Tamanho do UBS equivale ao PIB do Brasil, após aquisição; concentração aumenta risco sistêmico


Após negócio, instituição soma US$ 1,75 trilhão em ativos e US$ 5 trilhões em recursos administrados ao redor do mundo, superando gigantes de Wall Street, como o Morgan Stanley

Por Altamiro Silva Junior e Aline Bronzati

A Suíça, um dos países do mundo mais dependentes do sistema financeiro, terá agora apenas um banco global, após a compra às pressas do Credit Suisse - a segunda maior instituição financeira doméstica - pelo arquirrival UBS. Se já era o principal banco suíço, após a ação de resgate, ficará ainda maior, com cerca de US$ 1,75 trilhão em ativos, do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Com o negócio, o banco passa a administrar US$ 5 trilhões de dinheiro dos ultra-ricos ao redor do globo e se transforma numa instituição com risco sistêmico ainda mais alto.

Se nos Estados Unidos, a atual turbulência bancária reacendeu os medos de 2008, do outro lado do Atlântico, a história mudou. Na última crise, foi o UBS que precisou ser socorrido com dinheiro do governo suíço, enquanto o Credit enfrentou relativamente bem o tsunami dos mercados. De lá para cá, escândalo após escândalo, o banco reduziu seu tamanho pela metade. Em 2008, seus ativos totais eram de US$ 1,3 trilhão. Seu rival também era maior, com US$ 2,2 trilhões.

A última crise foi a gota d’água e fez as autoridades suíças agirem para evitar que as incertezas se espalhassem pelo sistema que por anos foi visto como o mais seguro do mundo, atraindo bilhões de dólares de endinheirados. A questão da concorrência, que sempre é levada em consideração em transações de fusões e aquisições, em especial, quando envolve bancos, foi deixada em segundo plano.

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No lugar, os reguladores suíços ofereceram uma linha de liquidez de mais de US$ 100 bilhões, outros US$ 9 bilhões para determinadas situações e maior tempo para o UBS ajustar os seus índices de capital.

Rápida e complexa, a venda ao UBS foi fechada às pressas no último fim de semana, em um negócio ainda cercado de muitas dúvidas. Nas principais cidades suíças, há agências dos dois bancos em quase todos os quarteirões, o que sinaliza para muita sobreposição de negócios e demissões em massa. Em Nova York e também em Londres, o Credit tem milhares de funcionários em seu banco de investimento - um dos negócios que vai ser reduzido nas mãos do UBS.

Combinação do UBS e do Credit responde por mais de 200% do PIB suíço  Foto: Denis Balibouse/Reuters
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Na Suíça, somente o setor bancário emprega 5% da força de trabalho e o total de ativos do sistema somava US$ 3,83 trilhões ao fim de 2022, nada menos que 448% do PIB do país. Só a combinação do UBS e do Credit responde por mais de 200% do PIB suíço, um alerta para a forte concentração que ficará o sistema bancário local. “Vemos muito risco de concentração e também de controle de participação do mercado”, escreveram os analistas do JPMorgan.

A agência de classificação de risco Moody’s também alertou para o maior risco bancário na Suíça. O tamanho do banco resultante significa que o sistema enfrenta riscos de concentração ainda maiores, o que a levou rapidamente a aumentar a avaliação do risco do setor bancário do país. Só os depósitos dos dois bancos respondem por quase metade (45%) do PIB suíço, um número elevado mesmo para países desenvolvidos.

“Um fato contundente permanece quando você se afasta de todos os detalhes do acordo do Credit Suisse e UBS. O segundo maior banco da Suíça - um banco que abriu suas portas para negócios em 1856 e foi um dos 30 bancos sistemicamente importantes em todo o mundo - não existirá mais como autônomo”, avaliou o economista e principal conselheiro econômico da Allianz, Mohamed El-Erian, na esteira do anúncio.

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Sempre orgulhoso de ter um dos sistemas financeiros mais estáveis e capitalizados do mundo, o governo suíço precisou correr contra o tempo para não ver a sua reputação abalada. Conseguiu costurar um acordo que trouxe certo alívio aos mercados e foi apoiado pelos principais bancos centrais do mundo, mas em seguida trouxe muitos questionamentos.

