “insinceras” cresceu muito entre os executivos: saltou de 11% em 2023 para 62% em 2024. E o medo precisa existir: de acordo com o levantamento, 52% dos consumidores acreditam que as companhias realizam greenwashing das suas medidas, ante 33% em 2023. A desconfiança é ainda maior entre os mais jovens, das gerações millennial (67%) e Z (76%).

A comunicação é vista como importante, assim como a divulgação de relatórios de sustentabilidade auditados e críveis, o que é cada vez mais exigido pelo mercado e por agentes reguladores em diversos países. Mas o mais importante é sempre a reação dos consumidores, que pode determinar o sucesso de uma estratégia comercial. " A diferença da estratégia é a aceitação do público. Empresas que investem em sustentabilidade têm retorno maior”, garante Queiroz, mencionando estudos anteriores da própria Capgemini.

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