Rose Santos produzia e vendia um pão de batata que fazia sucesso onde ela mora, mas não se via como empreendedora. Benedita Ferreira atravessava momentos difíceis por estar desempregada após sair de um relacionamento. Em comum para a pernambucana de Igarassu e a paranaense de Carambeí, a necessidade de prover o sustento de crianças pequenas e a ajuda que receberam do projeto Bora da Ambev.
O Bora congrega o apoio da Ambev a 37 projetos sociais, que tratam principalmente de temas como empreendedorismo e emprego. Ela começou em 2022, após a pandemia, no contexto dos problemas sociais acentuados pela covid-19. Até agora, atingiu 500 mil pessoas, e visa chegar a 5 milhões até 2032.
A startup OpenSocial, especializada em mensurar ações sociais, estimou o impacto em R$ 620 milhões. A consultoria também calculou que quem participa do Bora tem 33% mais chances de conseguir um trabalho e duas vezes mais chances de gerar renda para si, em um movimento de crescimento compartilhado para o seu ecossistema.
Os projetos normalmente estão ligados à área de atuação da Ambev. Há iniciativas voltadas para entregadores da plataforma Zé Delivery (o Bora Zé), para pequenos empreendedores donos de pontos de venda, para formar mulheres aptas a trabalhar na construção civil (o Obras Plurais) e mais de um para mulheres que geram renda através do preparo de comida. De acordo com Carlos Pignatari, diretor de impacto social da Ambev, há uma busca por onde se pode fazer mais diferença.
“Intencionalmente tentamos encaixar para mulheres negras periféricas, que são as que mais sofrem com o desemprego”, diz Pignatari. De acordo com levantamento da ONG Ação Educativa, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), as mulheres negras com idade entre 18 e 29 anos tiveram uma taxa de desemprego três vezes maior que a dos homens em 2023.
Segundo Pignatari, a Ambev prefere fazer parcerias com organizações locais porque isso torna mais fácil compreender a realidade e os problemas da região, e é possível alcançar uma capilaridade maior. A escolha dos parceiros normalmente é feita com muito cuidado. “Temos a visão de crescimento compartilhado, de que a Ambev só vai crescer se o Brasil crescer. Ajudar uma empreendedora a vender um bolo, coxinha ou salgado, ou a abrir um bar e restaurante está muito conectado ao core da empresa, até para garantir a sustentabilidade a longo prazo”, diz.
Eixos
Os programas envolvem três eixos: empoderamento econômico, com o oferecimento de microcrédito; intermediação de mão de obra, e oferecimento de formações — o Bora Zé, por exemplo, oferece bolsas de estudo para supletivo de ensino fundamental e médio, e o Obras Plurais, para que mulheres possam trabalhar como pedreiras e pintoras. Os que são voltados ao empreendedorismo têm aulas sobre administração e sobre como levar os produtos ao conhecimento dos clientes.
“Eu resolvi me inscrever porque me qualificar é uma coisa muito importante, educação é um meio para me promover. As mentorias prepararam de uma forma que não esperava, porque mostraram que poderia empreender a partir do produto, e como empreender. Eu estava fazendo sem noção disso”, conta a padeira Rose.
Para a pernambucana, ter feito as aulas foi apenas um começo, mas já é muito importante para poder dar asas aos sonhos — os próprios e os dos filhos, uma adolescente de 15 anos e gêmeos de quatro anos. “Ainda estou aprendendo a me tornar empresária, ainda tenho um forno pequeno, de 46 litros, mas já estou tentando alcançar mais, me inscrevendo em outros projetos”, conta.
Rose ainda relata que tem dado aulas de como produzir o pão de batata para mulheres em situação de vulnerabilidade, para transexuais e para presas, e que tem um projeto pessoal de plantar 10 mil árvores. ‘’Nem a Ambev tem ideia de como o programa pode impactar uma pessoa. Eu pensei ‘posso ensinar o pouquinho que já sei’”, garante.
Algo parecido é relatado por Benedita. Ela participou do Obras Plurais, onde aprendeu a trabalhar como pintora, e conseguiu encontrar emprego em uma obra. “Agora consigo sustentar meus filhos, antes trabalhava de diarista e só dava para comprar algumas coisinhas. Agora dá para fazer compras para a família, e também roupa, calçado”, afirma.
Para Benedita, o emprego também foi bom por ter sido bem tratada, mas há a preocupação do futuro. Ela tem temor pela necessidade de outra obra aparecer, e disse que também aceitaria uma vaga na própria Ambev, mesmo que na limpeza. A recolocação profissional proporcionada pelo Bora é importante, mas é necessário um acompanhamento de longo prazo.
A Ambev ainda busca mais parceiros, o que pode ser facilitado pela tecnologia. A quantidade de 25 milhões de famílias inscritas no CadÚnico, cadastro do governo federal para programas sociais, indica que ainda há muito público para ser alcançado.