Startups de ‘carros voadores’ enfrentam dificuldades financeiras, e setor passa por consolidação


Enquanto empresas alemãs não conseguem levantar recursos para continuar o desenvolvimento de programas caros e certificar as aeronaves, americanas avançam; confira situação de cada companhia

Por Luciana Dyniewicz
Atualização:

Uma das apostas do setor aéreo para reduzir suas emissões de carbono, o segmento de “carros voadores” dá sinais de que entrou em fase de consolidação. Sem recursos para dar continuidade a seus projetos bilionários, startups que vinham desenvolvendo eVTOLs (sigla em inglês para veículos elétricos de pouso e decolagem vertical, como são chamadas oficialmente as aeronaves) tiveram de abrir processo por insolvência ou solicitar proteção da Justiça contra credores.

“Estamos testemunhando um certo grau de consolidação, no qual apenas um pequeno número de empresas realmente críveis permanece no mercado”, diz o diretor de tecnologia da inglesa Vertical Aerospace, Michael Cervenka. No ano passado, a própria Vertical precisou levantar recursos no mercado para afastar uma crise de liquidez e seu fundador, Stephen Fitzpatrick, acabou cedendo o controle da companhia para garantir o resgate financeiro.

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Há quatro anos, a Vertical e outras empresas do segmento atraíram bilhões de dólares com a promessa de revolucionar o transporte aéreo ao produzir aeronaves com motores elétricos, que reduziriam o barulho na comparação com os helicópteros e cortariam a emissão de poluentes. Também tornariam esse modelo de transporte mais barato, pois os “carros voadores” teriam custos de manutenção inferiores. Agora, no entanto, parte das companhias pena diante das dificuldades de levantar mais recursos para desenvolver programas caros e de certificar as aeronaves com as autoridades regulatórias.

A disputa para colocar o “carro voador” em operação começou com mais de cem empresas em todo o mundo. Em 2021, algumas delas despontaram como prováveis vencedoras dessa corrida ao fazerem fusões com Spacs (companhias que primeiro abrem capital na Bolsa para, depois, buscar um projeto para investir).

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Protótipo do 'carro voador' da Lilium em teste na Andaluzia; tida como promissora, empresa enfrenta recuperação judicial Foto: Lilium/Divulgação

À época, a leitura dos especialistas no setor aéreo era que o desenvolvimento da aeronave demandaria bilhões de dólares e os projetos que levantassem mais recursos (fosse via Spacs ou outro modelo de transação) teriam mais chance de saírem vencedores. Houve startup que chegou a conseguir US$ 1,6 bilhão, mas, para algumas – que queimaram caixa a um ritmo acelerado –, o valor não foi suficiente, e o dinheiro acabou antes de aeronave ser comercializada.

Confira a situação das principais desenvolvedoras de eVTOL:

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Lilium

A alemã Lilium foi apontada, em 2021, pela Lufthansa e pela consultoria Roland Berger, como uma das mais promissoras do segmento. No fim do ano passado, porém, ela pediu à Justiça da Alemanha o equivalente à recuperação judicial do Brasil. A solicitação foi feita após a companhia não conseguir financiamento do banco de desenvolvimento alemão, KfW.

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Após pedir recuperação judicial, a Lilium assinou um acordo para vender seus ativos para a Mobile Uplift Corporation, uma empresa criada por um consórcio de investidores. O negócio deveria ter sido concluído no mês passado, mas ainda não foi fechado. A expectativa é que ele garanta investimentos para as operações serem retomadas. Procurada, a Mobile Uplift afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não poderia dar entrevistas.

A startup, cujos papéis deixaram de ser negociados na Nasdaq em novembro, prometia realizar seu primeiro voo tripulado em breve. Ela tinha pedidos fechados e assinado memorandos de entendimento para a venda de cerca de 790 aeronaves. Seus dois primeiros eVTOLs estavam em fase de montagem.

Volocopter

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Outra alemã, a Volocopter também apresentou, nos últimos dias de 2024, um pedido de abertura de processo de insolvência à Justiça da Alemanha após não conseguir um empréstimo com o governo alemão e o da Baviera. Fundada em 2011, a companhia desenvolve um eVTOL com apenas dois assentos. Isso é visto negativamente pelo mercado, dado que o custo do voo por passageiro deve ser mais caro que o das concorrentes, cujas aeronaves terão capacidade para quatro ou seis passageiros.

