Usinas da Saint Gobain no Brasil vão substituir gás natural por biometano da Gás Verde


Plano da empresa é fazer a transição para biometano em todas as unidades do continente antes de 2030, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em 35%

Por Gabriel Vasconcelos

Com mais de 60 fábricas só no Brasil, a gigante francesa de materiais de construção Saint Gobain vai substituir o gás natural que alimenta seus fornos no País por biometano, um gás livre de carbono. O insumo será produzido pela Gás Verde, empresa do grupo Urca Energia, que mantém usinas em aterros sanitários para purificar o biogás gerado a partir do lixo.

Ao Estadão/Broadcast, o presidente da Saint Gobain na América Latina, Javier Gimeno, detalhou que o plano é fazer essa transição para biometano, iniciada no Brasil, em todas as unidades do continente antes de 2030, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa até lá em 35%. A meta global é chegar à neutralidade em carbono até 2050.

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Para tanto, um primeiro contrato de quatro anos será assinado com a Gás Verde para fornecimento do biometano para uma fábrica da marca Quartzolit, no município de Queimados, na Baixada Fluminense (RJ). Os valores envolvidos não foram revelados, mas serão 468 mil metros cúbicos de biometano por ano para a unidade. A fábrica, que produz argamassas, rejuntes e outros materiais de construção, será a primeira do setor a se descarbonizar por completo no País. Nas contas da Gás Verde, trata-se de uma redução de emissões de 870 toneladas de carbono por ano.

O presidente da fornecedora de biometano, Marcel Jorand, explica que o fornecimento de biometano para a fábrica da Quartzolit vai acontecer de maneira gradativa, com a entrega da primeira molécula ainda em 2023 e abastecimento completo a partir do ano que vem.

Também em 2024, uma segunda fábrica da Saint Gobain, em Barra Mansa, sul do Rio de Janeiro, vai passar a consumir biometano. O processo deve chegar às plantas de São Paulo e Minas Gerais, além de Nordeste e Sul nos próximos anos, diz Gimeno.

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Javier Gimeno, presidente da SG na América Latina (esq.), e Marcel Jorand, presidente da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

Segundo Jorand, da Gás Verde, até 2025, as duas primeiras fábricas da Saint Gobain no Rio a terem o combustível substituído devem alcançar, juntas, um consumo diário de 30 mil metros cúbicos de biometano. Hoje, em todo o País, a Saint-Gobain consome 150 milhões de m³ de gás natural por ano, o que pode chegar a um volume diário de 500 mil m³ do combustível, que tem os dias contados na empresa.

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Custo x Benefício

Segundo Gimeno, por se tratar de combustíveis intercambiáveis, o investimento da Saint Gobain na adaptação é pequeno. “O queimador é o mesmo. Precisamos mudar um pouco a logística, porque o gás é transportado por caminhão, enquanto o gás natural vinha por duto. Mas são adaptações leves e rápidas. Essa transição pode ser extremamente rápida e sem a necessidade de um capex importante”, afirma.

O principal custo fica por conta do preço do biometano, ainda mais caro que o gás natural. “Estamos falando de um sobrecusto ao redor de 8%, 10%. Não é enorme, mas é importante, porque elementos de custo são fundamentais. Ainda assim, achamos que esse sobrecusto pode ser compensado de outras formas”, afirma o presidente da Saint Gobain na América Latina.

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Além da crença de que o preço do biometano vai cair nos próximos anos, ele reconhece que os esforços de transição, centrais na estratégia do grupo francês, têm um custo. Melhor do que buscar compensações via créditos de carbono ou programas de reflorestamento, é modificar estruturalmente a produção, “adaptar a sua própria chaminé”, sugere o executivo.

“Vale a pena quando se olha o custo integral do processo”, diz Gimeno, ao comparar custos e efetividade da estratégia com métodos de compensação de emissões. “Hoje, o atendimento das metas de descarbonização é tão importante quanto a remuneração dos acionistas”, afirma.

Proximidade

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A Gás Verde, que já fornece para a fabricante de aço Ternium e para a Ambev, planeja escalar sua produção para fazer frente à demanda da Saint Gobain no País.

