Votorantim vai além das commodities e espera resultado no longo prazo; veja o que diz seu presidente


Segundo João Schmidt, grupo abriu muitas frentes dentro do seu portfólio de investimentos que vão criar resultados no futuro, e essa diversificação deve continuar

Por Cristiane Barbieri e Jorge Barbosa
Atualização:
Foto: Bruno Mooca
Entrevista comJoão SchmidtPresidente da Votorantim S/A

Uma das maiores investidoras privadas do País, a holding Votorantim S/A tem se movido nos últimos anos para construir um portfólio menos dependente de commodities. O grupo, que nos primórdios produzia cimento, alumínio, zinco, aço e suco de laranja, colocou para dentro de casa ativos nos setores de energia, imobiliário, infraestrutura e saúde, entre outros. Também tem comprado operações em outros países. Essa diversificação, porém, deve trazer efeitos no longo prazo, já que muitos negócios ainda estão em fase de investimento. “De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio, que vão criar resultados no futuro”, diz João Schmidt, CEO da Votorantim S/A.

Assim, apesar de tanto a geração de caixa quanto o lucro líquido, de R$ 9,6 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente, terem caído 8% e 66% em 2023 relação ao ano anterior, o movimento não foi encarado como uma tendência. A avaliação é que foram resultados pontuais e não recorrentes, também impactados com baixas em algumas áreas de negócios. “As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior”, diz Schmidt. Segundo ele, a holding continuará com a diversificação geográfica, setorial e motivada por fatores de risco. O executivo conversou com o Estadão/Broadcast sobre esses assuntos - bem como sobre tributação de dividendos, capacidade de investimento e alavancagem - na entrevista a seguir:

A Votorantim S/A teve queda grande nos resultados, acima do esperado. A diversificação nos negócios funcionou para reduzir esse impacto?

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Com um portfólio tão variado como o nosso, quando se pega o resultado contábil de determinado ano, há eventos desse tipo. Embora representem o resultado do ano, obviamente não necessariamente significam uma tendência. Do ponto de vista da gestão do portfólio, o principal marcador é o fato que, decorrente de tudo isso, as companhias pagaram R$ 3 bilhões em dividendos no ano passado.

Mas isso já é resultado da estratégia de diversificação?

Isso. De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio nos últimos anos, que vão criar resultados no futuro. Por exemplo, o recente investimento na CCR (concessionária de rodovias) é um ativo não consolidado. Estamos muito animados com o que estamos vendo lá e o trabalho que estamos fazendo. Toda a parte internacional da Votorantim Cimentos, com a transação no Canadá em 2021 e as na Espanha, em 2021 e 2022, já aparecem no resultado de 2023. Começamos a ver as sinergias acontecendo. A parte internacional representou um pouquinho mais da metade do resultado da Votorantim Cimentos, num ano de Ebitda (geração de caixa) recorde. Com o tempo, as mudanças se materializam. A própria Auren (geração de energia renovável) é uma plataforma que tem dois anos de idade e vai amadurecer. Além delas, há iniciativas como a 23S, nossa parceria para investimentos com o Temasek (fundo soberano de Cingapura), que tem pouco mais de um ano de idade e está ganhando tração. A Altre, de ativos imobiliários, está na fase de investimentos tanto no Brasil, quanto no exterior. Por enquanto, não se vê o impacto, só investimentos, mas o resultado nós vamos colher mais à frente.

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Se os resultados não apareceram, o que é preciso olhar?

Mais do que o lucro do ano, o melhor marcador do resultado da diversificação e internacionalização é nossa saúde financeira e nosso balanço, que estão mais fortes do que nunca. Tivemos novamente upgrade pelas agências de rating e somos a única empresa privada brasileira a obter grau de investimento das três agências, entre as não listadas. As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior, muito embora, ao se tornar mais diversa, por definição, seja muito difícil que todos os ativos andem para frente ao mesmo tempo. Esse modelo é feito justamente para compensar essas variações. O outro marcador é importante é que, com mesmo com todos os investimentos, o nível de liquidez na holding Votorantim S/A, está muito alto.

Para onde irá a diversificação da Votorantim S/A?

