‘Isso é uma mentira’, diz Nizan Guanaes ao presidente do Google, ao criticar big tech em evento


Em painel sobre ‘O dilema digital’, o publicitário reclamou de postura do Google em episódio envolvendo sua família, e foi rebatido pelo CEO da empresa no Brasil, Fábio Coelho; procurados pelo ‘Estadão’, ambos não se manifestaram

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:

O clima ficou pesado durante um dos painéis do evento Bloomberg New Economy at B20, que reuniu, quarta-feira, 23, em São Paulo, grandes nomes do mundo empresarial brasileiro. A discussão no palco, durante o debate chamado O dilema digital, envolveu o publicitário Nizan Guanaes, fundador e CEO da agência N.ideas e que foi dono da DM9 e do Grupo ABC, e o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho.

Quando o chefe da big tech no País disse que não poderia por conta própria remover um conteúdo mas que por meio da Justiça isso seria facilmente possível, o publicitário interrompeu Coelho, dizendo que “esse é um dos problemas, eles não podem remover (do ar) ódio”. Nizan afirmou: “Me desculpe, mas isso é uma mentira. Minha mulher passou quatro anos na Justiça tentando provar algo.” “Ódio não é conteúdo. Não se pode colocar isso na televisão. Não se pode colocar isso na imprensa. Então, vocês deveriam ser obrigados por outro tipo de leis”. Procurados pelo Estadão nesta quinta-feira, 24, ambos não quiseram se manifestar sobre a discussão da véspera.

O gatilho foi a lembrança, no início da fala de Nizan no evento, de um episódio que envolveu a sua família, quando em 2019 viralizaram na internet publicações descrevendo como racista a festa de aniversário de 50 anos da sua mulher, Donata Meirelles, em Salvador. “Fábio é dos meus melhores amigos, ele é meu vizinho, mas eu vou dar uma outra perspectiva sobre o que ele falou (antes, no painel)”, disse. “Alguém na imprensa resolveu dizer que foi uma ‘festa de escravos’, e isso se espalhou pelas plataformas de conteúdo, e a minha esposa teve de deixar o seu trabalho (abaixo, assista ao trecho da discussão, em inglês, transmitida pela organizadora do evento).”

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O publicitário contou que à época procurou Coelho para pedir que o conteúdo fosse retirado do ar, depois de ter ouvido do Ministério Público que a acusação de racismo era “uma mentira”. O executivo do Google, então, teria respondido que ele não era autorizado a fazer isso, pelas regras da empresa. “Ninguém sabe o efeito que isso teve na nossa família”, afirmou Nizan.

Em sua fala no evento, Nizan pediu regras mais rígidas para as grandes plataformas de internet e comparou o ambiente da internet a “um Velho Oeste”. “Eu sou um capitalista absoluto, mas precisa haver um conjunto de regras”, afirmou, acrescentando que ele precisava dar “o contraponto” ao discurso das grandes empresas de tecnologia.

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“Fábio é uma bênção para o Brasil, um cara muito sério. Mas o problema dessas plataformas é que a retórica deles é muito bonita. Todos falam que querem mudar o mundo”, disse. Nizan, então, citou a compra recente, pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, de um iate de US$ 500 milhões. “Um cara que compra um barco de US$ 500 milhões odeia o mundo e odeia o mar.”

Nizan comparou o ambiente da internet a 'um Velho Oeste' Foto: Evelson de Freitas/Estadão

‘Não posso remover conteúdo’

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Minutos depois da fala do publicitário, o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, deu a sua versão do episódio envolvendo a festa. “Eu não posso remover conteúdo. Não é sobre mim”, disse Coelho, e acrescentou que sugeriu a Nizan procurar a Justiça, para obter uma liminar, o que “com certeza seria levado em consideração”. Então, o Google seguiria a lei, para retirar conteúdos de crime, ódio ou racismo. Foi nesse momento que Nizan interrompeu Coelho.

A política de mediação para a remoção do conteúdo do Google envolve retirar do ar publicações e links que infringem as regras da plataforma. Mas a palavra final, em alguns casos, é da Justiça, e a empresa busca evitar assumir um papel de juiz de conteúdos disponíveis na internet.

“Não estou sendo muito gentil com você. Mas você não está sendo gentil, de forma alguma, comigo, com a minha esposa, e com a democracia”, completou Nizan.

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Coelho redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação Foto: Google/Divulgação

Coelho, então, redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação. “Isso deverá ser discutido pela sociedade, pelos políticos, pelas empresas e para todas as pessoas que usam IA.”

