Mobly leva Tok&Stok, que via água chegar ao nariz, e agora tentarão nadar até a praia


Plano é que, juntas, as empresas sejam o maior varejista de móveis da América Latina, tenham sinergias de logística e gestão e se fortaleçam com fornecedores do Brasil e da China

Por Cristiane Barbieri e Talita Nascimento
Atualização:

A Tok&Stok foi o benchmark nacional, a empresa considerada um modelo a ser estudado, para a área premium da Mobly, durante o MBA de seus cofundadores nos EUA. Pouco mais de dez anos depois, Victor Noda, Marcelo Marques e Mário Fernandes compraram sua “inspiração”, que se afogava em dívidas e em problemas de gestão havia anos. Agora, têm como desafio provar que a empresa de mobiliário e decoração, que nasce com R$ 1,6 bilhão de faturamento anual e 70 lojas espalhadas pelo País, vai conseguir nadar até a praia - e não acabar num abraço de afogados.

Isso porque a Tok&Stok, que já chegou a valer R$ 1,1 bilhão, foi avaliada no negócio por 10% desse valor — ou R$ 112 milhões. Carrega um endividamento de R$ 450 milhões com Banco do Brasil, Itaú e Santander, tem dificuldade em importar, comprar produtos no País e investir.

Já a Mobly, apesar de não ter dívidas e ter feito um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) bem-sucedido há três anos, assume essa dívida, com um caixa de R$ 185 milhões e tendo dado prejuízo de R$ 21 milhões no primeiro trimestre.

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Tok&Stok, que já chegou a valer R$ 1,1 bilhão, foi avaliada no negócio com a Mobly por 10% desse valor Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O grande ponto é: hoje, com as duas empresas juntas, a gente vira o maior varejista de móveis do Brasil e da América Latina”, diz Marques. “A gente tem sinergias absurdas de logística, com centros de distribuição e gestão duplicados. A gente fica mais forte com fornecedores do Brasil e da China. A gente tem muita tecnologia embarcada na Mobly, que será usada na TokStok.”

Segundo levantamento feito pela consultoria Bain&Co para embasar o negócio, esses e outros ganhos de sinergia (como tributários) podem aumentar a geração de caixa da Mobly em R$ 80 milhões a R$ 135 milhões ao ano, num período de cinco anos. “Além disso, nos últimos anos, fomos provocados por todos os bancos de investimento para uma fusão com a TokStok porque todos viam sentido nesse movimento”, afirma Marques.

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Para que a Mobly não fosse arrastada pelo vórtice do endividamento da TokStok, foi desenhado um modelo engenhoso. A Tok&Stok protocolou simultaneamente ao negócio seu pedido recuperação extrajudicial, com um pré-acordo dos credores já firmado. Ele prevê um ano de carência no pagamento de juros e dois anos para o início das amortizações. O prazo final foi estendido para 2034 (e não mais 2029).

“A gente precisa de tempo para capturar as sinergias e não podíamos estar com a corda no pescoço”, diz Marques. Para ele, a maior prova de que o negócio tem potencial de ser bem sucedido está no aval desses credores, que já haviam provisionado a dívida da TokStok como perda contábil e poderiam vendê-la a fundos abutres.

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“Numa recuperação judicial de empresa de capital fechado (como a Tok&Stok), eles são os primeiros a receber na lista de credores”, diz. “Já numa companhia de capital aberto, a regra é bem mais difícil e, mesmo assim, eles apoiaram o negócio.”

Outro ponto a favor, diz Marques, são as margens do varejo de móveis, que chegam a 50%. No modelo desenhado pela Mobly, de melhoria dos fornecedores, há uma redução no custo dos produtos de 30% em relação aos comprados sem esse sistema. “A TokStok não faz isso”, diz. “No varejo mobiliário, o ganho da marca está com o varejista e nós sabemos aproveitar essa força.”

Como foi feito o negócio

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O posicionamento de ambas será mantido, com a TokStok atendendo a um público de maior poder aquisitivo. Também o capital aberto em bolsa. O negócio não previu qualquer pagamento, mas troca de ações. A Mobly comprou os 60% do capital da TokStok que estavam nas mãos da gestora SPX Capital (originalmente comprados pela Carlyle, que pagou quase R$ 700 milhões pela companhia). A SPX será detentora de 12% da nova Mobly. Por 24 meses, tanto a SPX quanto os controladores da Mobly não poderão vender suas ações.