Nada menos que US$ 17 bilhões em títulos do Credit viraram pó de uma hora para outra, com seus respectivos investidores se organizando para brigar na Justiça contra a decisão do principal regulador financeiro da Suíça, a Finma. Imediatamente, a percepção de risco do próprio UBS passou a subir, com as agências de risco S&P e Moody’s alterando a perspectiva do rating do banco para negativa. Um dos termômetros é o comportamento do CDS, um ativo financeiro que protege contra calotes. No dia após a fusão, o papel do UBS chegou a aumentar 60 pontos.

Ao anunciar a compra do rival, o UBS deixou bem claro que o casamento foi forçado pelos órgãos reguladores suíços, mas admitiu que o negócio é financeiramente atrativo, fora que o deixará mais musculoso ao redor do globo. Em gestão de ativos e grandes fortunas, a instituição resultante somará US$ 5 trilhões em ativos totais, ultrapassando pesos pesados de Wall Street como o Morgan Stanley. Sob a ótica geográfica, o UBS ganhará um reforço e tanto na sua atuação no Sudeste da Ásia, no Oriente Médio e na América Latina, incluindo o Brasil, onde o seu rival é muito maior.

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“Vários eventos nas últimas semanas fizeram com que reguladores em todo o mundo instassem ao UBS considerar a aquisição do Credit Suisse para preservar a estabilidade financeira global. Na Suíça, francamente é um dia que esperávamos que não acontecesse”, disse o chairman do UBS, Colm Kelleher, ao falar a investidores, no último domingo, quando nem de perto tinha as respostas para a bateria de questionamentos que pairam sobre o primeiro negócio envolvendo dois dos 30 bancos ‘too big to fail’, ou grandes demais para quebrar.

A Suíça, um dos países do mundo mais dependentes do sistema financeiro, terá agora apenas um banco global, após a compra às pressas do Credit Suisse - a segunda maior instituição financeira doméstica - pelo arquirrival UBS. Se já era o principal banco suíço, após a ação de resgate, ficará ainda maior, com cerca de US$ 1,75 trilhão em ativos, do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Com o negócio, o banco passa a administrar US$ 5 trilhões de dinheiro dos ultra-ricos ao redor do globo e se transforma numa instituição com risco sistêmico ainda mais alto.

Se nos Estados Unidos, a atual turbulência bancária reacendeu os medos de 2008, do outro lado do Atlântico, a história mudou. Na última crise, foi o UBS que precisou ser socorrido com dinheiro do governo suíço, enquanto o Credit enfrentou relativamente bem o tsunami dos mercados. De lá para cá, escândalo após escândalo, o banco reduziu seu tamanho pela metade. Em 2008, seus ativos totais eram de US$ 1,3 trilhão. Seu rival também era maior, com US$ 2,2 trilhões.

A última crise foi a gota d’água e fez as autoridades suíças agirem para evitar que as incertezas se espalhassem pelo sistema que por anos foi visto como o mais seguro do mundo, atraindo bilhões de dólares de endinheirados. A questão da concorrência, que sempre é levada em consideração em transações de fusões e aquisições, em especial, quando envolve bancos, foi deixada em segundo plano.

No lugar, os reguladores suíços ofereceram uma linha de liquidez de mais de US$ 100 bilhões, outros US$ 9 bilhões para determinadas situações e maior tempo para o UBS ajustar os seus índices de capital.

Rápida e complexa, a venda ao UBS foi fechada às pressas no último fim de semana, em um negócio ainda cercado de muitas dúvidas. Nas principais cidades suíças, há agências dos dois bancos em quase todos os quarteirões, o que sinaliza para muita sobreposição de negócios e demissões em massa. Em Nova York e também em Londres, o Credit tem milhares de funcionários em seu banco de investimento - um dos negócios que vai ser reduzido nas mãos do UBS.

Combinação do UBS e do Credit responde por mais de 200% do PIB suíço  Foto: Denis Balibouse/Reuters

Na Suíça, somente o setor bancário emprega 5% da força de trabalho e o total de ativos do sistema somava US$ 3,83 trilhões ao fim de 2022, nada menos que 448% do PIB do país. Só a combinação do UBS e do Credit responde por mais de 200% do PIB suíço, um alerta para a forte concentração que ficará o sistema bancário local. “Vemos muito risco de concentração e também de controle de participação do mercado”, escreveram os analistas do JPMorgan.

