Rio - A Petrobras assinou com a Vale um memorando de entendimento para desenvolver negócios conjuntos. Segundo o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, o acordo será amplo para avaliações em vários setores, como hidrogênio, logística, combustível para trens, entre outros.
“A Vale é um grande interessado na produção de hidrogênio, tem algumas atividades em transição energética que são interessantes, ela tem participações em algumas áreas de geração de energia. Então o que a gente vai começar a fazer é tentar entender o que o outro tem. Nós temos combustível para ferrovias, eles têm a logística e podem querer investir em eólica offshore”, disse Prates, após evento com atletas olímpicos patrocinados pela estatal.
O diretor de transição energética e sustentabilidade da Petrobras, Mauricio Tolmasquim, detalhou possíveis colaborações comerciais entre as duas empresas. Segundo Tolmasquim, a Vale pode usar o diesel R da Petrobras em seus caminhões e a amônia verde em navios e locomotivas.
Segundo a Petrobras, a parceria prevê, por dois anos, a avaliação de oportunidades em hidrogênio, metanol verde, biobunker, amônia verde e diesel renovável, além de tecnologias de captura e armazenamento de CO2.
“Essa parceria vai juntar dois gigantes com pontos de afinidade várias áreas. Uma delas é que a Vale pode usar esse diesel R nos seus caminhões. Outra estratégia (da Petrobras) é amônia verde, área que também tem sinergia muito grande com a Vale, que exporta (minério) e tem demanda enorme nos seus navios. Essa amônia verde pode atender, ainda, as locomotivas”, disse Tolmasquim.
Segundo o diretor, o volume de amônia verde necessário para atender as demandas da Vale equivale a “mais ou menos” a metade de toda a demanda de hidrogênio que a Petrobras têm hoje. A amônia funciona como uma espécie de carregador das moléculas de hidrogênio, que é insumo utilizado nos processos de refino da estatal hoje.
Apesar dos focos futuros em hidrogênio e amônia verde, Tolmasquim disse que, no curto prazo, entre os combustíveis renováveis, o filão de negócio com maior potencial para a Petrobras é a fabricação e venda de SAF (combustível de aviação sustentável), porque o mercado de aviação já estipulou metas agressivas para depois de 2027 nesse sentido.
“Já existe mandato e, a partir de 2027, as companhias aéreas vão ter de descarbonizar seus combustíveis. A procura por SAF é enorme, todas as companhias aéreas estão precisando e não têm quem produza. No Brasil, temos muita terra, água e sol, além de todas as condições de fazer isso (SAF)”, disse.
“Teremos a primeira unidade (refinaria) com 100% de óleo vegetal lá na RPBC para produzir SAF e tem outras expectativas de a gente fazer novas plantas nesses termos”, continuou Tolmasquim.
De olho no futuro
Prates disse que a companhia chega aos seus 70 anos “de olho no futuro”, e reafirmou a intenção da estatal de desenvolver novos negócios no âmbito da energia renovável, com foco em eólica offshore, hidrogênio e combustíveis renováveis. “Não estamos longe de ter uma realidade de eólica offshore e hidrogênio”, comentou.
Ele destacou a falta de regulação, que ainda trava os ecompanhia.sforços da
Prates confirmou que o próximo Plano Estratégico da companhia, para o período 2024-2028 vai ter entre 6% e 15% do capex (investimento) direcionado à descarbonização. “E está mais para 15% do que para 6%”, disse o executivo.
Ele destacou os novos negócios que a empresa pretende desenvolver, com destaque para a energia eólica offshore, que poderá atingir 23 gigawatts (GW), se todos os projetos inscritos pela empresa para avaliação no Ibama saírem do papel.
“Nosso objetivo é deslanchar energias renováveis no País, a captura de carbono e até hidrogênio e outras fontes”, disse Prates.
Em seguida, ele listou os esforços da companhia para abrir as novas frentes, como o acordo com a WEG para produzir um aerogerador nacional para terra, mas que, pelo tamanho, “indica o caminho” para a geração offshore.
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Prates citou, ainda, os esforços da Petrobras na medição de ventos no Espírito Santo, Ceará e Rio Grande do Norte, além da inscrição de projetos com capacidade total de 23 GW e parcerias gestadas com outras petroleiras multinacionais, como Equinor e Total. “Queremos fazer todos esses investimentos com parceiros, estatais ou privados, mas a altura da Petrobras”, disse.
“Vamos para eólica offshore, que tem estruturas gigantes e complexas. Mas que, para nós, é ‘Playmobil’, muito mais simples”, afirmou, ao comparar a atividade com a produção de petróleo e sua mobilização de esforços, sobretudo em águas profundas e ultraprofundas.
Na frente de combustíveis renováveis, ou seja, com processador com óleo vegetal ou 100% produzidos por meio deles, Prates disse que até o fim desse ano mais quatro refinarias terão essa produção, entre as quais estão as unidades de Paulínia (SP), Duque de Caxias (RJ) e Cubatão (SP). Em 2024, disse, os combustíveis renováveis vão chegar à Rnest, unidade de Pernambuco.
Regulação
Prates citou a premência dos marcos regulatórios de eólica offshore e hidrogênio, que ainda não existem, mas estaria avançando no Congresso e dentro de agências reguladoras.
Segundo Prates, a legislação para a eólica offshore vai se aproximar da utilizada para petróleo, com pagamento de bônus por prismas marítimos, enquanto a do hidrogênio pode ter afinidades com o regramento atual do gás natural, também sob a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).