“É uma operação que tem um ganho bem claro”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “De um lado, há a Mobly, que é uma empresa listada e, do outro, a TokStok controlada por um fundo que buscava uma saída - e ter uma compradora de capital aberto já é uma primeira sinergia.”

Para ele, o fato de a Mobly ser uma empresa digital e de a TokStok ter uma marca mais forte, bem como maior tradição e operação física ainda robusta, também são ganhos complementares. “É claro que a gente está falando de um setor que sofreu muito, ainda tem dificuldades e são culturas e acionistas com visões aparentemente distintas”, afirma Terra. “Ficam algumas dúvidas sobre qual cultura vai prevalecer e, como em toda fusão, é difícil saber se um mais um dará três ou, pelo menos, mais que dois. Mas eu acho que era o caminho correto.”

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Pelo negócio fechado, a família Dubrule, fundadora da TokStok, pode se tornar acionista da nova Mobly ou entrar no bloco de credores da recuperação judicial. A família comprou a parte da dívida que pertencia ao Itaú e chegou a assumir a gestão da TokStok recentemente, sem conseguir entregar os resultados esperados pelo SPX. “Eu, o Vitor e o Mário temos uma admiração gigantesca pelos Dubrule”, diz Marques. “Esperamos que agora, afastada a briga deles com o Carlyle, eles façam parte de alguma maneira da empresa e entendam que somos empreendedores começados do zero, como eles, para trabalharmos juntos.”

A Tok&Stok foi o benchmark nacional, a empresa considerada um modelo a ser estudado, para a área premium da Mobly, durante o MBA de seus cofundadores nos EUA. Pouco mais de dez anos depois, Victor Noda, Marcelo Marques e Mário Fernandes compraram sua “inspiração”, que se afogava em dívidas e em problemas de gestão havia anos. Agora, têm como desafio provar que a empresa de mobiliário e decoração, que nasce com R$ 1,6 bilhão de faturamento anual e 70 lojas espalhadas pelo País, vai conseguir nadar até a praia - e não acabar num abraço de afogados.

Isso porque a Tok&Stok, que já chegou a valer R$ 1,1 bilhão, foi avaliada no negócio por 10% desse valor — ou R$ 112 milhões. Carrega um endividamento de R$ 450 milhões com Banco do Brasil, Itaú e Santander, tem dificuldade em importar, comprar produtos no País e investir.

Já a Mobly, apesar de não ter dívidas e ter feito um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) bem-sucedido há três anos, assume essa dívida, com um caixa de R$ 185 milhões e tendo dado prejuízo de R$ 21 milhões no primeiro trimestre.

Tok&Stok, que já chegou a valer R$ 1,1 bilhão, foi avaliada no negócio com a Mobly por 10% desse valor Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O grande ponto é: hoje, com as duas empresas juntas, a gente vira o maior varejista de móveis do Brasil e da América Latina”, diz Marques. “A gente tem sinergias absurdas de logística, com centros de distribuição e gestão duplicados. A gente fica mais forte com fornecedores do Brasil e da China. A gente tem muita tecnologia embarcada na Mobly, que será usada na TokStok.”

Segundo levantamento feito pela consultoria Bain&Co para embasar o negócio, esses e outros ganhos de sinergia (como tributários) podem aumentar a geração de caixa da Mobly em R$ 80 milhões a R$ 135 milhões ao ano, num período de cinco anos. “Além disso, nos últimos anos, fomos provocados por todos os bancos de investimento para uma fusão com a TokStok porque todos viam sentido nesse movimento”, afirma Marques.

Para que a Mobly não fosse arrastada pelo vórtice do endividamento da TokStok, foi desenhado um modelo engenhoso. A Tok&Stok protocolou simultaneamente ao negócio seu pedido recuperação extrajudicial, com um pré-acordo dos credores já firmado. Ele prevê um ano de carência no pagamento de juros e dois anos para o início das amortizações. O prazo final foi estendido para 2034 (e não mais 2029).

