Tok&Stok: para CEO da Mobly, ‘carta dos Dubrule só serviu para gerar volatilidade nas ações’


A união ganhou um novo capítulo, com os fundadores da varejista tendo feito uma proposta de adquirir a nova empresa pela metade do valor, que Victor Noda definiu como ‘irresponsável’

Por Cristiane Barbieri
Victor Noda, fundador e CEO da Mobly

Foto: Matheus Albuquerque. Foto: Matheus AlbuquerqueFoto: Matheus Albuquerque
Entrevista com Victor NodaCEO e cofundador da Mobly

Em mais uma reviravolta, a novela da união entre Mobly e Tok&Stok teve mais um capítulo, desta vez em plena sexta-feira de carnaval. Os fundadores Tok&Stok, a família Dubrule, entregaram uma carta na qual propuseram adquirir a nova empresa pagando metade do valor de mercado — o equivalente a cerca de R$ 83 milhões. Impuseram outras exigências para fazer uma oferta efetiva: queriam ter quase 70% do negócio, também que a cláusula de poison pill (que impede compras hostis) fosse retirada e que o acordo com os bancos credores da recuperação extrajudicial (que estendeu o pagamento da dívida para o ano que vem) fosse mantido.

Victor Noda, CEO e cofundador da Mobly, classifica a proposta como irresponsável. “O efeito da carta dos Dubrule foi apenas gerar volatilidade no mercado, insegurança nos investidores e, de fato, ter impacto no preço das ações”, diz ele. Os papéis da empresa recuaram 2,88% até as 16h40 desta quarta-feira, 5, primeiro dia de operação na Bolsa pós-carnaval, e eram avaliados a R$ 1,35. “Se, de fato, se configurar como manipulação de mercado, certamente a gente vai procurar os direitos da empresa”, afirmou.

Para ele, a execução dos planos de sinergia entre Mobly e Tok&Stok continua forte e os resultados podem ser antecipados, como diz na entrevista a seguir:

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Como a Mobly recebeu a proposta dos Dubrule?

Com surpresa mas, o primeiro ponto, para deixar bem claro, é que não é uma proposta. Eles mandaram uma carta na qual dizem que, potencialmente, farão uma proposta daqui a 45 dias, sem formalizar ou se comprometer a nada e com o objetivo de pagar pelos papéis da empresa metade do valor da cotação atual. Na prática, o efeito da carta dos Dubrule foi apenas gerar volatilidade no mercado, insegurança nos investidores e, de fato, ter impacto no preço das ações. O que eles falaram chega a ser irresponsável. Eles, inclusive, deixam bastante explícito que não se comprometem com potenciais impactos que a iniciativa deles possa ter e nem de fazer uma proposta formal lá na frente. Na nossa visão, foi um negócio pouco sério da parte deles.

CEO da Mobly vê 'artifícios para retomar o controle da Tok&Stok sem pagar o devido valor para o acionista controlador' Foto: Taba Benedicto/Estadão
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Qual a leitura dos srs. sobre as outras condições oferecidas?

O preço que eles ofereceriam pelas ações não tem nenhuma relação com o histórico, que nunca ficou abaixo do que está agora, ou com o valor patrimonial da empresa. É um preço bastante desconexo. Eles ainda mencionam na carta que têm algumas condições para fazer essa oferta. Uma delas é conseguir comprar, no mínimo, 69% da participação da empresa, o que é inviável porque 40% dos acionistas já se manifestaram formalmente contrários a essa oferta. Por que alguém iria aceitar uma proposta pela metade do valor da companhia? Eles também querem que a empresa abra mão da poison pill, criada justamente para evitar esse tipo de situação. Também querem ter o waiver (concordância) dos bancos que fizeram parte do acordo de recuperação extrajudicial. Nossa visão é de que a carta foi irresponsável porque o efeito prático é só gerar volatilidade.

Cabe um processo nesse caso?

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Estamos estudando o que fazer. Se, de fato, se configurar como manipulação de mercado, certamente a gente vai procurar os direitos da empresa. Mas está cedo pra gente tomar qualquer decisão.

Os resultados da empresa já mostrarão os ganhos após a união entre Mobly e Tok&Stok?

Sim. Não posso entrar em detalhes porque estamos em período de silêncio por conta da divulgação de resultados. Mas posso dizer que nossos planos de captura da sinergia estão a todo vapor e indo mais rápido e mais fortes do que o divulgado originalmente lá atrás. Hoje as empresas estão operando como uma só, os times já estão unificados e estamos fazendo um movimento muito rápido para juntar a operação logística num único centro de distribuição. Fechamos o escritório atual e estamos juntando todo mundo num escritório que vai ser em cima de uma das lojas da Tok&Stok. Estamos trazendo uma economia grande com custo fixo. Isso já vai estar refletido nos resultados do primeiro trimestre, com apenas três meses da nova gestão.

