Mesmo com o rebaixamento da nota de classificação de risco da Petrobras anunciado na noite da quinta-feira, 03, a Moody''s ainda atribui à estatal um rating melhor que o dado pelas agências Standard & Poor''s (S&P) e Fitch Ratings. Apesar da diferença, as três instituições são unânimes ao alertar sobre o nível do endividamento da Petrobras diante do ambicioso plano de investimento da estatal para os próximos anos - principal motivo citado pela Moody''s para piorar a avaliação da companhia petrolífera.A Moody''s rebaixou o rating da dívida de longo prazo em moeda local e estrangeira de "A3" para "Baa1" com perspectiva negativa. Com isso, a estatal petrolífera passa a contar com a oitava melhor nota na escala da agência, um patamar acima do rating brasileiro que é "Baa2". Nas demais grandes classificadoras de risco, a Petrobras conta com nota "BBB" na Standard & Poor''s e "BBB+" na Fitch. Nos dois casos, a nota é a nona melhor e está no mesmo patamar da avaliação soberana brasileira. Ou seja, a nota da Moody''s é melhor do que da S&P e Fitch."Vemos a alavancagem da Petrobras em níveis próximos ao pico em 2013 e 2014, significativamente mais altos do que aqueles de seus pares da indústria, e provavelmente apenas vai declinar de 2015 em diante", disse Thomas Coleman, vice-presidente da Moody''s ao explicar o rebaixamento. O problema da estatal, porém, não se limita à dívida.A Moody''s alerta para a ingerência do governo federal sobre a companhia. O relatório cita "ligações crescentes entre a Petrobras e o rating soberano". Isso acontece porque o "governo está desempenhando um papel maior de supervisão na direção estratégica da Petrobras, no desenvolvimento dos campos de petróleo e na promoção de políticas de conteúdo local". A agência também destaca "fortes laços com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que também está envolvido de perto como acionista da Sete Brasil, nova entidade encarregada de supervisionar a evolução das sondas de perfuração".Os analistas da Moody''s advertem também que a permanência da perspectiva negativa para a nota da empresa significa que o rating da Petrobras pode ser rebaixado no futuro "como resultado de progresso limitado no ajuste e flexibilidade no programa de investimento, se a alavancagem financeira aumentar e for mantida com a relação dívida/Ebitda acima de 4 ou se o crescimento da produção ficar abaixo das metas". "Relações crescentes com o governo também poderiam pressionar os ratings", completa o documento.O tom da Moody''s é mais forte que o observado recentemente nas demais agências de classificação de risco. Por enquanto, S&P e Fitch não têm uma programação de curto prazo para a nota da Petrobras. Na Fitch, a mais recente revisão da nota da companhia foi em março de 2013. Na S&P, a revisão é ainda mais recente: 30 de agosto. Não existe um calendário fixo para as próximas análises, mas as companhias são monitoradas permanentemente pelas agências e revisões mais aprofundadas podem ser feitas anualmente ou sempre quando há mudanças significativas na situação da companhia.Mas isso não quer dizer que alertas já não tenham sido emitidos e a dívida parece ser o tema mais preocupante. Para a S&P, "em decorrência do considerável plano de investimentos da Petrobras, de US$ 236 bilhões para o período entre 2013 e 2017, esperamos que a empresa apresente fluxo de caixa operacional livre negativo até 2015". Como resultado, a estatal deve registrar aumento da dívida anual em torno de US$ 15 bilhões a US$ 20 bilhões, previu a agência em agosto.Em março, a Fitch também emitiu uma avaliação negativa sobre a dívida, mas em tom um pouco menos preocupante. "A Fitch acredita que a companhia registrará fluxo de caixa livre negativo nos próximos cinco anos e maior alavancagem à medida que continua realizando grandes investimentos. A política de preços domésticos dos produtos refinados, atualmente abaixo dos preços internacionais, também deve influenciar o tamanho do déficit de fluxo de caixa", avaliou a agência em março. Para a Fitch, "a necessidade de empréstimos da Petrobras será superior aos US$ 12 bilhões por ano" nos próximos anos.Apesar dessa avaliação negativa, S&P e Fitch demonstraram, nas revisões mais recentes, expectativa positiva para o futuro de mais longo prazo da companhia estatal - tom mais otimista que o da Moody''s. "As perspectivas positivas de negócios para a Petrobras em sua divisão de exploração e produção, o acesso provado ao mercado e a flexibilidade financeira muito boa, incrementados por ter o governo como controlador, mitigam os fatores negativos", diz a S&P. A Fitch também considera a perspectiva de longo prazo com viés positivo. "As métricas deverão se recuperar à medida que a companhia monetize cada vez mais suas grandes reservas de petróleo e que os preços locais dos produtos refinados se alinhem aos preços internacionais", avalia a Fitch.