‘Consumidor não sabe impacto de uma camiseta de R$ 10 comprada de um site chinês’, diz CEO da Malwee


Executivo pede que haja isonomia de tratamento tributário com as plataformas digitais que vendem importados no País

Por Talita Nascimento
Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO
Entrevista comGuilherme WeegeCEO da Malwee

Mesmo com a concorrência avassaladora dos sites chineses, o grupo Malwee tem registrado crescimento consistente nos últimos anos. A companhia, que faturou em 2022 R$ 1,5 bilhão, dobrou de tamanho no pós pandemia e deve manter o ritmo de crescimento na casa de dois dígitos em 2023.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o CEO da companhia, Guilherme Weege, diz que um dos maiores desafios do negócio é o de manter os valores de sustentabilidade da empresa em um ambiente que, na prática, não reflete essas práticas de meio ambiente, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).

“É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito”, afirma Weege.

continua após a publicidade

Ele diz ainda que é preciso que os consumidores também sejam levados a refletir sobre o que está por trás de peças de roupas produzidas em grande escala a preços baixos: “Muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China”, diz.

O executivo acredita que a competição leal faz bem ao mercado e à indústria, mas pede, como a maioria dos empresários nacionais da moda, isonomia de tratamento tributário para com as plataformas digitais que vendem importados.

continua após a publicidade

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Uma empresa de 55 anos já passou por muitos momentos difíceis no País. Qual foi o mais desafiador?

Os desafios são muitos, pois fazer uma moda ética, sustentável e de forma inovadora vai muito além do que as pessoas possam imaginar. É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito. Reforço, sempre que possível, que a sustentabilidade não pode começar pelo marketing. Nosso espírito pioneiro e o investimento em inovações nos permitiram alcançar a marca de 92% de peças produzidas com métodos e matérias-primas de menor impacto ambiental. Ainda, nos destacamos como uma das empresas brasileiras que menos emite carbono na produção.

continua após a publicidade

Como a companhia fez para se manter sólida com tantos solavancos econômicos no Brasil?

Penso que nos momentos desafiadores é fundamental ter adaptabilidade e atenção aos movimentos que o mercado está dando. Nesses 55 anos, nos reinventamos permanentemente, mas sem jamais perder a nossa essência. Se por um lado ter um planejamento consistente é importante, o foco na execução é o diferencial, pois é o que permite enfrentar as adversidades. Acredito que a pandemia é o maior exemplo, pois conseguimos agir de forma rápida e nos reinventamos com criatividade. A produção dos equipamentos de proteção individual (EPIs) seguraram a nossa cadeia, nos dando condições de pagar fornecedores e de também dar um prazo maior aos nossos clientes.

Como a empresa tem navegado nesse momento de juros altos e consumidor com renda comprometida?

continua após a publicidade

Há muitos obstáculos macroeconômicos e um ambiente desafiador tanto no digital quanto no offline. A questão fiscal, por exemplo, é um aspecto que pode comprometer o desempenho econômico do varejo e da indústria. Enquanto as empresas brasileiras pagam seus impostos, a isenção de tributos federais para compras online de até US$ 50, que entrou em vigência em agosto, poderá causar até 2,5 milhões de demissões, conforme apontaram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Porém, mantemos nosso foco em eficiência e continuamos analisando o mercado não a curto, mas a médio e longo prazo. Desta forma, não deixamos de investir e de buscar inovações que nos permitam evoluir em nosso propósito de construir um mundo feito para durar. E, claro, havendo juros mais baixos no futuro, é possível termos um ciclo melhor para o varejo.

Guilherme Weege diz que empresa tem investido mais em inovação e novos modelos de lojas Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Nesse contexto, quais são os principais investimentos recentes da empresa?

continua após a publicidade

Temos um plano de expansão que iniciou em regiões estratégicas: São Paulo, uma das capitais da moda brasileira; e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde fica a sede da empresa. Investimos R$ 3,5 milhões para inovar e criar dois novos modelos de loja, além de inaugurar as respectivas novas unidades nas regiões Sudeste e Sul, que concentram os maiores gastos com vestuário no Brasil. Dentro da expectativa atual de mercado, com esse movimento, esperamos crescer acima de dois dígitos este ano.