A agência de classificação de risco Moody’s também alertou para o maior risco bancário na Suíça. O tamanho do banco resultante significa que o sistema enfrenta riscos de concentração ainda maiores, o que a levou rapidamente a aumentar a avaliação do risco do setor bancário do país. Só os depósitos dos dois bancos respondem por quase metade (45%) do PIB suíço, um número elevado mesmo para países desenvolvidos.

“Um fato contundente permanece quando você se afasta de todos os detalhes do acordo do Credit Suisse e UBS. O segundo maior banco da Suíça - um banco que abriu suas portas para negócios em 1856 e foi um dos 30 bancos sistemicamente importantes em todo o mundo - não existirá mais como autônomo”, avaliou o economista e principal conselheiro econômico da Allianz, Mohamed El-Erian, na esteira do anúncio.

Sempre orgulhoso de ter um dos sistemas financeiros mais estáveis e capitalizados do mundo, o governo suíço precisou correr contra o tempo para não ver a sua reputação abalada. Conseguiu costurar um acordo que trouxe certo alívio aos mercados e foi apoiado pelos principais bancos centrais do mundo, mas em seguida trouxe muitos questionamentos.

Nada menos que US$ 17 bilhões em títulos do Credit viraram pó de uma hora para outra, com seus respectivos investidores se organizando para brigar na Justiça contra a decisão do principal regulador financeiro da Suíça, a Finma. Imediatamente, a percepção de risco do próprio UBS passou a subir, com as agências de risco S&P e Moody’s alterando a perspectiva do rating do banco para negativa. Um dos termômetros é o comportamento do CDS, um ativo financeiro que protege contra calotes. No dia após a fusão, o papel do UBS chegou a aumentar 60 pontos.

Ao anunciar a compra do rival, o UBS deixou bem claro que o casamento foi forçado pelos órgãos reguladores suíços, mas admitiu que o negócio é financeiramente atrativo, fora que o deixará mais musculoso ao redor do globo. Em gestão de ativos e grandes fortunas, a instituição resultante somará US$ 5 trilhões em ativos totais, ultrapassando pesos pesados de Wall Street como o Morgan Stanley. Sob a ótica geográfica, o UBS ganhará um reforço e tanto na sua atuação no Sudeste da Ásia, no Oriente Médio e na América Latina, incluindo o Brasil, onde o seu rival é muito maior.

“Vários eventos nas últimas semanas fizeram com que reguladores em todo o mundo instassem ao UBS considerar a aquisição do Credit Suisse para preservar a estabilidade financeira global. Na Suíça, francamente é um dia que esperávamos que não acontecesse”, disse o chairman do UBS, Colm Kelleher, ao falar a investidores, no último domingo, quando nem de perto tinha as respostas para a bateria de questionamentos que pairam sobre o primeiro negócio envolvendo dois dos 30 bancos ‘too big to fail’, ou grandes demais para quebrar.

A Suíça, um dos países do mundo mais dependentes do sistema financeiro, terá agora apenas um banco global, após a compra às pressas do Credit Suisse - a segunda maior instituição financeira doméstica - pelo arquirrival UBS. Se já era o principal banco suíço, após a ação de resgate, ficará ainda maior, com cerca de US$ 1,75 trilhão em ativos, do tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Com o negócio, o banco passa a administrar US$ 5 trilhões de dinheiro dos ultra-ricos ao redor do globo e se transforma numa instituição com risco sistêmico ainda mais alto.

Se nos Estados Unidos, a atual turbulência bancária reacendeu os medos de 2008, do outro lado do Atlântico, a história mudou. Na última crise, foi o UBS que precisou ser socorrido com dinheiro do governo suíço, enquanto o Credit enfrentou relativamente bem o tsunami dos mercados. De lá para cá, escândalo após escândalo, o banco reduziu seu tamanho pela metade. Em 2008, seus ativos totais eram de US$ 1,3 trilhão. Seu rival também era maior, com US$ 2,2 trilhões.

A última crise foi a gota d’água e fez as autoridades suíças agirem para evitar que as incertezas se espalhassem pelo sistema que por anos foi visto como o mais seguro do mundo, atraindo bilhões de dólares de endinheirados. A questão da concorrência, que sempre é levada em consideração em transações de fusões e aquisições, em especial, quando envolve bancos, foi deixada em segundo plano.

