BRASÍLIA - Com o anúncio feito nesta quarta-feira, 6, pelo grupo Stellantis, o volume de investimentos programados pelas montadoras ultrapassou a casa dos R$ 95 bilhões, o maior ciclo da história. A dona de marcas como Fiat, número um em vendas no Brasil, Jeep, Peugeot e Citroën, afirmou hoje que vai investir R$ 30 bilhões no Brasil até 2030. As cifras podem ser ainda maiores. Pelos cálculos da Anfavea, entidade representante da indústria automotiva, a previsão é de mais de R$ 100 bilhões de investimentos até 2029.
Os números vigorosos têm sido uma constante ao longo do tempo. Foi na década de 90, com a abertura comercial do País, que o setor deu seu maior salto na expansão da capacidade produtiva. Nessa época, as montadoras apostaram na produção de veículos de menor porte, com aumento da escala técnica e capacitação da mão de obra local. A estratégia colocou o Brasil no 10º lugar do ranking dos maiores produtores mundiais.
Em 2012, num impulso protecionista da ex-presidente Dilma Rousseff, o programa Inovar Auto atraiu cerca de R$ 85 bilhões para estimular a modernização e competitividade da indústria até 2030. Mas não conseguiu alcançar os objetivos. Não houve avanços tecnológicos significativos e ainda deixou o setor com elevada ociosidade.
Há dois meses, o governo Lula lançou mais um novo programa federal de apoio à indústria automotiva, o Mover. Alvo de críticas em seu lançamento, o plano já colhe os frutos dos investimentos prometidos pelas montadoras na negociação do programa. Mesmo sem colocar na conta o anúncio da Stellantis, que promete ser o maior de todos, o governo já conta, e celebra, mais de R$ 65 bilhões a serem desembolsados no País por dez fabricantes.
Esses recursos são, em sua maior parte, a contrapartida ao Mover, acrônimo de Mobilidade Verde, como foi batizado o programa que até 2028 vai liberar R$ 19,3 bilhões para as montadoras produzirem carros que sejam mais seguros e poluam menos.
No caso da Stellantis, os investimentos são fruto não apenas do Mover, mas também da prorrogação dos incentivos regionais, que beneficiam sua fábrica em Pernambuco. Em novembro, a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), disse que a manutenção dos incentivos - conquistada pela Stellantis após uma queda de braço com Volkswagen, GM e Toyota na tramitação da reforma tributária - assegurava pelo menos US$ 1,5 bilhão, ou R$ 7,4 bilhões pela cotação atual, apenas na operação da Stellantis em Goiana, no norte pernambucano.
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O objetivo do governo com o Mover é dar um empurrão numa corrida na qual o Brasil está atrasado: a eletrificação. Cada vez mais, a partir de agora, o motor elétrico vai fazer par com o propulsor movido à gasolina ou etanol.
Previsões de consultorias como a A&M e a Bright Consulting indicam que até o fim desta década metade dos automóveis vendidos no Brasil terá algum grau de eletrificação: do carro puramente elétrico, cuja adoção tende a ser mais lenta, aos mild-hybrids, ou híbridos leves, que devem ser a maioria na primeira etapa de transição tecnológica. Na indústria, contudo, ainda há uma avaliação de que será difícil alcançar essa marca.
Em evento nesta semana, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que a regulamentação do Mover deve ser publicada até o fim do mês. “Temos que recuperar a indústria brasileira”, disse ele. “O Brasil teve um processo de desindustrialização precoce ocasionado por juros altos, pelo câmbio e por impostos. Precisamos de iniciativas verdes e sustentáveis para a descarbonização da matriz e a formação de uma indústria exportadora.”
Balanço
Na terça-feira, 5, a Toyota confirmou R$ 11 bilhões em investimentos no Brasil, como antecipado no domingo pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Antes da montadora japonesa, investimentos também bilionários foram anunciados para até 2028 por Volkswagen (R$ 16 bilhões), General Motors (R$ 7 bilhões) e Hyundai (R$ 5,45 bilhões), assim como por Renault (R$ 5,1 bilhões), Caoa (R$ 4,5 bilhões) e Nissan (R$ 2,8 bilhões), que ampliaram seus ciclos de investimento no fim do ano passado.
Além dessas montadoras, as chinesas BYD e GWM vão investir, respectivamente, R$ 3 bilhões e R$ 10 bilhões para montar carros híbridos e elétricos em fábricas adquiridas de marcas que desistiram de produzir automóveis no Brasil: Ford e Mercedes-Benz.