‘Nossa moeda digital vai ser um ‘cashback’ mais moderno’, diz líder do Mercado Livre no Brasil


Gigante do e-commerce lançou a criptomoeda Mercado Coin, que vai ser usada para fidelizar clientes; Fernando Yunes também diz que cenário de eleições não afeta investimentos no País

Por Lucas Agrela
Atualização:

Para Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil, o resultado das eleições presidenciais deste ano será indiferente para os negócios da empresa. O investimento anual bilionário no País, seu maior mercado, será mantido e pode até ser ampliado em 2023. “O cenário de eleição não interfere nas nossas decisões. Neste ano são R$ 17 bilhões de investimentos no Brasil. Independentemente do caminho da eleição, vamos manter o investimento no País”, afirma Yunes.

No fim de agosto, o Mercado Livre finalizou a captação de R$ 1 bilhão na forma de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) para investir na expansão, revitalização e modernização da sua estrutura logística no Brasil. Neste ano, a empresa já anunciou quatro novos centros de distribuição, que aumentarão capacidade de transação diária em mais de 1 milhão de pacotes no País.

Em um ano em que varejistas como Magalu e Via tiveram perda de rentabilidade, a empresa registrou aumento de faturamento e lucro, mas também ganhou mais concorrentes, como a asiática Shopee, que ampliou investimentos no Brasil. Para se manter no topo e não repetir os erros de grandes varejistas que ficaram pelo caminho, o Mercado Livre aposta no investimento em tecnologia e no desenvolvimento próprio de novos negócios, em vez de buscar aquisições.

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Um deles é o Mercado Coin, moeda digital da empresa, criada em parceria com a Ripio. Segundo o executivo, ela terá a função de fidelizar o cliente do marketplace. “O Mercado Coin vem para ser um elemento novo no nosso programa de fidelidade. Ele é um cashback (programa de devolução de dinheiro) mais moderno”, explica.

Leia, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

Fernando Yunes, líder do Mercado Livre no Brasil, diz que a empresa tem estratégia de longo prazo no País, independentemente do resultado nas urnas  Foto: Alex Silva/Estadão
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A história do varejo brasileiro é marcada por empresas que atingiram faturamentos bilionários e foram à falência. Qual é o plano para que isso não aconteça com o Mercado Livre?

Nosso foco é em crescimento orgânico, em vez de uma estratégia de aquisições. Quando criamos algo novo, já é integrado à nossa tecnologia. Isso traz um diferencial muito grande, com uma solução mais elegante para o cliente. Também nos permite avançar rapidamente e a manter um balanço entre crescimento e rentabilidade. A gestão não pensa no resultado do trimestre, mas no longo prazo. A combinação de um time competente, engajado, em um ambiente colaborativo para criar o futuro do comércio e dos serviços financeiros é fundamental para manter a liderança e ganhar mais vantagens perante a concorrência. É algo estrutural.

Em um cenário de inflação e juros altos, como manter a lucratividade?

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O contexto é desafiador, com inflação alta no Brasil e no mundo. Os juros altos também impactam o cenário. Nosso foco é buscar produtividade para conseguir investir no negócio sem precisar fazer aumentos para os vendedores ou fazemos o mínimo possível. Até agora, quase não fizemos aumentos para os vendedores. Quase todos os concorrentes deram prejuízo, enquanto nós tivemos aumento de receita e lucro. O mercado caiu 3% no segundo trimestre deste ano. Nossa receita cresceu 56%, o aumento do volume de vendas foi de 20% e o lucro subiu 70%. Foi uma engenharia enorme na empresa para criação de projetos voltados à eficiência. Buscamos apoiar ao máximo os vendedores, absorvendo o impacto, para que eles não precisem aumentar o preço para o consumidor. Isso faz o mercado crescer e aumentar a eficiência, culminando em mais lucro.

O rumo das eleições presidenciais vai ditar o futuro da empresa no País?

