Magda Chambriard toma posse como presidente da Petrobras; o que esperar da nova gestão?


Executiva, indicada por Lula, assume o cargo no lugar de Jean Paul Prates e terá o desafio de acelerar projetos caros ao presidente, como refinarias e estaleiros

Por Denise Luna, Gabriel Vasconcelos e Caroline Aragaki
Atualização:

O conselho de administração da Petrobras aprovou, em reunião realizada nesta sexta-feira, 24, o nome de Magda Chambriard como conselheira e a elegeu como nova presidente da companhia. “Magda Chambriard tomou posse em ambos os cargos nesta data e passou a integrar o conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de assembleia de acionistas para esse fim”, diz a estatal, em comunicado. Ela substitui Jean Paul Prates, que foi demitido do cargo pelo presidente Lula.

A aprovação era esperada, até porque o governo federal, que indicou Magda, é o maior acionista e tem maioria no conselho. O nome da executiva já havia sido aprovado esta semana no Comitê de Pessoas da estatal, que avaliou que a indicação preenchia “os requisitos necessários” previstos nas regras de governança da companhia e na legislação aplicável e está apta para ser apreciada pelo conselho de administração, sendo, portanto, elegível para ambos os cargos.

Magda é mestre em Engenharia Química pela Coppe/UFRJ (1989) e engenheira civil pela UFRJ (1979), com especialização em Engenharia de Reservatórios e Avaliação de Formações e especialização em Produção de Petróleo e Gás, na hoje denominada Universidade Petrobras.

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Iniciou sua carreira na Petrobras, em 1980, atuando sempre na área de Produção, onde acumulou conhecimentos sobre todas as áreas em produção no Brasil.

Magda já tomou posse no comando da Petrobras Foto: Wilton Junior/Estadão

Assumiu a diretoria da ANP em 2008 e a diretoria geral em 2012, tendo liderado a criação da Superintendência de Segurança e Meio Ambiente, Superintendência de Tecnologia da Informação, os trabalhos relativos aos estudos e elaboração dos contratos e editais, os estudos técnicos que culminaram na primeira licitação do pré-sal, além das licitações tradicionais sob regime de concessão.

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O que o governo espera de Magda?

A Petrobras que a nova presidente, Magda Chambriard, encontra, ao tomar posse, é bem diferente da que o demitido Jean Paul Prates se deparou em janeiro de 2023. Não será preciso acabar com a política de preços de importação (PPI) e nem reduzir o nível dos dividendos, mas ela terá de entregar o que Prates não entregou, na avaliação do Planalto, como acelerar investimentos em grandes obras, ressuscitar a indústria naval brasileira e retornar aos setores de petroquímica e fertilizantes.

Para executivos próximos a Madga, o estilo firme demonstrado nos seus quatro anos à frente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) será mais do que necessário para atender às expectativas do governo e provavelmente rever algumas decisões da gestão anterior.

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Prates conseguiu conquistar investidores encontrando um meio-termo na questão dos dividendos, ao sugerir 45% do fluxo de caixa livre e pagar metade dos proventos extraordinários de 2023, além de ter lançado uma política de preços de combustíveis que abandonou a paridade internacional, mas não significou operação deficitária. Ele também tocava a transição energética da companhia com cautela e planejava seguir em sociedades na Braskem e em eventual retorno à Refinaria de Mataripe. Outra novidade foi a política de recompra de ações, cuja continuidade é dúvida ante o desembarque de Prates.

“Acreditamos que todos esses pontos passarão por uma reavaliação com a nova gestão da empresa”, disse a Ativa Investimentos em nota, quando o nome de Magda foi anunciado. No documento, a corretora avaliou a troca de comando como negativa, por aumentar o “risco político” que envolve a companhia. Analista da casa, Ilan Arbetman destacou que Prates se “equilibrava entre interesses econômicos e políticos com sabedoria” sempre reforçando o compromisso com o investidor privado.

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Dividendos

Ao Estadão/Broadcast, o ex-conselheiro da Petrobras e advogado de acionistas minoritários Leonardo Antonelli avaliou que não deve haver mudanças no nível de dividendos pagos pela companhia (45% do FCL), mesmo porque o Ministério da Fazenda tem interesse na fonte de recursos para o Tesouro.