Estão nos planos a incorporação de duas usinas de biometano nas cidades de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no Rio. Além disso, no início de junho, a empresa comprou a portuguesa ENC Energy com suas oito térmicas a biogás, agora em fase de conversão para unidades de biometano até 2026 a um investimento de R$ 600 milhões. Com isso, a empresa vai chegar aos mercados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão, se aproximando do parque da Saint Gobain no Brasil.

Unidade de biometano, no Aterro Sanitário de Seropédica, da Gás Verde Foto: Marcos Badaró
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“Temos cerca de 70% de sinergia geográfica com a Saint-Gobain hoje e vamos procurar mais plantas futuras em benefício dessa parceria. Vamos olhar onde está a Saint-Gobain para buscar mais projetos”, diz Jorand.

Gimeno, da Saint Gobain, confirma. “Esse é um ponto muito importante. Essa geografia industrial da Gás Verde é perfeitamente simétrica e complementar à geografia industrial da Saint Gobain no Brasil”, acrescenta.

Com as aquisições recentes, a Gás Verde já produz 1,2 milhão de metros cúbicos de biogás por dia, que passarão a ser purificados, com a retirada do C02 para a permanência de um biometano 95,4% puro, em até 36 meses. Como o biometano perfaz pouco mais da metade do volume do biogás extraído de resíduos urbanos, Jorand estima que, em 2026, a empresa seja capaz de fornecer 650 mil m³ de biometano por dia a seu universo de clientes.

Logística

As primeiras cargas de biometano que vão atender a Saint Gobain sairão exclusivamente da usina da Gás Verde que fica dentro do Aterro Sanitário de Seropédica, o maior da América Latina. Nos próximos anos, essa origem vai ser diversificada, conforme a expansão da empresa do grupo Urca.

De forma resumida, o lixo é colocado no aterro sanitário e achatado em camadas de argila. A decomposição do resíduo gera o chorume (líquido) e o biogás, recolhidos separadamente por tubulações com uma extensão de 70 quilômetros.

Em seguida, o gás é purificado, com a retirada do C02, e comprimido a 220 bares para o transporte em carretas de gás natural comprimido. Cada carreta leva cerca de 6 mil metros cúbicos por viagem, carga que é descomprimida em terminais na fábrica consumidora a fim de ingressar nos fornos a uma pressão de três a cinco bares. Em termos de performance, dizem os dois executivos, o poder calorífico do biometano é similar ao do gás natural.

Com mais de 60 fábricas só no Brasil, a gigante francesa de materiais de construção Saint Gobain vai substituir o gás natural que alimenta seus fornos no País por biometano, um gás livre de carbono. O insumo será produzido pela Gás Verde, empresa do grupo Urca Energia, que mantém usinas em aterros sanitários para purificar o biogás gerado a partir do lixo.

Ao Estadão/Broadcast, o presidente da Saint Gobain na América Latina, Javier Gimeno, detalhou que o plano é fazer essa transição para biometano, iniciada no Brasil, em todas as unidades do continente antes de 2030, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa até lá em 35%. A meta global é chegar à neutralidade em carbono até 2050.

Para tanto, um primeiro contrato de quatro anos será assinado com a Gás Verde para fornecimento do biometano para uma fábrica da marca Quartzolit, no município de Queimados, na Baixada Fluminense (RJ). Os valores envolvidos não foram revelados, mas serão 468 mil metros cúbicos de biometano por ano para a unidade. A fábrica, que produz argamassas, rejuntes e outros materiais de construção, será a primeira do setor a se descarbonizar por completo no País. Nas contas da Gás Verde, trata-se de uma redução de emissões de 870 toneladas de carbono por ano.

O presidente da fornecedora de biometano, Marcel Jorand, explica que o fornecimento de biometano para a fábrica da Quartzolit vai acontecer de maneira gradativa, com a entrega da primeira molécula ainda em 2023 e abastecimento completo a partir do ano que vem.

Também em 2024, uma segunda fábrica da Saint Gobain, em Barra Mansa, sul do Rio de Janeiro, vai passar a consumir biometano. O processo deve chegar às plantas de São Paulo e Minas Gerais, além de Nordeste e Sul nos próximos anos, diz Gimeno.