No lugar, os reguladores suíços ofereceram uma linha de liquidez de mais de US$ 100 bilhões, outros US$ 9 bilhões para determinadas situações e maior tempo para o UBS ajustar os seus índices de capital.

Rápida e complexa, a venda ao UBS foi fechada às pressas no último fim de semana, em um negócio ainda cercado de muitas dúvidas. Nas principais cidades suíças, há agências dos dois bancos em quase todos os quarteirões, o que sinaliza para muita sobreposição de negócios e demissões em massa. Em Nova York e também em Londres, o Credit tem milhares de funcionários em seu banco de investimento - um dos negócios que vai ser reduzido nas mãos do UBS.

Combinação do UBS e do Credit responde por mais de 200% do PIB suíço  Foto: Denis Balibouse/Reuters

Na Suíça, somente o setor bancário emprega 5% da força de trabalho e o total de ativos do sistema somava US$ 3,83 trilhões ao fim de 2022, nada menos que 448% do PIB do país. Só a combinação do UBS e do Credit responde por mais de 200% do PIB suíço, um alerta para a forte concentração que ficará o sistema bancário local. “Vemos muito risco de concentração e também de controle de participação do mercado”, escreveram os analistas do JPMorgan.

A agência de classificação de risco Moody’s também alertou para o maior risco bancário na Suíça. O tamanho do banco resultante significa que o sistema enfrenta riscos de concentração ainda maiores, o que a levou rapidamente a aumentar a avaliação do risco do setor bancário do país. Só os depósitos dos dois bancos respondem por quase metade (45%) do PIB suíço, um número elevado mesmo para países desenvolvidos.

“Um fato contundente permanece quando você se afasta de todos os detalhes do acordo do Credit Suisse e UBS. O segundo maior banco da Suíça - um banco que abriu suas portas para negócios em 1856 e foi um dos 30 bancos sistemicamente importantes em todo o mundo - não existirá mais como autônomo”, avaliou o economista e principal conselheiro econômico da Allianz, Mohamed El-Erian, na esteira do anúncio.

Sempre orgulhoso de ter um dos sistemas financeiros mais estáveis e capitalizados do mundo, o governo suíço precisou correr contra o tempo para não ver a sua reputação abalada. Conseguiu costurar um acordo que trouxe certo alívio aos mercados e foi apoiado pelos principais bancos centrais do mundo, mas em seguida trouxe muitos questionamentos.

Nada menos que US$ 17 bilhões em títulos do Credit viraram pó de uma hora para outra, com seus respectivos investidores se organizando para brigar na Justiça contra a decisão do principal regulador financeiro da Suíça, a Finma. Imediatamente, a percepção de risco do próprio UBS passou a subir, com as agências de risco S&P e Moody’s alterando a perspectiva do rating do banco para negativa. Um dos termômetros é o comportamento do CDS, um ativo financeiro que protege contra calotes. No dia após a fusão, o papel do UBS chegou a aumentar 60 pontos.

Ao anunciar a compra do rival, o UBS deixou bem claro que o casamento foi forçado pelos órgãos reguladores suíços, mas admitiu que o negócio é financeiramente atrativo, fora que o deixará mais musculoso ao redor do globo. Em gestão de ativos e grandes fortunas, a instituição resultante somará US$ 5 trilhões em ativos totais, ultrapassando pesos pesados de Wall Street como o Morgan Stanley. Sob a ótica geográfica, o UBS ganhará um reforço e tanto na sua atuação no Sudeste da Ásia, no Oriente Médio e na América Latina, incluindo o Brasil, onde o seu rival é muito maior.

“Vários eventos nas últimas semanas fizeram com que reguladores em todo o mundo instassem ao UBS considerar a aquisição do Credit Suisse para preservar a estabilidade financeira global. Na Suíça, francamente é um dia que esperávamos que não acontecesse”, disse o chairman do UBS, Colm Kelleher, ao falar a investidores, no último domingo, quando nem de perto tinha as respostas para a bateria de questionamentos que pairam sobre o primeiro negócio envolvendo dois dos 30 bancos ‘too big to fail’, ou grandes demais para quebrar.

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