A startup prometia entrar em operação ainda neste ano, mas já não vinha cumprindo seus prazos. Foi ela quem anunciou que forneceria serviço de táxi aéreo sobre Paris durante as Olimpíadas de 2024. Não conseguiu e acabou fazendo apenas voos demonstração sobre o Palácio de Versalhes. Ao Estadão, a assessoria de imprensa da Volocopter afirmou não tem dado entrevistas por estar sob administração externa.

Vertical

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Ainda na Europa, a inglesa Vertical conseguiu, recentemente, sobreviver a uma crise financeira. No fim de janeiro, ela anunciou ter levantado US$ 90 milhões no mercado, sendo US$ 25 milhões com a Mudrick Capital (seu principal credor). A empresa também converteu US$ 130 milhões de dívidas em ações.

Com o acordo, o fundador da startup, Stephen Fitzpatrick, teve de ceder o controle da Vertical. A Mudrick, americana que investe em empresas em dificuldades financeiras, passou a ser a principal acionista da companhia. “Sempre soubemos que precisaríamos levantar recursos adicionais”, diz o diretor de tecnologia da Vertical, Michael Cervenka. “Foi importante termos reestruturado o balanço patrimonial, ajustando parte das dívidas e realmente nos posicionado para conseguir captar mais recursos no futuro.”

De acordo com o executivo, quando a Vertical fez uma fusão com uma Spac, em 2021, levantou apenas US$ 300 milhões. À época, houve desenvolvedoras de eVTOLs que conseguiram mais de US$ 1 bilhão. Esse volume inicial baixo de recursos, diz Cervenka, criou a necessidade de buscar mais capital agora.

A inglesa promete realizar voos pilotados e construir seu terceiro protótipo neste ano. A meta da empresa é conseguir a certificação da aeronave em 2028. Em 2021, porém, ela, a Lilium e as americanas Joby e Archer prometiam entregar os primeiros eVTOLs em 2024.

A Vertical já recebeu pré-encomendas para 1.500 aeronaves. Entre seus clientes estão Gol, American Airlines e Japan Airlines, entre outras.

'Carro voador'

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Lilium

Foto: Lilium
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Foto: Archer/Divulgação
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Archer

Foto: Garrett King

Eve

Subsidiária da brasileira Embraer, a Eve está no grupo de empresas de eVTOL com mais força para avançar na corrida para colocar a aeronave em operação. No ano passado, ela conseguiu US$ 179 milhões para o desenvolvimento de seu “carro voador” e para o fortalecimento do balanço. Também levantou US$ 88 milhões com o BNDES para financiar a instalação de sua fábrica em Taubaté (SP).

A companhia tem o maior número de pré-encomendas do setor, com cartas de intenção para 2.900 eVTOLs. A receita potencial com a venda dessas aeronaves é de US$ 14,5 bilhões. Em meados do ano passado, a empresa apresentou seu protótipo em tamanho real. Procurada, a Eve não quis dar entrevista.

Archer

Outra empresa que vem avançando, a americana Archer levantou US$ 1,1 bilhão no ano passado. A maior parte dos recursos (US$ 430 milhões), porém, será destinada ao desenvolvimento de uma aeronave híbrida – e não elétrica – de uso militar. Quando anunciou a parceria para investir na área de defesa, a Archer afirmou, por meio de nota, acreditar estar “bem posicionada, com um dos balanços patrimoniais mais fortes do setor, sem necessidades financeiras de curto prazo”.

A startup também conseguiu da Stellantis uma contribuição de até US$ 400 milhões para a fabricação dos eVTOLS. A Archer deverá produzir até 650 aeronaves por ano em uma planta no Estado americano da Geórgia. A promessa era que a unidade seria inaugurada em 2024, o que não ocorreu.

A companhia, que pretende iniciar as operações de seus “carros voadores” em Los Angeles até 2026, já tem US$ 6 bilhões em pedidos. Em janeiro, os analistas do J.P. Morgan que acompanham a empresa afirmaram que trabalham com a hipótese de a Archer capturar 10% do mercado de “carros voadores”, o que significaria US$ 7 bilhões em vendas.

