‘Queremos dar outros passos para internacionalizar o Patria’, diz cofundador


Segundo Alexandre Saigh, a América Latina e o Brasil têm uma vantagem geopolítica em relação ao resto do mundo para receber investimentos globais, e aquisições no México estão no alvo da gestora, que é um dos símbolos da Faria Lima

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:
Foto: Divulgação/Pátria Investimentos
Entrevista comAlexandre SaighCofundador e CEO do Patria Investimentos

Os últimos dias foram agitados para o Patria Investimentos. Entre os diversos anúncios da maior gestora de recursos alternativos (aqueles que vão além da renda fixa e das ações negociadas em bolsa de valores) da Faria Lima, com US$ 43 bilhões (R$ 230 bilhões) sob gestão, estão acordos internacionais, aquisições de outros fundos estrangeiros e de empresas brasileiras.

No começo do mês, fechou um memorando de intenções de investimentos com o Ministério de Investimentos da Arábia Saudita, comprou o controle do Grupo Amigão para integrar a sua rede de supermercados Plurix e anunciou a aquisição da gestora colombiana de ativos imobiliários Nexus Capital.

Essas são apenas alguns dos grandes movimentos do fundo desde que abriu capital na Nasdaq em 2021, prometendo utilizar os recursos levantados no mercado para ampliar sua atuação. Um dos fundadores e CEO da gestora em 1988, Alexandre Saigh, falou ao Estadão diretamente de Londres, a sua base dos últimos três anos, de onde trabalha para acelerar os negócios internacionais do Patria.

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Nomeado como a personalidade do ano de 2024 pela Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha, ele falou sobre o momento da gestora, que nasceu para dar acesso a grandes investidores internacionais a ativos na América Latina. Ao longo do tempo, no entanto, se expandiu, atraindo clientes latino-americanos, diversificando as suas áreas de atuação para os setores de infraestrutura e imobiliário, estruturando fundos internacionais próprios e agora também buscando ativos disponíveis fora da América Latina.

Um dos marcos dessa estratégia foi a compra feita no fim do ano passado das operações de private equity da gestora britânica Abrdn (ex-Aberdeen), que começaram a ser integradas há poucas semanas. E agora novos movimentos similares estão no radar.

Veja a seguir trechos da entrevista:

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Atualmente, o seu escritório fica em Londres. Por que o Patria tem o seu CEO fora do Brasil?

Com a aquisição da (operação de private equity) da Abrdn, fica um pouco mais evidente a razão pela qual eu mudei para cá três anos atrás, que é o plano de internacionalizar o Patria. Essa compra foi o primeiro passo. Queremos dar outros passos. Agora, a nossa estratégia ficou mais evidente, três anos após começarmos a buscar algo correto, depois de o Patria abrir o escritório em Londres, o CEO ir para ele. A gente fechou a compra no final de 2023, mas assumimos a operação só em 29 de abril deste ano. Precisava passar por uma série de aprovações dos reguladores.

Que outros passos internacionais são avaliados?

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Temos duas estratégias que são importantes. A primeira é continuar consolidando o mercado na América Latina. Há vários produtos que ainda não temos em todos os países. Então, eu preciso preencher esses buracos, para ter um menu completo para atender esses meus clientes internacionais, investindo aqui na América Latina. E também para atender os locais investindo na própria América Latina. A Abrdn me abriu essa outra avenida de crescimento, para fora da América Latina. Continuamos vendo como crescer também nessa vertente.

Que buracos são mais importantes para serem tapados?

A gente tem um buraco relevante geográfico que é o México, onde não temos uma presença relevante. A América Latina, para nós, são cinco países: México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Estamos bem posicionados em quatro deles. Além disso, precisamos fazer uma expansão de produto. Recentemente, compramos uma série de fundos imobiliários que eram administrados pelo Credit Suisse no Brasil. O México tem uma regulamentação para fundos imobiliários parecida com a do Brasil, com um conceito parecido. Eu não tenho esse produto no portfólio.

