Para ganhar novo fôlego financeiro, a Restoque, dona das marcas Le Lis Blanc e Dudalina, vai propor à parte de seus credores uma troca de dívida por ações. Lutando já há alguns anos com seu elevado endividamento, a companhia vai oferecer uma troca de ao menos 75% de R$ 1,6 bilhão de seus títulos de dívida (debêntures) em ações. Isso significa que esses credores passarão, ao fim do processo, a ser acionistas da varejista de moda.
A proposta foi aprovada ontem pelo Conselho de Administração da companhia, após apresentação realizada pela Alvarez & Marsal, que assessora a empresa na reestruturação da dívida e que está reformulando o plano de extrajudicial da Restoque aprovado em 2020. A possibilidade foi bem recebida pelo mercado e as ações da empresa registravam na manhã desta terça-feira, 7, cerca de 20%.
Os moldes da recapitalização da varejista foram formulados pela gestora WNT Capital, que investe em empresas em dificuldades financeiras e que administra R$ 5,2 bilhões em recursos, tem 55,8% das debêntures emitidas em 2021, que na época somavam R$ 1,4 bilhão. O pagamento de juros desses papéis já foi adiado duas vezes, o que elevou o valor da dívida.
A Restoque já foi uma aposta para consolidar o mercado de varejo de moda no Brasil e, no passado, recebeu investimentos de fundos de private equity (que compram participaçãode empresas) Advent e Warburg Pincus, que já zeraram suas posições. Com sua crise piorada com a pandemia, a Restoque vem operando no vermelho. No primeiro trimestre deste ano, a companhia registrou um prejuízo de R$ 59 milhões.
Dívida ‘estressada’
Para a agência de classificação de riscos Fitch, essa conversão da dívida é positiva para a estrutura de capital do grupo, que na avaliação da agência de rating não deve gerar caixa suficiente para honrar seus compromissos com dívidas este ano. A Fitch classifica a dívida da Restoque como “estressada”, o que significa alta possibilidade de insolvência, conforme comunicou ao mercado no fim de março.
A dívida que não for convertida vai migrar para uma nova debênture, com vencimento em dez anos, mas com três anos de carência. A remuneração das novas debêntures será de 1% ao ano, somado ao CDI. As atuais debêntures seguirão existindo, para aqueles que não aderirem à proposta, com vencimento em 20 anos e remuneração pela Taxa Referencial, ou seja, bem abaixo da taxa básica de juros. A estimativa é que a dívida caia para R$ 150 milhões após o processo.