A leitura é similar ao do chefe do departamento de análises do UBS-BB, Luiz Carvalho. Em relatório, o banco aponta que a troca de comando não deve mudar a empresa por enquanto e que, apesar das incertezas do mercado no curto prazo, está mantida a leitura de que a Petrobras é uma operadora de petróleo “resiliente e eficiente”, com ativos de produção de classe mundial e governança, capaz de manter a racionalidade da alocação de capital e retorno aos acionistas.

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O maior risco, lista o UBS BB, são interferências políticas externas, um dos pontos de desgaste de Prates, que tentou blindar a companhia do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil.

Investimentos

Para pessoas ouvidas pelo Estadão/Broadcast, além dos dividendos, Magda terá de lidar com as expectativas do governo de acelerar grandes obras, como a do polo Gaslub e da Rnest, a retomada das fábricas de fertilizantes, encomendas de equipamentos para sistemas de produção e navios à indústria nacional. Na avaliação do Planalto, tudo isso teria andado devagar sob Prates, deprimindo o volume de investimentos da empresa.

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Segundo fontes, no ritmo que vinham os investimentos da companhia, os US$ 102 bilhões previstos no plano estratégico até 2028 acabariam na casa dos US$ 70 bilhões. Outra fonte diz que a demanda real por navios pela Transpetro, subsidiária de transporte da Petrobras, chega a 26 unidades, mas a gestão Prates teria incluído apenas quatro no plano estratégico. A principal missão de Magda na empresa, portanto, será dar tração a esses gastos.

Combustíveis, refino e E&P

Com relação à política de preços de combustíveis, Magda chega em momento confortável, de encolhimento da defasagem dos preços praticados pela estatal frente aos internacionais graças à depreciação da cotação internacional petróleo. Hoje, essa defasagem é só de 5% na gasolina e 2% no diesel.

Quanto a refino e exploração, pelas declarações mais recentes de Magda, a tendência é mesmo de continuidade. Em declarações públicas, Magda defendeu o aumento da capacidade de refino da companhia, tal qual feito por Prates, e deu declarações favoráveis à ida da companhia à Margem Equatorial, onde sofre resistências da ala ambiental do governo.

Governança

De acordo com Marcelo Frazão, sócio da área de Energia do Campos Mello Advogados em cooperação com DLA Piper, a principal preocupação é uma nova mudança na presidência da companhia, mas outros pontos também estarão na mira do mercado e de especialistas como as posições de Magda em relação a questões como mercado de gás natural, transição energética e governança. Frazão destacou que Prates vinha tendo uma interação positiva com o mercado de capitais, “se equilibrava bem com os acionistas”. E agora, segundo o advogado, o mercado vai querer saber quais os compromissos assumidos pela nova presidente da companhia com o controlador.

Gás

Qual será o papel do mercado de gás na nova gestão? A pergunta, segundo Frazão, vai ser feita pelo mercado, que teme a volta da Petrobras como construtora de infraestrutura, como era no passado, e voltar a ser monopolista. “Com essa troca vamos precisar entender se a Petrobras vai continuar com esse comportamento ou vai retroceder?”, indagou, ressaltando que Magda sempre foi defensora do mercado de gás.

Transição energética

Prates assumiu um compromisso claro com a transição energética, antes um assunto menor na companhia. Os investimentos, porém, são de longo prazo, o que desagradou a área política do governo, que prefere obras de curto e médio prazo. Segundo Frazão, Magda terá que escolher entre investir na tecnologia do futuro (eólicas offshore, hidrogênio verde) ou em projetos de efeitos imediatos. “Tem que ficar atento a isso, não pode querer só emprego e renda e ignorar a transição (energética)”, destacou Frazão.

Gerentes

Outra cobrança que será feita à nova presidente da Petrobras será a demissão de gerentes herdados da gestão Bolsonaro. Segundo membros da companhia, muitos estão lotados na diretoria de Sustentabilidade e Transição Energética e têm sido obstáculos para a concretização de projetos. Outros diretores também podem deixar a companhia coma entrada de Magda. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, os cargos dos diretores de Exploração e Produção, Joelson Mendes, e o diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Carlos Travassos, também estariam em risco.