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Como vai a incorporação dos fundos do Credit Suisse, anunciada este ano? No passado, vocês também já tinham investido na VBI Real Estate, que se tornou a estrutura para trabalharem nesse setor. Os fundos do Credit estão sendo integrados a essa estrutura?

Os fundos vão ficar separados. Cada um terá o seu próprio escritório, até porque hoje temos só 50% da VBI. O mesmo time do Credit Suisse tocará os fundos que vieram para o Patria, com as mesmas pessoas e os mesmos processos. E a VBI está segregada e gerida por ela mesmo.

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O mercado imobiliário é uma aposta grande para vocês para esses próximos anos?

É uma aposta grande. A gente gosta muito do produto imobiliário, principalmente na forma de fundos listados, que é o caso dos fundos de Credit Suisse. O Patria já vai para cerca de R$ 22 bilhões sob gestão na área imobiliária. Isso nos coloca como um dos três maiores gestores imobiliários do País. É bastante coisa.

Pegando os dados do fim do ano passado, o Patria tinha US$ 12 bilhões em Private Equity e US$ 6,7 bilhões em infraestrutura. Então, também essa área de imobiliário já chegou a um tamanho muito considerável, acima de US$ 4 bilhões?

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Exatamente isso aí. São todas áreas grandes agora.

E como está o dry powder do Patria atualmente, como se chamam os recursos disponíveis que ainda não estão investidos?

É interessante você falar isso. Na hora que você olha os US$ 43 bilhões de ativos que temos sob gestão, se considera, segundo o conceito estabelecido de dry powder, apenas as áreas de private equity e infraestrutura. Mas estamos colhendo recursos para investir em outras áreas também. Os nossos fundos imobiliários somam quase US$ 7 bilhões e estão recebendo dividendos, ao ano, de US$ 600 milhões. Temos hoje também uma carteira de crédito privado de US$ 7 bilhões, uma carteira que hoje é do tamanho do Banco ABC e do Daycoval, e que remunera acima do CDI. São mais de US$ 800 milhões a US$ 900 milhões por ano de juros com ela. Então, só nessas duas frentes geramos US$ 1,5 bilhão para reinvestir. Isso tudo só considerando juros, sem contar o principal do crédito privado, que também é pago para nós. Hoje, realmente o nosso poder de reinvestimento é muito, muito grande.

Anúncio da abertura de capital do Pátria, na Nasdaq Foto: Divulgação Pátria

O Patria ganhou a concessão de um lote de rodovias no Paraná, em parceria com investidores árabes. E neste mês assinou um memorando de investimentos com a Arábia Saudita. Há novas oportunidades de infraestrutura nos próximos anos?

A área de infraestrutura para nós é importantíssima. O Brasil está se destacando nesse contexto. O País tem um arcabouço jurídico e regulatório bom e consolidado, que funciona há muitos. Concessões de 25 anos estão sendo renovadas, com o mesmo marco regulatório e com as mesmas agências reguladoras. Os últimos governos foram todos promovendo esses investimentos, sejam os estaduais, os municipais ou o federal. O federal até não tem muita coisa. A maioria das rodovias é de Estados e a maioria dos ativos de água e saneamento vem dos municípios. Atualmente há muitos governos de Estado com uma cabeça bastante voltada a concessão, casos do Ratinho Júnior, Romeu Zema, Cláudio Castro e Eduardo Leite. Em aeroportos já foi privatizado tudo.

Agora, a próxima onda vem da área de saneamento?

É um espaço muito grande. Serão bilhões de reais exigidos até 2030 para atingir a meta de universalização do governo, do marco regulatório de água e saneamento. Nós estamos em 2024. Parece que tem bastante tempo, mas não é tanto, não.

Os investidores institucionais estrangeiros, como os fundos soberanos, reconhecem isso e têm interesse por esse tipo de ativo?

