Ex-líder de mercado de livrarias, a Saraiva ganhou fôlego para tentar sair de sua grave crise financeira. Em um leilão judicial realizado nesta semana, vendeu o ponto de uma loja do Shopping Ibirapuera, hoje alugada pela varejista Centauro, além de créditos tributários, apurou o Estadão. Com isso, a varejista abaterá cerca de R$ 160 milhões sua dívida, que já alcançava a casa de R$ 500 milhões. O negócio será concretizado apenas após homologação judicial das propostas vencedoras.
“Ainda há muito a ser feito, mas se trata de um passo importante. E a venda também foi de uma loja que a Saraiva já sabia viver sem”, comenta uma fonte próxima da empresa, que pediu anonimato. O espaço agora ocupado pela Centauro é o único ponto que pertencia atualmente à Saraiva – o restante das lojas abertas funciona em áreas alugadas. Os créditos tributários pertenciam originalmente ao Banco do Brasil, mas estão hoje nas mãos do fundo Travessia, do BTG Pactual.
Esses eram os únicos ativos disponíveis para venda, conforme o plano de recuperação judicial. Anteriormente, a companhia tentou vender seu e-commerce (Saraiva.com), ativo que foi a leilão em mais de uma ocasião, sem sucesso.
O dinheiro da venda não entrará no caixa da empresa; será destinado exclusivamente para o abatimento do endividamento. O restante da dívida deve ser pago pela geração de caixa. Os credores também poderão optar, conforme o último plano aprovado, a trocar a dívida por ações.
Recuperação
A visão interna é de que, para sair da recuperação judicial, a Saraiva precisará voltar a ter produtos em consignação (a loja expõe o produto, sem a necessidade de compra). Assim, não precisaria mais gastar seu caixa para ter sortimento em suas prateleiras.
É uma prática comum de mercado. No entanto, depois de tomar vários calotes, as editoras estão se recusando em atuar nesse esquema com a rede. Ou seja: a Saraiva só recebe livros se comprá-los, segundo fontes de mercado
No último relatório divulgado nos autos do processo, o administrador judicial, a RV3, informa que a Saraiva registrou um prejuízo de R$ 15,8 milhões de janeiro a abril deste ano, mais do que o registrado em todo 2021.
Segundo o mais recente resultado da empresa, referente a março, a Saraiva tinha 34 lojas. No início de 2017, um ano antes da recuperação judicial, eram 113 lojas. A mineira Leitura, que assumiu algumas lojas que anteriormente eram da Saraiva, é hoje a líder do setor.