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Nós olhamos a diversificação em três dimensões: geográfica, setorial e de fatores de risco. Do ponto de vista geográfico, temos uma plataforma muito grande no Brasil e em satélites da América Latina. Primeiramente, olhamos se faz sentido para os negócios. A Votorantim Cimentos, por exemplo, é uma plataforma multirregional. Além disso, por atuar em mineração, a empresa vai onde o recurso está: no Brasil e no Peru. Respeitando as particularidade de cada negócio, a Votorantim S/A olha, de forma macro, se há disposição a mercados desenvolvidos nessa estratégia, dado que a gente tem uma grande exposição a mercados emergentes. Além da Votorantim Cimentos, outra companhia do grupo nessa linha é a Altre. Ela tem investimentos no Brasil e particularmente na América do Norte, com todo desbalanceamento daquele mercado. Essas duas empresas são nosso carro-chefe (para a diversificação internacional).

Além da diversidade geográfica, o que mais entra nessa conta?

Olhamos também a composição do portfólio. Hoje, temos um bloco de ativos muito associado a commodities, com CBA, Nexa e Citrosuco. Esse é um bloco que tem volatilidade maior, por conta da própria flutuação das commodities. Temos um bloco de ativos ligados ao setor de construção, com cimentos e Altre. E ainda outro no que a gente chama de preservação de capital, que tem a infraestrutura, via CCR, e energia, por meio da Auren. São ativos com menos volatilidade versus o restante do portfólio. Há ainda a parte de investimentos, com o banco BV, um ativo importante para nós, e a 23S, parceria nossa com o Temasek. Em geral, dentro desses blocos, há elementos de diversificação e adicionamos alguns setores que fazem sentido. O exemplo principal é saúde. Nós sempre achamos que fazia sentido ter essa vertical dentro do nosso portfólio. Fizemos um primeiro movimento ao investir na Hypera (farmacêutica), com uma participação de 5,6% (do capital da empresa). Isso expõe nosso portfólio a uma dinâmica muito diferente do restante, porque o setor de saúde tem de uma dinâmica diferente da de PIB ou de renda. É ligada à longevidade, com outras tendências e fatores de risco. É possível ver um portfólio diferente do que tínhamos 10 anos atrás, que era essencialmente industrial, cíclico e commodities.

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Fábrica da Votorantim Cimentos em Rio Branco do Sul, no Paraná Foto: Sérgio Zacchi/Votorantim

Esse processo de diversificação deve levar mais quanto tempo?

A diversificação é um valor permanente. O portfólio já é diversificado, mas não é imutável e vai evoluir. Há muitas oportunidades de investimento no próprio portfólio atual. Exemplo: a CCR está num ciclo de investimento bem importante, com grande demanda do setor de infraestrutura por capital. A Auren investiu R$ 2 bilhões no ano passado e continua muito interessada em acompanhar o crescimento da base de energia renovável do Brasil. A Votorantim Cimentos está fazendo investimentos em modernização, para aumentar a competitividade no País e na área internacional, que deve ter crescimento inorgânico. O próprio banco tem uma dinâmica particular e a gente está investindo muito em tecnologia, para participar mais do ecossistema com produtos muito competitivos, por exemplo, em toda a parte de mobilidade. Ao mesmo tempo, a holding Votorantim fica atenta a outras oportunidades que possam ser interessantes para essa composição.

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A CBA melhorou a alavancagem e fez uma subscrição privada. Há a possibilidade de fechar o capital da empresa, já que ela vale bem menos desde que fez a abertura de capital?

Esse tema não faz parte da nossa discussão. A CBA está em um negócio cíclico e estamos no momento de baixa do alumínio, num mercado que sempre volta. A gente não tem o objetivo de ficar comprando e vendendo (ações) em cima do mercado. Esse não é nosso espírito. Nosso papel, como acionista de referência, é tocar bem o negócio para que ele se beneficie com a volta de preço.

A tributação entra nesse planejamento do portfólio? Há a perspectiva de aumento na tributação de dividendos e a Votorantim S/A tem planos de fazer mais aquisições no exterior. Como o regime tributário influencia nessas decisões?