O cenário de eleição não interfere nas nossas decisões. Neste ano são R$ 17 bilhões de investimentos no Brasil. Independentemente do caminho da eleição, vamos manter o investimento no País. No ano que vem, sonhamos até em aumentar esse valor. Somos apolíticos e temos um compromisso de longo prazo com o Brasil. Vamos continuar a gerar empregos e impostos, assim como a ajudar no desenvolvimento socioeconômico do País. Só no ano passado, foram 150 mil empresas que se formalizaram por meio do Mercado Livre. Somos um motor de empreendedorismo e formalização. Se alguém perdeu o emprego e quer vender online, pode começar como pessoa física. A partir do momento em que as vendas são diárias, esse vendedor é obrigado a se formalizar como uma empresa.

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Como a empresa combate a venda de produtos falsos?

Nós fortalecemos muito a marca do Mercado Livre. Tiramos 90 mil vendedores que vendiam produtos fraudulentos ou tinham nível de serviço ruim. Eles tiveram a oportunidade de se adequar, mas acabaram removidos. Ao mesmo tempo, ganhamos milhares de vendedores. Só neste ano, mais de 300 marcas entraram para a plataforma, como Apple, Samsung, Farm, Dudalina, Arezzo, Ambev e Nestlé. Nós mapeamos todas as verticais de consumo, identificamos as marcas mais fortes junto aos consumidores. Isso nos levou a atingir 800 marcas, que trazem junto a confiança. Esse avanço da confiança no Mercado Livre vem com as marcas e com os investimentos em logística

A devolução é um dos gargalos do e-commerce, e a experiência negativa pode prejudicar a marca. Como resolver isso?

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Por estratégia, o Mercado Livre não tem loja física. Ao mesmo tempo, temos agências. Compramos a empresa Kangu, que criou conexões com 3 mil pontos físicos no País. Eles servem como parte da nossa malha de logística. Um cliente pode ir até lá receber um produto, em vez de recebê-lo em casa. Agora, será possível devolver produtos que não serviram ou que o cliente simplesmente não gostou. A lógica é facilitar as devoluções, que hoje são feitas por meio das agências dos Correios. Os vendedores também podem levar seus produtos para esses pontos em vez de ir até um centro logístico da empresa.

A liberação do Auxílio Brasil causou algum impacto nas vendas da empresa?

Agosto foi um mês levemente melhor, com crescimento de 2 pontos percentuais a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Tivemos uma ligeira melhora no e-commerce.

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Passada a digitalização de empresas na pandemia, o consumidor aderiu mesmo às compras online?

O e-commerce foi massificado. Hoje é difícil encontrar quem não compre online. A pandemia foi muito longa, o que ajudou a criar o hábito de comprar via internet. A experiência do consumidor foi positiva, com preços acessíveis e prazos de entrega curtos. Isso criou uma espiral positiva, com as pessoas agora indicando para as outras a compra online.

Por que a empresa apostou em uma criptomoeda própria em um ano marcado pela queda de valor desse mercado?

O Mercado Coin vem para ser um elemento novo no nosso programa de fidelidade. Ele é um cashback (devolução de dinheiro) mais moderno. Comprei um acessório de vôlei de R$ 100 e ganhei 4% de cashback, que pode ser usado em uma próxima compra ou posso manter o saldo no aplicativo do Mercado Pago. Ou até trocar o saldo para reais. O cashback normalmente tem prazo de validade. No nosso caso, isso não existe. No ano passado, o Mercado Livre comprou US$ 30 milhões em criptomoedas como reserva de valor no ano passado. Ainda não sabemos tudo que pode ser feito com criptomoedas. Mas o melhor jeito de aprender é começando e estamos agora em uma fase exploratória.

Quais são as frentes de negócios que mais crescem hoje?

O nosso ecossistema todo tem crescido muito. O marketplace cresceu 20% no segundo trimestre, enquanto o mercado de e-commerce no País caiu 3%. O Mercado Crédito é um negócio de crescimento rápido e forte, com potencial para mais. O Mercado Ads também está crescendo a uma taxa muito forte. Como são 100 milhões de usuários que acessam o Mercado Livre, a audiência é muito grande e uma empresa pode construir sua marca ali. Mas a solução pode ser usada também para dar mais visibilidade a um produto e aumentar as vendas. Outra frente que tem crescido é a Mercado Shops. Lá, o cliente pode criar a loja com a identidade visual própria e toda a tecnologia e logística por trás é do Mercado Livre.