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Javier Gimeno, presidente da SG na América Latina (esq.), e Marcel Jorand, presidente da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

Segundo Jorand, da Gás Verde, até 2025, as duas primeiras fábricas da Saint Gobain no Rio a terem o combustível substituído devem alcançar, juntas, um consumo diário de 30 mil metros cúbicos de biometano. Hoje, em todo o País, a Saint-Gobain consome 150 milhões de m³ de gás natural por ano, o que pode chegar a um volume diário de 500 mil m³ do combustível, que tem os dias contados na empresa.

Custo x Benefício

Segundo Gimeno, por se tratar de combustíveis intercambiáveis, o investimento da Saint Gobain na adaptação é pequeno. “O queimador é o mesmo. Precisamos mudar um pouco a logística, porque o gás é transportado por caminhão, enquanto o gás natural vinha por duto. Mas são adaptações leves e rápidas. Essa transição pode ser extremamente rápida e sem a necessidade de um capex importante”, afirma.

O principal custo fica por conta do preço do biometano, ainda mais caro que o gás natural. “Estamos falando de um sobrecusto ao redor de 8%, 10%. Não é enorme, mas é importante, porque elementos de custo são fundamentais. Ainda assim, achamos que esse sobrecusto pode ser compensado de outras formas”, afirma o presidente da Saint Gobain na América Latina.

Além da crença de que o preço do biometano vai cair nos próximos anos, ele reconhece que os esforços de transição, centrais na estratégia do grupo francês, têm um custo. Melhor do que buscar compensações via créditos de carbono ou programas de reflorestamento, é modificar estruturalmente a produção, “adaptar a sua própria chaminé”, sugere o executivo.

“Vale a pena quando se olha o custo integral do processo”, diz Gimeno, ao comparar custos e efetividade da estratégia com métodos de compensação de emissões. “Hoje, o atendimento das metas de descarbonização é tão importante quanto a remuneração dos acionistas”, afirma.

Proximidade

A Gás Verde, que já fornece para a fabricante de aço Ternium e para a Ambev, planeja escalar sua produção para fazer frente à demanda da Saint Gobain no País.

Estão nos planos a incorporação de duas usinas de biometano nas cidades de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no Rio. Além disso, no início de junho, a empresa comprou a portuguesa ENC Energy com suas oito térmicas a biogás, agora em fase de conversão para unidades de biometano até 2026 a um investimento de R$ 600 milhões. Com isso, a empresa vai chegar aos mercados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão, se aproximando do parque da Saint Gobain no Brasil.

Unidade de biometano, no Aterro Sanitário de Seropédica, da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

“Temos cerca de 70% de sinergia geográfica com a Saint-Gobain hoje e vamos procurar mais plantas futuras em benefício dessa parceria. Vamos olhar onde está a Saint-Gobain para buscar mais projetos”, diz Jorand.

Gimeno, da Saint Gobain, confirma. “Esse é um ponto muito importante. Essa geografia industrial da Gás Verde é perfeitamente simétrica e complementar à geografia industrial da Saint Gobain no Brasil”, acrescenta.

Com as aquisições recentes, a Gás Verde já produz 1,2 milhão de metros cúbicos de biogás por dia, que passarão a ser purificados, com a retirada do C02 para a permanência de um biometano 95,4% puro, em até 36 meses. Como o biometano perfaz pouco mais da metade do volume do biogás extraído de resíduos urbanos, Jorand estima que, em 2026, a empresa seja capaz de fornecer 650 mil m³ de biometano por dia a seu universo de clientes.

Logística

As primeiras cargas de biometano que vão atender a Saint Gobain sairão exclusivamente da usina da Gás Verde que fica dentro do Aterro Sanitário de Seropédica, o maior da América Latina. Nos próximos anos, essa origem vai ser diversificada, conforme a expansão da empresa do grupo Urca.

De forma resumida, o lixo é colocado no aterro sanitário e achatado em camadas de argila. A decomposição do resíduo gera o chorume (líquido) e o biogás, recolhidos separadamente por tubulações com uma extensão de 70 quilômetros.

Em seguida, o gás é purificado, com a retirada do C02, e comprimido a 220 bares para o transporte em carretas de gás natural comprimido. Cada carreta leva cerca de 6 mil metros cúbicos por viagem, carga que é descomprimida em terminais na fábrica consumidora a fim de ingressar nos fornos a uma pressão de três a cinco bares. Em termos de performance, dizem os dois executivos, o poder calorífico do biometano é similar ao do gás natural.