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Os Dubrule falam que a empresa continua queimando caixa…

Está queimando caixa, mas tanto a Tok&Stok quanto a Mobly já estavam. Até que a gente consiga capturar essas sinergias, vão continuar queimando caixa. Isso já fazia parte do plano de recuperação extrajudicial e era conhecido por todo mundo. A nossa expectativa é de que, a partir do segundo semestre, as empresas passem a gerar caixa. Se tudo der certo, a gente consegue até antecipar os planos de captura de sinergia. A Tok&Stok, com a dívida que tinha, já seria completamente inviável já a partir de janeiro de 2025. A empresa que era gerida por eles. Quando a gente veio, conseguimos tanto uma renegociação da dívida para ter tempo de capturar as sinergias, quanto abrimos essa porta de captura de sinergias, que traz as duas empresas combinadas para um patamar de rentabilidade muito melhor. Na prática, o que a gente vê, tudo o que eles têm feito, desde o ano passado, são movimentos para tentar recuperar o controle de uma empresa que eles venderam lá atrás e ganharam muito dinheiro com isso. Eles estão tentando achar artifícios para retomar esse controle sem pagar o devido valor para o acionista controlador, que antes era a (gestora) SPX e agora é a Mobly. Eles tiveram inúmeras chances de colocar uma oferta na mesa para o acionista controlador vender para eles, mas em nenhum momento quiseram fazer isso. Eles sempre tentaram fazer de formas heterodoxas essa retomada do controle, e a gente entende que esse é mais um movimento nesse sentido.

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A carta dos Dubrule muda algo nesse plano?

Nada muda. A gente está bastante confiante com o plano que estamos fazendo, e vamos seguir implementando.

Em mais uma reviravolta, a novela da união entre Mobly e Tok&Stok teve mais um capítulo, desta vez em plena sexta-feira de carnaval. Os fundadores Tok&Stok, a família Dubrule, entregaram uma carta na qual propuseram adquirir a nova empresa pagando metade do valor de mercado — o equivalente a cerca de R$ 83 milhões. Impuseram outras exigências para fazer uma oferta efetiva: queriam ter quase 70% do negócio, também que a cláusula de poison pill (que impede compras hostis) fosse retirada e que o acordo com os bancos credores da recuperação extrajudicial (que estendeu o pagamento da dívida para o ano que vem) fosse mantido.

Victor Noda, CEO e cofundador da Mobly, classifica a proposta como irresponsável. “O efeito da carta dos Dubrule foi apenas gerar volatilidade no mercado, insegurança nos investidores e, de fato, ter impacto no preço das ações”, diz ele. Os papéis da empresa recuaram 2,88% até as 16h40 desta quarta-feira, 5, primeiro dia de operação na Bolsa pós-carnaval, e eram avaliados a R$ 1,35. “Se, de fato, se configurar como manipulação de mercado, certamente a gente vai procurar os direitos da empresa”, afirmou.

Para ele, a execução dos planos de sinergia entre Mobly e Tok&Stok continua forte e os resultados podem ser antecipados, como diz na entrevista a seguir:

Como a Mobly recebeu a proposta dos Dubrule?

Com surpresa mas, o primeiro ponto, para deixar bem claro, é que não é uma proposta. Eles mandaram uma carta na qual dizem que, potencialmente, farão uma proposta daqui a 45 dias, sem formalizar ou se comprometer a nada e com o objetivo de pagar pelos papéis da empresa metade do valor da cotação atual. Na prática, o efeito da carta dos Dubrule foi apenas gerar volatilidade no mercado, insegurança nos investidores e, de fato, ter impacto no preço das ações. O que eles falaram chega a ser irresponsável. Eles, inclusive, deixam bastante explícito que não se comprometem com potenciais impactos que a iniciativa deles possa ter e nem de fazer uma proposta formal lá na frente. Na nossa visão, foi um negócio pouco sério da parte deles.

CEO da Mobly vê 'artifícios para retomar o controle da Tok&Stok sem pagar o devido valor para o acionista controlador' Foto: Taba Benedicto/Estadão

Qual a leitura dos srs. sobre as outras condições oferecidas?