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As questões tributárias sempre têm impacto, obviamente. Mas o fato de termos um portfólio diversificado nos permite olhar além disso. Se houver uma tributação maior de dividendos, mas uma redução da alíquota da pessoa jurídica, certamente vai conduzir a maiores investimentos nas empresas. A gente já faz muito isso, então para nós é ‘segue o jogo’. Mas se tiver a tributação de dividendo sem reduzir a alíquota na pessoa jurídica, o que seria um absurdo, aí todo mundo tem de parar e repensar o que vai fazer. Mas não estou vendo essas mudanças como algo que transforma nosso planejamento estratégico.

Há uma determinação do acionista para, caso aumentem os tributos nos dividendos, o pagamento feito pela holding cresça?

Não. Na dinâmica de alocação de capital há três grandes decisões que tomamos a todo momento: se a gente usa o recurso excedente para reinvestir no negócio, para pagar dívidas ou para remunerar o acionista. Claro que, se tem uma tributação de dividendos, o balanceamento dessas decisões pode mudar. Assim como quando o custo da dívida sobe, ou o nível de retorno dos investimentos sobe ou desce. É um fator que deve ser considerado no contexto das decisões de alocação de capital, não no contexto de uma orientação do acionista. Temos uma política financeira, de dividendo e de investimentos, que tentam balancear esses três elementos para fazer uma gestão de valor no portfólio.

Em termos de perspectiva para 2024, como vocês estão enxergando o desempenho do portfólio?

Vejo um resultado de 2024 melhor que 2023. As dinâmicas são diferentes, mas hoje, a expectativa é de um ano melhor.

Por que a holding fez a parceria com a 23S, já que a Votorantim S/A tem uma estrutura para fazer investimentos?

A Votorantim é sempre um acionista de referência. Somos um investidor engajado, que gosta de influenciar os negócios e tem, na maior parte do portfólio, empresas históricas que controla, com posições de longo prazo. É um determinado estilo de investimentos. Como plataforma, a 23S tem o mesmo perfil: somos um grande acionista, engajados e vamos apoiar seu desenvolvimento. Dentro da 23S, porém, o estilo de investimento é em participações minoritárias, apoiando o empreendedor em teses de crescimento. Eles vão usar o conhecimento que a Votorantim tem do Brasil e o conhecimento setorial global do Temasek. São estilos de investimento diferentes, que a gente não conseguiria fazer aqui na holding.

Temos um governo que estabeleceu uma política industrial e busca estimular investimentos na área. Como um grupo centenário, como o Votorantim, navega pelas mudanças de gestão de política pública?

Temos 106 anos de história para mostrar que conseguimos olhar além do ruído do curto prazo e apostar na dinâmica de longo prazo, que é muito favorável para o Brasil. Essa combinação de nossa capacidade empresarial é bem particular da Votorantim. No longo prazo, criamos ativos muito competitivos. Investimos nas pessoas, na capacidade de gestão e, com isso, somos capazes de lidar com qualquer cenário que vier. É muito difícil tentar acertar com base na dinâmica política, não só no Brasil. Essas parcerias com (as gestoras) Temasek e CPP vêm nessa linha. São investidores de longo prazo que enxergam a gente como um competidor capaz de olhar além do ruído, com capital, reputação e integridade. O mercado tem suas delicadezas e, com isso, eles conseguem navegar os ciclos políticos e econômicos também.

A maior parte dos R$ 5 bilhões que a Votorantim S/A tem em caixa será usada para aquisições no exterior?

O dinheiro não está marcado. Nossa capacidade de investimento está em cada uma de nossas empresas, no nível de liquidez da holding Votorantim e em nossa capacidade de crédito de forma mais ampla. Quando se junta tudo isso, temos uma capacidade de investimento muito grande.

Quais grandes tendências globais o grupo leva em consideração na hora de investir?

O nearshoring (investimentos em países vizinhos) é muito interessante para o Brasil mas, em sua temática, não é algo que determina nossas decisões. Em termos de temas, olhamos muito mais pressão energética, descarbonização, digitalização, longevidade, novos padrões de consumo e de produção. O ESG é o jeito de fazer as coisas, o enabler (facilitador) disso tudo.

O grupo está olhando mais investimentos nos Estados Unidos, por conta das instabilidades na Europa?