Para Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil, o resultado das eleições presidenciais deste ano será indiferente para os negócios da empresa. O investimento anual bilionário no País, seu maior mercado, será mantido e pode até ser ampliado em 2023. “O cenário de eleição não interfere nas nossas decisões. Neste ano são R$ 17 bilhões de investimentos no Brasil. Independentemente do caminho da eleição, vamos manter o investimento no País”, afirma Yunes.

No fim de agosto, o Mercado Livre finalizou a captação de R$ 1 bilhão na forma de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) para investir na expansão, revitalização e modernização da sua estrutura logística no Brasil. Neste ano, a empresa já anunciou quatro novos centros de distribuição, que aumentarão capacidade de transação diária em mais de 1 milhão de pacotes no País.

Em um ano em que varejistas como Magalu e Via tiveram perda de rentabilidade, a empresa registrou aumento de faturamento e lucro, mas também ganhou mais concorrentes, como a asiática Shopee, que ampliou investimentos no Brasil. Para se manter no topo e não repetir os erros de grandes varejistas que ficaram pelo caminho, o Mercado Livre aposta no investimento em tecnologia e no desenvolvimento próprio de novos negócios, em vez de buscar aquisições.

Um deles é o Mercado Coin, moeda digital da empresa, criada em parceria com a Ripio. Segundo o executivo, ela terá a função de fidelizar o cliente do marketplace. “O Mercado Coin vem para ser um elemento novo no nosso programa de fidelidade. Ele é um cashback (programa de devolução de dinheiro) mais moderno”, explica.

Leia, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

Fernando Yunes, líder do Mercado Livre no Brasil, diz que a empresa tem estratégia de longo prazo no País, independentemente do resultado nas urnas  Foto: Alex Silva/Estadão

A história do varejo brasileiro é marcada por empresas que atingiram faturamentos bilionários e foram à falência. Qual é o plano para que isso não aconteça com o Mercado Livre?

Nosso foco é em crescimento orgânico, em vez de uma estratégia de aquisições. Quando criamos algo novo, já é integrado à nossa tecnologia. Isso traz um diferencial muito grande, com uma solução mais elegante para o cliente. Também nos permite avançar rapidamente e a manter um balanço entre crescimento e rentabilidade. A gestão não pensa no resultado do trimestre, mas no longo prazo. A combinação de um time competente, engajado, em um ambiente colaborativo para criar o futuro do comércio e dos serviços financeiros é fundamental para manter a liderança e ganhar mais vantagens perante a concorrência. É algo estrutural.

Em um cenário de inflação e juros altos, como manter a lucratividade?

O contexto é desafiador, com inflação alta no Brasil e no mundo. Os juros altos também impactam o cenário. Nosso foco é buscar produtividade para conseguir investir no negócio sem precisar fazer aumentos para os vendedores ou fazemos o mínimo possível. Até agora, quase não fizemos aumentos para os vendedores. Quase todos os concorrentes deram prejuízo, enquanto nós tivemos aumento de receita e lucro. O mercado caiu 3% no segundo trimestre deste ano. Nossa receita cresceu 56%, o aumento do volume de vendas foi de 20% e o lucro subiu 70%. Foi uma engenharia enorme na empresa para criação de projetos voltados à eficiência. Buscamos apoiar ao máximo os vendedores, absorvendo o impacto, para que eles não precisem aumentar o preço para o consumidor. Isso faz o mercado crescer e aumentar a eficiência, culminando em mais lucro.

O rumo das eleições presidenciais vai ditar o futuro da empresa no País?