Coelho também comentou que a discussão sobre os direitos de conteúdo em IA “estão acontecendo” e já há alguns avanços nas negociações, como também aconteceu em relação a uso de conteúdo de empresas de mídia.

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“Temos 185 acordos com empresas de mídia no Brasil, para usar o conteúdo delas”, disse. E acrescentou que as empresas que não querem ter conteúdo disponível no Google podem pedir para ele ser retirado da plataforma.

‘Alguém para dizer não’

Em sua fala, Nizan defendeu: “Se o Google está no Brasil, ele precisa de alguém para dizer ‘não’. Ele não pode ser regulado de fora”. Também criticou a postura dessas empresas em relação ao uso de conteúdo produzidos por terceiros, e o uso de influência política para evitar pagar aos comunicadores. “O governador da Califórnia é muito conectado com as principais plataformas, mas eles não querem pagar os direitos de imprensa, direitos de conteúdo, todas essas coisas.”

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“Então, a inteligência artificial, para nós, os ricos, será fantástica. Mas será preciso de um conjunto de regras”, concluiu.

O clima ficou pesado durante um dos painéis do evento Bloomberg New Economy at B20, que reuniu, quarta-feira, 23, em São Paulo, grandes nomes do mundo empresarial brasileiro. A discussão no palco, durante o debate chamado O dilema digital, envolveu o publicitário Nizan Guanaes, fundador e CEO da agência N.ideas e que foi dono da DM9 e do Grupo ABC, e o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho.

Quando o chefe da big tech no País disse que não poderia por conta própria remover um conteúdo mas que por meio da Justiça isso seria facilmente possível, o publicitário interrompeu Coelho, dizendo que “esse é um dos problemas, eles não podem remover (do ar) ódio”. Nizan afirmou: “Me desculpe, mas isso é uma mentira. Minha mulher passou quatro anos na Justiça tentando provar algo.” “Ódio não é conteúdo. Não se pode colocar isso na televisão. Não se pode colocar isso na imprensa. Então, vocês deveriam ser obrigados por outro tipo de leis”. Procurados pelo Estadão nesta quinta-feira, 24, ambos não quiseram se manifestar sobre a discussão da véspera.

O gatilho foi a lembrança, no início da fala de Nizan no evento, de um episódio que envolveu a sua família, quando em 2019 viralizaram na internet publicações descrevendo como racista a festa de aniversário de 50 anos da sua mulher, Donata Meirelles, em Salvador. “Fábio é dos meus melhores amigos, ele é meu vizinho, mas eu vou dar uma outra perspectiva sobre o que ele falou (antes, no painel)”, disse. “Alguém na imprensa resolveu dizer que foi uma ‘festa de escravos’, e isso se espalhou pelas plataformas de conteúdo, e a minha esposa teve de deixar o seu trabalho (abaixo, assista ao trecho da discussão, em inglês, transmitida pela organizadora do evento).”

O publicitário contou que à época procurou Coelho para pedir que o conteúdo fosse retirado do ar, depois de ter ouvido do Ministério Público que a acusação de racismo era “uma mentira”. O executivo do Google, então, teria respondido que ele não era autorizado a fazer isso, pelas regras da empresa. “Ninguém sabe o efeito que isso teve na nossa família”, afirmou Nizan.

Em sua fala no evento, Nizan pediu regras mais rígidas para as grandes plataformas de internet e comparou o ambiente da internet a “um Velho Oeste”. “Eu sou um capitalista absoluto, mas precisa haver um conjunto de regras”, afirmou, acrescentando que ele precisava dar “o contraponto” ao discurso das grandes empresas de tecnologia.

“Fábio é uma bênção para o Brasil, um cara muito sério. Mas o problema dessas plataformas é que a retórica deles é muito bonita. Todos falam que querem mudar o mundo”, disse. Nizan, então, citou a compra recente, pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, de um iate de US$ 500 milhões. “Um cara que compra um barco de US$ 500 milhões odeia o mundo e odeia o mar.”

Nizan comparou o ambiente da internet a 'um Velho Oeste' Foto: Evelson de Freitas/Estadão

‘Não posso remover conteúdo’

Minutos depois da fala do publicitário, o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, deu a sua versão do episódio envolvendo a festa. “Eu não posso remover conteúdo. Não é sobre mim”, disse Coelho, e acrescentou que sugeriu a Nizan procurar a Justiça, para obter uma liminar, o que “com certeza seria levado em consideração”. Então, o Google seguiria a lei, para retirar conteúdos de crime, ódio ou racismo. Foi nesse momento que Nizan interrompeu Coelho.