Procurada pela reportagem, a empresa não respondeu os pedidos de entrevista.

Joby

Com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, a Joby foi apontada em janeiro como uma “líder emergente” no segmento de “carros voadores” pelos analistas do JP Morgan. Segundo eles, a empresa tem tido “progressos sólidos”, incluindo avanços no processo de certificação e em parcerias.

A Joby levantou US$ 702 milhões no ano passado. Desse total, US$ 202 milhões foram por meio de uma oferta pública de ações e US$ 500 milhões, injetados pela Toyota, cujos engenheiros também participam do desenvolvimento do “carro voador”. Segundo a empresa, os recursos devem ser usados no processo de certificação da aeronave, na produção comercial e como capital de giro.

Também no ano passado, a startup comprou uma instalação no Aeroporto Internacional de Dayton, no Estado de Ohio, onde pretende produzir até 500 eVTOLs por ano. A empresa já tinha uma linha de produção piloto na Califórnia.

A Joby é uma das empresas mais avançadas no processo de certificação da aeronave, tendo finalizado três das cinco etapas do programa de certificação de tipo da FAA (o equivalente nos EUA à Anac). Da quarta etapa desse processo, 40% foi concluído no fim do ano passado.

A empresa promete lançar seu serviço de táxi aéreo em Dubai no fim deste ano. Para isso, já iniciou a construção de vertipontos, como são chamados os locais onde os “carros voadores” deverão pousar.

A assessoria de imprensa da Joby informou que os porta-vozes da empresa não poderiam dar entrevista.

Uma das apostas do setor aéreo para reduzir suas emissões de carbono, o segmento de “carros voadores” dá sinais de que entrou em fase de consolidação. Sem recursos para dar continuidade a seus projetos bilionários, startups que vinham desenvolvendo eVTOLs (sigla em inglês para veículos elétricos de pouso e decolagem vertical, como são chamadas oficialmente as aeronaves) tiveram de abrir processo por insolvência ou solicitar proteção da Justiça contra credores.

“Estamos testemunhando um certo grau de consolidação, no qual apenas um pequeno número de empresas realmente críveis permanece no mercado”, diz o diretor de tecnologia da inglesa Vertical Aerospace, Michael Cervenka. No ano passado, a própria Vertical precisou levantar recursos no mercado para afastar uma crise de liquidez e seu fundador, Stephen Fitzpatrick, acabou cedendo o controle da companhia para garantir o resgate financeiro.

Há quatro anos, a Vertical e outras empresas do segmento atraíram bilhões de dólares com a promessa de revolucionar o transporte aéreo ao produzir aeronaves com motores elétricos, que reduziriam o barulho na comparação com os helicópteros e cortariam a emissão de poluentes. Também tornariam esse modelo de transporte mais barato, pois os “carros voadores” teriam custos de manutenção inferiores. Agora, no entanto, parte das companhias pena diante das dificuldades de levantar mais recursos para desenvolver programas caros e de certificar as aeronaves com as autoridades regulatórias.

A disputa para colocar o “carro voador” em operação começou com mais de cem empresas em todo o mundo. Em 2021, algumas delas despontaram como prováveis vencedoras dessa corrida ao fazerem fusões com Spacs (companhias que primeiro abrem capital na Bolsa para, depois, buscar um projeto para investir).

Protótipo do 'carro voador' da Lilium em teste na Andaluzia; tida como promissora, empresa enfrenta recuperação judicial Foto: Lilium/Divulgação

À época, a leitura dos especialistas no setor aéreo era que o desenvolvimento da aeronave demandaria bilhões de dólares e os projetos que levantassem mais recursos (fosse via Spacs ou outro modelo de transação) teriam mais chance de saírem vencedores. Houve startup que chegou a conseguir US$ 1,6 bilhão, mas, para algumas – que queimaram caixa a um ritmo acelerado –, o valor não foi suficiente, e o dinheiro acabou antes de aeronave ser comercializada.