O preço que eles ofereceriam pelas ações não tem nenhuma relação com o histórico, que nunca ficou abaixo do que está agora, ou com o valor patrimonial da empresa. É um preço bastante desconexo. Eles ainda mencionam na carta que têm algumas condições para fazer essa oferta. Uma delas é conseguir comprar, no mínimo, 69% da participação da empresa, o que é inviável porque 40% dos acionistas já se manifestaram formalmente contrários a essa oferta. Por que alguém iria aceitar uma proposta pela metade do valor da companhia? Eles também querem que a empresa abra mão da poison pill, criada justamente para evitar esse tipo de situação. Também querem ter o waiver (concordância) dos bancos que fizeram parte do acordo de recuperação extrajudicial. Nossa visão é de que a carta foi irresponsável porque o efeito prático é só gerar volatilidade.

Cabe um processo nesse caso?

Estamos estudando o que fazer. Se, de fato, se configurar como manipulação de mercado, certamente a gente vai procurar os direitos da empresa. Mas está cedo pra gente tomar qualquer decisão.

Os resultados da empresa já mostrarão os ganhos após a união entre Mobly e Tok&Stok?

Sim. Não posso entrar em detalhes porque estamos em período de silêncio por conta da divulgação de resultados. Mas posso dizer que nossos planos de captura da sinergia estão a todo vapor e indo mais rápido e mais fortes do que o divulgado originalmente lá atrás. Hoje as empresas estão operando como uma só, os times já estão unificados e estamos fazendo um movimento muito rápido para juntar a operação logística num único centro de distribuição. Fechamos o escritório atual e estamos juntando todo mundo num escritório que vai ser em cima de uma das lojas da Tok&Stok. Estamos trazendo uma economia grande com custo fixo. Isso já vai estar refletido nos resultados do primeiro trimestre, com apenas três meses da nova gestão.

Os Dubrule falam que a empresa continua queimando caixa…

Está queimando caixa, mas tanto a Tok&Stok quanto a Mobly já estavam. Até que a gente consiga capturar essas sinergias, vão continuar queimando caixa. Isso já fazia parte do plano de recuperação extrajudicial e era conhecido por todo mundo. A nossa expectativa é de que, a partir do segundo semestre, as empresas passem a gerar caixa. Se tudo der certo, a gente consegue até antecipar os planos de captura de sinergia. A Tok&Stok, com a dívida que tinha, já seria completamente inviável já a partir de janeiro de 2025. A empresa que era gerida por eles. Quando a gente veio, conseguimos tanto uma renegociação da dívida para ter tempo de capturar as sinergias, quanto abrimos essa porta de captura de sinergias, que traz as duas empresas combinadas para um patamar de rentabilidade muito melhor. Na prática, o que a gente vê, tudo o que eles têm feito, desde o ano passado, são movimentos para tentar recuperar o controle de uma empresa que eles venderam lá atrás e ganharam muito dinheiro com isso. Eles estão tentando achar artifícios para retomar esse controle sem pagar o devido valor para o acionista controlador, que antes era a (gestora) SPX e agora é a Mobly. Eles tiveram inúmeras chances de colocar uma oferta na mesa para o acionista controlador vender para eles, mas em nenhum momento quiseram fazer isso. Eles sempre tentaram fazer de formas heterodoxas essa retomada do controle, e a gente entende que esse é mais um movimento nesse sentido.

A carta dos Dubrule muda algo nesse plano?

Nada muda. A gente está bastante confiante com o plano que estamos fazendo, e vamos seguir implementando.

Em mais uma reviravolta, a novela da união entre Mobly e Tok&Stok teve mais um capítulo, desta vez em plena sexta-feira de carnaval. Os fundadores Tok&Stok, a família Dubrule, entregaram uma carta na qual propuseram adquirir a nova empresa pagando metade do valor de mercado — o equivalente a cerca de R$ 83 milhões. Impuseram outras exigências para fazer uma oferta efetiva: queriam ter quase 70% do negócio, também que a cláusula de poison pill (que impede compras hostis) fosse retirada e que o acordo com os bancos credores da recuperação extrajudicial (que estendeu o pagamento da dívida para o ano que vem) fosse mantido.

Victor Noda, CEO e cofundador da Mobly, classifica a proposta como irresponsável. “O efeito da carta dos Dubrule foi apenas gerar volatilidade no mercado, insegurança nos investidores e, de fato, ter impacto no preço das ações”, diz ele. Os papéis da empresa recuaram 2,88% até as 16h40 desta quarta-feira, 5, primeiro dia de operação na Bolsa pós-carnaval, e eram avaliados a R$ 1,35. “Se, de fato, se configurar como manipulação de mercado, certamente a gente vai procurar os direitos da empresa”, afirmou.

Para ele, a execução dos planos de sinergia entre Mobly e Tok&Stok continua forte e os resultados podem ser antecipados, como diz na entrevista a seguir:

Como a Mobly recebeu a proposta dos Dubrule?