O cenário de eleição não interfere nas nossas decisões. Neste ano são R$ 17 bilhões de investimentos no Brasil. Independentemente do caminho da eleição, vamos manter o investimento no País. No ano que vem, sonhamos até em aumentar esse valor. Somos apolíticos e temos um compromisso de longo prazo com o Brasil. Vamos continuar a gerar empregos e impostos, assim como a ajudar no desenvolvimento socioeconômico do País. Só no ano passado, foram 150 mil empresas que se formalizaram por meio do Mercado Livre. Somos um motor de empreendedorismo e formalização. Se alguém perdeu o emprego e quer vender online, pode começar como pessoa física. A partir do momento em que as vendas são diárias, esse vendedor é obrigado a se formalizar como uma empresa.

Como a empresa combate a venda de produtos falsos?

Nós fortalecemos muito a marca do Mercado Livre. Tiramos 90 mil vendedores que vendiam produtos fraudulentos ou tinham nível de serviço ruim. Eles tiveram a oportunidade de se adequar, mas acabaram removidos. Ao mesmo tempo, ganhamos milhares de vendedores. Só neste ano, mais de 300 marcas entraram para a plataforma, como Apple, Samsung, Farm, Dudalina, Arezzo, Ambev e Nestlé. Nós mapeamos todas as verticais de consumo, identificamos as marcas mais fortes junto aos consumidores. Isso nos levou a atingir 800 marcas, que trazem junto a confiança. Esse avanço da confiança no Mercado Livre vem com as marcas e com os investimentos em logística

A devolução é um dos gargalos do e-commerce, e a experiência negativa pode prejudicar a marca. Como resolver isso?

Por estratégia, o Mercado Livre não tem loja física. Ao mesmo tempo, temos agências. Compramos a empresa Kangu, que criou conexões com 3 mil pontos físicos no País. Eles servem como parte da nossa malha de logística. Um cliente pode ir até lá receber um produto, em vez de recebê-lo em casa. Agora, será possível devolver produtos que não serviram ou que o cliente simplesmente não gostou. A lógica é facilitar as devoluções, que hoje são feitas por meio das agências dos Correios. Os vendedores também podem levar seus produtos para esses pontos em vez de ir até um centro logístico da empresa.

A liberação do Auxílio Brasil causou algum impacto nas vendas da empresa?

Agosto foi um mês levemente melhor, com crescimento de 2 pontos percentuais a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Tivemos uma ligeira melhora no e-commerce.

Passada a digitalização de empresas na pandemia, o consumidor aderiu mesmo às compras online?

O e-commerce foi massificado. Hoje é difícil encontrar quem não compre online. A pandemia foi muito longa, o que ajudou a criar o hábito de comprar via internet. A experiência do consumidor foi positiva, com preços acessíveis e prazos de entrega curtos. Isso criou uma espiral positiva, com as pessoas agora indicando para as outras a compra online.

Por que a empresa apostou em uma criptomoeda própria em um ano marcado pela queda de valor desse mercado?

O Mercado Coin vem para ser um elemento novo no nosso programa de fidelidade. Ele é um cashback (devolução de dinheiro) mais moderno. Comprei um acessório de vôlei de R$ 100 e ganhei 4% de cashback, que pode ser usado em uma próxima compra ou posso manter o saldo no aplicativo do Mercado Pago. Ou até trocar o saldo para reais. O cashback normalmente tem prazo de validade. No nosso caso, isso não existe. No ano passado, o Mercado Livre comprou US$ 30 milhões em criptomoedas como reserva de valor no ano passado. Ainda não sabemos tudo que pode ser feito com criptomoedas. Mas o melhor jeito de aprender é começando e estamos agora em uma fase exploratória.

Quais são as frentes de negócios que mais crescem hoje?

O nosso ecossistema todo tem crescido muito. O marketplace cresceu 20% no segundo trimestre, enquanto o mercado de e-commerce no País caiu 3%. O Mercado Crédito é um negócio de crescimento rápido e forte, com potencial para mais. O Mercado Ads também está crescendo a uma taxa muito forte. Como são 100 milhões de usuários que acessam o Mercado Livre, a audiência é muito grande e uma empresa pode construir sua marca ali. Mas a solução pode ser usada também para dar mais visibilidade a um produto e aumentar as vendas. Outra frente que tem crescido é a Mercado Shops. Lá, o cliente pode criar a loja com a identidade visual própria e toda a tecnologia e logística por trás é do Mercado Livre.

