Sertrading, das maiores tradings do País, chega a R$ 12 bi de receita e quer concessões portuárias


Empresa tem registrado crescimento de 30% ao ano e espera atingir R$ 23,5 bilhões em volumes negociados em 2024, depois de quadruplicar negócios em cinco anos

Por Carlos Eduardo Valim
Atualização:

A Sertrading, uma das maiores empresas brasileiras especializadas em importações, deverá ultrapassar a marca de R$ 20 bilhões em volumes negociados neste ano. Com receita líquida de R$ 12 bilhões, a companhia tem planos ambiciosos para manter o ritmo de crescimento nos próximos anos. Uma das apostas é diversificar os negócios, disputando concessões de terminais portuários, diz o empresário paulistano Alfredo de Goeye, sócio-fundador e presidente da Sertrading.

A empresa foi fundada em 2001 por de Goeye e Paulo Brito, atual controlador da mineradora Aura Minerals e que foi fundador da Cotia Trading - uma das maiores empresas brasileiras dos anos 1980 e 1990. Pelo acordo original, Brito ficaria apenas como investidor e de Goeye cuidaria da operação.

Entre 2019 e 2020, de Goeye e executivos da empresa compraram a participação de Brito e do banqueiro Jair Ribeiro (do Banco Indusval e cofundador da Guide Investimentos), que chegaram a deter cerca de 55% da Sertrading, mas não atuavam no dia a dia da operação.

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Atualmente, de Goeye e o vice-presidente da empresa, Luciano Sapata, são os maiores acionistas (eles não divulgam qual é a participação). Sob a liderança deles, a companhia tem crescido cerca de 30% ao ano. Em 2020, a Sertrading movimentava nas operações de comércio exterior R$ 5 bilhões. No ano passado, esse número já havia alcançado R$ 19 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, a companhia já movimentou R$ 4,5 bilhões em operações, o que garantiu uma receita líquida de R$ 3 bilhões - crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. “Ter apenas acionistas que participam do dia a dia da empresa fez a diferença”, afirma de Goeye.

Alfredo de Goeye (sentado) e Luciano Sapata, os dois principais sócios da Sertrading  Foto: Werther Santana/Estadão
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O negócio tem forte sazonalidade, e o terceiro trimestre é sempre o mais forte, uma vez que as empresas importam mais nesse período para se preparar para as vendas de fim de ano, explica Sapata. Com isso, a expectativa é crescer até 25% em 2024, para atingir R$ 23,5 bilhões em movimentações no consolidado do ano.

A Sertrading opera em 16 setores da economia. Entre eles, está a importação de itens pesados, como aviões executivos e helicópteros. A empresa também é responsável por trazer os veículos comercializados pela Ford no Brasil, depois que a montadora deixou de fabricar localmente. Outro serviço importante é a importação de ingredientes para a produção de cervejas da Ambev, como lúpulo, malte e cevada, e insumos e produtos para a indústria farmacêutica, incluindo os da Aché.

A companhia ainda é a maior importadora de perfumaria e cosméticos no Brasil, atendendo marcas como Mac e Jo Malone. Outros de seus principais clientes são a Procter & Gamble e a PepsiCo.

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Atualmente, a Sertrading tem participação de cerca de 20% no mercado e quer continuar ampliando essa fatia. Para manter o ritmo de expansão dos últimos anos, no entanto, será preciso abrir novas frentes de negócios. A mais importante deve ser aproveitar as próximas concessões de terminais portuários.

Um dos casos exemplares foi a concessão da Codesa, a estatal do Espírito Santo, privatizada em 2022. “Não participamos da disputa, pois achávamos, na época, que não valia a pena analisar o negócio. Depois nos arrependemos. A atividade está valendo bastante a pena”, afirma de Goeye.

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Agora, a empresa está de olho nas concessões que o governo planeja fazer nos próximos anos. São 35 projetos previstos para ser concedidos à iniciativa privada entre 2024 e 2026, num total de R$ 14,5 bilhões (sem considerar o valor das outorgas).

Para participar dessas disputas, a Sertrading tem estudado os projetos e buscado parceiros com capacidade de investimentos para entrar nas concessões. “São investimentos muito altos, e queremos participar desses processos por meio de consórcios”, diz Sapata.

