Das secas no Sudeste aos alagamentos no Sul, as mudanças climáticas estão na pauta de discussões da Braskem há anos. Mesmo assim, diz Roberto Bischoff, presidente da petroquímica, ninguém esperava uma tragédia de dimensões como a que aconteceu no Rio Grande do Sul — o que acendeu o alerta na companhia.
“O risco maior das mudanças climáticas é realmente um dos grandes aprendizados das enchentes no Rio Grande do Sul”, afirma ele. “A operação no Estado certamente vai ganhar mais peso em nossa matriz de risco, que considera o impacto e a probabilidade de um evento climático extremo.”
De toda forma, protocolos, alternativas e investimentos que atendem a essa preocupação vêm sendo discutidos e realizados. No polo petroquímico do Grande ABC, em São Paulo, por exemplo, foi desenvolvido um sistema fechado de aproveitamento de água, em parceria com a Sabesp, em função dos riscos maiores de seca ano após ano. Na unidade de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, foram mapeados riscos junto à lagoa.
Apesar de não ser um evento climático, em Maceió, como se sabe, bairros inteiros afundaram por conta da extração de sal-gema feita pela empresa, numa grande tragédia ambiental. “Cada situação é muito diferente e essa não tem paralelo com outras, mas todas nos trazem um olhar novo e aprendizados, incorporados aos protocolos e compartilhados métodos para enfrentamento de crises”, diz.
Para Bischoff, as lições trazidas com as enchentes do Rio Grande do Sul, a partir de agora, estão ligadas a potenciais gargalos existentes em mobilidade e logística, tanto de pessoas e produtos quanto de matérias-primas, para manter a operação estável. Em relação à inundação que impediu o acesso ao terminal de barcaças, por exemplo, poderão ser estudadas formas de melhorar as condições, no caso de uma nova enchente.
“A pandemia também trouxe aprendizados com relação a fornecedores e estoques estratégicos”, afirma. “Em cada uma dessas situações únicas, a gente os incorpora para que ajudem na crise seguinte.” Para os executivos da Braskem, a tragédia também reforçou a importância da agilidade na decisão da parada programada da fábrica, que reduziu eventuais danos. Destacou ainda a cultura da empresa, com a flexibilidade e o empenho dos voluntários tanto para manter a operação da fábrica, quanto para ajudar pessoas afetadas pelas inundações.
Tendência
O aumento da preocupação das empresas com o risco climático faz parte de uma tendência global, como na Braskem, segundo especialistas. No passado, a busca por antecipar eventos de risco relacionados ao meio ambiente era um comportamento tradicional das resseguradoras. Companhias de outros setores, como o elétrico e logístico, porém, também foram obrigadas a começar adotar ações preventivas com o avanço das tragédias.
Adriano Correia, sócio da PwC
Aos poucos, a preocupação tem chegado em segmentos além daqueles que envolvem grande infraestrutura, de acordo com o sócio da PwC, Adriano Correia. Segundo ele, as companhias brasileiras têm a percepção sobre o risco climático, mas ainda falta adotarem medidas práticas para a prevenção contra grandes eventos climáticos.
“A maioria das empresas não coloca, em seu planejamento estratégico, ações concretas para enfrentar esses riscos”, afirma Correia. Foi o que constatou uma pesquisa global realizada pela PwC com presidentes de corporações, em 2023.
Para ele, eventos como as fortes chuvas no Rio Grande do Sul e a tempestade registrada em São Paulo em novembro, que deixou áreas da cidade sem qualquer energia por quase uma semana, fortaleceram o entendimento nas grandes empresas de que mais ações precisam ser tomadas para incluir a prevenção climática dentro de suas operações.
Leia também
A sócia-líder de ESG da KPMG no Brasil e na América do Sul, Nelmara Arbex, também afirma que os investidores brasileiros precisam intensificar a atenção sobre os riscos climáticos presentes no Brasil. O fato de o País ser pioneiro no mundo em estabelecer regras regulatórias que adequam ao padrão global as divulgações financeiras de sustentabilidade das empresas e fundos, por meio das normas recomendadas pelo ISSB (Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade, em português), vai em linha com essa demanda.
“Faltam educação, sensibilização e um entendimento maior entre comunicadores, analistas e executivos para que os relatórios de sustentabilidade e financeiros sejam mais lidos, conhecidos e analisados”, diz. “A verdade é que ali existem informações importantes e o investimento feito para a elaboração desses documentos acaba sendo pouco utilizado.”