A receita da companhia diminuiu nesse período de dificuldade? E o volume de vendas?

Dobramos de tamanho desde o início da pandemia enquanto investimos continuamente na ampliação do parque fabril e dos canais de distribuição. Atualmente, concentramos esforços na área de inovação. Em 2022, a nossa produção anual totalizou mais de 43 milhões de peças e nosso faturamento foi de R$ 1,5 bilhão, o que representa um crescimento de 17% (sobre 2021).

continua após a publicidade

Foi possível repassar preço ao consumidor?

É inevitável não fazê-lo. Enfrentamos um aumento de 70% na nossa matéria-prima, o fio, mas isso já normalizou. O nosso desafio é fazer uma moda sustentável e acessível, tanto em questões de valores como de opções nas coleções. Trazendo para o tangível, nossas peças têm os mesmos valores que a concorrência nacional. Citando o jeans como exemplo, o nosso usa 98% menos água que as demais marcas. Mas será que essa preocupação tem feito diferença na hora da compra? É por isso que defendo amplamente a necessidade de um debate aberto e permanente sobre os impactos das escolhas individuais para o coletivo.

Qual o maior desafio do Grupo Malwee para os próximos 50 anos no País?

Acreditamos que a moda não é para ser descartada. É assustador pensar que cerca de 70% do que temos no guarda-roupa não é usado e que cada peça é utilizada apenas 7 vezes até ser descartada. Essa fórmula Fast Fashion não se encaixa mais em um mundo que vive emergências climáticas e humanitárias. O que o Grupo Malwee e as nossas marcas propõem é um novo jeito de produzir e de consumir moda. Acreditamos que um dos nossos maiores desafios seja tornar o acesso à moda sustentável como algo permanente nas coleções. Não apenas fazendo edições cápsulas (coleções menores). E claro, com muito esforço em comunicação, será possível tornar essas peças objetos de desejos aos clientes.

Como a entrada de players estrangeiros no País afeta o negócio do Grupo Malwee hoje?

Nesta questão é muito importante destacar que muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China. Existe ali um alto consumo de água, energia, gás carbônico, baixa remuneração de mão de obra e diversos outros problemas. Precisamos falar mais sobre o assunto! Colocar luz sobre a indústria da moda, mostrar como ela funciona e os seus impactos. Acredito que o processo de abrir portas para empresas estrangeiras exige isonomia do mercado e da estrutura macroeconômica. É necessário garantir que todas as organizações - locais ou estrangeiras - sejam tratadas de forma justa e com condições iguais. Além disso, eu acredito que a concorrência leal nos faz melhores, afinal, não existe oceano azul na indústria.

Mesmo com a concorrência avassaladora dos sites chineses, o grupo Malwee tem registrado crescimento consistente nos últimos anos. A companhia, que faturou em 2022 R$ 1,5 bilhão, dobrou de tamanho no pós pandemia e deve manter o ritmo de crescimento na casa de dois dígitos em 2023.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o CEO da companhia, Guilherme Weege, diz que um dos maiores desafios do negócio é o de manter os valores de sustentabilidade da empresa em um ambiente que, na prática, não reflete essas práticas de meio ambiente, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).

“É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito”, afirma Weege.

Ele diz ainda que é preciso que os consumidores também sejam levados a refletir sobre o que está por trás de peças de roupas produzidas em grande escala a preços baixos: “Muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China”, diz.

O executivo acredita que a competição leal faz bem ao mercado e à indústria, mas pede, como a maioria dos empresários nacionais da moda, isonomia de tratamento tributário para com as plataformas digitais que vendem importados.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Uma empresa de 55 anos já passou por muitos momentos difíceis no País. Qual foi o mais desafiador?

Os desafios são muitos, pois fazer uma moda ética, sustentável e de forma inovadora vai muito além do que as pessoas possam imaginar. É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito. Reforço, sempre que possível, que a sustentabilidade não pode começar pelo marketing. Nosso espírito pioneiro e o investimento em inovações nos permitiram alcançar a marca de 92% de peças produzidas com métodos e matérias-primas de menor impacto ambiental. Ainda, nos destacamos como uma das empresas brasileiras que menos emite carbono na produção.

