Após um longo namoro de quase dois anos, a Mobly anunciou na noite de quinta-feira, 8, que fechou o acordo com os acionistas controladores da Tok&Stok para assumir o controle das operações de sua até então rival. Com a junção das empresas, o novo negócio será um gigante no mercado de móveis e decoração, com uma receita anual estimada em R$ 1,6 bilhão.
“A operação permite que ambas as companhias aproveitem a expertise uma da outra para fortalecer suas respectivas propostas de valor”, afirmou a Mobly em comunicado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Antes de fechar o negócio, a Mobly tinha uma atuação muito menos expressiva no varejo físico. Nascida como uma startup de decoração, a companhia cresceu, ganhou novos sócios, abriu capital na Bolsa, galgou território no mundo “off-line”, se capitalizou e aproveitou para surfar a onda de consumo virtual que alavancou o e-commerce no País nos últimos anos, em especial após a pandemia de covid-19.
Nativa digital
A companhia foi fundada em 2011, pelo grupo de investidores Victor Noda (atual CEO), Marcelo Marques e Mario Fernandes como uma empresa de tecnologia que atuava no setor de comércio eletrônico, com foco em decoração e móveis.
Com o nascimento do e-commerce, no mesmo ano, a alemã Rocket Internet se transformou em uma das sócias e, ao longo dos anos seguintes, o grupo se consolidou como a maior acionista da empresa no País.
Em 2013, a companhia alemã criou uma holding de investimentos para centralizar suas operações no segmento de “home and living”, a Home24. Em 2018, a holding fez sua estreia no mercado de capitais alemão com o IPO na Bolsa de Frankfurt.
Além dos investimentos no varejo de móveis no País, a Rocket também possui investimento em empresas como Groupon, Facebook e LinkedIn. No Brasil, o grupo participou da criação de nomes como Wimdu, Glossybox, Kanui, Tricae e Air.
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Fora da internet
Ao longo dos anos, a empresa ampliou sua atuação para ganhar território fisicamente. Em 2019, a companhia inaugurou sua primeira loja “off-line”, na Marginal Tietê, em São Paulo.
À época, movimento seguia a onda “omnichenel” (termo em inglês que explica a tendência de consumo multicanal, tanto no mundo virtual quanto físico). O negócio acompanhava uma estratégia consolida em mercados como os Estados Unidos e China, a exemplo do que fizeram empresas como Amazon e Alibaba, que também investiram no processo de unir o varejo físico e virtual.
Atualmente, a Mobly possui cerca de 20 endereços, distribuídos entre a megaloja, outlets e unidades de franquias pelo Estado. Após a fusão, o número total de pontos físicos será em torno de 70 lojas espalhadas pelo País.
Diferentemente das concorrentes diretas, como MadeiraMadeira ou Casas Bahia, que além de atuar com decoração também operam no segmento de materiais de construção e eletrônicos, respectivamente, a sinergia das duas companhias está na oferta focada em mobiliário e decoração.
Atualmente, o negócio possui um centro de logística em Jundiaí (a 57 km da capital paulista). Já a Tok&Stok tem instalações do seu Centro de Distribuição em Extrema, no sul de Minas Gerais.
Desempenho das ações
À época da sua oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), a Mobly teve suas ações precificadas em R$ 21, com a comercialização de quase 39 milhões de unidades de ação, o que movimentou uma operação de R$ 881 milhões.
Por se tratar, em grande parte, de um IPO de oferta primária, a maior parte dos recursos captados na chega ao mercado de capitais foi integrado às contas da empresa, reforçando o caixa que mais tarde seria usado para arrematar as operações da Tok&Stok.
De lá para cá, desde que a empresa estreou na Bolsa, o valor unitário dos seus papeis despencou, assim como outros nomes do setor.
Em 5 de fevereiro de 2021, a ação da Mobly era negociada em R$ 26,40. Nesta sexta-feira, após o anúncio da aquisição da Tok&Stok, os papeis da empresa valiam, pós-abertura do mercado, R$ 3,13, uma diferença de -88,07% desde o IPO. Para comprar o controle das operações da então rival, a Mobly usará como moeda a troca de ações.