Sim. O Brasil está vivendo um momento muito único do lado positivo. Até porque sempre os momentos que você vive é relativo frente aos outros. Você pega o momento que o Brasil está vivendo hoje e compara com o mundo, do ponto de vista geopolítico. Não significa necessariamente que avançamos, mas alguns países voltaram para trás, e então aparecemos na frente. É tudo relativo. A gente está em uma posição de grande destaque que vai gerar mais investimentos. A Arábia Saudita e a Ásia olham para o mundo do ponto de vista geopolítico. Se o Brasil conseguir jogar nesse momento, a gente sai na frente.

No mundo, não está tão fácil achar investimentos bons e seguros, até por conta dos juros altos em vários países.

Você vai investir na Europa, num continente fantástico, mas aqui no Leste Europeu está acontecendo uma guerra. E, numa guerra, qualquer faísca pode escalar o conflito. São momentos de grande tensão. Agora, recentemente foi publicado que a Ucrânia está começando a usar armas americanas em solo russo. Assim, subiu um estágio no risco geopolítico. Não sabemos como a Rússia vai interpretar isso. Ela pode considerar jogar uma bomba nos Estados Unidos. Então, a coisa vai escalando. Se você é um investidor, do ponto de vista geopolítico, faz sentido ir para uma região que não tenha esse tipo de problema, que somos nós, a América Latina. Você apostaria todas as suas moedas nos Estados Unidos e na Europa, neste contexto? Não. É melhor colocar alguns ovinhos só na cesta. É assim que a gente se beneficia. O Brasil tem de trabalhar sempre para poder promover isso, para trazer esses investimentos. Divulgando aos investidores que a gente tem segurança jurídica, que o arcabouço regulatório não vai ser mudado, e etc.

Como podemos aproveitar essa oportunidade global e geopolítica global, em que até os países desenvolvidos estão se fechando bastante?

Sinceramente, eu acho que o governo atual entendeu principalmente o seu posto em relação à questão ambiental. É preciso ter uma postura em relação à área ambiental mais alinhada com a agenda do resto do mundo. Isso também favoreceu esses investimentos para o Brasil. Além disso, temos ainda energia renovável e um arcabouço regulatório relativamente estável. Temos também minérios e commodities em abundância na região. Temos o minério de ferro, com a energia verde, o aço verde, o alumínio verde, o hidrogênio e o etanol verde, que pode servir para produzir o combustível sustentável de aviação (SAF), já que não existe avião elétrico ainda.

Nos últimos dias, o Patria fez a compra do varejo Amigão, num dos setores que não está na moda e que passa por uma onda de recuperações judiciais. Qual é a oportunidade que estão percebendo? Esses setores podem ter uma recuperação, o preço dos ativos está interessante?

É um pouquinho de tudo isso. Número um: é um setor resiliente. Ele consegue repassar a inflação para o preço, na maioria das vezes. Ele também hoje está depreciado. Era negociado a múltiplos muito mais altos. Então, isso nos levou a considerar que é o momento correto de investir. E a consolidação de empresas gera uma série de sinergias também, sinergias de compras. Então, existe uma oportunidade que está sendo captada.

Os últimos dias foram agitados para o Patria Investimentos. Entre os diversos anúncios da maior gestora de recursos alternativos (aqueles que vão além da renda fixa e das ações negociadas em bolsa de valores) da Faria Lima, com US$ 43 bilhões (R$ 230 bilhões) sob gestão, estão acordos internacionais, aquisições de outros fundos estrangeiros e de empresas brasileiras.

No começo do mês, fechou um memorando de intenções de investimentos com o Ministério de Investimentos da Arábia Saudita, comprou o controle do Grupo Amigão para integrar a sua rede de supermercados Plurix e anunciou a aquisição da gestora colombiana de ativos imobiliários Nexus Capital.

Essas são apenas alguns dos grandes movimentos do fundo desde que abriu capital na Nasdaq em 2021, prometendo utilizar os recursos levantados no mercado para ampliar sua atuação. Um dos fundadores e CEO da gestora em 1988, Alexandre Saigh, falou ao Estadão diretamente de Londres, a sua base dos últimos três anos, de onde trabalha para acelerar os negócios internacionais do Patria.