Como a companhia fez para se manter sólida com tantos solavancos econômicos no Brasil?

Penso que nos momentos desafiadores é fundamental ter adaptabilidade e atenção aos movimentos que o mercado está dando. Nesses 55 anos, nos reinventamos permanentemente, mas sem jamais perder a nossa essência. Se por um lado ter um planejamento consistente é importante, o foco na execução é o diferencial, pois é o que permite enfrentar as adversidades. Acredito que a pandemia é o maior exemplo, pois conseguimos agir de forma rápida e nos reinventamos com criatividade. A produção dos equipamentos de proteção individual (EPIs) seguraram a nossa cadeia, nos dando condições de pagar fornecedores e de também dar um prazo maior aos nossos clientes.

Como a empresa tem navegado nesse momento de juros altos e consumidor com renda comprometida?

Há muitos obstáculos macroeconômicos e um ambiente desafiador tanto no digital quanto no offline. A questão fiscal, por exemplo, é um aspecto que pode comprometer o desempenho econômico do varejo e da indústria. Enquanto as empresas brasileiras pagam seus impostos, a isenção de tributos federais para compras online de até US$ 50, que entrou em vigência em agosto, poderá causar até 2,5 milhões de demissões, conforme apontaram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Porém, mantemos nosso foco em eficiência e continuamos analisando o mercado não a curto, mas a médio e longo prazo. Desta forma, não deixamos de investir e de buscar inovações que nos permitam evoluir em nosso propósito de construir um mundo feito para durar. E, claro, havendo juros mais baixos no futuro, é possível termos um ciclo melhor para o varejo.

Guilherme Weege diz que empresa tem investido mais em inovação e novos modelos de lojas Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Nesse contexto, quais são os principais investimentos recentes da empresa?

Temos um plano de expansão que iniciou em regiões estratégicas: São Paulo, uma das capitais da moda brasileira; e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde fica a sede da empresa. Investimos R$ 3,5 milhões para inovar e criar dois novos modelos de loja, além de inaugurar as respectivas novas unidades nas regiões Sudeste e Sul, que concentram os maiores gastos com vestuário no Brasil. Dentro da expectativa atual de mercado, com esse movimento, esperamos crescer acima de dois dígitos este ano.

A receita da companhia diminuiu nesse período de dificuldade? E o volume de vendas?

Dobramos de tamanho desde o início da pandemia enquanto investimos continuamente na ampliação do parque fabril e dos canais de distribuição. Atualmente, concentramos esforços na área de inovação. Em 2022, a nossa produção anual totalizou mais de 43 milhões de peças e nosso faturamento foi de R$ 1,5 bilhão, o que representa um crescimento de 17% (sobre 2021).

Foi possível repassar preço ao consumidor?

É inevitável não fazê-lo. Enfrentamos um aumento de 70% na nossa matéria-prima, o fio, mas isso já normalizou. O nosso desafio é fazer uma moda sustentável e acessível, tanto em questões de valores como de opções nas coleções. Trazendo para o tangível, nossas peças têm os mesmos valores que a concorrência nacional. Citando o jeans como exemplo, o nosso usa 98% menos água que as demais marcas. Mas será que essa preocupação tem feito diferença na hora da compra? É por isso que defendo amplamente a necessidade de um debate aberto e permanente sobre os impactos das escolhas individuais para o coletivo.

Qual o maior desafio do Grupo Malwee para os próximos 50 anos no País?

Acreditamos que a moda não é para ser descartada. É assustador pensar que cerca de 70% do que temos no guarda-roupa não é usado e que cada peça é utilizada apenas 7 vezes até ser descartada. Essa fórmula Fast Fashion não se encaixa mais em um mundo que vive emergências climáticas e humanitárias. O que o Grupo Malwee e as nossas marcas propõem é um novo jeito de produzir e de consumir moda. Acreditamos que um dos nossos maiores desafios seja tornar o acesso à moda sustentável como algo permanente nas coleções. Não apenas fazendo edições cápsulas (coleções menores). E claro, com muito esforço em comunicação, será possível tornar essas peças objetos de desejos aos clientes.

