RIO - A argentina Pan American Energy (PAE) vai antecipar em um mês e meio a entrada em operação do parque eólico Novo Horizonte, de 423 megawatts (MW), no interior da Bahia, com previsão de colocar os primeiros aerogeradores em operação comercial em dezembro deste ano, informou ao Estadão/Broadcast o vice-presidente de desenvolvimento de negócios internacionais do grupo, Enrique Lusso.
Entusiasmado com o mercado brasileiro, o executivo antecipou que no primeiro trimestre do próximo ano será batido o martelo sobre a viabilidade de construção, no mesmo local, de um parque de geração solar fotovoltaica de 300 a 400 MW.
“No futuro, estaremos trabalhando outras oportunidades (no Brasil), como gás, petróleo, e, possivelmente, lítio. Podemos utilizar nossa experiência em muitas coisas aqui”, disse o executivo em visita ao Brasil, incluindo o mais recente negócio da empresa, a mineração de lítio no norte da Argentina, visando o crescimento da mobilidade elétrica.
Uma das maiores empresas de energia da Argentina, a PAE atua em outros países da América Latina em petróleo e gás natural, como México e Bolívia, e em 2021 decidiu entrar no mercado brasileiro no segmento de energia renovável, após uma disputa entre 28 projetos no mundo inteiro. O interior da Bahia saiu vitorioso, e agora o grupo planeja continuar investindo na região para atender o robusto mercado brasileiro.
Responsável pelo projeto no Brasil, Alejandro Catalano Dupuy conta que montou uma equipe forte na Bahia e manteve apenas um argentino na operação: ele mesmo.
Orgulhoso por abrir mais de 2 mil vagas para construção do parque, Dupuy conta que a linha de transmissão de 80 quilômetros construída pelo grupo para distribuir a energia eólica do parque de Novo Horizonte, nome de uma das cidades próximas ao projeto, tem capacidade suficiente para sustentar a construção do parque solar. Se aprovado, o local pode chegar a uma capacidade instalada de mais de 800 MW. Na Argentina, a geração eólica da PAE soma cerca de 170 MW, informou.
“Por enquanto, vamos avaliar se vamos avançar ou não com o parque solar, será ao lado da eólica para aproveitar a linha (de transmissão) de 80 km que também seria usada”, disse.
Vaca Muerta
Além de investir em energias renováveis no Brasil, a PAE vem trabalhando para viabilizar a vinda do gás de Vaca Muerta para o País, um gigantesco reservatório de gás de xisto na bacia de Neuquén, na Patagônia, norte do país, perdendo em volume de reservas no mundo apenas para os Estados Unidos. Lusso explica que muito agentes estão envolvidos nas conversas, mas que ainda é cedo para saber quando o gás vai chegar ao mercado brasileiro.
A Bolívia, que já chegou fornecer 30 milhões de metros cúbicos diários do insumo ao Brasil, via Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), hoje fornece a metade desse volume, e já avisou que o fornecimento deve ser suspenso em 2025, por falta de reservas.
Com pouco gás também em território brasileiro, o País deve buscar soluções regionais para substituir o gás boliviano, já que a importação de Gás Natural Liquefeito (GNL) em grande escala sairia mais caro. Trazer gás de Vaca Muerta é uma possibilidade que está sendo gestada na Petrobras, que possui uma participação no ativo argentino, e já anunciou que desistiu de vender o controle da Transportadora Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG).
O interesse pelo gás de Vaca Muerta levou o próprio presidente Lula a acenar, em janeiro deste ano, com um possível financiamento do BNDES para viabilizar a importação do gás argentino com a construção de gasodutos.
“Vaca Muerta tem potencial de produzir quatro vezes o consumo de gás da Argentina por 20 anos, e nós já estamos trabalhando, falando com empresas. Estamos realmente atentos para saber como podemos colaborar para que esse gás da Argentina possa chegar ao Brasil”, disse Lusso, sem dar detalhes. A PAE produz 10 milhões de metros cúbicos diários de gás em oito blocos que possui em Vaca Muerta. É o maior produtor de gás privado da Argentina.
A conexão com o Brasil, porém, depende de ampliações nas redes de dutos argentina e brasileira, além de alterações de direção em gasodutos bolivianos. O gás boliviano que hoje é importado pela Argentina teria o caminho invertido para receber o gás de Vaca Muerta, e de lá se conectar parte boliviana do Gasbol para trazer o insumo ao Brasil.
“Parte da nossa agenda é colaborar para viabilizar a vinda do gás de Vaca Muerta”, informou Lusso. “É um esforço das empresas privadas brasileiras, bancos, políticos, tem que estar tudo alinhado”, explicou, ressaltando que a solução pela Bolívia é considerada a mais econômica e rápida.