“Existe uma preocupação que a mudança de presidente traga também mudanças de diretores e gerentes que atrapalham as decisões de investimento da companhia. Será que os substitutos serão nomeações técnicas ou políticas?”, questionou Frazão, lembrando que a Petrobras é uma empresa mista e deve satisfação a milhares de acionistas.

O conselho de administração da Petrobras aprovou, em reunião realizada nesta sexta-feira, 24, o nome de Magda Chambriard como conselheira e a elegeu como nova presidente da companhia. “Magda Chambriard tomou posse em ambos os cargos nesta data e passou a integrar o conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de assembleia de acionistas para esse fim”, diz a estatal, em comunicado. Ela substitui Jean Paul Prates, que foi demitido do cargo pelo presidente Lula.

A aprovação era esperada, até porque o governo federal, que indicou Magda, é o maior acionista e tem maioria no conselho. O nome da executiva já havia sido aprovado esta semana no Comitê de Pessoas da estatal, que avaliou que a indicação preenchia “os requisitos necessários” previstos nas regras de governança da companhia e na legislação aplicável e está apta para ser apreciada pelo conselho de administração, sendo, portanto, elegível para ambos os cargos.

Magda é mestre em Engenharia Química pela Coppe/UFRJ (1989) e engenheira civil pela UFRJ (1979), com especialização em Engenharia de Reservatórios e Avaliação de Formações e especialização em Produção de Petróleo e Gás, na hoje denominada Universidade Petrobras.

Iniciou sua carreira na Petrobras, em 1980, atuando sempre na área de Produção, onde acumulou conhecimentos sobre todas as áreas em produção no Brasil.

Magda já tomou posse no comando da Petrobras Foto: Wilton Junior/Estadão

Assumiu a diretoria da ANP em 2008 e a diretoria geral em 2012, tendo liderado a criação da Superintendência de Segurança e Meio Ambiente, Superintendência de Tecnologia da Informação, os trabalhos relativos aos estudos e elaboração dos contratos e editais, os estudos técnicos que culminaram na primeira licitação do pré-sal, além das licitações tradicionais sob regime de concessão.

O que o governo espera de Magda?

A Petrobras que a nova presidente, Magda Chambriard, encontra, ao tomar posse, é bem diferente da que o demitido Jean Paul Prates se deparou em janeiro de 2023. Não será preciso acabar com a política de preços de importação (PPI) e nem reduzir o nível dos dividendos, mas ela terá de entregar o que Prates não entregou, na avaliação do Planalto, como acelerar investimentos em grandes obras, ressuscitar a indústria naval brasileira e retornar aos setores de petroquímica e fertilizantes.

Para executivos próximos a Madga, o estilo firme demonstrado nos seus quatro anos à frente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) será mais do que necessário para atender às expectativas do governo e provavelmente rever algumas decisões da gestão anterior.

Prates conseguiu conquistar investidores encontrando um meio-termo na questão dos dividendos, ao sugerir 45% do fluxo de caixa livre e pagar metade dos proventos extraordinários de 2023, além de ter lançado uma política de preços de combustíveis que abandonou a paridade internacional, mas não significou operação deficitária. Ele também tocava a transição energética da companhia com cautela e planejava seguir em sociedades na Braskem e em eventual retorno à Refinaria de Mataripe. Outra novidade foi a política de recompra de ações, cuja continuidade é dúvida ante o desembarque de Prates.

“Acreditamos que todos esses pontos passarão por uma reavaliação com a nova gestão da empresa”, disse a Ativa Investimentos em nota, quando o nome de Magda foi anunciado. No documento, a corretora avaliou a troca de comando como negativa, por aumentar o “risco político” que envolve a companhia. Analista da casa, Ilan Arbetman destacou que Prates se “equilibrava entre interesses econômicos e políticos com sabedoria” sempre reforçando o compromisso com o investidor privado.

Dividendos

Ao Estadão/Broadcast, o ex-conselheiro da Petrobras e advogado de acionistas minoritários Leonardo Antonelli avaliou que não deve haver mudanças no nível de dividendos pagos pela companhia (45% do FCL), mesmo porque o Ministério da Fazenda tem interesse na fonte de recursos para o Tesouro.

