Conheça a Muffato, rede de supermercados do interior do Paraná que negocia compra de lojas do Makro


Empresa que começou em 1974 cresceu no sul do País e já tem presença no interior de São Paulo; o plano, agora, é conquistar o consumidor paulistano

Por Lucas Agrela

O grupo Makro está de malas prontas para sair do País – para levar a estratégia a cabo, só falta vender as lojas que ainda restam em seu portfólio. Depois de vender boa parte das unidades que detinha para a gigante Carrefour – hoje líder de mercado no País e dona do atacarejo Atacadão –, ela tenta agora se desfazer dos pontos de venda que ainda lhe restam. Depois de negociar as propriedades com redes nacionais, a empresa agora cogita a venda para um grupo regional: o paranaense Muffato.

Embora desconhecido na maior parte do País, o Grupo Muffato é forte em seu mercado de origem. Fundada em 1974, em Cascavel, no oeste do Paraná, está hoje em sexto lugar entre as maiores redes do setor, com 82 lojas, considerando a marca de varejo Super Muffato e o atacarejo Max Atacadista. Presente em 31 cidades do Paraná e no interior de São Paulo, a companhia hoje emprega 19 mil pessoas.

Agora, prepara-se para dar um novo salto com a compra de 24 unidades da Makro. O negócio seria sua porta de entrada para a capital paulista. O Estadão apurou que a negociação está em andamento há pelo menos dois meses, mas as partes ainda não bateram o martelo. Haveria a questão do preço: o Makro quer cerca de R$ 2 bilhões pelos ativos, e a Muffato ainda estaria tentando reduzir o preço.

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Muffato negocia a compra de unidades da Makro em São Paulo Foto: Estadão

Início como armazém de secos e molhados

A Muffato é uma empresa familiar, hoje gerida pelos filhos do fundador Tito Muffato, que criou o negócio junto ao irmão, Pedro, e ao cunhado, Hermínio. Tudo começou com um um pequeno armazém de secos e molhados em Cascavel. As mercadorias eram compradas em São Paulo ou adquiridas por meio de representantes regionais de indústrias. Nessa época, os cereais eram vendidos a granel e pesados na hora.

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O negócio teve um ponto de virada a partir do fim dos anos 1970 com a construção da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, quando a Muffato inaugurou uma loja na cidade. A rede se desenvolveu na década seguinte na região Sul do País, um movimento que durou até metade dos anos 1990.

Em 13 de março de 1996, tudo mudou na gestão dos negócios. Tito Muffato embarcou em uma viagem no avião da família rumo ao Pantanal, onde se dedicaria à pesca por alguns dias, seu passatempo predileto. Nesse dia, o tempo estava ruim e o piloto tentou fazer um pouso de emergência em Foz do Iguaçu. Porém, a aeronave caiu e não deixou sobreviventes.

A esposa Reni e os três filhos Ederson, Everton e Eduardo, que tinham, respectivamente, 18, 16 e 14 anos, precisaram assumir a gestão das oito lojas e dos então 1,5 mil colaboradores. Hoje à frente dos negócios da família, os filhos de Tito foram os responsáveis pela expansão para o interior de São Paulo, em 2002. Nenhum dos três substituiu a posição do pai, optando por uma gestão conjunta dos negócios.

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Everton Muffato, um dos irmãos à frente do Grupo Muffato Foto: Celso Pacheco/Estadão

Discretos, os empresários que começaram a trabalhar na empresa quando ainda eram crianças não quiseram dar entrevista ao Estadão. Eles tampouco são ativos em redes sociais. Em 2021, o negócio chegou a um faturamento de R$ 10,6 bilhões, crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Hoje, a companhia tem 19 mil funcionários.

Desafios à frente

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Agora, com a negociação de aquisição das unidades do Makro em São Paulo, a Muffato pode inaugurar um novo capítulo da sua história e ampliar em quase 30% o número de lojas no País. Mas a missão de conquistar a capital paulista não será fácil.