Com mais de 60 fábricas só no Brasil, a gigante francesa de materiais de construção Saint Gobain vai substituir o gás natural que alimenta seus fornos no País por biometano, um gás livre de carbono. O insumo será produzido pela Gás Verde, empresa do grupo Urca Energia, que mantém usinas em aterros sanitários para purificar o biogás gerado a partir do lixo.

Ao Estadão/Broadcast, o presidente da Saint Gobain na América Latina, Javier Gimeno, detalhou que o plano é fazer essa transição para biometano, iniciada no Brasil, em todas as unidades do continente antes de 2030, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa até lá em 35%. A meta global é chegar à neutralidade em carbono até 2050.

Para tanto, um primeiro contrato de quatro anos será assinado com a Gás Verde para fornecimento do biometano para uma fábrica da marca Quartzolit, no município de Queimados, na Baixada Fluminense (RJ). Os valores envolvidos não foram revelados, mas serão 468 mil metros cúbicos de biometano por ano para a unidade. A fábrica, que produz argamassas, rejuntes e outros materiais de construção, será a primeira do setor a se descarbonizar por completo no País. Nas contas da Gás Verde, trata-se de uma redução de emissões de 870 toneladas de carbono por ano.

O presidente da fornecedora de biometano, Marcel Jorand, explica que o fornecimento de biometano para a fábrica da Quartzolit vai acontecer de maneira gradativa, com a entrega da primeira molécula ainda em 2023 e abastecimento completo a partir do ano que vem.

Também em 2024, uma segunda fábrica da Saint Gobain, em Barra Mansa, sul do Rio de Janeiro, vai passar a consumir biometano. O processo deve chegar às plantas de São Paulo e Minas Gerais, além de Nordeste e Sul nos próximos anos, diz Gimeno.

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Javier Gimeno, presidente da SG na América Latina (esq.), e Marcel Jorand, presidente da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

Segundo Jorand, da Gás Verde, até 2025, as duas primeiras fábricas da Saint Gobain no Rio a terem o combustível substituído devem alcançar, juntas, um consumo diário de 30 mil metros cúbicos de biometano. Hoje, em todo o País, a Saint-Gobain consome 150 milhões de m³ de gás natural por ano, o que pode chegar a um volume diário de 500 mil m³ do combustível, que tem os dias contados na empresa.

Custo x Benefício

Segundo Gimeno, por se tratar de combustíveis intercambiáveis, o investimento da Saint Gobain na adaptação é pequeno. “O queimador é o mesmo. Precisamos mudar um pouco a logística, porque o gás é transportado por caminhão, enquanto o gás natural vinha por duto. Mas são adaptações leves e rápidas. Essa transição pode ser extremamente rápida e sem a necessidade de um capex importante”, afirma.

O principal custo fica por conta do preço do biometano, ainda mais caro que o gás natural. “Estamos falando de um sobrecusto ao redor de 8%, 10%. Não é enorme, mas é importante, porque elementos de custo são fundamentais. Ainda assim, achamos que esse sobrecusto pode ser compensado de outras formas”, afirma o presidente da Saint Gobain na América Latina.

Além da crença de que o preço do biometano vai cair nos próximos anos, ele reconhece que os esforços de transição, centrais na estratégia do grupo francês, têm um custo. Melhor do que buscar compensações via créditos de carbono ou programas de reflorestamento, é modificar estruturalmente a produção, “adaptar a sua própria chaminé”, sugere o executivo.

“Vale a pena quando se olha o custo integral do processo”, diz Gimeno, ao comparar custos e efetividade da estratégia com métodos de compensação de emissões. “Hoje, o atendimento das metas de descarbonização é tão importante quanto a remuneração dos acionistas”, afirma.

Proximidade

A Gás Verde, que já fornece para a fabricante de aço Ternium e para a Ambev, planeja escalar sua produção para fazer frente à demanda da Saint Gobain no País.

Estão nos planos a incorporação de duas usinas de biometano nas cidades de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no Rio. Além disso, no início de junho, a empresa comprou a portuguesa ENC Energy com suas oito térmicas a biogás, agora em fase de conversão para unidades de biometano até 2026 a um investimento de R$ 600 milhões. Com isso, a empresa vai chegar aos mercados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão, se aproximando do parque da Saint Gobain no Brasil.

