Maior produtora de celulose de fibra curta do mundo, a Suzano vem expandindo sua atuação no varejo. Nesta quinta-feira, 1º, a empresa assumiu a operação de papéis tissue (segmento que inclui papel higiênico, lenços e papel toalha) da americana Kimberly-Clark no Brasil, ampliando sua capacidade de produção em 87%. A aquisição de US$ 175 milhões (cerca de R$ 880 milhões) inclui uma fábrica em Mogi das Cruzes (SP), as marcas Neve e Grand Hotel e a licença para uso por tempo determinado das marcas Kleenex e Duramax.
Com o compra, a Suzano, que entrou nesse segmento em 2017, passa a ser a líder do mercado, detendo 24,3%. “O negócio de bens de consumo começou como uma startup dentro da Suzano. A gente começou de um Powerpoint em 2017. Não tínhamos marca nem canal de distribuição. (Agora) assumiremos a liderança do mercado, com 24,3%. Ainda é um negócio menor comparado aos demais, mas o que a gente construiu é um feito bastante celebrado”, diz o diretor de bens de consumo da empresa, Luís Bueno.
A aposta da Suzano é crescer nesse mercado conforme o saneamento básico avançar no Brasil e também de acordo com o aumento do consumo de produtos premium.
Confira, a seguir, trechos da entrevista.
A Suzano começou a apostar em bens de consumo há pouco mais de cinco anos e agora está quase dobrando a capacidade em tissue. Qual o potencial desse mercado?
O mercado brasileiro tem dois vetores de crescimento. O primeiro é o consumo per capita. O Brasil tem um consumo per capita de 6 quilos por habitante/ano. É muito baixo quando a gente compara com países próximos, como Chile, onde é 14,5 Kg, e absolutamente menor quando a gente compara com os Estados Unidos, onde são 26 kg, ou a Europa, com 25 kg. Então, aqui existe uma oportunidade enorme de um maior consumo das categorias tissue. A maior categoria é papel higiênico. Mas a gente tem outras três que são pouco utilizadas ainda no Brasil: papel toalha, guardanapo e lenços. Esse primeiro vetor de crescimento é muito puxado pelo aumento do PIB per capita brasileiro e também por investimentos em saneamento. O segundo vetor é a qualidade. Se você analisar os últimos 15 anos, a principal categoria de papel higiênico no Brasil era de papéis de folhas simples. Nesses últimos 15 anos, ininterruptamente, estamos vendo uma migração de papéis de folha simples para papéis de folha dupla e, nos últimos cinco anos, para folha tripla. A gente acredita que esse movimento continuará nos próximos anos.
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As marcas da Suzano e da Kimberly-Clark não vão se sobrepor?
Neve é uma marca nacional, é a principal no País. Nós também desenvolvemos duas marcas nacionais, a Mimmo, para o varejo, e a Max, para o “cash & carry” (segmento voltado principalmente para empresas). Elas também são marcas nacionais. O que vemos como uma das oportunidades é a complementaridade de portfólio. As marcas da KC são premium e carregam um prêmio de preço versus a média de mercado, e as nossas marcas estão precificadas na média de mercado. A gente pretende manter a estratégia de preço de Neve e, com isso, oferecer aos nossos clientes no Brasil soluções para todos os bolsos e desejos.
Quanto que vai crescer a capacidade total de produção?
Temos 150 mil toneladas de capacidade instalada hoje espalhadas em cinco plantas: Belém (PA), Maracanaú (CE), Imperatriz (MA), Mucuri (BA) e Cachoeiro de Itapemirim (ES). Agora, a gente agrega mais uma sexta planta, que é a da KC em Mogi das Cruzes, com 130 mil toneladas. Vamos para 280 mil toneladas de capacidade instalada no Brasil inteiro, o que permitirá o segundo benefício dessa aquisição, que é a complementaridade geográfica. Poderemos atender os nossos clientes de uma maneira mais ágil e mais rápida. A gente sempre vai ter uma planta perto do nosso cliente. Com isso, vamos melhorar o nível de serviço e reduzir o custo de frete.
O negócio de tissue poderia mitigar os efeitos de flutuação do preço da celulose ou ele ainda é muito pequeno quando comparado ao grupo todo?
A Suzano tomou a decisão, seis anos atrás, de criar mais uma avenida de expansão de negócios com a entrada em bens de consumo. Já tínhamos o negócio de celulose e o de papel de embalagens. São negócios em que a Suzano investe há décadas. O negócio de bens de consumo começou como uma startup dentro da Suzano. A gente começou de um Powerpoint em 2017. Não tínhamos marca nem canal de distribuição. Tínhamos pouca experiência nesse mercado e, nos últimos cinco anos, saímos de um PowerPoint para assumir a liderança no mercado nacional de tissue. Somando a participação de mercado da Suzano e da KC, em valor, assumiremos a liderança do mercado com 24,3%. Sim, ainda é um negócio menor comparado aos demais. Mas, se a gente olhar para trás, o que a gente construiu é um feito bastante celebrado. O foco da empresa vai estar, nos próximos trimestres, na integração de processos e de sistemas, para que a gente possa capturar os benefícios da aquisição.
Mas o segmento de tissue já pode ajudar a mitigar a flutuação de preço da celulose?
Ainda tem um peso pequeno. A gente tem uma capacidade de mais de 10,5 milhões de toneladas de celulose, que são exportadas para 100 países, e uma capacidade de tissue de 280 mil toneladas. São magnitudes diferentes, muito embora o preço por tonelada de um produto acabado seja muito maior do que o preço da tonelada de celulose. Mas, por enquanto, ainda não é suficiente para mitigar a volatilidade. A ideia é usar esse negócio para criar uma nova avenida de crescimento e dar um passo de cada vez.
Há intenção de fazer novas aquisições ou a ideia é continuar crescendo organicamente?
A gente não comenta sobre potenciais aquisições. O nosso foco agora está inteiramente na integração. Conforme a gente integrar e capturar valor, vamos pensar no próximo passo.
Tem possibilidade de trabalhar esse segmento no mercado internacional? Porque aí vocês concorreriam com empresas das quais vocês hoje são fornecedoras.
Não temos nenhuma definição sobre o próximo passo. O foco está totalmente na integração. Agora, esse modelo de haver empresas de celulose com negócios de consumo já existe no mundo.
Quais serão os principais desafios da integração?
São os desafios tradicionais de uma integração: garantir que a gente consiga aproveitar o que há de melhor em cada empresa, principalmente nos processos, sistemas e culturas. Garantir que a gente produza um resultado que gere um valor maior do que as empresas geram de forma independente.
A Suzano começou a entrar em bens de consumo há relativamente pouco tempo. Como tem sido a experiência?
A gente tem aprendido muito com a criação de um novo negócio dentro de uma grande empresa. Por exemplo, quando você nasce pequeno dentro de uma grande empresa que tem negócios maduros, você precisa blindar esse novo negócio para que ele possa ter autonomia e velocidade para poder crescer. Você não pode deixar toda a burocracia ou os processos maduros de uma empresa enorme serem colocados numa startup. A Suzano é um negócio de capex (investimentos de longo prazo) intensivo. A dinâmica de bens de consumo é muito diferente. Então você tem modelos de gestão que são diferentes. O que a gente aprendeu é que é preciso dar autonomia para esses negócios para que eles possam ter a sua dinâmica. Isso respeitando princípios e parâmetros do grupo.