Muffato tem unidades no Paraná e no interior de São Paulo  Foto: Estadão

Para Jean Paul Rebetez, especialista em varejo e sócio da GS&Consulting, a empreitada da Muffato em São Paulo terá desafios que vão além de tornar a marca conhecida entre os paulistanos.

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“A Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios, com crédito, CRM e entregas de última milha. O Carrefour é um exemplo disso, assim como o Pão de Açúcar. É uma área desafiadora”, diz.

A Muffato enfrentará, portanto, os pesos-pesados do mercado em São Paulo. O Carrefour teve faturamento de R$ 81 bilhões em 2021, enquanto o Assaí faturou R$ 45 bilhões, e o GPA, R$ 29 bilhões.

Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios.”

Jean Paul Rebetez, sócio da GS&Consulting

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Na visão de Rebetez, o segmento de varejo alimentar resistiu ao baque econômico causado pela pandemia de covid-19 por oferecer itens essenciais para o consumidor, como os alimentos e bebidas. Com isso, a empresa busca se posicionar na capital paulista com pontos estratégicos. Na efetivação da compra da Makro, a Muffato teria unidades nos bairros do Butantã, Interlagos, Lapa e Vila Maria.

O grupo holandês SHV, que detém as lojas da Makro, percebeu que o negócio deixou de ser competitivo no contexto atual de mercado e decidiu por colocar à venda as lojas da marca. Matheus Campos, sócio do escritório Stocche Forbes Advogados, diz que o movimento está alinhado com o crescimento do segmento de varejo alimentar durante a pandemia de covid-19, que deixou as grandes competidoras do setor mais capitalizadas.

“Neste momento, o que movimenta mais as aquisições é que o gasto do caixa para expansão dá um retorno de investimento mais rápido do que fazer investimentos para a abertura de novas unidades. É uma oportunidade para quem só abria novas lojas poder fazer aquisições de pontos que já estão em operação. Nessa consolidação, as empresas menores podem concluir que é uma boa ideia vender seu negócio para concorrentes maiores”, afirma Campos.

O grupo Makro está de malas prontas para sair do País – para levar a estratégia a cabo, só falta vender as lojas que ainda restam em seu portfólio. Depois de vender boa parte das unidades que detinha para a gigante Carrefour – hoje líder de mercado no País e dona do atacarejo Atacadão –, ela tenta agora se desfazer dos pontos de venda que ainda lhe restam. Depois de negociar as propriedades com redes nacionais, a empresa agora cogita a venda para um grupo regional: o paranaense Muffato.

Embora desconhecido na maior parte do País, o Grupo Muffato é forte em seu mercado de origem. Fundada em 1974, em Cascavel, no oeste do Paraná, está hoje em sexto lugar entre as maiores redes do setor, com 82 lojas, considerando a marca de varejo Super Muffato e o atacarejo Max Atacadista. Presente em 31 cidades do Paraná e no interior de São Paulo, a companhia hoje emprega 19 mil pessoas.

Agora, prepara-se para dar um novo salto com a compra de 24 unidades da Makro. O negócio seria sua porta de entrada para a capital paulista. O Estadão apurou que a negociação está em andamento há pelo menos dois meses, mas as partes ainda não bateram o martelo. Haveria a questão do preço: o Makro quer cerca de R$ 2 bilhões pelos ativos, e a Muffato ainda estaria tentando reduzir o preço.

Muffato negocia a compra de unidades da Makro em São Paulo Foto: Estadão

Início como armazém de secos e molhados

A Muffato é uma empresa familiar, hoje gerida pelos filhos do fundador Tito Muffato, que criou o negócio junto ao irmão, Pedro, e ao cunhado, Hermínio. Tudo começou com um um pequeno armazém de secos e molhados em Cascavel. As mercadorias eram compradas em São Paulo ou adquiridas por meio de representantes regionais de indústrias. Nessa época, os cereais eram vendidos a granel e pesados na hora.