Unidade de biometano, no Aterro Sanitário de Seropédica, da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

“Temos cerca de 70% de sinergia geográfica com a Saint-Gobain hoje e vamos procurar mais plantas futuras em benefício dessa parceria. Vamos olhar onde está a Saint-Gobain para buscar mais projetos”, diz Jorand.

Gimeno, da Saint Gobain, confirma. “Esse é um ponto muito importante. Essa geografia industrial da Gás Verde é perfeitamente simétrica e complementar à geografia industrial da Saint Gobain no Brasil”, acrescenta.

Com as aquisições recentes, a Gás Verde já produz 1,2 milhão de metros cúbicos de biogás por dia, que passarão a ser purificados, com a retirada do C02 para a permanência de um biometano 95,4% puro, em até 36 meses. Como o biometano perfaz pouco mais da metade do volume do biogás extraído de resíduos urbanos, Jorand estima que, em 2026, a empresa seja capaz de fornecer 650 mil m³ de biometano por dia a seu universo de clientes.

Logística

As primeiras cargas de biometano que vão atender a Saint Gobain sairão exclusivamente da usina da Gás Verde que fica dentro do Aterro Sanitário de Seropédica, o maior da América Latina. Nos próximos anos, essa origem vai ser diversificada, conforme a expansão da empresa do grupo Urca.

De forma resumida, o lixo é colocado no aterro sanitário e achatado em camadas de argila. A decomposição do resíduo gera o chorume (líquido) e o biogás, recolhidos separadamente por tubulações com uma extensão de 70 quilômetros.

Em seguida, o gás é purificado, com a retirada do C02, e comprimido a 220 bares para o transporte em carretas de gás natural comprimido. Cada carreta leva cerca de 6 mil metros cúbicos por viagem, carga que é descomprimida em terminais na fábrica consumidora a fim de ingressar nos fornos a uma pressão de três a cinco bares. Em termos de performance, dizem os dois executivos, o poder calorífico do biometano é similar ao do gás natural.

Com mais de 60 fábricas só no Brasil, a gigante francesa de materiais de construção Saint Gobain vai substituir o gás natural que alimenta seus fornos no País por biometano, um gás livre de carbono. O insumo será produzido pela Gás Verde, empresa do grupo Urca Energia, que mantém usinas em aterros sanitários para purificar o biogás gerado a partir do lixo.

Ao Estadão/Broadcast, o presidente da Saint Gobain na América Latina, Javier Gimeno, detalhou que o plano é fazer essa transição para biometano, iniciada no Brasil, em todas as unidades do continente antes de 2030, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa até lá em 35%. A meta global é chegar à neutralidade em carbono até 2050.

Para tanto, um primeiro contrato de quatro anos será assinado com a Gás Verde para fornecimento do biometano para uma fábrica da marca Quartzolit, no município de Queimados, na Baixada Fluminense (RJ). Os valores envolvidos não foram revelados, mas serão 468 mil metros cúbicos de biometano por ano para a unidade. A fábrica, que produz argamassas, rejuntes e outros materiais de construção, será a primeira do setor a se descarbonizar por completo no País. Nas contas da Gás Verde, trata-se de uma redução de emissões de 870 toneladas de carbono por ano.

O presidente da fornecedora de biometano, Marcel Jorand, explica que o fornecimento de biometano para a fábrica da Quartzolit vai acontecer de maneira gradativa, com a entrega da primeira molécula ainda em 2023 e abastecimento completo a partir do ano que vem.

Também em 2024, uma segunda fábrica da Saint Gobain, em Barra Mansa, sul do Rio de Janeiro, vai passar a consumir biometano. O processo deve chegar às plantas de São Paulo e Minas Gerais, além de Nordeste e Sul nos próximos anos, diz Gimeno.

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Javier Gimeno, presidente da SG na América Latina (esq.), e Marcel Jorand, presidente da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

Segundo Jorand, da Gás Verde, até 2025, as duas primeiras fábricas da Saint Gobain no Rio a terem o combustível substituído devem alcançar, juntas, um consumo diário de 30 mil metros cúbicos de biometano. Hoje, em todo o País, a Saint-Gobain consome 150 milhões de m³ de gás natural por ano, o que pode chegar a um volume diário de 500 mil m³ do combustível, que tem os dias contados na empresa.