A leitura é similar ao do chefe do departamento de análises do UBS-BB, Luiz Carvalho. Em relatório, o banco aponta que a troca de comando não deve mudar a empresa por enquanto e que, apesar das incertezas do mercado no curto prazo, está mantida a leitura de que a Petrobras é uma operadora de petróleo “resiliente e eficiente”, com ativos de produção de classe mundial e governança, capaz de manter a racionalidade da alocação de capital e retorno aos acionistas.

O maior risco, lista o UBS BB, são interferências políticas externas, um dos pontos de desgaste de Prates, que tentou blindar a companhia do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil.

Investimentos

Para pessoas ouvidas pelo Estadão/Broadcast, além dos dividendos, Magda terá de lidar com as expectativas do governo de acelerar grandes obras, como a do polo Gaslub e da Rnest, a retomada das fábricas de fertilizantes, encomendas de equipamentos para sistemas de produção e navios à indústria nacional. Na avaliação do Planalto, tudo isso teria andado devagar sob Prates, deprimindo o volume de investimentos da empresa.

Segundo fontes, no ritmo que vinham os investimentos da companhia, os US$ 102 bilhões previstos no plano estratégico até 2028 acabariam na casa dos US$ 70 bilhões. Outra fonte diz que a demanda real por navios pela Transpetro, subsidiária de transporte da Petrobras, chega a 26 unidades, mas a gestão Prates teria incluído apenas quatro no plano estratégico. A principal missão de Magda na empresa, portanto, será dar tração a esses gastos.

Combustíveis, refino e E&P

Com relação à política de preços de combustíveis, Magda chega em momento confortável, de encolhimento da defasagem dos preços praticados pela estatal frente aos internacionais graças à depreciação da cotação internacional petróleo. Hoje, essa defasagem é só de 5% na gasolina e 2% no diesel.

Quanto a refino e exploração, pelas declarações mais recentes de Magda, a tendência é mesmo de continuidade. Em declarações públicas, Magda defendeu o aumento da capacidade de refino da companhia, tal qual feito por Prates, e deu declarações favoráveis à ida da companhia à Margem Equatorial, onde sofre resistências da ala ambiental do governo.

Governança

De acordo com Marcelo Frazão, sócio da área de Energia do Campos Mello Advogados em cooperação com DLA Piper, a principal preocupação é uma nova mudança na presidência da companhia, mas outros pontos também estarão na mira do mercado e de especialistas como as posições de Magda em relação a questões como mercado de gás natural, transição energética e governança. Frazão destacou que Prates vinha tendo uma interação positiva com o mercado de capitais, “se equilibrava bem com os acionistas”. E agora, segundo o advogado, o mercado vai querer saber quais os compromissos assumidos pela nova presidente da companhia com o controlador.

Gás

Qual será o papel do mercado de gás na nova gestão? A pergunta, segundo Frazão, vai ser feita pelo mercado, que teme a volta da Petrobras como construtora de infraestrutura, como era no passado, e voltar a ser monopolista. “Com essa troca vamos precisar entender se a Petrobras vai continuar com esse comportamento ou vai retroceder?”, indagou, ressaltando que Magda sempre foi defensora do mercado de gás.

Transição energética

Prates assumiu um compromisso claro com a transição energética, antes um assunto menor na companhia. Os investimentos, porém, são de longo prazo, o que desagradou a área política do governo, que prefere obras de curto e médio prazo. Segundo Frazão, Magda terá que escolher entre investir na tecnologia do futuro (eólicas offshore, hidrogênio verde) ou em projetos de efeitos imediatos. “Tem que ficar atento a isso, não pode querer só emprego e renda e ignorar a transição (energética)”, destacou Frazão.

Gerentes

Outra cobrança que será feita à nova presidente da Petrobras será a demissão de gerentes herdados da gestão Bolsonaro. Segundo membros da companhia, muitos estão lotados na diretoria de Sustentabilidade e Transição Energética e têm sido obstáculos para a concretização de projetos. Outros diretores também podem deixar a companhia coma entrada de Magda. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, os cargos dos diretores de Exploração e Produção, Joelson Mendes, e o diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Carlos Travassos, também estariam em risco.

“Existe uma preocupação que a mudança de presidente traga também mudanças de diretores e gerentes que atrapalham as decisões de investimento da companhia. Será que os substitutos serão nomeações técnicas ou políticas?”, questionou Frazão, lembrando que a Petrobras é uma empresa mista e deve satisfação a milhares de acionistas.