Infraestrutura logística

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Outra forma de diversificação analisada é desenvolver infraestrutura logística para os clientes, como espaços de armazenamento. “Por exemplo, os automóveis, em especial, os elétricos, têm sido importados pelo Espírito Santo. Quando a Ford se tornou cliente há três anos, estudamos alugar pátios para colocar os carros trazidos para eles e investimos nesses ativos para atender a empresa e outras montadoras”, conta de Goeye. “O mesmo pode acontecer em outros setores, com a gente administrando armazéns em determinados terminais e portos. Estamos estudando investir em ativos fixos, o que não era muito a nossa praia.”

No ano passado, a empresa investiu R$ 20 milhões em um centro automotivo próprio no porto de Espírito Santo, com capacidade de movimentar cerca de 50 mil veículos por ano. Em 2022, chegaram pelo porto local 65 mil veículos, dos quais 30 mil foram importados pela Sertrading.

Centro automotivo da Sertrading no Espírito Santo Foto: Bera Midia
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Mais crescimento

O crescimento acelerado da empresa tem relação com os ventos favoráveis para importações durante a pandemia da covid-19. Na época, apesar das dificuldades de gargalos logísticos pelo mundo, houve um crescimento forte de consumo por meio digitais. Além disso, também houve aumento de investimentos graças ao excesso de liquidez de recursos, disparado pelas ajudas financeiras feitas por governos para salvar as suas economias do isolamento social.

“A empresa acaba sendo uma espécie de termômetro da economia, por que, como a gente importa para grandes clientes e em diversos setores, nosso volume de negócios cresce ou não, espelhando um pouco o que está acontecendo pela economia”, diz de Goeye. “A pandemia estrangulou todos os ciclos produtivos no mundo inteiro, e ali a gente se colocou como capazes de ajudar as empresas.”

Todo o processo burocrático de comércio exterior costuma ser bastante complexo para empresas não especializadas, diz Sapata. “Não é da especialidade do cliente pensar nas questões logísticas, de planejamento tributário e de relações comerciais”, diz. A Sertrading também aproveita de seu porte para participar da transação financeira das operações, fazendo as compras internacionais com ativos do próprio balanço.

“De 2020 para cá, o Brasil deixou um momento econômico complicado, o que permitiu que a gente crescesse bastante. Tivemos eficiência para capturar valor nessa cadeia”, afirma de Goeye. “Nossa percepção agora é que a economia vai bem, apesar das questões fiscais e das falas mais problemáticas do governo. Os balanços das empresas foram bons.”

A Sertrading, uma das maiores empresas brasileiras especializadas em importações, deverá ultrapassar a marca de R$ 20 bilhões em volumes negociados neste ano. Com receita líquida de R$ 12 bilhões, a companhia tem planos ambiciosos para manter o ritmo de crescimento nos próximos anos. Uma das apostas é diversificar os negócios, disputando concessões de terminais portuários, diz o empresário paulistano Alfredo de Goeye, sócio-fundador e presidente da Sertrading.

A empresa foi fundada em 2001 por de Goeye e Paulo Brito, atual controlador da mineradora Aura Minerals e que foi fundador da Cotia Trading - uma das maiores empresas brasileiras dos anos 1980 e 1990. Pelo acordo original, Brito ficaria apenas como investidor e de Goeye cuidaria da operação.

Entre 2019 e 2020, de Goeye e executivos da empresa compraram a participação de Brito e do banqueiro Jair Ribeiro (do Banco Indusval e cofundador da Guide Investimentos), que chegaram a deter cerca de 55% da Sertrading, mas não atuavam no dia a dia da operação.

Atualmente, de Goeye e o vice-presidente da empresa, Luciano Sapata, são os maiores acionistas (eles não divulgam qual é a participação). Sob a liderança deles, a companhia tem crescido cerca de 30% ao ano. Em 2020, a Sertrading movimentava nas operações de comércio exterior R$ 5 bilhões. No ano passado, esse número já havia alcançado R$ 19 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, a companhia já movimentou R$ 4,5 bilhões em operações, o que garantiu uma receita líquida de R$ 3 bilhões - crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. “Ter apenas acionistas que participam do dia a dia da empresa fez a diferença”, afirma de Goeye.