Confira a situação das principais desenvolvedoras de eVTOL:

Lilium

A alemã Lilium foi apontada, em 2021, pela Lufthansa e pela consultoria Roland Berger, como uma das mais promissoras do segmento. No fim do ano passado, porém, ela pediu à Justiça da Alemanha o equivalente à recuperação judicial do Brasil. A solicitação foi feita após a companhia não conseguir financiamento do banco de desenvolvimento alemão, KfW.

Após pedir recuperação judicial, a Lilium assinou um acordo para vender seus ativos para a Mobile Uplift Corporation, uma empresa criada por um consórcio de investidores. O negócio deveria ter sido concluído no mês passado, mas ainda não foi fechado. A expectativa é que ele garanta investimentos para as operações serem retomadas. Procurada, a Mobile Uplift afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não poderia dar entrevistas.

A startup, cujos papéis deixaram de ser negociados na Nasdaq em novembro, prometia realizar seu primeiro voo tripulado em breve. Ela tinha pedidos fechados e assinado memorandos de entendimento para a venda de cerca de 790 aeronaves. Seus dois primeiros eVTOLs estavam em fase de montagem.

Volocopter

Outra alemã, a Volocopter também apresentou, nos últimos dias de 2024, um pedido de abertura de processo de insolvência à Justiça da Alemanha após não conseguir um empréstimo com o governo alemão e o da Baviera. Fundada em 2011, a companhia desenvolve um eVTOL com apenas dois assentos. Isso é visto negativamente pelo mercado, dado que o custo do voo por passageiro deve ser mais caro que o das concorrentes, cujas aeronaves terão capacidade para quatro ou seis passageiros.

A startup prometia entrar em operação ainda neste ano, mas já não vinha cumprindo seus prazos. Foi ela quem anunciou que forneceria serviço de táxi aéreo sobre Paris durante as Olimpíadas de 2024. Não conseguiu e acabou fazendo apenas voos demonstração sobre o Palácio de Versalhes. Ao Estadão, a assessoria de imprensa da Volocopter afirmou não tem dado entrevistas por estar sob administração externa.

Vertical

Ainda na Europa, a inglesa Vertical conseguiu, recentemente, sobreviver a uma crise financeira. No fim de janeiro, ela anunciou ter levantado US$ 90 milhões no mercado, sendo US$ 25 milhões com a Mudrick Capital (seu principal credor). A empresa também converteu US$ 130 milhões de dívidas em ações.

Com o acordo, o fundador da startup, Stephen Fitzpatrick, teve de ceder o controle da Vertical. A Mudrick, americana que investe em empresas em dificuldades financeiras, passou a ser a principal acionista da companhia. “Sempre soubemos que precisaríamos levantar recursos adicionais”, diz o diretor de tecnologia da Vertical, Michael Cervenka. “Foi importante termos reestruturado o balanço patrimonial, ajustando parte das dívidas e realmente nos posicionado para conseguir captar mais recursos no futuro.”

De acordo com o executivo, quando a Vertical fez uma fusão com uma Spac, em 2021, levantou apenas US$ 300 milhões. À época, houve desenvolvedoras de eVTOLs que conseguiram mais de US$ 1 bilhão. Esse volume inicial baixo de recursos, diz Cervenka, criou a necessidade de buscar mais capital agora.

A inglesa promete realizar voos pilotados e construir seu terceiro protótipo neste ano. A meta da empresa é conseguir a certificação da aeronave em 2028. Em 2021, porém, ela, a Lilium e as americanas Joby e Archer prometiam entregar os primeiros eVTOLs em 2024.

A Vertical já recebeu pré-encomendas para 1.500 aeronaves. Entre seus clientes estão Gol, American Airlines e Japan Airlines, entre outras.

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Archer

Foto: Garrett King

Eve

Subsidiária da brasileira Embraer, a Eve está no grupo de empresas de eVTOL com mais força para avançar na corrida para colocar a aeronave em operação. No ano passado, ela conseguiu US$ 179 milhões para o desenvolvimento de seu “carro voador” e para o fortalecimento do balanço. Também levantou US$ 88 milhões com o BNDES para financiar a instalação de sua fábrica em Taubaté (SP).