O conselho de administração da Petrobras aprovou, em reunião realizada nesta sexta-feira, 24, o nome de Magda Chambriard como conselheira e a elegeu como nova presidente da companhia. “Magda Chambriard tomou posse em ambos os cargos nesta data e passou a integrar o conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de assembleia de acionistas para esse fim”, diz a estatal, em comunicado. Ela substitui Jean Paul Prates, que foi demitido do cargo pelo presidente Lula.

A aprovação era esperada, até porque o governo federal, que indicou Magda, é o maior acionista e tem maioria no conselho. O nome da executiva já havia sido aprovado esta semana no Comitê de Pessoas da estatal, que avaliou que a indicação preenchia “os requisitos necessários” previstos nas regras de governança da companhia e na legislação aplicável e está apta para ser apreciada pelo conselho de administração, sendo, portanto, elegível para ambos os cargos.

Magda é mestre em Engenharia Química pela Coppe/UFRJ (1989) e engenheira civil pela UFRJ (1979), com especialização em Engenharia de Reservatórios e Avaliação de Formações e especialização em Produção de Petróleo e Gás, na hoje denominada Universidade Petrobras.

Iniciou sua carreira na Petrobras, em 1980, atuando sempre na área de Produção, onde acumulou conhecimentos sobre todas as áreas em produção no Brasil.

Magda já tomou posse no comando da Petrobras Foto: Wilton Junior/Estadão

Assumiu a diretoria da ANP em 2008 e a diretoria geral em 2012, tendo liderado a criação da Superintendência de Segurança e Meio Ambiente, Superintendência de Tecnologia da Informação, os trabalhos relativos aos estudos e elaboração dos contratos e editais, os estudos técnicos que culminaram na primeira licitação do pré-sal, além das licitações tradicionais sob regime de concessão.

O que o governo espera de Magda?

A Petrobras que a nova presidente, Magda Chambriard, encontra, ao tomar posse, é bem diferente da que o demitido Jean Paul Prates se deparou em janeiro de 2023. Não será preciso acabar com a política de preços de importação (PPI) e nem reduzir o nível dos dividendos, mas ela terá de entregar o que Prates não entregou, na avaliação do Planalto, como acelerar investimentos em grandes obras, ressuscitar a indústria naval brasileira e retornar aos setores de petroquímica e fertilizantes.

Para executivos próximos a Madga, o estilo firme demonstrado nos seus quatro anos à frente da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) será mais do que necessário para atender às expectativas do governo e provavelmente rever algumas decisões da gestão anterior.

Prates conseguiu conquistar investidores encontrando um meio-termo na questão dos dividendos, ao sugerir 45% do fluxo de caixa livre e pagar metade dos proventos extraordinários de 2023, além de ter lançado uma política de preços de combustíveis que abandonou a paridade internacional, mas não significou operação deficitária. Ele também tocava a transição energética da companhia com cautela e planejava seguir em sociedades na Braskem e em eventual retorno à Refinaria de Mataripe. Outra novidade foi a política de recompra de ações, cuja continuidade é dúvida ante o desembarque de Prates.

“Acreditamos que todos esses pontos passarão por uma reavaliação com a nova gestão da empresa”, disse a Ativa Investimentos em nota, quando o nome de Magda foi anunciado. No documento, a corretora avaliou a troca de comando como negativa, por aumentar o “risco político” que envolve a companhia. Analista da casa, Ilan Arbetman destacou que Prates se “equilibrava entre interesses econômicos e políticos com sabedoria” sempre reforçando o compromisso com o investidor privado.

Dividendos

Ao Estadão/Broadcast, o ex-conselheiro da Petrobras e advogado de acionistas minoritários Leonardo Antonelli avaliou que não deve haver mudanças no nível de dividendos pagos pela companhia (45% do FCL), mesmo porque o Ministério da Fazenda tem interesse na fonte de recursos para o Tesouro.

A leitura é similar ao do chefe do departamento de análises do UBS-BB, Luiz Carvalho. Em relatório, o banco aponta que a troca de comando não deve mudar a empresa por enquanto e que, apesar das incertezas do mercado no curto prazo, está mantida a leitura de que a Petrobras é uma operadora de petróleo “resiliente e eficiente”, com ativos de produção de classe mundial e governança, capaz de manter a racionalidade da alocação de capital e retorno aos acionistas.

