Autoridades de Nova York lançaram a venda legal de maconha recreativa prometendo que muitas das primeiras licenças de operação seriam concedidas a pessoas com condenações por crimes relacionados a narcóticos, esperando dar às pessoas prejudicadas pela guerra às drogas uma chance de sucesso comercial antes que o mercado seja inundado por concorrentes diversos.
Mas mais de nove meses após o início das vendas, apenas cerca de 25 aprovados pelo Estado abriram suas portas. Desafios legais sobre o processo de licenciamento do Estado deixaram mais de 400 licenciados provisórios no limbo jurídico. Com isso, os produtores de maconha estão sofrendo porque há poucas lojas para vender o produto de suas colheitas.
Os reguladores estaduais estão agora expandindo o mercado em meio a essas dificuldades. Eles recentemente abriram uma janela de inscrição geral de 60 dias para interessados em cultivar, processar, distribuir ou vender maconha, com a expectativa de emitir mais de 1.000 novas licenças. Novas regras também permitirão que empresas licenciadas para plantar e vender maconha medicinal em Nova Iorque entrem no mercado recreativo.
LEIA TAMBÉM
Essas medidas devem aumentar o número de aprovados legais de um mercado atualmente dominado por vendedores do mercado negro que simplesmente abriram lojas de varejo sem licença. Mas a perspectiva de competir com os fornecedores de maconha medicinal preocupa alguns produtores e varejistas que temem ser esmagados por empresas com bolsos mais recheados antes de terem a chance de se estabelecer.
“Minha preocupação é que eles têm todo o dinheiro para nos eliminar”, disse Coss Marte, que teve a abertura de sua empresa chamada CONBUD, de Manhattan, adiada devido a um processo contra os reguladores do estado. “Eles são integrados verticalmente. Então, agora o que eles podem fazer é... cultivar seu próprio produto pelo preço mais barato e, basicamente, superar todos os agricultores, todos os nossos produtos e todos os nossos preços.”
Críticos atribuem o lento crescimento do varejo de Nova York em parte a questões burocráticas, como atrasos na criação de um fundo de “investimentos sociais” de US$ 200 milhões, para ajudar os candidatos a abrir lojas. O lançamento também foi prejudicado por processos movidos em nome de pessoas e empresas excluídas da primeira onda de licenças de varejo.
A loja de Marte estava entre as temporariamente bloqueadas por um juiz de abrir, após um grupo processar em nome de veteranos de guerra com deficiências, alegando que foram excluídos injustamente de se candidatar a uma licença. Marte, que tem uma condenação por drogas no passado, estava pagando aluguel por uma loja que não podia abrir.
Recentemente, um juiz decidiu que a loja de Marte e várias outras poderiam abrir. Mas o destino de muitos outros detentores de licenças provisórias, como Carson Grant, também de Nova York, permaneceu incerto. Após meses de atrasos na abertura de sua loja no Queens, ele estava considerando reaplicar para uma licença nesta rodada geral. “É emocionalmente muito difícil”, disse ele.
O consultor sênior da Coalizão de Investimentos Sociais de Cannabis, Reginald Fluellen, culpou o estado por um lançamento mal executado. “Eles falharam miseravelmente em proporcionar às pessoas envolvidas o tipo de vantagem no mercado que prometeram”, disse Fluellen.
Sob as novas regulamentações, os provedores de maconha medicinal poderão iniciar as vendas recreativas em uma de seus comércios existentes a partir de 29 de dezembro. Eles poderão começar a vender maconha recreativa em mais duas lojas seis meses depois. O preço de entrada para essas empresas é alto: uma taxa de licenciamento de US$ 20 milhões, com US$ 5 milhões de pagamento inicial. No entanto, espera-se que várias empresas entrem no mercado.
“Esperamos que Nova York seja o centro, ou um dos centros, de maconha legal na Costa Leste”, disse o CEO da Curaleaf, Matt Darin. “E, portanto, estamos muito otimistas e investimos muito capital e tempo para maximizar a oportunidade.”
A Curaleaf, que opera em vários estados, já investiu US$ 50 milhões em Nova York, a maior parte disso em uma instalação de cultivo indoor recentemente expandida ao sul de Albany, que agora atende ao mercado medicinal. As fileiras de plantas amadurecem em salas intensamente iluminadas, onde a umidade, temperatura e nutrição são estritamente controladas - uma cena que contrasta com os campos e estufas que têm definido o mercado de uso adulto de Nova York desde o início do cultivo no ano passado.
A Curaleaf poderá dobrar o tamanho da instalação para 0,62 hectare, se o mercado assim permitir, afirma o vice-presidente executivo, Joe Holland.
Para evitar monopólios no varejo, os fornecedores medicinais serão limitados a três lojas. E, em auxílio aos agricultores, suas lojas terão de dedicar inicialmente metade do espaço nas prateleiras a produtos cultivados e processados por empresas independentes.
Ainda assim, os críticos dizem que o estado deveria ter permitido mais tempo para que empreendedores economica e socialmente diversos prosperassem antes de permitir a entrada de concorrentes maiores.
Joseph Calderone, da cultivadora Grateful Valley Farm, localizada perto da fronteira com a Pensilvânia, comparou a situação a pequenas lojas de ferragens competindo com grandes lojas de departamentos. Grandes instalações indoor, ele diz, podem produzir várias colheitas por ano. Enquanto isso, as fazendas com dificuldades para vender suas colheitas estão “à beira do fracasso”, afirma.
“Nos foi dada uma chance justa de crescer. Fomos solicitados a fazer isso”, disse ele. “Cumprimos nossa promessa. O estado não cumpriu sua promessa.”
O diretor-executivo do Escritório de Gestão de Cannabis, Chris Alexander, defende que as novas regulamentações mantêm o compromisso de Nova York com a equidade social e econômica, ao mesmo tempo em que tornam o mercado mais competitivo do que em outros estados. Isso inclui dar prioridade aos candidatos sociais na rodada atual.
Embora reconhecendo que houve alguma “frustração” na abertura de lojas, Alexander diz que o estado demonstrou que um mercado fornecido por pequenos agricultores pode funcionar. “Temos alguns dos varejos de melhor desempenho do país bem aqui em Nova York”, afirma.
E ainda há espaço para crescer. Os reguladores estimaram que Nova York eventualmente precisará de, pelo menos, 2.000 unidades para atender à demanda.
“Acredito que há negócios suficientes para todos”, diz o CEO da Statis Cannabis Co, Christian Chavez. Segundo ele, as vendas têm sido boas desde a abertura de sua loja no Bronx, em julho. “Acho que levará algum tempo até que esse mercado fique saturado em Nova York.” / AP