A companhia tem o maior número de pré-encomendas do setor, com cartas de intenção para 2.900 eVTOLs. A receita potencial com a venda dessas aeronaves é de US$ 14,5 bilhões. Em meados do ano passado, a empresa apresentou seu protótipo em tamanho real. Procurada, a Eve não quis dar entrevista.

Archer

Outra empresa que vem avançando, a americana Archer levantou US$ 1,1 bilhão no ano passado. A maior parte dos recursos (US$ 430 milhões), porém, será destinada ao desenvolvimento de uma aeronave híbrida – e não elétrica – de uso militar. Quando anunciou a parceria para investir na área de defesa, a Archer afirmou, por meio de nota, acreditar estar “bem posicionada, com um dos balanços patrimoniais mais fortes do setor, sem necessidades financeiras de curto prazo”.

A startup também conseguiu da Stellantis uma contribuição de até US$ 400 milhões para a fabricação dos eVTOLS. A Archer deverá produzir até 650 aeronaves por ano em uma planta no Estado americano da Geórgia. A promessa era que a unidade seria inaugurada em 2024, o que não ocorreu.

A companhia, que pretende iniciar as operações de seus “carros voadores” em Los Angeles até 2026, já tem US$ 6 bilhões em pedidos. Em janeiro, os analistas do J.P. Morgan que acompanham a empresa afirmaram que trabalham com a hipótese de a Archer capturar 10% do mercado de “carros voadores”, o que significaria US$ 7 bilhões em vendas.

Procurada pela reportagem, a empresa não respondeu os pedidos de entrevista.

Joby

Com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, a Joby foi apontada em janeiro como uma “líder emergente” no segmento de “carros voadores” pelos analistas do JP Morgan. Segundo eles, a empresa tem tido “progressos sólidos”, incluindo avanços no processo de certificação e em parcerias.

A Joby levantou US$ 702 milhões no ano passado. Desse total, US$ 202 milhões foram por meio de uma oferta pública de ações e US$ 500 milhões, injetados pela Toyota, cujos engenheiros também participam do desenvolvimento do “carro voador”. Segundo a empresa, os recursos devem ser usados no processo de certificação da aeronave, na produção comercial e como capital de giro.

Também no ano passado, a startup comprou uma instalação no Aeroporto Internacional de Dayton, no Estado de Ohio, onde pretende produzir até 500 eVTOLs por ano. A empresa já tinha uma linha de produção piloto na Califórnia.

A Joby é uma das empresas mais avançadas no processo de certificação da aeronave, tendo finalizado três das cinco etapas do programa de certificação de tipo da FAA (o equivalente nos EUA à Anac). Da quarta etapa desse processo, 40% foi concluído no fim do ano passado.

A empresa promete lançar seu serviço de táxi aéreo em Dubai no fim deste ano. Para isso, já iniciou a construção de vertipontos, como são chamados os locais onde os “carros voadores” deverão pousar.

A assessoria de imprensa da Joby informou que os porta-vozes da empresa não poderiam dar entrevista.

Uma das apostas do setor aéreo para reduzir suas emissões de carbono, o segmento de “carros voadores” dá sinais de que entrou em fase de consolidação. Sem recursos para dar continuidade a seus projetos bilionários, startups que vinham desenvolvendo eVTOLs (sigla em inglês para veículos elétricos de pouso e decolagem vertical, como são chamadas oficialmente as aeronaves) tiveram de abrir processo por insolvência ou solicitar proteção da Justiça contra credores.

“Estamos testemunhando um certo grau de consolidação, no qual apenas um pequeno número de empresas realmente críveis permanece no mercado”, diz o diretor de tecnologia da inglesa Vertical Aerospace, Michael Cervenka. No ano passado, a própria Vertical precisou levantar recursos no mercado para afastar uma crise de liquidez e seu fundador, Stephen Fitzpatrick, acabou cedendo o controle da companhia para garantir o resgate financeiro.

Há quatro anos, a Vertical e outras empresas do segmento atraíram bilhões de dólares com a promessa de revolucionar o transporte aéreo ao produzir aeronaves com motores elétricos, que reduziriam o barulho na comparação com os helicópteros e cortariam a emissão de poluentes. Também tornariam esse modelo de transporte mais barato, pois os “carros voadores” teriam custos de manutenção inferiores. Agora, no entanto, parte das companhias pena diante das dificuldades de levantar mais recursos para desenvolver programas caros e de certificar as aeronaves com as autoridades regulatórias.