“A gente precisa de tempo para capturar as sinergias e não podíamos estar com a corda no pescoço”, diz Marques. Para ele, a maior prova de que o negócio tem potencial de ser bem sucedido está no aval desses credores, que já haviam provisionado a dívida da TokStok como perda contábil e poderiam vendê-la a fundos abutres.

“Numa recuperação judicial de empresa de capital fechado (como a Tok&Stok), eles são os primeiros a receber na lista de credores”, diz. “Já numa companhia de capital aberto, a regra é bem mais difícil e, mesmo assim, eles apoiaram o negócio.”

Outro ponto a favor, diz Marques, são as margens do varejo de móveis, que chegam a 50%. No modelo desenhado pela Mobly, de melhoria dos fornecedores, há uma redução no custo dos produtos de 30% em relação aos comprados sem esse sistema. “A TokStok não faz isso”, diz. “No varejo mobiliário, o ganho da marca está com o varejista e nós sabemos aproveitar essa força.”

Como foi feito o negócio

O posicionamento de ambas será mantido, com a TokStok atendendo a um público de maior poder aquisitivo. Também o capital aberto em bolsa. O negócio não previu qualquer pagamento, mas troca de ações. A Mobly comprou os 60% do capital da TokStok que estavam nas mãos da gestora SPX Capital (originalmente comprados pela Carlyle, que pagou quase R$ 700 milhões pela companhia). A SPX será detentora de 12% da nova Mobly. Por 24 meses, tanto a SPX quanto os controladores da Mobly não poderão vender suas ações.

“É uma operação que tem um ganho bem claro”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “De um lado, há a Mobly, que é uma empresa listada e, do outro, a TokStok controlada por um fundo que buscava uma saída - e ter uma compradora de capital aberto já é uma primeira sinergia.”

Para ele, o fato de a Mobly ser uma empresa digital e de a TokStok ter uma marca mais forte, bem como maior tradição e operação física ainda robusta, também são ganhos complementares. “É claro que a gente está falando de um setor que sofreu muito, ainda tem dificuldades e são culturas e acionistas com visões aparentemente distintas”, afirma Terra. “Ficam algumas dúvidas sobre qual cultura vai prevalecer e, como em toda fusão, é difícil saber se um mais um dará três ou, pelo menos, mais que dois. Mas eu acho que era o caminho correto.”

Pelo negócio fechado, a família Dubrule, fundadora da TokStok, pode se tornar acionista da nova Mobly ou entrar no bloco de credores da recuperação judicial. A família comprou a parte da dívida que pertencia ao Itaú e chegou a assumir a gestão da TokStok recentemente, sem conseguir entregar os resultados esperados pelo SPX. “Eu, o Vitor e o Mário temos uma admiração gigantesca pelos Dubrule”, diz Marques. “Esperamos que agora, afastada a briga deles com o Carlyle, eles façam parte de alguma maneira da empresa e entendam que somos empreendedores começados do zero, como eles, para trabalharmos juntos.”

A Tok&Stok foi o benchmark nacional, a empresa considerada um modelo a ser estudado, para a área premium da Mobly, durante o MBA de seus cofundadores nos EUA. Pouco mais de dez anos depois, Victor Noda, Marcelo Marques e Mário Fernandes compraram sua “inspiração”, que se afogava em dívidas e em problemas de gestão havia anos. Agora, têm como desafio provar que a empresa de mobiliário e decoração, que nasce com R$ 1,6 bilhão de faturamento anual e 70 lojas espalhadas pelo País, vai conseguir nadar até a praia - e não acabar num abraço de afogados.

Isso porque a Tok&Stok, que já chegou a valer R$ 1,1 bilhão, foi avaliada no negócio por 10% desse valor — ou R$ 112 milhões. Carrega um endividamento de R$ 450 milhões com Banco do Brasil, Itaú e Santander, tem dificuldade em importar, comprar produtos no País e investir.

Já a Mobly, apesar de não ter dívidas e ter feito um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) bem-sucedido há três anos, assume essa dívida, com um caixa de R$ 185 milhões e tendo dado prejuízo de R$ 21 milhões no primeiro trimestre.