Para Fernando Yunes, vice-presidente sênior e líder do Mercado Livre no Brasil, o resultado das eleições presidenciais deste ano será indiferente para os negócios da empresa. O investimento anual bilionário no País, seu maior mercado, será mantido e pode até ser ampliado em 2023. “O cenário de eleição não interfere nas nossas decisões. Neste ano são R$ 17 bilhões de investimentos no Brasil. Independentemente do caminho da eleição, vamos manter o investimento no País”, afirma Yunes.

No fim de agosto, o Mercado Livre finalizou a captação de R$ 1 bilhão na forma de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) para investir na expansão, revitalização e modernização da sua estrutura logística no Brasil. Neste ano, a empresa já anunciou quatro novos centros de distribuição, que aumentarão capacidade de transação diária em mais de 1 milhão de pacotes no País.

Em um ano em que varejistas como Magalu e Via tiveram perda de rentabilidade, a empresa registrou aumento de faturamento e lucro, mas também ganhou mais concorrentes, como a asiática Shopee, que ampliou investimentos no Brasil. Para se manter no topo e não repetir os erros de grandes varejistas que ficaram pelo caminho, o Mercado Livre aposta no investimento em tecnologia e no desenvolvimento próprio de novos negócios, em vez de buscar aquisições.

Um deles é o Mercado Coin, moeda digital da empresa, criada em parceria com a Ripio. Segundo o executivo, ela terá a função de fidelizar o cliente do marketplace. “O Mercado Coin vem para ser um elemento novo no nosso programa de fidelidade. Ele é um cashback (programa de devolução de dinheiro) mais moderno”, explica.

Leia, a seguir, os melhores trechos da entrevista:

Fernando Yunes, líder do Mercado Livre no Brasil, diz que a empresa tem estratégia de longo prazo no País, independentemente do resultado nas urnas  Foto: Alex Silva/Estadão

A história do varejo brasileiro é marcada por empresas que atingiram faturamentos bilionários e foram à falência. Qual é o plano para que isso não aconteça com o Mercado Livre?

Nosso foco é em crescimento orgânico, em vez de uma estratégia de aquisições. Quando criamos algo novo, já é integrado à nossa tecnologia. Isso traz um diferencial muito grande, com uma solução mais elegante para o cliente. Também nos permite avançar rapidamente e a manter um balanço entre crescimento e rentabilidade. A gestão não pensa no resultado do trimestre, mas no longo prazo. A combinação de um time competente, engajado, em um ambiente colaborativo para criar o futuro do comércio e dos serviços financeiros é fundamental para manter a liderança e ganhar mais vantagens perante a concorrência. É algo estrutural.

Em um cenário de inflação e juros altos, como manter a lucratividade?

O contexto é desafiador, com inflação alta no Brasil e no mundo. Os juros altos também impactam o cenário. Nosso foco é buscar produtividade para conseguir investir no negócio sem precisar fazer aumentos para os vendedores ou fazemos o mínimo possível. Até agora, quase não fizemos aumentos para os vendedores. Quase todos os concorrentes deram prejuízo, enquanto nós tivemos aumento de receita e lucro. O mercado caiu 3% no segundo trimestre deste ano. Nossa receita cresceu 56%, o aumento do volume de vendas foi de 20% e o lucro subiu 70%. Foi uma engenharia enorme na empresa para criação de projetos voltados à eficiência. Buscamos apoiar ao máximo os vendedores, absorvendo o impacto, para que eles não precisem aumentar o preço para o consumidor. Isso faz o mercado crescer e aumentar a eficiência, culminando em mais lucro.

O rumo das eleições presidenciais vai ditar o futuro da empresa no País?

O cenário de eleição não interfere nas nossas decisões. Neste ano são R$ 17 bilhões de investimentos no Brasil. Independentemente do caminho da eleição, vamos manter o investimento no País. No ano que vem, sonhamos até em aumentar esse valor. Somos apolíticos e temos um compromisso de longo prazo com o Brasil. Vamos continuar a gerar empregos e impostos, assim como a ajudar no desenvolvimento socioeconômico do País. Só no ano passado, foram 150 mil empresas que se formalizaram por meio do Mercado Livre. Somos um motor de empreendedorismo e formalização. Se alguém perdeu o emprego e quer vender online, pode começar como pessoa física. A partir do momento em que as vendas são diárias, esse vendedor é obrigado a se formalizar como uma empresa.

