Após superar os 10% de participação no capital da Light, com a compra de parte da participação da BlackRock na distribuidora de energia fluminense, Nelson Tanure quer agora convocar uma assembleia-geral extraordinária (AGE) para pedir a troca de conselheiros e mudanças na diretoria, além de uma proposta de injeção de pelo menos R$ 1 bilhão, valor que o empresário já teria à mão. Tanure já se reuniu com alguns credores nesta sexta-feira, 5. Os recursos seriam colocados na companhia por meio de um aumento de capital.
O Estadão/Broadcast apurou que a ideia do empresário é dar um cavalo de pau nos rumos que a empresa vinha adotando para renegociar dívidas. Atualmente a Light tem uma dívida bruta de aproximadamente R$ 11 bilhões, sendo R$ 7 bilhões em debêntures, a maior parte com vencimento nos próximos três anos.
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“A reunião com credores é decisiva para o futuro da empresa”, disse uma fonte a par da situação, mas que aceitou falar sem ter seu nome divulgado. A conversa ainda não chegou ao grupo de detentores de bonds, títulos emitidos no exterior, que têm R$ 3,1 bilhões em créditos contra a empresa.
O aumento de capital ajudaria a Light a sanar o problema de liquidez no curto prazo, que tem obrigações que superam R$ 1 bilhão nos próximos meses, de acordo com relato de fontes. Com isso, o empresário espera acalmar os ânimos e pacificar a disputa com credores, que temem um possível pedido de recuperação judicial (RJ) da controladora com efeitos estendidos às subsidiárias, como a distribuidora de energia, que, por lei, não pode pedir a RJ. A operação também daria fôlego para a empresa negociar a renovação de sua concessão, que vence em 2026, já que esse é um processo que deve levar meses para ser concluído.
Um dos principais desafios na proposta do empresário será estimar o valor justo na operação de aumento e capital, o que deve envolver a busca de uma assessoria independente para realizar os cálculos. A Light contratou a Laplace para trabalhar na reestruturação de seu passivo e conversar com os credores.
A reação dos credores que estiveram em tais conversas foi positiva ao discurso de Tanure desta sexta-feira, sinalizando que o empresário busca aliados no grupo, segundo uma fonte. Um credor que participou das cerca de duas horas da reunião nesta sexta-feira avaliou o discurso de Tanure como “nota 10″. Com isso, sinalizou disposição em engajar com o investidor na construção de uma solução, embora saliente não haver exclusividade e pode conversar com outros eventuais interessados.
“Foi uma conversa melhor do que os três meses de conversa que estamos tentando ter com o management [administração] atual”, disse, na condição de anonimato. Para ele, a atual condução das negociações falha, por ser muito hostil e morosa, levando à destruição do valor dos credores. Títulos de dívida da companhia chegaram a ser negociados a 30% do valor de face e sinalizaram recuperação em meio às sinalizações de conversas de credores com Tanure. Por isso, veem com bons olhos uma possível mudança no comando da companhia.
“De fato, haverá troca de conselheiros e da diretoria. O Nelson Tanure entrou na empresa para fazer uma reestruturação, o que inclui a capitalização da companhia”, disse uma fonte. As ações da companhia sobem desde o dia 24 de abril e já acumulam alta de 70%, em meio à manutenção da liminar pela Justiça do Rio de Janeiro que suspende as cobranças de credores contra a companhia e de conversas com a Aneel de revisão tarifária extraordinária. Nesta sexta-feira, subiu 1,04%.
Em nove dias, o valor de mercado da companhia saiu de R$ 838,2 milhões para 1,445 bilhão há pouco, uma apreciação de 71%.
Para um gestor, Tanure tem o perfil dos “investidores ativistas americanos”, por isso, não está aumentando a participação na Light para ficar quieto. Ao contrário, quer barulho. Por isso, será ativo em propostas e na tentativa de mudança da empresa de energia.