No momento que as empresas de tecnologia demitem e veem suas ações caírem na Bolsa, a empresa de software Sinqia vive um cenário de crescimento, tanto no mercado financeiro quanto em seus resultados. Enquanto outras companhias listadas, como Positivo e Enjoei, amargam queda de cerca de 50% em seus papéis em 2022, a Sinqia se mantém no azul – com alta de 6% até aqui – e quer aproveitar o momento de baixa para fazer aquisições.
O “pulo do gato” da Sinqia parece ser a escolha de clientes. Em vez de apostar na venda de produtos ou serviços para o consumidor final, ela se dedica ao mercado corporativo, que teve forte crescimento nos últimos anos devido à profusão de carteiras digitais e de planos de previdência privada no mercado brasileiro.
Esse movimento rumo aos serviços financeiros é alimentado tanto por fintechs quanto por empresas que não são do ramo, como as grandes varejistas. Em vez de formar um ecossistema próprio de tecnologia, a tendência desses negócios é terceirizar a operação para fornecedores especializados, como a Sinqia.
Seguindo Bernardo Gomes, CEO e cofundador da Sinqia, a empresa se torna “indispensável” para os clientes por fornecer soluções que são chave para o funcionamento dos negócios deles. “Os nossos softwares são essenciais para a operação financeira das empresas e isso nos dá uma receita recorrente e de longo prazo. O cliente é praticamente para toda a vida”, afirma o CEO.
Essa recorrência de receitas já chamou a atenção da própria B3, que deverá virar uma concorrente da Sinqia na oferta de soluções tecnológicas para empresas financeiras. De olho nesse mercado, a Bolsa brasileira fechou acordo de aquisição de 37,5% da TFS Soluções em Software, subsidiária da Totvs, por R$ 600 milhões. Em um negócio ainda maior, a Bolsa brasileira comprou a empresa de análise de dados financeiros Neoway por R$ 1,8 bilhão.
Apesar de ter concorrência nova no radar, a Sinqia, criada em 1996 já como um negócio de software para o mercado financeiro, registrou seu melhor resultado anual desde a fundação em 2021. O lucro líquido da companhia foi multiplicado por quatro em relação a 2020, para R$ 20,2 milhões. No ano passado, o faturamento foi de R$ 352,6 milhões, uma alta de 67,9% na base anual. A empresa é listada na B3 desde 2013.
Nova fase
Quem não conhece a Sinqia, talvez se lembre do antigo nome, Senior Solutions. O rebatismo veio em 2018 – movimento seguido por uma série de aquisições. Em 2020, a companhia comprou a Itaú Soluções Previdenciárias por R$ 82 milhões. Desde então, colocou mais três negócios para dentro de casa: a NewCon (por R$ 420 milhões), a Lote45 (R$ 79,5 milhões) e a Mercer Seguridade (R$ 35 milhões).
Para o analista Wagner Chaves, sócio da SFA Investimentos, a aposta no setor corporativo ajuda a dar fôlego à Sinqia em um momento de baixa para o setor de tecnologia. “A Sinqia se destaca por ser uma empresa geradora de caixa com receitas muito recorrentes e previsíveis. Com o mercado menos disposto a correr risco, muitas empresas de tecnologia sofreram, pois os investidores não queriam esperar anos para ver cada empresa construir e entregar sua história de sucesso”, afirma.