A disputa para colocar o “carro voador” em operação começou com mais de cem empresas em todo o mundo. Em 2021, algumas delas despontaram como prováveis vencedoras dessa corrida ao fazerem fusões com Spacs (companhias que primeiro abrem capital na Bolsa para, depois, buscar um projeto para investir).

Protótipo do 'carro voador' da Lilium em teste na Andaluzia; tida como promissora, empresa enfrenta recuperação judicial Foto: Lilium/Divulgação

À época, a leitura dos especialistas no setor aéreo era que o desenvolvimento da aeronave demandaria bilhões de dólares e os projetos que levantassem mais recursos (fosse via Spacs ou outro modelo de transação) teriam mais chance de saírem vencedores. Houve startup que chegou a conseguir US$ 1,6 bilhão, mas, para algumas – que queimaram caixa a um ritmo acelerado –, o valor não foi suficiente, e o dinheiro acabou antes de aeronave ser comercializada.

Confira a situação das principais desenvolvedoras de eVTOL:

Lilium

A alemã Lilium foi apontada, em 2021, pela Lufthansa e pela consultoria Roland Berger, como uma das mais promissoras do segmento. No fim do ano passado, porém, ela pediu à Justiça da Alemanha o equivalente à recuperação judicial do Brasil. A solicitação foi feita após a companhia não conseguir financiamento do banco de desenvolvimento alemão, KfW.

Após pedir recuperação judicial, a Lilium assinou um acordo para vender seus ativos para a Mobile Uplift Corporation, uma empresa criada por um consórcio de investidores. O negócio deveria ter sido concluído no mês passado, mas ainda não foi fechado. A expectativa é que ele garanta investimentos para as operações serem retomadas. Procurada, a Mobile Uplift afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que não poderia dar entrevistas.

A startup, cujos papéis deixaram de ser negociados na Nasdaq em novembro, prometia realizar seu primeiro voo tripulado em breve. Ela tinha pedidos fechados e assinado memorandos de entendimento para a venda de cerca de 790 aeronaves. Seus dois primeiros eVTOLs estavam em fase de montagem.

Volocopter

Outra alemã, a Volocopter também apresentou, nos últimos dias de 2024, um pedido de abertura de processo de insolvência à Justiça da Alemanha após não conseguir um empréstimo com o governo alemão e o da Baviera. Fundada em 2011, a companhia desenvolve um eVTOL com apenas dois assentos. Isso é visto negativamente pelo mercado, dado que o custo do voo por passageiro deve ser mais caro que o das concorrentes, cujas aeronaves terão capacidade para quatro ou seis passageiros.

A startup prometia entrar em operação ainda neste ano, mas já não vinha cumprindo seus prazos. Foi ela quem anunciou que forneceria serviço de táxi aéreo sobre Paris durante as Olimpíadas de 2024. Não conseguiu e acabou fazendo apenas voos demonstração sobre o Palácio de Versalhes. Ao Estadão, a assessoria de imprensa da Volocopter afirmou não tem dado entrevistas por estar sob administração externa.

Vertical

Ainda na Europa, a inglesa Vertical conseguiu, recentemente, sobreviver a uma crise financeira. No fim de janeiro, ela anunciou ter levantado US$ 90 milhões no mercado, sendo US$ 25 milhões com a Mudrick Capital (seu principal credor). A empresa também converteu US$ 130 milhões de dívidas em ações.

Com o acordo, o fundador da startup, Stephen Fitzpatrick, teve de ceder o controle da Vertical. A Mudrick, americana que investe em empresas em dificuldades financeiras, passou a ser a principal acionista da companhia. “Sempre soubemos que precisaríamos levantar recursos adicionais”, diz o diretor de tecnologia da Vertical, Michael Cervenka. “Foi importante termos reestruturado o balanço patrimonial, ajustando parte das dívidas e realmente nos posicionado para conseguir captar mais recursos no futuro.”