Nomeado como a personalidade do ano de 2024 pela Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha, ele falou sobre o momento da gestora, que nasceu para dar acesso a grandes investidores internacionais a ativos na América Latina. Ao longo do tempo, no entanto, se expandiu, atraindo clientes latino-americanos, diversificando as suas áreas de atuação para os setores de infraestrutura e imobiliário, estruturando fundos internacionais próprios e agora também buscando ativos disponíveis fora da América Latina.

Um dos marcos dessa estratégia foi a compra feita no fim do ano passado das operações de private equity da gestora britânica Abrdn (ex-Aberdeen), que começaram a ser integradas há poucas semanas. E agora novos movimentos similares estão no radar.

Veja a seguir trechos da entrevista:

Atualmente, o seu escritório fica em Londres. Por que o Patria tem o seu CEO fora do Brasil?

Com a aquisição da (operação de private equity) da Abrdn, fica um pouco mais evidente a razão pela qual eu mudei para cá três anos atrás, que é o plano de internacionalizar o Patria. Essa compra foi o primeiro passo. Queremos dar outros passos. Agora, a nossa estratégia ficou mais evidente, três anos após começarmos a buscar algo correto, depois de o Patria abrir o escritório em Londres, o CEO ir para ele. A gente fechou a compra no final de 2023, mas assumimos a operação só em 29 de abril deste ano. Precisava passar por uma série de aprovações dos reguladores.

Que outros passos internacionais são avaliados?

Temos duas estratégias que são importantes. A primeira é continuar consolidando o mercado na América Latina. Há vários produtos que ainda não temos em todos os países. Então, eu preciso preencher esses buracos, para ter um menu completo para atender esses meus clientes internacionais, investindo aqui na América Latina. E também para atender os locais investindo na própria América Latina. A Abrdn me abriu essa outra avenida de crescimento, para fora da América Latina. Continuamos vendo como crescer também nessa vertente.

Que buracos são mais importantes para serem tapados?

A gente tem um buraco relevante geográfico que é o México, onde não temos uma presença relevante. A América Latina, para nós, são cinco países: México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Estamos bem posicionados em quatro deles. Além disso, precisamos fazer uma expansão de produto. Recentemente, compramos uma série de fundos imobiliários que eram administrados pelo Credit Suisse no Brasil. O México tem uma regulamentação para fundos imobiliários parecida com a do Brasil, com um conceito parecido. Eu não tenho esse produto no portfólio.

Como vai a incorporação dos fundos do Credit Suisse, anunciada este ano? No passado, vocês também já tinham investido na VBI Real Estate, que se tornou a estrutura para trabalharem nesse setor. Os fundos do Credit estão sendo integrados a essa estrutura?

Os fundos vão ficar separados. Cada um terá o seu próprio escritório, até porque hoje temos só 50% da VBI. O mesmo time do Credit Suisse tocará os fundos que vieram para o Patria, com as mesmas pessoas e os mesmos processos. E a VBI está segregada e gerida por ela mesmo.

O mercado imobiliário é uma aposta grande para vocês para esses próximos anos?

É uma aposta grande. A gente gosta muito do produto imobiliário, principalmente na forma de fundos listados, que é o caso dos fundos de Credit Suisse. O Patria já vai para cerca de R$ 22 bilhões sob gestão na área imobiliária. Isso nos coloca como um dos três maiores gestores imobiliários do País. É bastante coisa.

Pegando os dados do fim do ano passado, o Patria tinha US$ 12 bilhões em Private Equity e US$ 6,7 bilhões em infraestrutura. Então, também essa área de imobiliário já chegou a um tamanho muito considerável, acima de US$ 4 bilhões?

Exatamente isso aí. São todas áreas grandes agora.

E como está o dry powder do Patria atualmente, como se chamam os recursos disponíveis que ainda não estão investidos?

