PARIS - Sete ex-executivos do grupo France Telecom, atual Orange – líder francês do mercado de telefonia fixa e móvel – foram denunciados pelo Ministério Público da França à Justiça, acusados de assédio moral a funcionários que cometeram suicídio entre 2008 e 2011.
Após quatro anos de investigação, o ex-diretor-presidente Didier Lombard e seis de seus assessores diretos devem ser julgados por seus métodos de gestão, “de extraordinária brutalidade”. Nada menos que 69 trabalhadores cometeram suicídio, sendo o pico entre 2008 e 2010.
Os executivos foram os responsáveis um plano de reestruturação, chamado Next, e acompanhado de uma política de recursos humanos draconiana, a Act. O objetivo oficial da iniciativa era preparar a empresa para a economia digital.
As metas, no caso, eram claras: a demissão de 22 mil funcionários e a pressão por outras 14 mil transferências – o que, na prática, atingiria quase um terço do efetivo da empresa, que na época contava com 110 mil trabalhadores. Do total de demitidos, cerca de 6 mil seriam substituídos por novos contratados.
Entre os métodos empregados estava o de pressionar, constranger e humilhar empregados com objetivos específicos. Táticas como o isolamento de trabalhadores em prédios abandonados pela empresa e a transferência compulsória de mulheres com filhos a locais de trabalho situados a duas horas de viagem de suas residências foram identificadas pela investigação.
Para o MP, sob a gestão de Lombard a France Telecom foi organizada de tal forma a tornar os planos Next e Act práticas sistemáticas no interior da companhia, entrando em conflito com o Código Penal francês.
De acordo com a investigação do MP, documentos e testemunhos indicam que nesse dia o diretor-presidente chegou a afirmar em reuniões que reduziria o número de funcionários: “Eu o farei de uma forma ou de outra, pela janela ou pela porta.”
À agência France Presse, o advogado Jean Veil, representante de Lombard, lamentou o processo. “A linguagem desastrada de Lombard ofereceu uma oportunidade de abrir um processo que não repousa em nenhum elemento sério.”
O juiz do caso, Pascal Gand, precisa agora manifestar se aceita a denúncia. Em caso positivo, os sete diretores e, eventualmente, a empresa serão julgadas pelo Tribunal Correcional. O crime é passível de dois anos de prisão e € 30 mil de multas.