A Tupy, empresa de bens de capital e fabricante de motores e geradores de energia, assinou memorando de entendimento com a Seara Alimentos, empresa líder e grande exportadora de proteína animal ligada ao grupo JBS, para a produção de biometano, fertilizante organomineral e dióxido de carbono (CO₂) com o uso de resíduos da suinocultura e da avicultura. Projetada para ficar pronta em 18 meses, a bioplanta será 100% operada pela Tupy, sediada em Joinville (SC) e especializada na fundição de blocos e cabeçotes de motores.
O montante de investimento no projeto é estimado entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões, com aporte total da Tupy. O empreendimento, terceiro da empresa nesse segmento de negócio, será instalado na região de Seara, município catarinense. “Com esse projeto estamos dando um salto em termos de escala em bioplantas”, disse Fernando de Rizzo, presidente da Tupy, em entrevista exclusiva ao Estadão. “A partir da aquisição da MWM, especializada em motores e em geradores elétricos, abriu-se uma porta para avançarmos no agronegócio”, afirmou.
Segundo Rizzo, o Brasil tem um potencial enorme a ser explorado nessa área, o que pode viabilizar a montagem de dezenas de bioplantas no futuro. “O País tem uma população estática de 23 milhões de suínos e 1,6 bilhão de aves de corte. De biometano, é produzido menos de 3% do que se pode fazer com resíduo gerado. Se utilizasse a totalidade, poderia substituir 70% do diesel consumido pela frota brasileira com biometano”, informa.
A bioplanta, segundo a Tupy, abrangerá um plantel de cerca de 200 mil suínos e 1,7 milhão de aves de corte, atendendo, inicialmente, mais de 80 propriedades rurais de economia familiar da região. “Essa unidade vai criar uma nova cadeia de valor, pois passa a coletar os resíduos, que são tratados - deixando de gerar biometano na natureza - e transformados em combustível renovável e fertilizante organomineral de alto teor e valor.”
A operação, ressalta Rizzo, combina tecnologia desenvolvida em universidades do País e na Embrapa e aproveitamento de resíduos decompostos por bactérias anaeróbicas, num circuito fechado de biodigestores. Cerca de 4% do volume coletado pela empresa nas propriedades é transformado em fertilizante organomineral.
A fábrica vai fazer fertilizantes específicos para cada tipo de cultura - milho, soja, algodão, cana-de-açúcar e outras. “Será um produto nobre ao se comparar com os fertilizantes usados atualmente”, diz o presidente da Tupy. A produção nessa bioplanta será de 40 mil toneladas ao ano, considerando dois turnos de trabalho, com 160 toneladas por dia.
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O biometano, que tem a mesma molécula do gás natural, poderá ser utilizado em motores de caminhões, de grupos geradores de energia e motobombas, informa o executivo. Vai substituir combustíveis fósseis, como gás natural e gás liquefeito de petróleo, o GLP. Uma pequena parte (menos de 10%) do biometano produzido a partir dos resíduos será transformado em energia elétrica em geradores fabricados pela MWM para abastecer todas as operações da bioplanta.
O dióxido de carbono tem diversas aplicações, com mercados principalmente na indústria, como a de cosméticos e bebidas. Em frigoríficos é muito utilizado para anestesiar animais, principalmente bovinos, antes do abate.
Rizzo destaca que uma das vantagens para a Seara é a produção de alimentos com uma pegada de carbono menor. “Uma bioplanta tem um efeito duplo na descarbonização de gases do efeito estufa: recolhe o que vai gerar biometano jogado na atmosfera, trata esses resíduos e os transforma em produtos e combustíveis renováveis”. A unidade vai gerar 85 empregos diretos e indiretos.
Desde março, a Tupy está montando duas outras bioplantas, com investimento total de R$ 36 milhões. Uma delas é com a cooperativa agrícola Primato, situada em Toledo (PR), e vai utilizar resíduos de 65 mil suínos. A segunda com a Granja Rancho da Lua, que vai processar resíduos de 500 mil aves de corte. “Com a bioplanta da Seara damos partida a projetos de grande escala, que vão gerar retorno do capital empregado e margens melhores que as da companhia atualmente”, disse Rizzo.
O executivo informou que ainda estão sendo refinadas as projeções de receita desse negócio. “Digo que, com ganhos de escala, serão relevantes no futuro. Estamos avaliando todo o potencial de Brasil”. Com essas iniciativas, a Tupy deve consolidar suas três unidades de negócios. Uma delas, com bioplantas, geradores de energia e descarbonização, deve ganhar o selo de “MWM Agro”.
Com operações de fundição em Joinville, Betim (MG), Aveiro (Portugal) e em Saltillo e Ramos Arizpe (México) e a de motores e geradores da MWM em São Paulo (SP), a empresa teve receita líquida de R$ 11,4 bilhões no ano passado. Os investimentos previstos em suas operações em 2024 somam valor similar aos do ano passado - R$ 650 milhões.