É interessante você falar isso. Na hora que você olha os US$ 43 bilhões de ativos que temos sob gestão, se considera, segundo o conceito estabelecido de dry powder, apenas as áreas de private equity e infraestrutura. Mas estamos colhendo recursos para investir em outras áreas também. Os nossos fundos imobiliários somam quase US$ 7 bilhões e estão recebendo dividendos, ao ano, de US$ 600 milhões. Temos hoje também uma carteira de crédito privado de US$ 7 bilhões, uma carteira que hoje é do tamanho do Banco ABC e do Daycoval, e que remunera acima do CDI. São mais de US$ 800 milhões a US$ 900 milhões por ano de juros com ela. Então, só nessas duas frentes geramos US$ 1,5 bilhão para reinvestir. Isso tudo só considerando juros, sem contar o principal do crédito privado, que também é pago para nós. Hoje, realmente o nosso poder de reinvestimento é muito, muito grande.

Anúncio da abertura de capital do Pátria, na Nasdaq Foto: Divulgação Pátria

O Patria ganhou a concessão de um lote de rodovias no Paraná, em parceria com investidores árabes. E neste mês assinou um memorando de investimentos com a Arábia Saudita. Há novas oportunidades de infraestrutura nos próximos anos?

A área de infraestrutura para nós é importantíssima. O Brasil está se destacando nesse contexto. O País tem um arcabouço jurídico e regulatório bom e consolidado, que funciona há muitos. Concessões de 25 anos estão sendo renovadas, com o mesmo marco regulatório e com as mesmas agências reguladoras. Os últimos governos foram todos promovendo esses investimentos, sejam os estaduais, os municipais ou o federal. O federal até não tem muita coisa. A maioria das rodovias é de Estados e a maioria dos ativos de água e saneamento vem dos municípios. Atualmente há muitos governos de Estado com uma cabeça bastante voltada a concessão, casos do Ratinho Júnior, Romeu Zema, Cláudio Castro e Eduardo Leite. Em aeroportos já foi privatizado tudo.

Agora, a próxima onda vem da área de saneamento?

É um espaço muito grande. Serão bilhões de reais exigidos até 2030 para atingir a meta de universalização do governo, do marco regulatório de água e saneamento. Nós estamos em 2024. Parece que tem bastante tempo, mas não é tanto, não.

Os investidores institucionais estrangeiros, como os fundos soberanos, reconhecem isso e têm interesse por esse tipo de ativo?

Sim. O Brasil está vivendo um momento muito único do lado positivo. Até porque sempre os momentos que você vive é relativo frente aos outros. Você pega o momento que o Brasil está vivendo hoje e compara com o mundo, do ponto de vista geopolítico. Não significa necessariamente que avançamos, mas alguns países voltaram para trás, e então aparecemos na frente. É tudo relativo. A gente está em uma posição de grande destaque que vai gerar mais investimentos. A Arábia Saudita e a Ásia olham para o mundo do ponto de vista geopolítico. Se o Brasil conseguir jogar nesse momento, a gente sai na frente.

No mundo, não está tão fácil achar investimentos bons e seguros, até por conta dos juros altos em vários países.

Você vai investir na Europa, num continente fantástico, mas aqui no Leste Europeu está acontecendo uma guerra. E, numa guerra, qualquer faísca pode escalar o conflito. São momentos de grande tensão. Agora, recentemente foi publicado que a Ucrânia está começando a usar armas americanas em solo russo. Assim, subiu um estágio no risco geopolítico. Não sabemos como a Rússia vai interpretar isso. Ela pode considerar jogar uma bomba nos Estados Unidos. Então, a coisa vai escalando. Se você é um investidor, do ponto de vista geopolítico, faz sentido ir para uma região que não tenha esse tipo de problema, que somos nós, a América Latina. Você apostaria todas as suas moedas nos Estados Unidos e na Europa, neste contexto? Não. É melhor colocar alguns ovinhos só na cesta. É assim que a gente se beneficia. O Brasil tem de trabalhar sempre para poder promover isso, para trazer esses investimentos. Divulgando aos investidores que a gente tem segurança jurídica, que o arcabouço regulatório não vai ser mudado, e etc.