Como a entrada de players estrangeiros no País afeta o negócio do Grupo Malwee hoje?

Nesta questão é muito importante destacar que muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China. Existe ali um alto consumo de água, energia, gás carbônico, baixa remuneração de mão de obra e diversos outros problemas. Precisamos falar mais sobre o assunto! Colocar luz sobre a indústria da moda, mostrar como ela funciona e os seus impactos. Acredito que o processo de abrir portas para empresas estrangeiras exige isonomia do mercado e da estrutura macroeconômica. É necessário garantir que todas as organizações - locais ou estrangeiras - sejam tratadas de forma justa e com condições iguais. Além disso, eu acredito que a concorrência leal nos faz melhores, afinal, não existe oceano azul na indústria.

Mesmo com a concorrência avassaladora dos sites chineses, o grupo Malwee tem registrado crescimento consistente nos últimos anos. A companhia, que faturou em 2022 R$ 1,5 bilhão, dobrou de tamanho no pós pandemia e deve manter o ritmo de crescimento na casa de dois dígitos em 2023.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o CEO da companhia, Guilherme Weege, diz que um dos maiores desafios do negócio é o de manter os valores de sustentabilidade da empresa em um ambiente que, na prática, não reflete essas práticas de meio ambiente, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).

“É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito”, afirma Weege.

Ele diz ainda que é preciso que os consumidores também sejam levados a refletir sobre o que está por trás de peças de roupas produzidas em grande escala a preços baixos: “Muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China”, diz.

O executivo acredita que a competição leal faz bem ao mercado e à indústria, mas pede, como a maioria dos empresários nacionais da moda, isonomia de tratamento tributário para com as plataformas digitais que vendem importados.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Uma empresa de 55 anos já passou por muitos momentos difíceis no País. Qual foi o mais desafiador?

Os desafios são muitos, pois fazer uma moda ética, sustentável e de forma inovadora vai muito além do que as pessoas possam imaginar. É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito. Reforço, sempre que possível, que a sustentabilidade não pode começar pelo marketing. Nosso espírito pioneiro e o investimento em inovações nos permitiram alcançar a marca de 92% de peças produzidas com métodos e matérias-primas de menor impacto ambiental. Ainda, nos destacamos como uma das empresas brasileiras que menos emite carbono na produção.

Como a companhia fez para se manter sólida com tantos solavancos econômicos no Brasil?

Penso que nos momentos desafiadores é fundamental ter adaptabilidade e atenção aos movimentos que o mercado está dando. Nesses 55 anos, nos reinventamos permanentemente, mas sem jamais perder a nossa essência. Se por um lado ter um planejamento consistente é importante, o foco na execução é o diferencial, pois é o que permite enfrentar as adversidades. Acredito que a pandemia é o maior exemplo, pois conseguimos agir de forma rápida e nos reinventamos com criatividade. A produção dos equipamentos de proteção individual (EPIs) seguraram a nossa cadeia, nos dando condições de pagar fornecedores e de também dar um prazo maior aos nossos clientes.

Como a empresa tem navegado nesse momento de juros altos e consumidor com renda comprometida?

Há muitos obstáculos macroeconômicos e um ambiente desafiador tanto no digital quanto no offline. A questão fiscal, por exemplo, é um aspecto que pode comprometer o desempenho econômico do varejo e da indústria. Enquanto as empresas brasileiras pagam seus impostos, a isenção de tributos federais para compras online de até US$ 50, que entrou em vigência em agosto, poderá causar até 2,5 milhões de demissões, conforme apontaram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Porém, mantemos nosso foco em eficiência e continuamos analisando o mercado não a curto, mas a médio e longo prazo. Desta forma, não deixamos de investir e de buscar inovações que nos permitam evoluir em nosso propósito de construir um mundo feito para durar. E, claro, havendo juros mais baixos no futuro, é possível termos um ciclo melhor para o varejo.

Guilherme Weege diz que empresa tem investido mais em inovação e novos modelos de lojas Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Nesse contexto, quais são os principais investimentos recentes da empresa?