A política de mediação para a remoção do conteúdo do Google envolve retirar do ar publicações e links que infringem as regras da plataforma. Mas a palavra final, em alguns casos, é da Justiça, e a empresa busca evitar assumir um papel de juiz de conteúdos disponíveis na internet.

“Não estou sendo muito gentil com você. Mas você não está sendo gentil, de forma alguma, comigo, com a minha esposa, e com a democracia”, completou Nizan.

Coelho redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação Foto: Google/Divulgação

Coelho, então, redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação. “Isso deverá ser discutido pela sociedade, pelos políticos, pelas empresas e para todas as pessoas que usam IA.”

Coelho também comentou que a discussão sobre os direitos de conteúdo em IA “estão acontecendo” e já há alguns avanços nas negociações, como também aconteceu em relação a uso de conteúdo de empresas de mídia.

“Temos 185 acordos com empresas de mídia no Brasil, para usar o conteúdo delas”, disse. E acrescentou que as empresas que não querem ter conteúdo disponível no Google podem pedir para ele ser retirado da plataforma.

‘Alguém para dizer não’

Em sua fala, Nizan defendeu: “Se o Google está no Brasil, ele precisa de alguém para dizer ‘não’. Ele não pode ser regulado de fora”. Também criticou a postura dessas empresas em relação ao uso de conteúdo produzidos por terceiros, e o uso de influência política para evitar pagar aos comunicadores. “O governador da Califórnia é muito conectado com as principais plataformas, mas eles não querem pagar os direitos de imprensa, direitos de conteúdo, todas essas coisas.”

“Então, a inteligência artificial, para nós, os ricos, será fantástica. Mas será preciso de um conjunto de regras”, concluiu.

O clima ficou pesado durante um dos painéis do evento Bloomberg New Economy at B20, que reuniu, quarta-feira, 23, em São Paulo, grandes nomes do mundo empresarial brasileiro. A discussão no palco, durante o debate chamado O dilema digital, envolveu o publicitário Nizan Guanaes, fundador e CEO da agência N.ideas e que foi dono da DM9 e do Grupo ABC, e o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho.

Quando o chefe da big tech no País disse que não poderia por conta própria remover um conteúdo mas que por meio da Justiça isso seria facilmente possível, o publicitário interrompeu Coelho, dizendo que “esse é um dos problemas, eles não podem remover (do ar) ódio”. Nizan afirmou: “Me desculpe, mas isso é uma mentira. Minha mulher passou quatro anos na Justiça tentando provar algo.” “Ódio não é conteúdo. Não se pode colocar isso na televisão. Não se pode colocar isso na imprensa. Então, vocês deveriam ser obrigados por outro tipo de leis”. Procurados pelo Estadão nesta quinta-feira, 24, ambos não quiseram se manifestar sobre a discussão da véspera.

O gatilho foi a lembrança, no início da fala de Nizan no evento, de um episódio que envolveu a sua família, quando em 2019 viralizaram na internet publicações descrevendo como racista a festa de aniversário de 50 anos da sua mulher, Donata Meirelles, em Salvador. “Fábio é dos meus melhores amigos, ele é meu vizinho, mas eu vou dar uma outra perspectiva sobre o que ele falou (antes, no painel)”, disse. “Alguém na imprensa resolveu dizer que foi uma ‘festa de escravos’, e isso se espalhou pelas plataformas de conteúdo, e a minha esposa teve de deixar o seu trabalho (abaixo, assista ao trecho da discussão, em inglês, transmitida pela organizadora do evento).”

O publicitário contou que à época procurou Coelho para pedir que o conteúdo fosse retirado do ar, depois de ter ouvido do Ministério Público que a acusação de racismo era “uma mentira”. O executivo do Google, então, teria respondido que ele não era autorizado a fazer isso, pelas regras da empresa. “Ninguém sabe o efeito que isso teve na nossa família”, afirmou Nizan.

Em sua fala no evento, Nizan pediu regras mais rígidas para as grandes plataformas de internet e comparou o ambiente da internet a “um Velho Oeste”. “Eu sou um capitalista absoluto, mas precisa haver um conjunto de regras”, afirmou, acrescentando que ele precisava dar “o contraponto” ao discurso das grandes empresas de tecnologia.