O volume de investimentos de todas as empresas da Votorantim é muito maior no Brasil. Estamos querendo fazer mais coisas em mercados desenvolvidos, mas não dá para olhar o mapa do mundo inteiro. É preciso fazer escolhas que estão menos calcadas na dinâmica geopolítica e mais em áreas, setores e geografias que a gente já tem maior conhecimento. A gente opera há mais tempo nos Estados Unidos e no Canadá do que na Europa. Mesmo assim, nos últimos 24 meses, fizemos uma transação no Canadá e duas na Espanha ligadas a cimento. Na parte imobiliária, a gente está há mais tempo estudando o mercado dos Estados Unidos e conhecemos a dinâmica, inclusive por sermos um competidor em materiais de construção. No curto prazo, prestamos atenção nos movimentos geopolíticos, mas tem outras coisas que estão dominando mais as decisões de investimento.

Uma das maiores investidoras privadas do País, a holding Votorantim S/A tem se movido nos últimos anos para construir um portfólio menos dependente de commodities. O grupo, que nos primórdios produzia cimento, alumínio, zinco, aço e suco de laranja, colocou para dentro de casa ativos nos setores de energia, imobiliário, infraestrutura e saúde, entre outros. Também tem comprado operações em outros países. Essa diversificação, porém, deve trazer efeitos no longo prazo, já que muitos negócios ainda estão em fase de investimento. “De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio, que vão criar resultados no futuro”, diz João Schmidt, CEO da Votorantim S/A.

Assim, apesar de tanto a geração de caixa quanto o lucro líquido, de R$ 9,6 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente, terem caído 8% e 66% em 2023 relação ao ano anterior, o movimento não foi encarado como uma tendência. A avaliação é que foram resultados pontuais e não recorrentes, também impactados com baixas em algumas áreas de negócios. “As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior”, diz Schmidt. Segundo ele, a holding continuará com a diversificação geográfica, setorial e motivada por fatores de risco. O executivo conversou com o Estadão/Broadcast sobre esses assuntos - bem como sobre tributação de dividendos, capacidade de investimento e alavancagem - na entrevista a seguir:

A Votorantim S/A teve queda grande nos resultados, acima do esperado. A diversificação nos negócios funcionou para reduzir esse impacto?

Com um portfólio tão variado como o nosso, quando se pega o resultado contábil de determinado ano, há eventos desse tipo. Embora representem o resultado do ano, obviamente não necessariamente significam uma tendência. Do ponto de vista da gestão do portfólio, o principal marcador é o fato que, decorrente de tudo isso, as companhias pagaram R$ 3 bilhões em dividendos no ano passado.

Mas isso já é resultado da estratégia de diversificação?

Isso. De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio nos últimos anos, que vão criar resultados no futuro. Por exemplo, o recente investimento na CCR (concessionária de rodovias) é um ativo não consolidado. Estamos muito animados com o que estamos vendo lá e o trabalho que estamos fazendo. Toda a parte internacional da Votorantim Cimentos, com a transação no Canadá em 2021 e as na Espanha, em 2021 e 2022, já aparecem no resultado de 2023. Começamos a ver as sinergias acontecendo. A parte internacional representou um pouquinho mais da metade do resultado da Votorantim Cimentos, num ano de Ebitda (geração de caixa) recorde. Com o tempo, as mudanças se materializam. A própria Auren (geração de energia renovável) é uma plataforma que tem dois anos de idade e vai amadurecer. Além delas, há iniciativas como a 23S, nossa parceria para investimentos com o Temasek (fundo soberano de Cingapura), que tem pouco mais de um ano de idade e está ganhando tração. A Altre, de ativos imobiliários, está na fase de investimentos tanto no Brasil, quanto no exterior. Por enquanto, não se vê o impacto, só investimentos, mas o resultado nós vamos colher mais à frente.

Se os resultados não apareceram, o que é preciso olhar?

