Os ventos devem continuar soprando a favor da entrada de capital externo na Bolsa do Brasil em 2024, refletindo as perspectivas do início da redução dos juros nos Estados Unidos e a continuidade do avanço da pauta econômica do governo. A percepção de que, nesse ambiente, as empresas podem reportar balanços melhores, com margens menos comprimidas, contribui para o movimento. Além disso, há a expectativa de novos IPOs na bolsa, o que deve atrair novos investidores.
No ano passado, a entrada de capital externo alcançou R$ 44,853 bilhões, segundo maior valor registrado desde o início da série histórica de 2004. Em 2022, o montante foi de R$ 100,824 bilhões. Para este ano, a cifra deve ser positiva novamente, segundo analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast.
“Nossa tese principal é que haverá fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa em 2024″, afirma Wesley Bernabé, head de Research do BB Investimentos (BB-BI). O economista-chefe do BV, Roberto Padovani, acredita que o cenário internacional ajudará a compensar efeitos de eventuais novos ruídos internos no mercado.
Vale lembrar que a entrada de capital externo na B3 ganhou força em novembro, com a leitura dos mercados de fim do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. Em dezembro, após a manutenção das taxas na faixa entre 5,25% e 5,50%, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, disse que houve discussões preliminares sobre a possibilidade de redução de juros.
Segundo Padovani, um quadro de corte rápido dos juros nos EUA, que por sua vez tende a instigar outros bancos centrais a reduzirem suas taxas também, é fundamental para estimular ativos de países emergentes, como o Brasil.
Focado no ritmo das economias de EUA e China, tema de 2023, Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, se diz “cautelosamente otimista” em relação à entrada de capital externo na B3. Por exemplo, as ações das empresas exportadoras poderiam sofrer em caso de esfriamento forte da atividade no exterior. Há sinais de arrefecimento da economia chinesa, mas o profissional descarta uma desaceleração abrupta.
No cenário interno, o mercado avaliou como positiva a aprovação da reforma tributária. Ao fim de dezembro, a agência de classificação de risco S&P elevou o rating de escala de longo prazo do Brasil de BB- para BB, e manteve a perspectiva estável, dizendo que a tributária marca um progresso na questão fiscal nacional. Agora, o País está a dois degraus do grau de investimento.
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O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, considera que, antes da tributária, a aprovação do arcabouço fiscal pelo Legislativo no final de agosto de 2023 já foi um dos principais fatores positivos do Brasil. “O arcabouço é importante para ter certo equilíbrio das contas públicas”, diz.
Apesar de ruídos políticos recentes, que têm gerado instabilidade na relação entre o Congresso e o governo, Mathias acredita que as rusgas tendem a ser passageiras. Na visão do estrategista, os agentes do mercado e os investidores tendem a focar mais na evolução da economia. “Claro que o principal risco é o fiscal, mas não vejo nada com muito potencial de atrapalhar as perspectivas positivas.”
Para o profissional da Monte Bravo, o fato de a inflação estar sob controle e o sinal de que o Banco Central continuará a cortar a Selic no ritmo de 0,50 ponto porcentual são os fatores que importam.