Alfredo de Goeye (sentado) e Luciano Sapata, os dois principais sócios da Sertrading  Foto: Werther Santana/Estadão

O negócio tem forte sazonalidade, e o terceiro trimestre é sempre o mais forte, uma vez que as empresas importam mais nesse período para se preparar para as vendas de fim de ano, explica Sapata. Com isso, a expectativa é crescer até 25% em 2024, para atingir R$ 23,5 bilhões em movimentações no consolidado do ano.

A Sertrading opera em 16 setores da economia. Entre eles, está a importação de itens pesados, como aviões executivos e helicópteros. A empresa também é responsável por trazer os veículos comercializados pela Ford no Brasil, depois que a montadora deixou de fabricar localmente. Outro serviço importante é a importação de ingredientes para a produção de cervejas da Ambev, como lúpulo, malte e cevada, e insumos e produtos para a indústria farmacêutica, incluindo os da Aché.

A companhia ainda é a maior importadora de perfumaria e cosméticos no Brasil, atendendo marcas como Mac e Jo Malone. Outros de seus principais clientes são a Procter & Gamble e a PepsiCo.

Atualmente, a Sertrading tem participação de cerca de 20% no mercado e quer continuar ampliando essa fatia. Para manter o ritmo de expansão dos últimos anos, no entanto, será preciso abrir novas frentes de negócios. A mais importante deve ser aproveitar as próximas concessões de terminais portuários.

Um dos casos exemplares foi a concessão da Codesa, a estatal do Espírito Santo, privatizada em 2022. “Não participamos da disputa, pois achávamos, na época, que não valia a pena analisar o negócio. Depois nos arrependemos. A atividade está valendo bastante a pena”, afirma de Goeye.

Agora, a empresa está de olho nas concessões que o governo planeja fazer nos próximos anos. São 35 projetos previstos para ser concedidos à iniciativa privada entre 2024 e 2026, num total de R$ 14,5 bilhões (sem considerar o valor das outorgas).

Para participar dessas disputas, a Sertrading tem estudado os projetos e buscado parceiros com capacidade de investimentos para entrar nas concessões. “São investimentos muito altos, e queremos participar desses processos por meio de consórcios”, diz Sapata.

Infraestrutura logística

Outra forma de diversificação analisada é desenvolver infraestrutura logística para os clientes, como espaços de armazenamento. “Por exemplo, os automóveis, em especial, os elétricos, têm sido importados pelo Espírito Santo. Quando a Ford se tornou cliente há três anos, estudamos alugar pátios para colocar os carros trazidos para eles e investimos nesses ativos para atender a empresa e outras montadoras”, conta de Goeye. “O mesmo pode acontecer em outros setores, com a gente administrando armazéns em determinados terminais e portos. Estamos estudando investir em ativos fixos, o que não era muito a nossa praia.”

No ano passado, a empresa investiu R$ 20 milhões em um centro automotivo próprio no porto de Espírito Santo, com capacidade de movimentar cerca de 50 mil veículos por ano. Em 2022, chegaram pelo porto local 65 mil veículos, dos quais 30 mil foram importados pela Sertrading.

Centro automotivo da Sertrading no Espírito Santo Foto: Bera Midia

Mais crescimento

O crescimento acelerado da empresa tem relação com os ventos favoráveis para importações durante a pandemia da covid-19. Na época, apesar das dificuldades de gargalos logísticos pelo mundo, houve um crescimento forte de consumo por meio digitais. Além disso, também houve aumento de investimentos graças ao excesso de liquidez de recursos, disparado pelas ajudas financeiras feitas por governos para salvar as suas economias do isolamento social.

“A empresa acaba sendo uma espécie de termômetro da economia, por que, como a gente importa para grandes clientes e em diversos setores, nosso volume de negócios cresce ou não, espelhando um pouco o que está acontecendo pela economia”, diz de Goeye. “A pandemia estrangulou todos os ciclos produtivos no mundo inteiro, e ali a gente se colocou como capazes de ajudar as empresas.”

Todo o processo burocrático de comércio exterior costuma ser bastante complexo para empresas não especializadas, diz Sapata. “Não é da especialidade do cliente pensar nas questões logísticas, de planejamento tributário e de relações comerciais”, diz. A Sertrading também aproveita de seu porte para participar da transação financeira das operações, fazendo as compras internacionais com ativos do próprio balanço.

“De 2020 para cá, o Brasil deixou um momento econômico complicado, o que permitiu que a gente crescesse bastante. Tivemos eficiência para capturar valor nessa cadeia”, afirma de Goeye. “Nossa percepção agora é que a economia vai bem, apesar das questões fiscais e das falas mais problemáticas do governo. Os balanços das empresas foram bons.”