Mais do que o lucro do ano, o melhor marcador do resultado da diversificação e internacionalização é nossa saúde financeira e nosso balanço, que estão mais fortes do que nunca. Tivemos novamente upgrade pelas agências de rating e somos a única empresa privada brasileira a obter grau de investimento das três agências, entre as não listadas. As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior, muito embora, ao se tornar mais diversa, por definição, seja muito difícil que todos os ativos andem para frente ao mesmo tempo. Esse modelo é feito justamente para compensar essas variações. O outro marcador é importante é que, com mesmo com todos os investimentos, o nível de liquidez na holding Votorantim S/A, está muito alto.

Para onde irá a diversificação da Votorantim S/A?

Nós olhamos a diversificação em três dimensões: geográfica, setorial e de fatores de risco. Do ponto de vista geográfico, temos uma plataforma muito grande no Brasil e em satélites da América Latina. Primeiramente, olhamos se faz sentido para os negócios. A Votorantim Cimentos, por exemplo, é uma plataforma multirregional. Além disso, por atuar em mineração, a empresa vai onde o recurso está: no Brasil e no Peru. Respeitando as particularidade de cada negócio, a Votorantim S/A olha, de forma macro, se há disposição a mercados desenvolvidos nessa estratégia, dado que a gente tem uma grande exposição a mercados emergentes. Além da Votorantim Cimentos, outra companhia do grupo nessa linha é a Altre. Ela tem investimentos no Brasil e particularmente na América do Norte, com todo desbalanceamento daquele mercado. Essas duas empresas são nosso carro-chefe (para a diversificação internacional).

Além da diversidade geográfica, o que mais entra nessa conta?

Olhamos também a composição do portfólio. Hoje, temos um bloco de ativos muito associado a commodities, com CBA, Nexa e Citrosuco. Esse é um bloco que tem volatilidade maior, por conta da própria flutuação das commodities. Temos um bloco de ativos ligados ao setor de construção, com cimentos e Altre. E ainda outro no que a gente chama de preservação de capital, que tem a infraestrutura, via CCR, e energia, por meio da Auren. São ativos com menos volatilidade versus o restante do portfólio. Há ainda a parte de investimentos, com o banco BV, um ativo importante para nós, e a 23S, parceria nossa com o Temasek. Em geral, dentro desses blocos, há elementos de diversificação e adicionamos alguns setores que fazem sentido. O exemplo principal é saúde. Nós sempre achamos que fazia sentido ter essa vertical dentro do nosso portfólio. Fizemos um primeiro movimento ao investir na Hypera (farmacêutica), com uma participação de 5,6% (do capital da empresa). Isso expõe nosso portfólio a uma dinâmica muito diferente do restante, porque o setor de saúde tem de uma dinâmica diferente da de PIB ou de renda. É ligada à longevidade, com outras tendências e fatores de risco. É possível ver um portfólio diferente do que tínhamos 10 anos atrás, que era essencialmente industrial, cíclico e commodities.

Fábrica da Votorantim Cimentos em Rio Branco do Sul, no Paraná Foto: Sérgio Zacchi/Votorantim

Esse processo de diversificação deve levar mais quanto tempo?

A diversificação é um valor permanente. O portfólio já é diversificado, mas não é imutável e vai evoluir. Há muitas oportunidades de investimento no próprio portfólio atual. Exemplo: a CCR está num ciclo de investimento bem importante, com grande demanda do setor de infraestrutura por capital. A Auren investiu R$ 2 bilhões no ano passado e continua muito interessada em acompanhar o crescimento da base de energia renovável do Brasil. A Votorantim Cimentos está fazendo investimentos em modernização, para aumentar a competitividade no País e na área internacional, que deve ter crescimento inorgânico. O próprio banco tem uma dinâmica particular e a gente está investindo muito em tecnologia, para participar mais do ecossistema com produtos muito competitivos, por exemplo, em toda a parte de mobilidade. Ao mesmo tempo, a holding Votorantim fica atenta a outras oportunidades que possam ser interessantes para essa composição.

A CBA melhorou a alavancagem e fez uma subscrição privada. Há a possibilidade de fechar o capital da empresa, já que ela vale bem menos desde que fez a abertura de capital?

Esse tema não faz parte da nossa discussão. A CBA está em um negócio cíclico e estamos no momento de baixa do alumínio, num mercado que sempre volta. A gente não tem o objetivo de ficar comprando e vendendo (ações) em cima do mercado. Esse não é nosso espírito. Nosso papel, como acionista de referência, é tocar bem o negócio para que ele se beneficie com a volta de preço.