Tok&Stok, que já chegou a valer R$ 1,1 bilhão, foi avaliada no negócio com a Mobly por 10% desse valor Foto: Taba Benedicto/Estadão

“O grande ponto é: hoje, com as duas empresas juntas, a gente vira o maior varejista de móveis do Brasil e da América Latina”, diz Marques. “A gente tem sinergias absurdas de logística, com centros de distribuição e gestão duplicados. A gente fica mais forte com fornecedores do Brasil e da China. A gente tem muita tecnologia embarcada na Mobly, que será usada na TokStok.”

Segundo levantamento feito pela consultoria Bain&Co para embasar o negócio, esses e outros ganhos de sinergia (como tributários) podem aumentar a geração de caixa da Mobly em R$ 80 milhões a R$ 135 milhões ao ano, num período de cinco anos. “Além disso, nos últimos anos, fomos provocados por todos os bancos de investimento para uma fusão com a TokStok porque todos viam sentido nesse movimento”, afirma Marques.

Para que a Mobly não fosse arrastada pelo vórtice do endividamento da TokStok, foi desenhado um modelo engenhoso. A Tok&Stok protocolou simultaneamente ao negócio seu pedido recuperação extrajudicial, com um pré-acordo dos credores já firmado. Ele prevê um ano de carência no pagamento de juros e dois anos para o início das amortizações. O prazo final foi estendido para 2034 (e não mais 2029).

“A gente precisa de tempo para capturar as sinergias e não podíamos estar com a corda no pescoço”, diz Marques. Para ele, a maior prova de que o negócio tem potencial de ser bem sucedido está no aval desses credores, que já haviam provisionado a dívida da TokStok como perda contábil e poderiam vendê-la a fundos abutres.

“Numa recuperação judicial de empresa de capital fechado (como a Tok&Stok), eles são os primeiros a receber na lista de credores”, diz. “Já numa companhia de capital aberto, a regra é bem mais difícil e, mesmo assim, eles apoiaram o negócio.”

Outro ponto a favor, diz Marques, são as margens do varejo de móveis, que chegam a 50%. No modelo desenhado pela Mobly, de melhoria dos fornecedores, há uma redução no custo dos produtos de 30% em relação aos comprados sem esse sistema. “A TokStok não faz isso”, diz. “No varejo mobiliário, o ganho da marca está com o varejista e nós sabemos aproveitar essa força.”

Como foi feito o negócio

O posicionamento de ambas será mantido, com a TokStok atendendo a um público de maior poder aquisitivo. Também o capital aberto em bolsa. O negócio não previu qualquer pagamento, mas troca de ações. A Mobly comprou os 60% do capital da TokStok que estavam nas mãos da gestora SPX Capital (originalmente comprados pela Carlyle, que pagou quase R$ 700 milhões pela companhia). A SPX será detentora de 12% da nova Mobly. Por 24 meses, tanto a SPX quanto os controladores da Mobly não poderão vender suas ações.

“É uma operação que tem um ganho bem claro”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “De um lado, há a Mobly, que é uma empresa listada e, do outro, a TokStok controlada por um fundo que buscava uma saída - e ter uma compradora de capital aberto já é uma primeira sinergia.”

Para ele, o fato de a Mobly ser uma empresa digital e de a TokStok ter uma marca mais forte, bem como maior tradição e operação física ainda robusta, também são ganhos complementares. “É claro que a gente está falando de um setor que sofreu muito, ainda tem dificuldades e são culturas e acionistas com visões aparentemente distintas”, afirma Terra. “Ficam algumas dúvidas sobre qual cultura vai prevalecer e, como em toda fusão, é difícil saber se um mais um dará três ou, pelo menos, mais que dois. Mas eu acho que era o caminho correto.”

Pelo negócio fechado, a família Dubrule, fundadora da TokStok, pode se tornar acionista da nova Mobly ou entrar no bloco de credores da recuperação judicial. A família comprou a parte da dívida que pertencia ao Itaú e chegou a assumir a gestão da TokStok recentemente, sem conseguir entregar os resultados esperados pelo SPX. “Eu, o Vitor e o Mário temos uma admiração gigantesca pelos Dubrule”, diz Marques. “Esperamos que agora, afastada a briga deles com o Carlyle, eles façam parte de alguma maneira da empresa e entendam que somos empreendedores começados do zero, como eles, para trabalharmos juntos.”

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