Como podemos aproveitar essa oportunidade global e geopolítica global, em que até os países desenvolvidos estão se fechando bastante?

Sinceramente, eu acho que o governo atual entendeu principalmente o seu posto em relação à questão ambiental. É preciso ter uma postura em relação à área ambiental mais alinhada com a agenda do resto do mundo. Isso também favoreceu esses investimentos para o Brasil. Além disso, temos ainda energia renovável e um arcabouço regulatório relativamente estável. Temos também minérios e commodities em abundância na região. Temos o minério de ferro, com a energia verde, o aço verde, o alumínio verde, o hidrogênio e o etanol verde, que pode servir para produzir o combustível sustentável de aviação (SAF), já que não existe avião elétrico ainda.

Nos últimos dias, o Patria fez a compra do varejo Amigão, num dos setores que não está na moda e que passa por uma onda de recuperações judiciais. Qual é a oportunidade que estão percebendo? Esses setores podem ter uma recuperação, o preço dos ativos está interessante?

É um pouquinho de tudo isso. Número um: é um setor resiliente. Ele consegue repassar a inflação para o preço, na maioria das vezes. Ele também hoje está depreciado. Era negociado a múltiplos muito mais altos. Então, isso nos levou a considerar que é o momento correto de investir. E a consolidação de empresas gera uma série de sinergias também, sinergias de compras. Então, existe uma oportunidade que está sendo captada.

Os últimos dias foram agitados para o Patria Investimentos. Entre os diversos anúncios da maior gestora de recursos alternativos (aqueles que vão além da renda fixa e das ações negociadas em bolsa de valores) da Faria Lima, com US$ 43 bilhões (R$ 230 bilhões) sob gestão, estão acordos internacionais, aquisições de outros fundos estrangeiros e de empresas brasileiras.

No começo do mês, fechou um memorando de intenções de investimentos com o Ministério de Investimentos da Arábia Saudita, comprou o controle do Grupo Amigão para integrar a sua rede de supermercados Plurix e anunciou a aquisição da gestora colombiana de ativos imobiliários Nexus Capital.

Essas são apenas alguns dos grandes movimentos do fundo desde que abriu capital na Nasdaq em 2021, prometendo utilizar os recursos levantados no mercado para ampliar sua atuação. Um dos fundadores e CEO da gestora em 1988, Alexandre Saigh, falou ao Estadão diretamente de Londres, a sua base dos últimos três anos, de onde trabalha para acelerar os negócios internacionais do Patria.

Nomeado como a personalidade do ano de 2024 pela Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha, ele falou sobre o momento da gestora, que nasceu para dar acesso a grandes investidores internacionais a ativos na América Latina. Ao longo do tempo, no entanto, se expandiu, atraindo clientes latino-americanos, diversificando as suas áreas de atuação para os setores de infraestrutura e imobiliário, estruturando fundos internacionais próprios e agora também buscando ativos disponíveis fora da América Latina.

Um dos marcos dessa estratégia foi a compra feita no fim do ano passado das operações de private equity da gestora britânica Abrdn (ex-Aberdeen), que começaram a ser integradas há poucas semanas. E agora novos movimentos similares estão no radar.

Veja a seguir trechos da entrevista:

Atualmente, o seu escritório fica em Londres. Por que o Patria tem o seu CEO fora do Brasil?

Com a aquisição da (operação de private equity) da Abrdn, fica um pouco mais evidente a razão pela qual eu mudei para cá três anos atrás, que é o plano de internacionalizar o Patria. Essa compra foi o primeiro passo. Queremos dar outros passos. Agora, a nossa estratégia ficou mais evidente, três anos após começarmos a buscar algo correto, depois de o Patria abrir o escritório em Londres, o CEO ir para ele. A gente fechou a compra no final de 2023, mas assumimos a operação só em 29 de abril deste ano. Precisava passar por uma série de aprovações dos reguladores.

Que outros passos internacionais são avaliados?