Com surpresa mas, o primeiro ponto, para deixar bem claro, é que não é uma proposta. Eles mandaram uma carta na qual dizem que, potencialmente, farão uma proposta daqui a 45 dias, sem formalizar ou se comprometer a nada e com o objetivo de pagar pelos papéis da empresa metade do valor da cotação atual. Na prática, o efeito da carta dos Dubrule foi apenas gerar volatilidade no mercado, insegurança nos investidores e, de fato, ter impacto no preço das ações. O que eles falaram chega a ser irresponsável. Eles, inclusive, deixam bastante explícito que não se comprometem com potenciais impactos que a iniciativa deles possa ter e nem de fazer uma proposta formal lá na frente. Na nossa visão, foi um negócio pouco sério da parte deles.

CEO da Mobly vê 'artifícios para retomar o controle da Tok&Stok sem pagar o devido valor para o acionista controlador' Foto: Taba Benedicto/Estadão

Qual a leitura dos srs. sobre as outras condições oferecidas?

O preço que eles ofereceriam pelas ações não tem nenhuma relação com o histórico, que nunca ficou abaixo do que está agora, ou com o valor patrimonial da empresa. É um preço bastante desconexo. Eles ainda mencionam na carta que têm algumas condições para fazer essa oferta. Uma delas é conseguir comprar, no mínimo, 69% da participação da empresa, o que é inviável porque 40% dos acionistas já se manifestaram formalmente contrários a essa oferta. Por que alguém iria aceitar uma proposta pela metade do valor da companhia? Eles também querem que a empresa abra mão da poison pill, criada justamente para evitar esse tipo de situação. Também querem ter o waiver (concordância) dos bancos que fizeram parte do acordo de recuperação extrajudicial. Nossa visão é de que a carta foi irresponsável porque o efeito prático é só gerar volatilidade.

Cabe um processo nesse caso?

Estamos estudando o que fazer. Se, de fato, se configurar como manipulação de mercado, certamente a gente vai procurar os direitos da empresa. Mas está cedo pra gente tomar qualquer decisão.

Os resultados da empresa já mostrarão os ganhos após a união entre Mobly e Tok&Stok?

Sim. Não posso entrar em detalhes porque estamos em período de silêncio por conta da divulgação de resultados. Mas posso dizer que nossos planos de captura da sinergia estão a todo vapor e indo mais rápido e mais fortes do que o divulgado originalmente lá atrás. Hoje as empresas estão operando como uma só, os times já estão unificados e estamos fazendo um movimento muito rápido para juntar a operação logística num único centro de distribuição. Fechamos o escritório atual e estamos juntando todo mundo num escritório que vai ser em cima de uma das lojas da Tok&Stok. Estamos trazendo uma economia grande com custo fixo. Isso já vai estar refletido nos resultados do primeiro trimestre, com apenas três meses da nova gestão.

Os Dubrule falam que a empresa continua queimando caixa…

Está queimando caixa, mas tanto a Tok&Stok quanto a Mobly já estavam. Até que a gente consiga capturar essas sinergias, vão continuar queimando caixa. Isso já fazia parte do plano de recuperação extrajudicial e era conhecido por todo mundo. A nossa expectativa é de que, a partir do segundo semestre, as empresas passem a gerar caixa. Se tudo der certo, a gente consegue até antecipar os planos de captura de sinergia. A Tok&Stok, com a dívida que tinha, já seria completamente inviável já a partir de janeiro de 2025. A empresa que era gerida por eles. Quando a gente veio, conseguimos tanto uma renegociação da dívida para ter tempo de capturar as sinergias, quanto abrimos essa porta de captura de sinergias, que traz as duas empresas combinadas para um patamar de rentabilidade muito melhor. Na prática, o que a gente vê, tudo o que eles têm feito, desde o ano passado, são movimentos para tentar recuperar o controle de uma empresa que eles venderam lá atrás e ganharam muito dinheiro com isso. Eles estão tentando achar artifícios para retomar esse controle sem pagar o devido valor para o acionista controlador, que antes era a (gestora) SPX e agora é a Mobly. Eles tiveram inúmeras chances de colocar uma oferta na mesa para o acionista controlador vender para eles, mas em nenhum momento quiseram fazer isso. Eles sempre tentaram fazer de formas heterodoxas essa retomada do controle, e a gente entende que esse é mais um movimento nesse sentido.

A carta dos Dubrule muda algo nesse plano?

Nada muda. A gente está bastante confiante com o plano que estamos fazendo, e vamos seguir implementando.

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Entrevista por Cristiane Barbieri

Cristiane Barbieri é repórter especial, especializada na cobertura de Economia e Negócios. Venceu os prêmios Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e Citi Journalistic Excellence Award, entre outros. Completou o Citibank Journalistic Excellence Program, na Universidade de Columbia.