“Fábio é uma bênção para o Brasil, um cara muito sério. Mas o problema dessas plataformas é que a retórica deles é muito bonita. Todos falam que querem mudar o mundo”, disse. Nizan, então, citou a compra recente, pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, de um iate de US$ 500 milhões. “Um cara que compra um barco de US$ 500 milhões odeia o mundo e odeia o mar.”

Nizan comparou o ambiente da internet a 'um Velho Oeste' Foto: Evelson de Freitas/Estadão

‘Não posso remover conteúdo’

Minutos depois da fala do publicitário, o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, deu a sua versão do episódio envolvendo a festa. “Eu não posso remover conteúdo. Não é sobre mim”, disse Coelho, e acrescentou que sugeriu a Nizan procurar a Justiça, para obter uma liminar, o que “com certeza seria levado em consideração”. Então, o Google seguiria a lei, para retirar conteúdos de crime, ódio ou racismo. Foi nesse momento que Nizan interrompeu Coelho.

A política de mediação para a remoção do conteúdo do Google envolve retirar do ar publicações e links que infringem as regras da plataforma. Mas a palavra final, em alguns casos, é da Justiça, e a empresa busca evitar assumir um papel de juiz de conteúdos disponíveis na internet.

“Não estou sendo muito gentil com você. Mas você não está sendo gentil, de forma alguma, comigo, com a minha esposa, e com a democracia”, completou Nizan.

Coelho redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação Foto: Google/Divulgação

Coelho, então, redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação. “Isso deverá ser discutido pela sociedade, pelos políticos, pelas empresas e para todas as pessoas que usam IA.”

Coelho também comentou que a discussão sobre os direitos de conteúdo em IA “estão acontecendo” e já há alguns avanços nas negociações, como também aconteceu em relação a uso de conteúdo de empresas de mídia.

“Temos 185 acordos com empresas de mídia no Brasil, para usar o conteúdo delas”, disse. E acrescentou que as empresas que não querem ter conteúdo disponível no Google podem pedir para ele ser retirado da plataforma.

‘Alguém para dizer não’

Em sua fala, Nizan defendeu: “Se o Google está no Brasil, ele precisa de alguém para dizer ‘não’. Ele não pode ser regulado de fora”. Também criticou a postura dessas empresas em relação ao uso de conteúdo produzidos por terceiros, e o uso de influência política para evitar pagar aos comunicadores. “O governador da Califórnia é muito conectado com as principais plataformas, mas eles não querem pagar os direitos de imprensa, direitos de conteúdo, todas essas coisas.”

“Então, a inteligência artificial, para nós, os ricos, será fantástica. Mas será preciso de um conjunto de regras”, concluiu.

O clima ficou pesado durante um dos painéis do evento Bloomberg New Economy at B20, que reuniu, quarta-feira, 23, em São Paulo, grandes nomes do mundo empresarial brasileiro. A discussão no palco, durante o debate chamado O dilema digital, envolveu o publicitário Nizan Guanaes, fundador e CEO da agência N.ideas e que foi dono da DM9 e do Grupo ABC, e o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho.

Quando o chefe da big tech no País disse que não poderia por conta própria remover um conteúdo mas que por meio da Justiça isso seria facilmente possível, o publicitário interrompeu Coelho, dizendo que “esse é um dos problemas, eles não podem remover (do ar) ódio”. Nizan afirmou: “Me desculpe, mas isso é uma mentira. Minha mulher passou quatro anos na Justiça tentando provar algo.” “Ódio não é conteúdo. Não se pode colocar isso na televisão. Não se pode colocar isso na imprensa. Então, vocês deveriam ser obrigados por outro tipo de leis”. Procurados pelo Estadão nesta quinta-feira, 24, ambos não quiseram se manifestar sobre a discussão da véspera.

O gatilho foi a lembrança, no início da fala de Nizan no evento, de um episódio que envolveu a sua família, quando em 2019 viralizaram na internet publicações descrevendo como racista a festa de aniversário de 50 anos da sua mulher, Donata Meirelles, em Salvador. “Fábio é dos meus melhores amigos, ele é meu vizinho, mas eu vou dar uma outra perspectiva sobre o que ele falou (antes, no painel)”, disse. “Alguém na imprensa resolveu dizer que foi uma ‘festa de escravos’, e isso se espalhou pelas plataformas de conteúdo, e a minha esposa teve de deixar o seu trabalho (abaixo, assista ao trecho da discussão, em inglês, transmitida pela organizadora do evento).”