O maior risco, lista o UBS BB, são interferências políticas externas, um dos pontos de desgaste de Prates, que tentou blindar a companhia do Ministério de Minas e Energia e da Casa Civil.

Investimentos

Para pessoas ouvidas pelo Estadão/Broadcast, além dos dividendos, Magda terá de lidar com as expectativas do governo de acelerar grandes obras, como a do polo Gaslub e da Rnest, a retomada das fábricas de fertilizantes, encomendas de equipamentos para sistemas de produção e navios à indústria nacional. Na avaliação do Planalto, tudo isso teria andado devagar sob Prates, deprimindo o volume de investimentos da empresa.

Segundo fontes, no ritmo que vinham os investimentos da companhia, os US$ 102 bilhões previstos no plano estratégico até 2028 acabariam na casa dos US$ 70 bilhões. Outra fonte diz que a demanda real por navios pela Transpetro, subsidiária de transporte da Petrobras, chega a 26 unidades, mas a gestão Prates teria incluído apenas quatro no plano estratégico. A principal missão de Magda na empresa, portanto, será dar tração a esses gastos.

Combustíveis, refino e E&P

Com relação à política de preços de combustíveis, Magda chega em momento confortável, de encolhimento da defasagem dos preços praticados pela estatal frente aos internacionais graças à depreciação da cotação internacional petróleo. Hoje, essa defasagem é só de 5% na gasolina e 2% no diesel.

Quanto a refino e exploração, pelas declarações mais recentes de Magda, a tendência é mesmo de continuidade. Em declarações públicas, Magda defendeu o aumento da capacidade de refino da companhia, tal qual feito por Prates, e deu declarações favoráveis à ida da companhia à Margem Equatorial, onde sofre resistências da ala ambiental do governo.

Governança

De acordo com Marcelo Frazão, sócio da área de Energia do Campos Mello Advogados em cooperação com DLA Piper, a principal preocupação é uma nova mudança na presidência da companhia, mas outros pontos também estarão na mira do mercado e de especialistas como as posições de Magda em relação a questões como mercado de gás natural, transição energética e governança. Frazão destacou que Prates vinha tendo uma interação positiva com o mercado de capitais, “se equilibrava bem com os acionistas”. E agora, segundo o advogado, o mercado vai querer saber quais os compromissos assumidos pela nova presidente da companhia com o controlador.

Gás

Qual será o papel do mercado de gás na nova gestão? A pergunta, segundo Frazão, vai ser feita pelo mercado, que teme a volta da Petrobras como construtora de infraestrutura, como era no passado, e voltar a ser monopolista. “Com essa troca vamos precisar entender se a Petrobras vai continuar com esse comportamento ou vai retroceder?”, indagou, ressaltando que Magda sempre foi defensora do mercado de gás.

Transição energética

Prates assumiu um compromisso claro com a transição energética, antes um assunto menor na companhia. Os investimentos, porém, são de longo prazo, o que desagradou a área política do governo, que prefere obras de curto e médio prazo. Segundo Frazão, Magda terá que escolher entre investir na tecnologia do futuro (eólicas offshore, hidrogênio verde) ou em projetos de efeitos imediatos. “Tem que ficar atento a isso, não pode querer só emprego e renda e ignorar a transição (energética)”, destacou Frazão.

Gerentes

Outra cobrança que será feita à nova presidente da Petrobras será a demissão de gerentes herdados da gestão Bolsonaro. Segundo membros da companhia, muitos estão lotados na diretoria de Sustentabilidade e Transição Energética e têm sido obstáculos para a concretização de projetos. Outros diretores também podem deixar a companhia coma entrada de Magda. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, os cargos dos diretores de Exploração e Produção, Joelson Mendes, e o diretor de Engenharia, Tecnologia e Inovação, Carlos Travassos, também estariam em risco.

“Existe uma preocupação que a mudança de presidente traga também mudanças de diretores e gerentes que atrapalham as decisões de investimento da companhia. Será que os substitutos serão nomeações técnicas ou políticas?”, questionou Frazão, lembrando que a Petrobras é uma empresa mista e deve satisfação a milhares de acionistas.

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