Como a empresa combate a venda de produtos falsos?

Nós fortalecemos muito a marca do Mercado Livre. Tiramos 90 mil vendedores que vendiam produtos fraudulentos ou tinham nível de serviço ruim. Eles tiveram a oportunidade de se adequar, mas acabaram removidos. Ao mesmo tempo, ganhamos milhares de vendedores. Só neste ano, mais de 300 marcas entraram para a plataforma, como Apple, Samsung, Farm, Dudalina, Arezzo, Ambev e Nestlé. Nós mapeamos todas as verticais de consumo, identificamos as marcas mais fortes junto aos consumidores. Isso nos levou a atingir 800 marcas, que trazem junto a confiança. Esse avanço da confiança no Mercado Livre vem com as marcas e com os investimentos em logística

A devolução é um dos gargalos do e-commerce, e a experiência negativa pode prejudicar a marca. Como resolver isso?

Por estratégia, o Mercado Livre não tem loja física. Ao mesmo tempo, temos agências. Compramos a empresa Kangu, que criou conexões com 3 mil pontos físicos no País. Eles servem como parte da nossa malha de logística. Um cliente pode ir até lá receber um produto, em vez de recebê-lo em casa. Agora, será possível devolver produtos que não serviram ou que o cliente simplesmente não gostou. A lógica é facilitar as devoluções, que hoje são feitas por meio das agências dos Correios. Os vendedores também podem levar seus produtos para esses pontos em vez de ir até um centro logístico da empresa.

A liberação do Auxílio Brasil causou algum impacto nas vendas da empresa?

Agosto foi um mês levemente melhor, com crescimento de 2 pontos percentuais a mais em relação ao mesmo período do ano passado. Tivemos uma ligeira melhora no e-commerce.

Passada a digitalização de empresas na pandemia, o consumidor aderiu mesmo às compras online?

O e-commerce foi massificado. Hoje é difícil encontrar quem não compre online. A pandemia foi muito longa, o que ajudou a criar o hábito de comprar via internet. A experiência do consumidor foi positiva, com preços acessíveis e prazos de entrega curtos. Isso criou uma espiral positiva, com as pessoas agora indicando para as outras a compra online.

Por que a empresa apostou em uma criptomoeda própria em um ano marcado pela queda de valor desse mercado?

O Mercado Coin vem para ser um elemento novo no nosso programa de fidelidade. Ele é um cashback (devolução de dinheiro) mais moderno. Comprei um acessório de vôlei de R$ 100 e ganhei 4% de cashback, que pode ser usado em uma próxima compra ou posso manter o saldo no aplicativo do Mercado Pago. Ou até trocar o saldo para reais. O cashback normalmente tem prazo de validade. No nosso caso, isso não existe. No ano passado, o Mercado Livre comprou US$ 30 milhões em criptomoedas como reserva de valor no ano passado. Ainda não sabemos tudo que pode ser feito com criptomoedas. Mas o melhor jeito de aprender é começando e estamos agora em uma fase exploratória.

Quais são as frentes de negócios que mais crescem hoje?

O nosso ecossistema todo tem crescido muito. O marketplace cresceu 20% no segundo trimestre, enquanto o mercado de e-commerce no País caiu 3%. O Mercado Crédito é um negócio de crescimento rápido e forte, com potencial para mais. O Mercado Ads também está crescendo a uma taxa muito forte. Como são 100 milhões de usuários que acessam o Mercado Livre, a audiência é muito grande e uma empresa pode construir sua marca ali. Mas a solução pode ser usada também para dar mais visibilidade a um produto e aumentar as vendas. Outra frente que tem crescido é a Mercado Shops. Lá, o cliente pode criar a loja com a identidade visual própria e toda a tecnologia e logística por trás é do Mercado Livre.

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