De acordo com o executivo, quando a Vertical fez uma fusão com uma Spac, em 2021, levantou apenas US$ 300 milhões. À época, houve desenvolvedoras de eVTOLs que conseguiram mais de US$ 1 bilhão. Esse volume inicial baixo de recursos, diz Cervenka, criou a necessidade de buscar mais capital agora.

A inglesa promete realizar voos pilotados e construir seu terceiro protótipo neste ano. A meta da empresa é conseguir a certificação da aeronave em 2028. Em 2021, porém, ela, a Lilium e as americanas Joby e Archer prometiam entregar os primeiros eVTOLs em 2024.

A Vertical já recebeu pré-encomendas para 1.500 aeronaves. Entre seus clientes estão Gol, American Airlines e Japan Airlines, entre outras.

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Subsidiária da brasileira Embraer, a Eve está no grupo de empresas de eVTOL com mais força para avançar na corrida para colocar a aeronave em operação. No ano passado, ela conseguiu US$ 179 milhões para o desenvolvimento de seu “carro voador” e para o fortalecimento do balanço. Também levantou US$ 88 milhões com o BNDES para financiar a instalação de sua fábrica em Taubaté (SP).

A companhia tem o maior número de pré-encomendas do setor, com cartas de intenção para 2.900 eVTOLs. A receita potencial com a venda dessas aeronaves é de US$ 14,5 bilhões. Em meados do ano passado, a empresa apresentou seu protótipo em tamanho real. Procurada, a Eve não quis dar entrevista.

Archer

Outra empresa que vem avançando, a americana Archer levantou US$ 1,1 bilhão no ano passado. A maior parte dos recursos (US$ 430 milhões), porém, será destinada ao desenvolvimento de uma aeronave híbrida – e não elétrica – de uso militar. Quando anunciou a parceria para investir na área de defesa, a Archer afirmou, por meio de nota, acreditar estar “bem posicionada, com um dos balanços patrimoniais mais fortes do setor, sem necessidades financeiras de curto prazo”.

A startup também conseguiu da Stellantis uma contribuição de até US$ 400 milhões para a fabricação dos eVTOLS. A Archer deverá produzir até 650 aeronaves por ano em uma planta no Estado americano da Geórgia. A promessa era que a unidade seria inaugurada em 2024, o que não ocorreu.

A companhia, que pretende iniciar as operações de seus “carros voadores” em Los Angeles até 2026, já tem US$ 6 bilhões em pedidos. Em janeiro, os analistas do J.P. Morgan que acompanham a empresa afirmaram que trabalham com a hipótese de a Archer capturar 10% do mercado de “carros voadores”, o que significaria US$ 7 bilhões em vendas.

Procurada pela reportagem, a empresa não respondeu os pedidos de entrevista.

Joby

Com sede na Califórnia, nos Estados Unidos, a Joby foi apontada em janeiro como uma “líder emergente” no segmento de “carros voadores” pelos analistas do JP Morgan. Segundo eles, a empresa tem tido “progressos sólidos”, incluindo avanços no processo de certificação e em parcerias.

A Joby levantou US$ 702 milhões no ano passado. Desse total, US$ 202 milhões foram por meio de uma oferta pública de ações e US$ 500 milhões, injetados pela Toyota, cujos engenheiros também participam do desenvolvimento do “carro voador”. Segundo a empresa, os recursos devem ser usados no processo de certificação da aeronave, na produção comercial e como capital de giro.

Também no ano passado, a startup comprou uma instalação no Aeroporto Internacional de Dayton, no Estado de Ohio, onde pretende produzir até 500 eVTOLs por ano. A empresa já tinha uma linha de produção piloto na Califórnia.

A Joby é uma das empresas mais avançadas no processo de certificação da aeronave, tendo finalizado três das cinco etapas do programa de certificação de tipo da FAA (o equivalente nos EUA à Anac). Da quarta etapa desse processo, 40% foi concluído no fim do ano passado.

A empresa promete lançar seu serviço de táxi aéreo em Dubai no fim deste ano. Para isso, já iniciou a construção de vertipontos, como são chamados os locais onde os “carros voadores” deverão pousar.

A assessoria de imprensa da Joby informou que os porta-vozes da empresa não poderiam dar entrevista.

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