O negócio teve um ponto de virada a partir do fim dos anos 1970 com a construção da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, quando a Muffato inaugurou uma loja na cidade. A rede se desenvolveu na década seguinte na região Sul do País, um movimento que durou até metade dos anos 1990.

Em 13 de março de 1996, tudo mudou na gestão dos negócios. Tito Muffato embarcou em uma viagem no avião da família rumo ao Pantanal, onde se dedicaria à pesca por alguns dias, seu passatempo predileto. Nesse dia, o tempo estava ruim e o piloto tentou fazer um pouso de emergência em Foz do Iguaçu. Porém, a aeronave caiu e não deixou sobreviventes.

A esposa Reni e os três filhos Ederson, Everton e Eduardo, que tinham, respectivamente, 18, 16 e 14 anos, precisaram assumir a gestão das oito lojas e dos então 1,5 mil colaboradores. Hoje à frente dos negócios da família, os filhos de Tito foram os responsáveis pela expansão para o interior de São Paulo, em 2002. Nenhum dos três substituiu a posição do pai, optando por uma gestão conjunta dos negócios.

Everton Muffato, um dos irmãos à frente do Grupo Muffato Foto: Celso Pacheco/Estadão

Discretos, os empresários que começaram a trabalhar na empresa quando ainda eram crianças não quiseram dar entrevista ao Estadão. Eles tampouco são ativos em redes sociais. Em 2021, o negócio chegou a um faturamento de R$ 10,6 bilhões, crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Hoje, a companhia tem 19 mil funcionários.

Desafios à frente

Agora, com a negociação de aquisição das unidades do Makro em São Paulo, a Muffato pode inaugurar um novo capítulo da sua história e ampliar em quase 30% o número de lojas no País. Mas a missão de conquistar a capital paulista não será fácil.

Muffato tem unidades no Paraná e no interior de São Paulo  Foto: Estadão

Para Jean Paul Rebetez, especialista em varejo e sócio da GS&Consulting, a empreitada da Muffato em São Paulo terá desafios que vão além de tornar a marca conhecida entre os paulistanos.

“A Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios, com crédito, CRM e entregas de última milha. O Carrefour é um exemplo disso, assim como o Pão de Açúcar. É uma área desafiadora”, diz.

A Muffato enfrentará, portanto, os pesos-pesados do mercado em São Paulo. O Carrefour teve faturamento de R$ 81 bilhões em 2021, enquanto o Assaí faturou R$ 45 bilhões, e o GPA, R$ 29 bilhões.

Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios.”

Jean Paul Rebetez, sócio da GS&Consulting

Na visão de Rebetez, o segmento de varejo alimentar resistiu ao baque econômico causado pela pandemia de covid-19 por oferecer itens essenciais para o consumidor, como os alimentos e bebidas. Com isso, a empresa busca se posicionar na capital paulista com pontos estratégicos. Na efetivação da compra da Makro, a Muffato teria unidades nos bairros do Butantã, Interlagos, Lapa e Vila Maria.

O grupo holandês SHV, que detém as lojas da Makro, percebeu que o negócio deixou de ser competitivo no contexto atual de mercado e decidiu por colocar à venda as lojas da marca. Matheus Campos, sócio do escritório Stocche Forbes Advogados, diz que o movimento está alinhado com o crescimento do segmento de varejo alimentar durante a pandemia de covid-19, que deixou as grandes competidoras do setor mais capitalizadas.

“Neste momento, o que movimenta mais as aquisições é que o gasto do caixa para expansão dá um retorno de investimento mais rápido do que fazer investimentos para a abertura de novas unidades. É uma oportunidade para quem só abria novas lojas poder fazer aquisições de pontos que já estão em operação. Nessa consolidação, as empresas menores podem concluir que é uma boa ideia vender seu negócio para concorrentes maiores”, afirma Campos.