Temos um plano de expansão que iniciou em regiões estratégicas: São Paulo, uma das capitais da moda brasileira; e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde fica a sede da empresa. Investimos R$ 3,5 milhões para inovar e criar dois novos modelos de loja, além de inaugurar as respectivas novas unidades nas regiões Sudeste e Sul, que concentram os maiores gastos com vestuário no Brasil. Dentro da expectativa atual de mercado, com esse movimento, esperamos crescer acima de dois dígitos este ano.

A receita da companhia diminuiu nesse período de dificuldade? E o volume de vendas?

Dobramos de tamanho desde o início da pandemia enquanto investimos continuamente na ampliação do parque fabril e dos canais de distribuição. Atualmente, concentramos esforços na área de inovação. Em 2022, a nossa produção anual totalizou mais de 43 milhões de peças e nosso faturamento foi de R$ 1,5 bilhão, o que representa um crescimento de 17% (sobre 2021).

Foi possível repassar preço ao consumidor?

É inevitável não fazê-lo. Enfrentamos um aumento de 70% na nossa matéria-prima, o fio, mas isso já normalizou. O nosso desafio é fazer uma moda sustentável e acessível, tanto em questões de valores como de opções nas coleções. Trazendo para o tangível, nossas peças têm os mesmos valores que a concorrência nacional. Citando o jeans como exemplo, o nosso usa 98% menos água que as demais marcas. Mas será que essa preocupação tem feito diferença na hora da compra? É por isso que defendo amplamente a necessidade de um debate aberto e permanente sobre os impactos das escolhas individuais para o coletivo.

Qual o maior desafio do Grupo Malwee para os próximos 50 anos no País?

Acreditamos que a moda não é para ser descartada. É assustador pensar que cerca de 70% do que temos no guarda-roupa não é usado e que cada peça é utilizada apenas 7 vezes até ser descartada. Essa fórmula Fast Fashion não se encaixa mais em um mundo que vive emergências climáticas e humanitárias. O que o Grupo Malwee e as nossas marcas propõem é um novo jeito de produzir e de consumir moda. Acreditamos que um dos nossos maiores desafios seja tornar o acesso à moda sustentável como algo permanente nas coleções. Não apenas fazendo edições cápsulas (coleções menores). E claro, com muito esforço em comunicação, será possível tornar essas peças objetos de desejos aos clientes.

Como a entrada de players estrangeiros no País afeta o negócio do Grupo Malwee hoje?

Nesta questão é muito importante destacar que muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China. Existe ali um alto consumo de água, energia, gás carbônico, baixa remuneração de mão de obra e diversos outros problemas. Precisamos falar mais sobre o assunto! Colocar luz sobre a indústria da moda, mostrar como ela funciona e os seus impactos. Acredito que o processo de abrir portas para empresas estrangeiras exige isonomia do mercado e da estrutura macroeconômica. É necessário garantir que todas as organizações - locais ou estrangeiras - sejam tratadas de forma justa e com condições iguais. Além disso, eu acredito que a concorrência leal nos faz melhores, afinal, não existe oceano azul na indústria.

Mesmo com a concorrência avassaladora dos sites chineses, o grupo Malwee tem registrado crescimento consistente nos últimos anos. A companhia, que faturou em 2022 R$ 1,5 bilhão, dobrou de tamanho no pós pandemia e deve manter o ritmo de crescimento na casa de dois dígitos em 2023.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o CEO da companhia, Guilherme Weege, diz que um dos maiores desafios do negócio é o de manter os valores de sustentabilidade da empresa em um ambiente que, na prática, não reflete essas práticas de meio ambiente, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).

“É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito”, afirma Weege.

Ele diz ainda que é preciso que os consumidores também sejam levados a refletir sobre o que está por trás de peças de roupas produzidas em grande escala a preços baixos: “Muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China”, diz.

O executivo acredita que a competição leal faz bem ao mercado e à indústria, mas pede, como a maioria dos empresários nacionais da moda, isonomia de tratamento tributário para com as plataformas digitais que vendem importados.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Uma empresa de 55 anos já passou por muitos momentos difíceis no País. Qual foi o mais desafiador?

