A Vero, uma das maiores provedoras de internet do interior do País, decidiu entrar nas capitais e brigar de frente com as grandes teles nacionais. O movimento marca mais um capítulo do aumento da concorrência no setor.
A companhia está lançando nesta semana planos de banda larga em Belo Horizonte e em Goiânia. Ano que vem, serão mais duas ou três capitais, tendo Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba entre as prioridades. A expectativa é de liderar a adição de clientes nessas praças e superar 10% de participação de mercado nos próximos três anos nas capitais onde estiver presente.
“Não estamos encarando essa iniciativa como mais um lançamento, mas sim como uma mudança de estratégia a partir da entrada nas capitais”, afirmou o presidente da Vero, Fabiano Ferreira, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast.
A Vero chegou à marca de 1,3 milhão de assinantes após a fusão com a Americanet, em 2023. Com isso, ocupa a sexta posição no ranking de maiores empresas de banda larga, que tem Claro, Vivo e Oi na liderança, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A Vero — que tem as gestoras de recursos Vinci Partners e da Warburg Pincus — atua em 420 cidades de um total de dez Estados, mas ainda não havia avançado sobre as capitais do País.
“Acreditamos muito no interior e ainda vemos muito espaço para crescer aí ampliando a nossa rede e aumentando o número de conexões”, diz Ferreira. “Mas passamos a olhar também o mercado de outra maneira pelo tamanho que atingimos.”
De olho no cliente da concorrência
Ao entrar nas capitais, a Vero vai brigar de frente com as grandes teles, enquanto no interior a principal disputa é com os provedores locais. Outra diferença é que a briga nas capitais passa a ser de “rouba-monte”. Isto é: a grande maioria das residências nas cidades grandes já tem banda larga. Então, a briga é para tirar o cliente da concorrência. Já no interior, ainda há uma quantidade relevante de novos clientes aderindo ao serviço pela primeira vez.
Segundo Ferreira, a estratégia de competição não será baseada em uma guerra de preços. O pacote de entrada da Vero será vendido por R$ 104 por mês (plano de 320 mbps), um valor em linha com a média de mercado. Já o seu pacote mais vendido é o de R$ 135 (780 mps + Globoplay ou YouTube Premium). “Não vamos competir em termos de preços, e sim em ‘valor’”, disse, referindo-se à qualidade do serviço.
A companhia não revela a cifra dos investimentos nessa jornada de expansão para as capitais. Segundo Ferreira, o montante fica na faixa das “dezenas de milhões de reais” e são voltados para o contrato de uso da rede , a abertura de lojas físicas, veiculação de propaganda e contratação de pessoal (serão 300 vagas diretas e indiretas).
Ferreira reiterou ainda que o mandato da Vero é de crescimento das operações, o que pode ser feito tanto por expansão da rede e da atração de clientes, quanto via aquisições, que seguem no radar.
Contrato ampliado com a V.tal
A chegada da Vero às capitais está sendo feita por meio de um contrato para uso da rede de fibra óptica da empresa de infraestrutura V.tal. Esse modelo de negócio permite à Vero prestar o serviço sem a necessidade de investir em uma rede própria, o que exigiria muito capital na largada e seria mais demorado em função do tempo de construção.
A Vero e a V.tal já tinham uma primeira parceria fechada em 2021 para compartilhamento de redes em Contagem, Sete Lagoas e Ubá, Sete Lagoas — todas em Minas Gerais. Após esse teste inicial, a Vero decidiu ampliar o acordo para ir mais longe.
“Há lugares em que não chegávamos por meios próprios porque o investimento em rede é elevado, os prazos de implantação são longos e há dificuldade de cabeamento nos prédios”, explica Ferreira. “O mercado de redes neutras abriu essa possibilidade de crescimento”.
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O executivo admite que o mercado pode mudar sensivelmente caso a V.tal venha a adquirir a Oi Fibra, empresa de banda larga da Oi que está à venda dentro do seu processo de recuperação judicial. A V.tal tem o compromisso de ficar com o negócio caso não apareça outro comprador — cenário com grande probabilidade de se confirmar nas próximas semanas.
Caso isso aconteça, a V.tal passará a ser também uma operadora de banda larga, e não só uma locadora de redes, situação que exigirá uma segregação das atividades entre as empresas a adoção de medidas de governança para mitigar conflitos de interesse.
“Esse é um assunto que está no topo da nossa agenda. Ouvimos que a V.tal fará uma segmentação bem clara dos negócios. A nossa decisão de investimento é pensando nisso. Se a situação mudar, a nossa estratégia também será outra. Estamos atentos e não podemos desconsiderar isso”, disse Ferreira.