A Sertrading, uma das maiores empresas brasileiras especializadas em importações, deverá ultrapassar a marca de R$ 20 bilhões em volumes negociados neste ano. Com receita líquida de R$ 12 bilhões, a companhia tem planos ambiciosos para manter o ritmo de crescimento nos próximos anos. Uma das apostas é diversificar os negócios, disputando concessões de terminais portuários, diz o empresário paulistano Alfredo de Goeye, sócio-fundador e presidente da Sertrading.

A empresa foi fundada em 2001 por de Goeye e Paulo Brito, atual controlador da mineradora Aura Minerals e que foi fundador da Cotia Trading - uma das maiores empresas brasileiras dos anos 1980 e 1990. Pelo acordo original, Brito ficaria apenas como investidor e de Goeye cuidaria da operação.

Entre 2019 e 2020, de Goeye e executivos da empresa compraram a participação de Brito e do banqueiro Jair Ribeiro (do Banco Indusval e cofundador da Guide Investimentos), que chegaram a deter cerca de 55% da Sertrading, mas não atuavam no dia a dia da operação.

Atualmente, de Goeye e o vice-presidente da empresa, Luciano Sapata, são os maiores acionistas (eles não divulgam qual é a participação). Sob a liderança deles, a companhia tem crescido cerca de 30% ao ano. Em 2020, a Sertrading movimentava nas operações de comércio exterior R$ 5 bilhões. No ano passado, esse número já havia alcançado R$ 19 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, a companhia já movimentou R$ 4,5 bilhões em operações, o que garantiu uma receita líquida de R$ 3 bilhões - crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. “Ter apenas acionistas que participam do dia a dia da empresa fez a diferença”, afirma de Goeye.

Alfredo de Goeye (sentado) e Luciano Sapata, os dois principais sócios da Sertrading  Foto: Werther Santana/Estadão

O negócio tem forte sazonalidade, e o terceiro trimestre é sempre o mais forte, uma vez que as empresas importam mais nesse período para se preparar para as vendas de fim de ano, explica Sapata. Com isso, a expectativa é crescer até 25% em 2024, para atingir R$ 23,5 bilhões em movimentações no consolidado do ano.

A Sertrading opera em 16 setores da economia. Entre eles, está a importação de itens pesados, como aviões executivos e helicópteros. A empresa também é responsável por trazer os veículos comercializados pela Ford no Brasil, depois que a montadora deixou de fabricar localmente. Outro serviço importante é a importação de ingredientes para a produção de cervejas da Ambev, como lúpulo, malte e cevada, e insumos e produtos para a indústria farmacêutica, incluindo os da Aché.

A companhia ainda é a maior importadora de perfumaria e cosméticos no Brasil, atendendo marcas como Mac e Jo Malone. Outros de seus principais clientes são a Procter & Gamble e a PepsiCo.

Atualmente, a Sertrading tem participação de cerca de 20% no mercado e quer continuar ampliando essa fatia. Para manter o ritmo de expansão dos últimos anos, no entanto, será preciso abrir novas frentes de negócios. A mais importante deve ser aproveitar as próximas concessões de terminais portuários.

Um dos casos exemplares foi a concessão da Codesa, a estatal do Espírito Santo, privatizada em 2022. “Não participamos da disputa, pois achávamos, na época, que não valia a pena analisar o negócio. Depois nos arrependemos. A atividade está valendo bastante a pena”, afirma de Goeye.

Agora, a empresa está de olho nas concessões que o governo planeja fazer nos próximos anos. São 35 projetos previstos para ser concedidos à iniciativa privada entre 2024 e 2026, num total de R$ 14,5 bilhões (sem considerar o valor das outorgas).

Para participar dessas disputas, a Sertrading tem estudado os projetos e buscado parceiros com capacidade de investimentos para entrar nas concessões. “São investimentos muito altos, e queremos participar desses processos por meio de consórcios”, diz Sapata.

