Os planos da Prumo Logística para transformar o Porto do Açu em um polo porto-indústria de baixo carbono têm potencial e fazem sentido quando se considera o momento de transição energética que o mundo vive. A empresa, no entanto, enfrentará obstáculos importantes para concretizá-los, de acordo com especialistas da área portuária e de energia.
Um ponto crucial é que as tecnologias ‘verdes’ ainda não se viabilizam financeiramente. Para contornar esse problema, o diretor de novos negócios da Prumo, Mauro Andrade, propõe a concessão de incentivos públicos. “Não tenho vergonha de defender políticas públicas para acelerar a economia de baixo carbono”, diz. O executivo sugere a desoneração de produtos feitos a partir de hidrogênio verde e a concessão de financiamentos pelo BNDES com juro inferior aos de mercado.
Para o professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico, Nivalde de Castro, a estratégia de colocar a transição energética no centro do polo industrial é acertada. Ele vê alguns projetos, porém, com um certo ceticismo. O de eólicas offshore (no mar), por exemplo, não deve ser competitivo no médio prazo, diz.
As usinas eólicas offshore custam mais do que as instaladas em terra, modelo que o Brasil ainda pode ampliar a exploração. Hoje, a capacidade instalada de energia elétrica total do Brasil é pouco superior a 200 mil MW. Segundo Castro, seria possível o País ter uma capacidade apenas com eólicas em terra de 800 mil MW. “É um potencial gigantesco. No Brasil, em menos de dez anos, não haverá necessidade de offshores.”
Andrade, da Prumo, pondera, porém, que a tendência é que os custos das offshores caiam nos próximos anos. Ele diz ainda que a empresa trabalha com a possibilidade de as usinas entrarem em operação apenas depois de 2031. “Para isso, é preciso estudar o mercado agora.”
A companhia pretende servir não apenas como base logística das usinas em alto mar, mas também atrair fornecedoras de peças para o setor. A intenção é ter no local empresas de montagem de turbinas, por exemplo.
O professor da UFRJ afirma também que Açu não tem algumas vantagens como pode ter o porto de Aratu, que atende o polo industrial de Camaçari, na Bahia. Lá, já há demanda por hidrogênio da indústria petroquímica.
Na visão do consultor do setor portuário Nelson Carlini, o projeto do Açu é “espetacular”. Ele diz, entretanto, que, enquanto o porto não tiver conexão ferroviária, dificilmente conseguirá alavancar seu crescimento. Hoje, o Açu depende de logística rodoviária para receber carga.