Custo x Benefício

Segundo Gimeno, por se tratar de combustíveis intercambiáveis, o investimento da Saint Gobain na adaptação é pequeno. “O queimador é o mesmo. Precisamos mudar um pouco a logística, porque o gás é transportado por caminhão, enquanto o gás natural vinha por duto. Mas são adaptações leves e rápidas. Essa transição pode ser extremamente rápida e sem a necessidade de um capex importante”, afirma.

O principal custo fica por conta do preço do biometano, ainda mais caro que o gás natural. “Estamos falando de um sobrecusto ao redor de 8%, 10%. Não é enorme, mas é importante, porque elementos de custo são fundamentais. Ainda assim, achamos que esse sobrecusto pode ser compensado de outras formas”, afirma o presidente da Saint Gobain na América Latina.

Além da crença de que o preço do biometano vai cair nos próximos anos, ele reconhece que os esforços de transição, centrais na estratégia do grupo francês, têm um custo. Melhor do que buscar compensações via créditos de carbono ou programas de reflorestamento, é modificar estruturalmente a produção, “adaptar a sua própria chaminé”, sugere o executivo.

“Vale a pena quando se olha o custo integral do processo”, diz Gimeno, ao comparar custos e efetividade da estratégia com métodos de compensação de emissões. “Hoje, o atendimento das metas de descarbonização é tão importante quanto a remuneração dos acionistas”, afirma.

Proximidade

A Gás Verde, que já fornece para a fabricante de aço Ternium e para a Ambev, planeja escalar sua produção para fazer frente à demanda da Saint Gobain no País.

Estão nos planos a incorporação de duas usinas de biometano nas cidades de Nova Iguaçu e São Gonçalo, ambas no Rio. Além disso, no início de junho, a empresa comprou a portuguesa ENC Energy com suas oito térmicas a biogás, agora em fase de conversão para unidades de biometano até 2026 a um investimento de R$ 600 milhões. Com isso, a empresa vai chegar aos mercados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão, se aproximando do parque da Saint Gobain no Brasil.

Unidade de biometano, no Aterro Sanitário de Seropédica, da Gás Verde Foto: Marcos Badaró

“Temos cerca de 70% de sinergia geográfica com a Saint-Gobain hoje e vamos procurar mais plantas futuras em benefício dessa parceria. Vamos olhar onde está a Saint-Gobain para buscar mais projetos”, diz Jorand.

Gimeno, da Saint Gobain, confirma. “Esse é um ponto muito importante. Essa geografia industrial da Gás Verde é perfeitamente simétrica e complementar à geografia industrial da Saint Gobain no Brasil”, acrescenta.

Com as aquisições recentes, a Gás Verde já produz 1,2 milhão de metros cúbicos de biogás por dia, que passarão a ser purificados, com a retirada do C02 para a permanência de um biometano 95,4% puro, em até 36 meses. Como o biometano perfaz pouco mais da metade do volume do biogás extraído de resíduos urbanos, Jorand estima que, em 2026, a empresa seja capaz de fornecer 650 mil m³ de biometano por dia a seu universo de clientes.

Logística

As primeiras cargas de biometano que vão atender a Saint Gobain sairão exclusivamente da usina da Gás Verde que fica dentro do Aterro Sanitário de Seropédica, o maior da América Latina. Nos próximos anos, essa origem vai ser diversificada, conforme a expansão da empresa do grupo Urca.

De forma resumida, o lixo é colocado no aterro sanitário e achatado em camadas de argila. A decomposição do resíduo gera o chorume (líquido) e o biogás, recolhidos separadamente por tubulações com uma extensão de 70 quilômetros.

Em seguida, o gás é purificado, com a retirada do C02, e comprimido a 220 bares para o transporte em carretas de gás natural comprimido. Cada carreta leva cerca de 6 mil metros cúbicos por viagem, carga que é descomprimida em terminais na fábrica consumidora a fim de ingressar nos fornos a uma pressão de três a cinco bares. Em termos de performance, dizem os dois executivos, o poder calorífico do biometano é similar ao do gás natural.

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