O publicitário contou que à época procurou Coelho para pedir que o conteúdo fosse retirado do ar, depois de ter ouvido do Ministério Público que a acusação de racismo era “uma mentira”. O executivo do Google, então, teria respondido que ele não era autorizado a fazer isso, pelas regras da empresa. “Ninguém sabe o efeito que isso teve na nossa família”, afirmou Nizan.

Em sua fala no evento, Nizan pediu regras mais rígidas para as grandes plataformas de internet e comparou o ambiente da internet a “um Velho Oeste”. “Eu sou um capitalista absoluto, mas precisa haver um conjunto de regras”, afirmou, acrescentando que ele precisava dar “o contraponto” ao discurso das grandes empresas de tecnologia.

“Fábio é uma bênção para o Brasil, um cara muito sério. Mas o problema dessas plataformas é que a retórica deles é muito bonita. Todos falam que querem mudar o mundo”, disse. Nizan, então, citou a compra recente, pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, de um iate de US$ 500 milhões. “Um cara que compra um barco de US$ 500 milhões odeia o mundo e odeia o mar.”

Nizan comparou o ambiente da internet a 'um Velho Oeste' Foto: Evelson de Freitas/Estadão

‘Não posso remover conteúdo’

Minutos depois da fala do publicitário, o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, deu a sua versão do episódio envolvendo a festa. “Eu não posso remover conteúdo. Não é sobre mim”, disse Coelho, e acrescentou que sugeriu a Nizan procurar a Justiça, para obter uma liminar, o que “com certeza seria levado em consideração”. Então, o Google seguiria a lei, para retirar conteúdos de crime, ódio ou racismo. Foi nesse momento que Nizan interrompeu Coelho.

A política de mediação para a remoção do conteúdo do Google envolve retirar do ar publicações e links que infringem as regras da plataforma. Mas a palavra final, em alguns casos, é da Justiça, e a empresa busca evitar assumir um papel de juiz de conteúdos disponíveis na internet.

“Não estou sendo muito gentil com você. Mas você não está sendo gentil, de forma alguma, comigo, com a minha esposa, e com a democracia”, completou Nizan.

Coelho redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação Foto: Google/Divulgação

Coelho, então, redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação. “Isso deverá ser discutido pela sociedade, pelos políticos, pelas empresas e para todas as pessoas que usam IA.”

Coelho também comentou que a discussão sobre os direitos de conteúdo em IA “estão acontecendo” e já há alguns avanços nas negociações, como também aconteceu em relação a uso de conteúdo de empresas de mídia.

“Temos 185 acordos com empresas de mídia no Brasil, para usar o conteúdo delas”, disse. E acrescentou que as empresas que não querem ter conteúdo disponível no Google podem pedir para ele ser retirado da plataforma.

‘Alguém para dizer não’

Em sua fala, Nizan defendeu: “Se o Google está no Brasil, ele precisa de alguém para dizer ‘não’. Ele não pode ser regulado de fora”. Também criticou a postura dessas empresas em relação ao uso de conteúdo produzidos por terceiros, e o uso de influência política para evitar pagar aos comunicadores. “O governador da Califórnia é muito conectado com as principais plataformas, mas eles não querem pagar os direitos de imprensa, direitos de conteúdo, todas essas coisas.”

“Então, a inteligência artificial, para nós, os ricos, será fantástica. Mas será preciso de um conjunto de regras”, concluiu.

O clima ficou pesado durante um dos painéis do evento Bloomberg New Economy at B20, que reuniu, quarta-feira, 23, em São Paulo, grandes nomes do mundo empresarial brasileiro. A discussão no palco, durante o debate chamado O dilema digital, envolveu o publicitário Nizan Guanaes, fundador e CEO da agência N.ideas e que foi dono da DM9 e do Grupo ABC, e o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho.

Quando o chefe da big tech no País disse que não poderia por conta própria remover um conteúdo mas que por meio da Justiça isso seria facilmente possível, o publicitário interrompeu Coelho, dizendo que “esse é um dos problemas, eles não podem remover (do ar) ódio”. Nizan afirmou: “Me desculpe, mas isso é uma mentira. Minha mulher passou quatro anos na Justiça tentando provar algo.” “Ódio não é conteúdo. Não se pode colocar isso na televisão. Não se pode colocar isso na imprensa. Então, vocês deveriam ser obrigados por outro tipo de leis”. Procurados pelo Estadão nesta quinta-feira, 24, ambos não quiseram se manifestar sobre a discussão da véspera.