A tributação entra nesse planejamento do portfólio? Há a perspectiva de aumento na tributação de dividendos e a Votorantim S/A tem planos de fazer mais aquisições no exterior. Como o regime tributário influencia nessas decisões?

As questões tributárias sempre têm impacto, obviamente. Mas o fato de termos um portfólio diversificado nos permite olhar além disso. Se houver uma tributação maior de dividendos, mas uma redução da alíquota da pessoa jurídica, certamente vai conduzir a maiores investimentos nas empresas. A gente já faz muito isso, então para nós é ‘segue o jogo’. Mas se tiver a tributação de dividendo sem reduzir a alíquota na pessoa jurídica, o que seria um absurdo, aí todo mundo tem de parar e repensar o que vai fazer. Mas não estou vendo essas mudanças como algo que transforma nosso planejamento estratégico.

Há uma determinação do acionista para, caso aumentem os tributos nos dividendos, o pagamento feito pela holding cresça?

Não. Na dinâmica de alocação de capital há três grandes decisões que tomamos a todo momento: se a gente usa o recurso excedente para reinvestir no negócio, para pagar dívidas ou para remunerar o acionista. Claro que, se tem uma tributação de dividendos, o balanceamento dessas decisões pode mudar. Assim como quando o custo da dívida sobe, ou o nível de retorno dos investimentos sobe ou desce. É um fator que deve ser considerado no contexto das decisões de alocação de capital, não no contexto de uma orientação do acionista. Temos uma política financeira, de dividendo e de investimentos, que tentam balancear esses três elementos para fazer uma gestão de valor no portfólio.

Em termos de perspectiva para 2024, como vocês estão enxergando o desempenho do portfólio?

Vejo um resultado de 2024 melhor que 2023. As dinâmicas são diferentes, mas hoje, a expectativa é de um ano melhor.

Por que a holding fez a parceria com a 23S, já que a Votorantim S/A tem uma estrutura para fazer investimentos?

A Votorantim é sempre um acionista de referência. Somos um investidor engajado, que gosta de influenciar os negócios e tem, na maior parte do portfólio, empresas históricas que controla, com posições de longo prazo. É um determinado estilo de investimentos. Como plataforma, a 23S tem o mesmo perfil: somos um grande acionista, engajados e vamos apoiar seu desenvolvimento. Dentro da 23S, porém, o estilo de investimento é em participações minoritárias, apoiando o empreendedor em teses de crescimento. Eles vão usar o conhecimento que a Votorantim tem do Brasil e o conhecimento setorial global do Temasek. São estilos de investimento diferentes, que a gente não conseguiria fazer aqui na holding.

Temos um governo que estabeleceu uma política industrial e busca estimular investimentos na área. Como um grupo centenário, como o Votorantim, navega pelas mudanças de gestão de política pública?

Temos 106 anos de história para mostrar que conseguimos olhar além do ruído do curto prazo e apostar na dinâmica de longo prazo, que é muito favorável para o Brasil. Essa combinação de nossa capacidade empresarial é bem particular da Votorantim. No longo prazo, criamos ativos muito competitivos. Investimos nas pessoas, na capacidade de gestão e, com isso, somos capazes de lidar com qualquer cenário que vier. É muito difícil tentar acertar com base na dinâmica política, não só no Brasil. Essas parcerias com (as gestoras) Temasek e CPP vêm nessa linha. São investidores de longo prazo que enxergam a gente como um competidor capaz de olhar além do ruído, com capital, reputação e integridade. O mercado tem suas delicadezas e, com isso, eles conseguem navegar os ciclos políticos e econômicos também.

A maior parte dos R$ 5 bilhões que a Votorantim S/A tem em caixa será usada para aquisições no exterior?

O dinheiro não está marcado. Nossa capacidade de investimento está em cada uma de nossas empresas, no nível de liquidez da holding Votorantim e em nossa capacidade de crédito de forma mais ampla. Quando se junta tudo isso, temos uma capacidade de investimento muito grande.