Infraestrutura logística

Outra forma de diversificação analisada é desenvolver infraestrutura logística para os clientes, como espaços de armazenamento. “Por exemplo, os automóveis, em especial, os elétricos, têm sido importados pelo Espírito Santo. Quando a Ford se tornou cliente há três anos, estudamos alugar pátios para colocar os carros trazidos para eles e investimos nesses ativos para atender a empresa e outras montadoras”, conta de Goeye. “O mesmo pode acontecer em outros setores, com a gente administrando armazéns em determinados terminais e portos. Estamos estudando investir em ativos fixos, o que não era muito a nossa praia.”

No ano passado, a empresa investiu R$ 20 milhões em um centro automotivo próprio no porto de Espírito Santo, com capacidade de movimentar cerca de 50 mil veículos por ano. Em 2022, chegaram pelo porto local 65 mil veículos, dos quais 30 mil foram importados pela Sertrading.

Centro automotivo da Sertrading no Espírito Santo Foto: Bera Midia

Mais crescimento

O crescimento acelerado da empresa tem relação com os ventos favoráveis para importações durante a pandemia da covid-19. Na época, apesar das dificuldades de gargalos logísticos pelo mundo, houve um crescimento forte de consumo por meio digitais. Além disso, também houve aumento de investimentos graças ao excesso de liquidez de recursos, disparado pelas ajudas financeiras feitas por governos para salvar as suas economias do isolamento social.

“A empresa acaba sendo uma espécie de termômetro da economia, por que, como a gente importa para grandes clientes e em diversos setores, nosso volume de negócios cresce ou não, espelhando um pouco o que está acontecendo pela economia”, diz de Goeye. “A pandemia estrangulou todos os ciclos produtivos no mundo inteiro, e ali a gente se colocou como capazes de ajudar as empresas.”

Todo o processo burocrático de comércio exterior costuma ser bastante complexo para empresas não especializadas, diz Sapata. “Não é da especialidade do cliente pensar nas questões logísticas, de planejamento tributário e de relações comerciais”, diz. A Sertrading também aproveita de seu porte para participar da transação financeira das operações, fazendo as compras internacionais com ativos do próprio balanço.

“De 2020 para cá, o Brasil deixou um momento econômico complicado, o que permitiu que a gente crescesse bastante. Tivemos eficiência para capturar valor nessa cadeia”, afirma de Goeye. “Nossa percepção agora é que a economia vai bem, apesar das questões fiscais e das falas mais problemáticas do governo. Os balanços das empresas foram bons.”

A Sertrading, uma das maiores empresas brasileiras especializadas em importações, deverá ultrapassar a marca de R$ 20 bilhões em volumes negociados neste ano. Com receita líquida de R$ 12 bilhões, a companhia tem planos ambiciosos para manter o ritmo de crescimento nos próximos anos. Uma das apostas é diversificar os negócios, disputando concessões de terminais portuários, diz o empresário paulistano Alfredo de Goeye, sócio-fundador e presidente da Sertrading.

A empresa foi fundada em 2001 por de Goeye e Paulo Brito, atual controlador da mineradora Aura Minerals e que foi fundador da Cotia Trading - uma das maiores empresas brasileiras dos anos 1980 e 1990. Pelo acordo original, Brito ficaria apenas como investidor e de Goeye cuidaria da operação.

Entre 2019 e 2020, de Goeye e executivos da empresa compraram a participação de Brito e do banqueiro Jair Ribeiro (do Banco Indusval e cofundador da Guide Investimentos), que chegaram a deter cerca de 55% da Sertrading, mas não atuavam no dia a dia da operação.

Atualmente, de Goeye e o vice-presidente da empresa, Luciano Sapata, são os maiores acionistas (eles não divulgam qual é a participação). Sob a liderança deles, a companhia tem crescido cerca de 30% ao ano. Em 2020, a Sertrading movimentava nas operações de comércio exterior R$ 5 bilhões. No ano passado, esse número já havia alcançado R$ 19 bilhões.

No primeiro trimestre deste ano, a companhia já movimentou R$ 4,5 bilhões em operações, o que garantiu uma receita líquida de R$ 3 bilhões - crescimento de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. “Ter apenas acionistas que participam do dia a dia da empresa fez a diferença”, afirma de Goeye.

Alfredo de Goeye (sentado) e Luciano Sapata, os dois principais sócios da Sertrading  Foto: Werther Santana/Estadão

O negócio tem forte sazonalidade, e o terceiro trimestre é sempre o mais forte, uma vez que as empresas importam mais nesse período para se preparar para as vendas de fim de ano, explica Sapata. Com isso, a expectativa é crescer até 25% em 2024, para atingir R$ 23,5 bilhões em movimentações no consolidado do ano.