Os desafios são muitos, pois fazer uma moda ética, sustentável e de forma inovadora vai muito além do que as pessoas possam imaginar. É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito. Reforço, sempre que possível, que a sustentabilidade não pode começar pelo marketing. Nosso espírito pioneiro e o investimento em inovações nos permitiram alcançar a marca de 92% de peças produzidas com métodos e matérias-primas de menor impacto ambiental. Ainda, nos destacamos como uma das empresas brasileiras que menos emite carbono na produção.

Como a companhia fez para se manter sólida com tantos solavancos econômicos no Brasil?

Penso que nos momentos desafiadores é fundamental ter adaptabilidade e atenção aos movimentos que o mercado está dando. Nesses 55 anos, nos reinventamos permanentemente, mas sem jamais perder a nossa essência. Se por um lado ter um planejamento consistente é importante, o foco na execução é o diferencial, pois é o que permite enfrentar as adversidades. Acredito que a pandemia é o maior exemplo, pois conseguimos agir de forma rápida e nos reinventamos com criatividade. A produção dos equipamentos de proteção individual (EPIs) seguraram a nossa cadeia, nos dando condições de pagar fornecedores e de também dar um prazo maior aos nossos clientes.

Como a empresa tem navegado nesse momento de juros altos e consumidor com renda comprometida?

Há muitos obstáculos macroeconômicos e um ambiente desafiador tanto no digital quanto no offline. A questão fiscal, por exemplo, é um aspecto que pode comprometer o desempenho econômico do varejo e da indústria. Enquanto as empresas brasileiras pagam seus impostos, a isenção de tributos federais para compras online de até US$ 50, que entrou em vigência em agosto, poderá causar até 2,5 milhões de demissões, conforme apontaram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Porém, mantemos nosso foco em eficiência e continuamos analisando o mercado não a curto, mas a médio e longo prazo. Desta forma, não deixamos de investir e de buscar inovações que nos permitam evoluir em nosso propósito de construir um mundo feito para durar. E, claro, havendo juros mais baixos no futuro, é possível termos um ciclo melhor para o varejo.

Guilherme Weege diz que empresa tem investido mais em inovação e novos modelos de lojas Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Nesse contexto, quais são os principais investimentos recentes da empresa?

Temos um plano de expansão que iniciou em regiões estratégicas: São Paulo, uma das capitais da moda brasileira; e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde fica a sede da empresa. Investimos R$ 3,5 milhões para inovar e criar dois novos modelos de loja, além de inaugurar as respectivas novas unidades nas regiões Sudeste e Sul, que concentram os maiores gastos com vestuário no Brasil. Dentro da expectativa atual de mercado, com esse movimento, esperamos crescer acima de dois dígitos este ano.

A receita da companhia diminuiu nesse período de dificuldade? E o volume de vendas?

Dobramos de tamanho desde o início da pandemia enquanto investimos continuamente na ampliação do parque fabril e dos canais de distribuição. Atualmente, concentramos esforços na área de inovação. Em 2022, a nossa produção anual totalizou mais de 43 milhões de peças e nosso faturamento foi de R$ 1,5 bilhão, o que representa um crescimento de 17% (sobre 2021).

Foi possível repassar preço ao consumidor?

É inevitável não fazê-lo. Enfrentamos um aumento de 70% na nossa matéria-prima, o fio, mas isso já normalizou. O nosso desafio é fazer uma moda sustentável e acessível, tanto em questões de valores como de opções nas coleções. Trazendo para o tangível, nossas peças têm os mesmos valores que a concorrência nacional. Citando o jeans como exemplo, o nosso usa 98% menos água que as demais marcas. Mas será que essa preocupação tem feito diferença na hora da compra? É por isso que defendo amplamente a necessidade de um debate aberto e permanente sobre os impactos das escolhas individuais para o coletivo.

Qual o maior desafio do Grupo Malwee para os próximos 50 anos no País?