O grupo Makro está de malas prontas para sair do País – para levar a estratégia a cabo, só falta vender as lojas que ainda restam em seu portfólio. Depois de vender boa parte das unidades que detinha para a gigante Carrefour – hoje líder de mercado no País e dona do atacarejo Atacadão –, ela tenta agora se desfazer dos pontos de venda que ainda lhe restam. Depois de negociar as propriedades com redes nacionais, a empresa agora cogita a venda para um grupo regional: o paranaense Muffato.

Embora desconhecido na maior parte do País, o Grupo Muffato é forte em seu mercado de origem. Fundada em 1974, em Cascavel, no oeste do Paraná, está hoje em sexto lugar entre as maiores redes do setor, com 82 lojas, considerando a marca de varejo Super Muffato e o atacarejo Max Atacadista. Presente em 31 cidades do Paraná e no interior de São Paulo, a companhia hoje emprega 19 mil pessoas.

Agora, prepara-se para dar um novo salto com a compra de 24 unidades da Makro. O negócio seria sua porta de entrada para a capital paulista. O Estadão apurou que a negociação está em andamento há pelo menos dois meses, mas as partes ainda não bateram o martelo. Haveria a questão do preço: o Makro quer cerca de R$ 2 bilhões pelos ativos, e a Muffato ainda estaria tentando reduzir o preço.

Muffato negocia a compra de unidades da Makro em São Paulo Foto: Estadão

Início como armazém de secos e molhados

A Muffato é uma empresa familiar, hoje gerida pelos filhos do fundador Tito Muffato, que criou o negócio junto ao irmão, Pedro, e ao cunhado, Hermínio. Tudo começou com um um pequeno armazém de secos e molhados em Cascavel. As mercadorias eram compradas em São Paulo ou adquiridas por meio de representantes regionais de indústrias. Nessa época, os cereais eram vendidos a granel e pesados na hora.

O negócio teve um ponto de virada a partir do fim dos anos 1970 com a construção da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, quando a Muffato inaugurou uma loja na cidade. A rede se desenvolveu na década seguinte na região Sul do País, um movimento que durou até metade dos anos 1990.

Em 13 de março de 1996, tudo mudou na gestão dos negócios. Tito Muffato embarcou em uma viagem no avião da família rumo ao Pantanal, onde se dedicaria à pesca por alguns dias, seu passatempo predileto. Nesse dia, o tempo estava ruim e o piloto tentou fazer um pouso de emergência em Foz do Iguaçu. Porém, a aeronave caiu e não deixou sobreviventes.

A esposa Reni e os três filhos Ederson, Everton e Eduardo, que tinham, respectivamente, 18, 16 e 14 anos, precisaram assumir a gestão das oito lojas e dos então 1,5 mil colaboradores. Hoje à frente dos negócios da família, os filhos de Tito foram os responsáveis pela expansão para o interior de São Paulo, em 2002. Nenhum dos três substituiu a posição do pai, optando por uma gestão conjunta dos negócios.

Everton Muffato, um dos irmãos à frente do Grupo Muffato Foto: Celso Pacheco/Estadão

Discretos, os empresários que começaram a trabalhar na empresa quando ainda eram crianças não quiseram dar entrevista ao Estadão. Eles tampouco são ativos em redes sociais. Em 2021, o negócio chegou a um faturamento de R$ 10,6 bilhões, crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Hoje, a companhia tem 19 mil funcionários.

Desafios à frente

Agora, com a negociação de aquisição das unidades do Makro em São Paulo, a Muffato pode inaugurar um novo capítulo da sua história e ampliar em quase 30% o número de lojas no País. Mas a missão de conquistar a capital paulista não será fácil.

Muffato tem unidades no Paraná e no interior de São Paulo  Foto: Estadão

Para Jean Paul Rebetez, especialista em varejo e sócio da GS&Consulting, a empreitada da Muffato em São Paulo terá desafios que vão além de tornar a marca conhecida entre os paulistanos.