Temos duas estratégias que são importantes. A primeira é continuar consolidando o mercado na América Latina. Há vários produtos que ainda não temos em todos os países. Então, eu preciso preencher esses buracos, para ter um menu completo para atender esses meus clientes internacionais, investindo aqui na América Latina. E também para atender os locais investindo na própria América Latina. A Abrdn me abriu essa outra avenida de crescimento, para fora da América Latina. Continuamos vendo como crescer também nessa vertente.

Que buracos são mais importantes para serem tapados?

A gente tem um buraco relevante geográfico que é o México, onde não temos uma presença relevante. A América Latina, para nós, são cinco países: México, Colômbia, Peru, Chile e Brasil. Estamos bem posicionados em quatro deles. Além disso, precisamos fazer uma expansão de produto. Recentemente, compramos uma série de fundos imobiliários que eram administrados pelo Credit Suisse no Brasil. O México tem uma regulamentação para fundos imobiliários parecida com a do Brasil, com um conceito parecido. Eu não tenho esse produto no portfólio.

Como vai a incorporação dos fundos do Credit Suisse, anunciada este ano? No passado, vocês também já tinham investido na VBI Real Estate, que se tornou a estrutura para trabalharem nesse setor. Os fundos do Credit estão sendo integrados a essa estrutura?

Os fundos vão ficar separados. Cada um terá o seu próprio escritório, até porque hoje temos só 50% da VBI. O mesmo time do Credit Suisse tocará os fundos que vieram para o Patria, com as mesmas pessoas e os mesmos processos. E a VBI está segregada e gerida por ela mesmo.

O mercado imobiliário é uma aposta grande para vocês para esses próximos anos?

É uma aposta grande. A gente gosta muito do produto imobiliário, principalmente na forma de fundos listados, que é o caso dos fundos de Credit Suisse. O Patria já vai para cerca de R$ 22 bilhões sob gestão na área imobiliária. Isso nos coloca como um dos três maiores gestores imobiliários do País. É bastante coisa.

Pegando os dados do fim do ano passado, o Patria tinha US$ 12 bilhões em Private Equity e US$ 6,7 bilhões em infraestrutura. Então, também essa área de imobiliário já chegou a um tamanho muito considerável, acima de US$ 4 bilhões?

Exatamente isso aí. São todas áreas grandes agora.

E como está o dry powder do Patria atualmente, como se chamam os recursos disponíveis que ainda não estão investidos?

É interessante você falar isso. Na hora que você olha os US$ 43 bilhões de ativos que temos sob gestão, se considera, segundo o conceito estabelecido de dry powder, apenas as áreas de private equity e infraestrutura. Mas estamos colhendo recursos para investir em outras áreas também. Os nossos fundos imobiliários somam quase US$ 7 bilhões e estão recebendo dividendos, ao ano, de US$ 600 milhões. Temos hoje também uma carteira de crédito privado de US$ 7 bilhões, uma carteira que hoje é do tamanho do Banco ABC e do Daycoval, e que remunera acima do CDI. São mais de US$ 800 milhões a US$ 900 milhões por ano de juros com ela. Então, só nessas duas frentes geramos US$ 1,5 bilhão para reinvestir. Isso tudo só considerando juros, sem contar o principal do crédito privado, que também é pago para nós. Hoje, realmente o nosso poder de reinvestimento é muito, muito grande.

Anúncio da abertura de capital do Pátria, na Nasdaq Foto: Divulgação Pátria

O Patria ganhou a concessão de um lote de rodovias no Paraná, em parceria com investidores árabes. E neste mês assinou um memorando de investimentos com a Arábia Saudita. Há novas oportunidades de infraestrutura nos próximos anos?