Acreditamos que a moda não é para ser descartada. É assustador pensar que cerca de 70% do que temos no guarda-roupa não é usado e que cada peça é utilizada apenas 7 vezes até ser descartada. Essa fórmula Fast Fashion não se encaixa mais em um mundo que vive emergências climáticas e humanitárias. O que o Grupo Malwee e as nossas marcas propõem é um novo jeito de produzir e de consumir moda. Acreditamos que um dos nossos maiores desafios seja tornar o acesso à moda sustentável como algo permanente nas coleções. Não apenas fazendo edições cápsulas (coleções menores). E claro, com muito esforço em comunicação, será possível tornar essas peças objetos de desejos aos clientes.

Como a entrada de players estrangeiros no País afeta o negócio do Grupo Malwee hoje?

Nesta questão é muito importante destacar que muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China. Existe ali um alto consumo de água, energia, gás carbônico, baixa remuneração de mão de obra e diversos outros problemas. Precisamos falar mais sobre o assunto! Colocar luz sobre a indústria da moda, mostrar como ela funciona e os seus impactos. Acredito que o processo de abrir portas para empresas estrangeiras exige isonomia do mercado e da estrutura macroeconômica. É necessário garantir que todas as organizações - locais ou estrangeiras - sejam tratadas de forma justa e com condições iguais. Além disso, eu acredito que a concorrência leal nos faz melhores, afinal, não existe oceano azul na indústria.

Mesmo com a concorrência avassaladora dos sites chineses, o grupo Malwee tem registrado crescimento consistente nos últimos anos. A companhia, que faturou em 2022 R$ 1,5 bilhão, dobrou de tamanho no pós pandemia e deve manter o ritmo de crescimento na casa de dois dígitos em 2023.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, o CEO da companhia, Guilherme Weege, diz que um dos maiores desafios do negócio é o de manter os valores de sustentabilidade da empresa em um ambiente que, na prática, não reflete essas práticas de meio ambiente, social e de governança (ESG, na sigla em inglês).

“É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito”, afirma Weege.

Ele diz ainda que é preciso que os consumidores também sejam levados a refletir sobre o que está por trás de peças de roupas produzidas em grande escala a preços baixos: “Muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China”, diz.

O executivo acredita que a competição leal faz bem ao mercado e à indústria, mas pede, como a maioria dos empresários nacionais da moda, isonomia de tratamento tributário para com as plataformas digitais que vendem importados.

Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Uma empresa de 55 anos já passou por muitos momentos difíceis no País. Qual foi o mais desafiador?

Os desafios são muitos, pois fazer uma moda ética, sustentável e de forma inovadora vai muito além do que as pessoas possam imaginar. É essa autenticidade que nos faz perceber que o mercado não questiona e nem reflete sobre situações de responsabilidade social e ambiental, o que indica que o ESG não está em seu propósito. Reforço, sempre que possível, que a sustentabilidade não pode começar pelo marketing. Nosso espírito pioneiro e o investimento em inovações nos permitiram alcançar a marca de 92% de peças produzidas com métodos e matérias-primas de menor impacto ambiental. Ainda, nos destacamos como uma das empresas brasileiras que menos emite carbono na produção.

Como a companhia fez para se manter sólida com tantos solavancos econômicos no Brasil?

Penso que nos momentos desafiadores é fundamental ter adaptabilidade e atenção aos movimentos que o mercado está dando. Nesses 55 anos, nos reinventamos permanentemente, mas sem jamais perder a nossa essência. Se por um lado ter um planejamento consistente é importante, o foco na execução é o diferencial, pois é o que permite enfrentar as adversidades. Acredito que a pandemia é o maior exemplo, pois conseguimos agir de forma rápida e nos reinventamos com criatividade. A produção dos equipamentos de proteção individual (EPIs) seguraram a nossa cadeia, nos dando condições de pagar fornecedores e de também dar um prazo maior aos nossos clientes.

Como a empresa tem navegado nesse momento de juros altos e consumidor com renda comprometida?