“A Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios, com crédito, CRM e entregas de última milha. O Carrefour é um exemplo disso, assim como o Pão de Açúcar. É uma área desafiadora”, diz.

A Muffato enfrentará, portanto, os pesos-pesados do mercado em São Paulo. O Carrefour teve faturamento de R$ 81 bilhões em 2021, enquanto o Assaí faturou R$ 45 bilhões, e o GPA, R$ 29 bilhões.

Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios.”

Jean Paul Rebetez, sócio da GS&Consulting

Na visão de Rebetez, o segmento de varejo alimentar resistiu ao baque econômico causado pela pandemia de covid-19 por oferecer itens essenciais para o consumidor, como os alimentos e bebidas. Com isso, a empresa busca se posicionar na capital paulista com pontos estratégicos. Na efetivação da compra da Makro, a Muffato teria unidades nos bairros do Butantã, Interlagos, Lapa e Vila Maria.

O grupo holandês SHV, que detém as lojas da Makro, percebeu que o negócio deixou de ser competitivo no contexto atual de mercado e decidiu por colocar à venda as lojas da marca. Matheus Campos, sócio do escritório Stocche Forbes Advogados, diz que o movimento está alinhado com o crescimento do segmento de varejo alimentar durante a pandemia de covid-19, que deixou as grandes competidoras do setor mais capitalizadas.

“Neste momento, o que movimenta mais as aquisições é que o gasto do caixa para expansão dá um retorno de investimento mais rápido do que fazer investimentos para a abertura de novas unidades. É uma oportunidade para quem só abria novas lojas poder fazer aquisições de pontos que já estão em operação. Nessa consolidação, as empresas menores podem concluir que é uma boa ideia vender seu negócio para concorrentes maiores”, afirma Campos.

O grupo Makro está de malas prontas para sair do País – para levar a estratégia a cabo, só falta vender as lojas que ainda restam em seu portfólio. Depois de vender boa parte das unidades que detinha para a gigante Carrefour – hoje líder de mercado no País e dona do atacarejo Atacadão –, ela tenta agora se desfazer dos pontos de venda que ainda lhe restam. Depois de negociar as propriedades com redes nacionais, a empresa agora cogita a venda para um grupo regional: o paranaense Muffato.

Embora desconhecido na maior parte do País, o Grupo Muffato é forte em seu mercado de origem. Fundada em 1974, em Cascavel, no oeste do Paraná, está hoje em sexto lugar entre as maiores redes do setor, com 82 lojas, considerando a marca de varejo Super Muffato e o atacarejo Max Atacadista. Presente em 31 cidades do Paraná e no interior de São Paulo, a companhia hoje emprega 19 mil pessoas.

Agora, prepara-se para dar um novo salto com a compra de 24 unidades da Makro. O negócio seria sua porta de entrada para a capital paulista. O Estadão apurou que a negociação está em andamento há pelo menos dois meses, mas as partes ainda não bateram o martelo. Haveria a questão do preço: o Makro quer cerca de R$ 2 bilhões pelos ativos, e a Muffato ainda estaria tentando reduzir o preço.

Muffato negocia a compra de unidades da Makro em São Paulo Foto: Estadão

Início como armazém de secos e molhados

A Muffato é uma empresa familiar, hoje gerida pelos filhos do fundador Tito Muffato, que criou o negócio junto ao irmão, Pedro, e ao cunhado, Hermínio. Tudo começou com um um pequeno armazém de secos e molhados em Cascavel. As mercadorias eram compradas em São Paulo ou adquiridas por meio de representantes regionais de indústrias. Nessa época, os cereais eram vendidos a granel e pesados na hora.

O negócio teve um ponto de virada a partir do fim dos anos 1970 com a construção da Usina de Itaipu, em Foz do Iguaçu, quando a Muffato inaugurou uma loja na cidade. A rede se desenvolveu na década seguinte na região Sul do País, um movimento que durou até metade dos anos 1990.