A área de infraestrutura para nós é importantíssima. O Brasil está se destacando nesse contexto. O País tem um arcabouço jurídico e regulatório bom e consolidado, que funciona há muitos. Concessões de 25 anos estão sendo renovadas, com o mesmo marco regulatório e com as mesmas agências reguladoras. Os últimos governos foram todos promovendo esses investimentos, sejam os estaduais, os municipais ou o federal. O federal até não tem muita coisa. A maioria das rodovias é de Estados e a maioria dos ativos de água e saneamento vem dos municípios. Atualmente há muitos governos de Estado com uma cabeça bastante voltada a concessão, casos do Ratinho Júnior, Romeu Zema, Cláudio Castro e Eduardo Leite. Em aeroportos já foi privatizado tudo.

Agora, a próxima onda vem da área de saneamento?

É um espaço muito grande. Serão bilhões de reais exigidos até 2030 para atingir a meta de universalização do governo, do marco regulatório de água e saneamento. Nós estamos em 2024. Parece que tem bastante tempo, mas não é tanto, não.

Os investidores institucionais estrangeiros, como os fundos soberanos, reconhecem isso e têm interesse por esse tipo de ativo?

Sim. O Brasil está vivendo um momento muito único do lado positivo. Até porque sempre os momentos que você vive é relativo frente aos outros. Você pega o momento que o Brasil está vivendo hoje e compara com o mundo, do ponto de vista geopolítico. Não significa necessariamente que avançamos, mas alguns países voltaram para trás, e então aparecemos na frente. É tudo relativo. A gente está em uma posição de grande destaque que vai gerar mais investimentos. A Arábia Saudita e a Ásia olham para o mundo do ponto de vista geopolítico. Se o Brasil conseguir jogar nesse momento, a gente sai na frente.

No mundo, não está tão fácil achar investimentos bons e seguros, até por conta dos juros altos em vários países.

Você vai investir na Europa, num continente fantástico, mas aqui no Leste Europeu está acontecendo uma guerra. E, numa guerra, qualquer faísca pode escalar o conflito. São momentos de grande tensão. Agora, recentemente foi publicado que a Ucrânia está começando a usar armas americanas em solo russo. Assim, subiu um estágio no risco geopolítico. Não sabemos como a Rússia vai interpretar isso. Ela pode considerar jogar uma bomba nos Estados Unidos. Então, a coisa vai escalando. Se você é um investidor, do ponto de vista geopolítico, faz sentido ir para uma região que não tenha esse tipo de problema, que somos nós, a América Latina. Você apostaria todas as suas moedas nos Estados Unidos e na Europa, neste contexto? Não. É melhor colocar alguns ovinhos só na cesta. É assim que a gente se beneficia. O Brasil tem de trabalhar sempre para poder promover isso, para trazer esses investimentos. Divulgando aos investidores que a gente tem segurança jurídica, que o arcabouço regulatório não vai ser mudado, e etc.

Como podemos aproveitar essa oportunidade global e geopolítica global, em que até os países desenvolvidos estão se fechando bastante?

Sinceramente, eu acho que o governo atual entendeu principalmente o seu posto em relação à questão ambiental. É preciso ter uma postura em relação à área ambiental mais alinhada com a agenda do resto do mundo. Isso também favoreceu esses investimentos para o Brasil. Além disso, temos ainda energia renovável e um arcabouço regulatório relativamente estável. Temos também minérios e commodities em abundância na região. Temos o minério de ferro, com a energia verde, o aço verde, o alumínio verde, o hidrogênio e o etanol verde, que pode servir para produzir o combustível sustentável de aviação (SAF), já que não existe avião elétrico ainda.

Nos últimos dias, o Patria fez a compra do varejo Amigão, num dos setores que não está na moda e que passa por uma onda de recuperações judiciais. Qual é a oportunidade que estão percebendo? Esses setores podem ter uma recuperação, o preço dos ativos está interessante?

É um pouquinho de tudo isso. Número um: é um setor resiliente. Ele consegue repassar a inflação para o preço, na maioria das vezes. Ele também hoje está depreciado. Era negociado a múltiplos muito mais altos. Então, isso nos levou a considerar que é o momento correto de investir. E a consolidação de empresas gera uma série de sinergias também, sinergias de compras. Então, existe uma oportunidade que está sendo captada.

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