A Sertrading opera em 16 setores da economia. Entre eles, está a importação de itens pesados, como aviões executivos e helicópteros. A empresa também é responsável por trazer os veículos comercializados pela Ford no Brasil, depois que a montadora deixou de fabricar localmente. Outro serviço importante é a importação de ingredientes para a produção de cervejas da Ambev, como lúpulo, malte e cevada, e insumos e produtos para a indústria farmacêutica, incluindo os da Aché.

A companhia ainda é a maior importadora de perfumaria e cosméticos no Brasil, atendendo marcas como Mac e Jo Malone. Outros de seus principais clientes são a Procter & Gamble e a PepsiCo.

Atualmente, a Sertrading tem participação de cerca de 20% no mercado e quer continuar ampliando essa fatia. Para manter o ritmo de expansão dos últimos anos, no entanto, será preciso abrir novas frentes de negócios. A mais importante deve ser aproveitar as próximas concessões de terminais portuários.

Um dos casos exemplares foi a concessão da Codesa, a estatal do Espírito Santo, privatizada em 2022. “Não participamos da disputa, pois achávamos, na época, que não valia a pena analisar o negócio. Depois nos arrependemos. A atividade está valendo bastante a pena”, afirma de Goeye.

Agora, a empresa está de olho nas concessões que o governo planeja fazer nos próximos anos. São 35 projetos previstos para ser concedidos à iniciativa privada entre 2024 e 2026, num total de R$ 14,5 bilhões (sem considerar o valor das outorgas).

Para participar dessas disputas, a Sertrading tem estudado os projetos e buscado parceiros com capacidade de investimentos para entrar nas concessões. “São investimentos muito altos, e queremos participar desses processos por meio de consórcios”, diz Sapata.

Infraestrutura logística

Outra forma de diversificação analisada é desenvolver infraestrutura logística para os clientes, como espaços de armazenamento. “Por exemplo, os automóveis, em especial, os elétricos, têm sido importados pelo Espírito Santo. Quando a Ford se tornou cliente há três anos, estudamos alugar pátios para colocar os carros trazidos para eles e investimos nesses ativos para atender a empresa e outras montadoras”, conta de Goeye. “O mesmo pode acontecer em outros setores, com a gente administrando armazéns em determinados terminais e portos. Estamos estudando investir em ativos fixos, o que não era muito a nossa praia.”

No ano passado, a empresa investiu R$ 20 milhões em um centro automotivo próprio no porto de Espírito Santo, com capacidade de movimentar cerca de 50 mil veículos por ano. Em 2022, chegaram pelo porto local 65 mil veículos, dos quais 30 mil foram importados pela Sertrading.

Centro automotivo da Sertrading no Espírito Santo Foto: Bera Midia

Mais crescimento

O crescimento acelerado da empresa tem relação com os ventos favoráveis para importações durante a pandemia da covid-19. Na época, apesar das dificuldades de gargalos logísticos pelo mundo, houve um crescimento forte de consumo por meio digitais. Além disso, também houve aumento de investimentos graças ao excesso de liquidez de recursos, disparado pelas ajudas financeiras feitas por governos para salvar as suas economias do isolamento social.

“A empresa acaba sendo uma espécie de termômetro da economia, por que, como a gente importa para grandes clientes e em diversos setores, nosso volume de negócios cresce ou não, espelhando um pouco o que está acontecendo pela economia”, diz de Goeye. “A pandemia estrangulou todos os ciclos produtivos no mundo inteiro, e ali a gente se colocou como capazes de ajudar as empresas.”

Todo o processo burocrático de comércio exterior costuma ser bastante complexo para empresas não especializadas, diz Sapata. “Não é da especialidade do cliente pensar nas questões logísticas, de planejamento tributário e de relações comerciais”, diz. A Sertrading também aproveita de seu porte para participar da transação financeira das operações, fazendo as compras internacionais com ativos do próprio balanço.

“De 2020 para cá, o Brasil deixou um momento econômico complicado, o que permitiu que a gente crescesse bastante. Tivemos eficiência para capturar valor nessa cadeia”, afirma de Goeye. “Nossa percepção agora é que a economia vai bem, apesar das questões fiscais e das falas mais problemáticas do governo. Os balanços das empresas foram bons.”

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