Há muitos obstáculos macroeconômicos e um ambiente desafiador tanto no digital quanto no offline. A questão fiscal, por exemplo, é um aspecto que pode comprometer o desempenho econômico do varejo e da indústria. Enquanto as empresas brasileiras pagam seus impostos, a isenção de tributos federais para compras online de até US$ 50, que entrou em vigência em agosto, poderá causar até 2,5 milhões de demissões, conforme apontaram a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV). Porém, mantemos nosso foco em eficiência e continuamos analisando o mercado não a curto, mas a médio e longo prazo. Desta forma, não deixamos de investir e de buscar inovações que nos permitam evoluir em nosso propósito de construir um mundo feito para durar. E, claro, havendo juros mais baixos no futuro, é possível termos um ciclo melhor para o varejo.

Guilherme Weege diz que empresa tem investido mais em inovação e novos modelos de lojas Foto: TABA BENEDICTO / ESTADAO

Nesse contexto, quais são os principais investimentos recentes da empresa?

Temos um plano de expansão que iniciou em regiões estratégicas: São Paulo, uma das capitais da moda brasileira; e Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, onde fica a sede da empresa. Investimos R$ 3,5 milhões para inovar e criar dois novos modelos de loja, além de inaugurar as respectivas novas unidades nas regiões Sudeste e Sul, que concentram os maiores gastos com vestuário no Brasil. Dentro da expectativa atual de mercado, com esse movimento, esperamos crescer acima de dois dígitos este ano.

A receita da companhia diminuiu nesse período de dificuldade? E o volume de vendas?

Dobramos de tamanho desde o início da pandemia enquanto investimos continuamente na ampliação do parque fabril e dos canais de distribuição. Atualmente, concentramos esforços na área de inovação. Em 2022, a nossa produção anual totalizou mais de 43 milhões de peças e nosso faturamento foi de R$ 1,5 bilhão, o que representa um crescimento de 17% (sobre 2021).

Foi possível repassar preço ao consumidor?

É inevitável não fazê-lo. Enfrentamos um aumento de 70% na nossa matéria-prima, o fio, mas isso já normalizou. O nosso desafio é fazer uma moda sustentável e acessível, tanto em questões de valores como de opções nas coleções. Trazendo para o tangível, nossas peças têm os mesmos valores que a concorrência nacional. Citando o jeans como exemplo, o nosso usa 98% menos água que as demais marcas. Mas será que essa preocupação tem feito diferença na hora da compra? É por isso que defendo amplamente a necessidade de um debate aberto e permanente sobre os impactos das escolhas individuais para o coletivo.

Qual o maior desafio do Grupo Malwee para os próximos 50 anos no País?

Acreditamos que a moda não é para ser descartada. É assustador pensar que cerca de 70% do que temos no guarda-roupa não é usado e que cada peça é utilizada apenas 7 vezes até ser descartada. Essa fórmula Fast Fashion não se encaixa mais em um mundo que vive emergências climáticas e humanitárias. O que o Grupo Malwee e as nossas marcas propõem é um novo jeito de produzir e de consumir moda. Acreditamos que um dos nossos maiores desafios seja tornar o acesso à moda sustentável como algo permanente nas coleções. Não apenas fazendo edições cápsulas (coleções menores). E claro, com muito esforço em comunicação, será possível tornar essas peças objetos de desejos aos clientes.

Como a entrada de players estrangeiros no País afeta o negócio do Grupo Malwee hoje?

Nesta questão é muito importante destacar que muitos consumidores não conhecem o impacto ambiental e social que existe por trás daquela t-shirt de R$ 10 que ele encontrou em um site da China. Existe ali um alto consumo de água, energia, gás carbônico, baixa remuneração de mão de obra e diversos outros problemas. Precisamos falar mais sobre o assunto! Colocar luz sobre a indústria da moda, mostrar como ela funciona e os seus impactos. Acredito que o processo de abrir portas para empresas estrangeiras exige isonomia do mercado e da estrutura macroeconômica. É necessário garantir que todas as organizações - locais ou estrangeiras - sejam tratadas de forma justa e com condições iguais. Além disso, eu acredito que a concorrência leal nos faz melhores, afinal, não existe oceano azul na indústria.

Entrevista por Talita Nascimento

Talita Nascimento é repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Responsável pela cobertura de varejo e bens de consumo, é formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo (ECA-USP), com especialização em economia pela FGV. Foi uma das 50 jornalistas de Economia Mais Admiradas de 2023, segundo o Jornalistas & Cia.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.