Em 13 de março de 1996, tudo mudou na gestão dos negócios. Tito Muffato embarcou em uma viagem no avião da família rumo ao Pantanal, onde se dedicaria à pesca por alguns dias, seu passatempo predileto. Nesse dia, o tempo estava ruim e o piloto tentou fazer um pouso de emergência em Foz do Iguaçu. Porém, a aeronave caiu e não deixou sobreviventes.

A esposa Reni e os três filhos Ederson, Everton e Eduardo, que tinham, respectivamente, 18, 16 e 14 anos, precisaram assumir a gestão das oito lojas e dos então 1,5 mil colaboradores. Hoje à frente dos negócios da família, os filhos de Tito foram os responsáveis pela expansão para o interior de São Paulo, em 2002. Nenhum dos três substituiu a posição do pai, optando por uma gestão conjunta dos negócios.

Everton Muffato, um dos irmãos à frente do Grupo Muffato Foto: Celso Pacheco/Estadão

Discretos, os empresários que começaram a trabalhar na empresa quando ainda eram crianças não quiseram dar entrevista ao Estadão. Eles tampouco são ativos em redes sociais. Em 2021, o negócio chegou a um faturamento de R$ 10,6 bilhões, crescimento de 17% em relação ao ano anterior. Hoje, a companhia tem 19 mil funcionários.

Desafios à frente

Agora, com a negociação de aquisição das unidades do Makro em São Paulo, a Muffato pode inaugurar um novo capítulo da sua história e ampliar em quase 30% o número de lojas no País. Mas a missão de conquistar a capital paulista não será fácil.

Muffato tem unidades no Paraná e no interior de São Paulo  Foto: Estadão

Para Jean Paul Rebetez, especialista em varejo e sócio da GS&Consulting, a empreitada da Muffato em São Paulo terá desafios que vão além de tornar a marca conhecida entre os paulistanos.

“A Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios, com crédito, CRM e entregas de última milha. O Carrefour é um exemplo disso, assim como o Pão de Açúcar. É uma área desafiadora”, diz.

A Muffato enfrentará, portanto, os pesos-pesados do mercado em São Paulo. O Carrefour teve faturamento de R$ 81 bilhões em 2021, enquanto o Assaí faturou R$ 45 bilhões, e o GPA, R$ 29 bilhões.

Muffato vai entrar em uma briga com gente muito competente e que trabalha não só no atacarejo e no varejo alimentar, mas também funciona como ecossistemas de negócios.”

Jean Paul Rebetez, sócio da GS&Consulting

Na visão de Rebetez, o segmento de varejo alimentar resistiu ao baque econômico causado pela pandemia de covid-19 por oferecer itens essenciais para o consumidor, como os alimentos e bebidas. Com isso, a empresa busca se posicionar na capital paulista com pontos estratégicos. Na efetivação da compra da Makro, a Muffato teria unidades nos bairros do Butantã, Interlagos, Lapa e Vila Maria.

O grupo holandês SHV, que detém as lojas da Makro, percebeu que o negócio deixou de ser competitivo no contexto atual de mercado e decidiu por colocar à venda as lojas da marca. Matheus Campos, sócio do escritório Stocche Forbes Advogados, diz que o movimento está alinhado com o crescimento do segmento de varejo alimentar durante a pandemia de covid-19, que deixou as grandes competidoras do setor mais capitalizadas.

“Neste momento, o que movimenta mais as aquisições é que o gasto do caixa para expansão dá um retorno de investimento mais rápido do que fazer investimentos para a abertura de novas unidades. É uma oportunidade para quem só abria novas lojas poder fazer aquisições de pontos que já estão em operação. Nessa consolidação, as empresas menores podem concluir que é uma boa ideia vender seu negócio para concorrentes maiores”, afirma Campos.

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