O gatilho foi a lembrança, no início da fala de Nizan no evento, de um episódio que envolveu a sua família, quando em 2019 viralizaram na internet publicações descrevendo como racista a festa de aniversário de 50 anos da sua mulher, Donata Meirelles, em Salvador. “Fábio é dos meus melhores amigos, ele é meu vizinho, mas eu vou dar uma outra perspectiva sobre o que ele falou (antes, no painel)”, disse. “Alguém na imprensa resolveu dizer que foi uma ‘festa de escravos’, e isso se espalhou pelas plataformas de conteúdo, e a minha esposa teve de deixar o seu trabalho (abaixo, assista ao trecho da discussão, em inglês, transmitida pela organizadora do evento).”

O publicitário contou que à época procurou Coelho para pedir que o conteúdo fosse retirado do ar, depois de ter ouvido do Ministério Público que a acusação de racismo era “uma mentira”. O executivo do Google, então, teria respondido que ele não era autorizado a fazer isso, pelas regras da empresa. “Ninguém sabe o efeito que isso teve na nossa família”, afirmou Nizan.

Em sua fala no evento, Nizan pediu regras mais rígidas para as grandes plataformas de internet e comparou o ambiente da internet a “um Velho Oeste”. “Eu sou um capitalista absoluto, mas precisa haver um conjunto de regras”, afirmou, acrescentando que ele precisava dar “o contraponto” ao discurso das grandes empresas de tecnologia.

“Fábio é uma bênção para o Brasil, um cara muito sério. Mas o problema dessas plataformas é que a retórica deles é muito bonita. Todos falam que querem mudar o mundo”, disse. Nizan, então, citou a compra recente, pelo fundador da Amazon, Jeff Bezos, de um iate de US$ 500 milhões. “Um cara que compra um barco de US$ 500 milhões odeia o mundo e odeia o mar.”

Nizan comparou o ambiente da internet a 'um Velho Oeste' Foto: Evelson de Freitas/Estadão

‘Não posso remover conteúdo’

Minutos depois da fala do publicitário, o presidente do Google no Brasil, Fábio Coelho, deu a sua versão do episódio envolvendo a festa. “Eu não posso remover conteúdo. Não é sobre mim”, disse Coelho, e acrescentou que sugeriu a Nizan procurar a Justiça, para obter uma liminar, o que “com certeza seria levado em consideração”. Então, o Google seguiria a lei, para retirar conteúdos de crime, ódio ou racismo. Foi nesse momento que Nizan interrompeu Coelho.

A política de mediação para a remoção do conteúdo do Google envolve retirar do ar publicações e links que infringem as regras da plataforma. Mas a palavra final, em alguns casos, é da Justiça, e a empresa busca evitar assumir um papel de juiz de conteúdos disponíveis na internet.

“Não estou sendo muito gentil com você. Mas você não está sendo gentil, de forma alguma, comigo, com a minha esposa, e com a democracia”, completou Nizan.

Coelho redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação Foto: Google/Divulgação

Coelho, então, redirecionou a discussão, afirmando que o surgimento da inteligência artificial é uma oportunidade para se discutir sobre regulação. “Isso deverá ser discutido pela sociedade, pelos políticos, pelas empresas e para todas as pessoas que usam IA.”

Coelho também comentou que a discussão sobre os direitos de conteúdo em IA “estão acontecendo” e já há alguns avanços nas negociações, como também aconteceu em relação a uso de conteúdo de empresas de mídia.

“Temos 185 acordos com empresas de mídia no Brasil, para usar o conteúdo delas”, disse. E acrescentou que as empresas que não querem ter conteúdo disponível no Google podem pedir para ele ser retirado da plataforma.

‘Alguém para dizer não’

Em sua fala, Nizan defendeu: “Se o Google está no Brasil, ele precisa de alguém para dizer ‘não’. Ele não pode ser regulado de fora”. Também criticou a postura dessas empresas em relação ao uso de conteúdo produzidos por terceiros, e o uso de influência política para evitar pagar aos comunicadores. “O governador da Califórnia é muito conectado com as principais plataformas, mas eles não querem pagar os direitos de imprensa, direitos de conteúdo, todas essas coisas.”

“Então, a inteligência artificial, para nós, os ricos, será fantástica. Mas será preciso de um conjunto de regras”, concluiu.

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