Quais grandes tendências globais o grupo leva em consideração na hora de investir?

O nearshoring (investimentos em países vizinhos) é muito interessante para o Brasil mas, em sua temática, não é algo que determina nossas decisões. Em termos de temas, olhamos muito mais pressão energética, descarbonização, digitalização, longevidade, novos padrões de consumo e de produção. O ESG é o jeito de fazer as coisas, o enabler (facilitador) disso tudo.

O grupo está olhando mais investimentos nos Estados Unidos, por conta das instabilidades na Europa?

O volume de investimentos de todas as empresas da Votorantim é muito maior no Brasil. Estamos querendo fazer mais coisas em mercados desenvolvidos, mas não dá para olhar o mapa do mundo inteiro. É preciso fazer escolhas que estão menos calcadas na dinâmica geopolítica e mais em áreas, setores e geografias que a gente já tem maior conhecimento. A gente opera há mais tempo nos Estados Unidos e no Canadá do que na Europa. Mesmo assim, nos últimos 24 meses, fizemos uma transação no Canadá e duas na Espanha ligadas a cimento. Na parte imobiliária, a gente está há mais tempo estudando o mercado dos Estados Unidos e conhecemos a dinâmica, inclusive por sermos um competidor em materiais de construção. No curto prazo, prestamos atenção nos movimentos geopolíticos, mas tem outras coisas que estão dominando mais as decisões de investimento.

Uma das maiores investidoras privadas do País, a holding Votorantim S/A tem se movido nos últimos anos para construir um portfólio menos dependente de commodities. O grupo, que nos primórdios produzia cimento, alumínio, zinco, aço e suco de laranja, colocou para dentro de casa ativos nos setores de energia, imobiliário, infraestrutura e saúde, entre outros. Também tem comprado operações em outros países. Essa diversificação, porém, deve trazer efeitos no longo prazo, já que muitos negócios ainda estão em fase de investimento. “De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio, que vão criar resultados no futuro”, diz João Schmidt, CEO da Votorantim S/A.

Assim, apesar de tanto a geração de caixa quanto o lucro líquido, de R$ 9,6 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente, terem caído 8% e 66% em 2023 relação ao ano anterior, o movimento não foi encarado como uma tendência. A avaliação é que foram resultados pontuais e não recorrentes, também impactados com baixas em algumas áreas de negócios. “As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior”, diz Schmidt. Segundo ele, a holding continuará com a diversificação geográfica, setorial e motivada por fatores de risco. O executivo conversou com o Estadão/Broadcast sobre esses assuntos - bem como sobre tributação de dividendos, capacidade de investimento e alavancagem - na entrevista a seguir:

A Votorantim S/A teve queda grande nos resultados, acima do esperado. A diversificação nos negócios funcionou para reduzir esse impacto?

Com um portfólio tão variado como o nosso, quando se pega o resultado contábil de determinado ano, há eventos desse tipo. Embora representem o resultado do ano, obviamente não necessariamente significam uma tendência. Do ponto de vista da gestão do portfólio, o principal marcador é o fato que, decorrente de tudo isso, as companhias pagaram R$ 3 bilhões em dividendos no ano passado.

Mas isso já é resultado da estratégia de diversificação?

Isso. De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio nos últimos anos, que vão criar resultados no futuro. Por exemplo, o recente investimento na CCR (concessionária de rodovias) é um ativo não consolidado. Estamos muito animados com o que estamos vendo lá e o trabalho que estamos fazendo. Toda a parte internacional da Votorantim Cimentos, com a transação no Canadá em 2021 e as na Espanha, em 2021 e 2022, já aparecem no resultado de 2023. Começamos a ver as sinergias acontecendo. A parte internacional representou um pouquinho mais da metade do resultado da Votorantim Cimentos, num ano de Ebitda (geração de caixa) recorde. Com o tempo, as mudanças se materializam. A própria Auren (geração de energia renovável) é uma plataforma que tem dois anos de idade e vai amadurecer. Além delas, há iniciativas como a 23S, nossa parceria para investimentos com o Temasek (fundo soberano de Cingapura), que tem pouco mais de um ano de idade e está ganhando tração. A Altre, de ativos imobiliários, está na fase de investimentos tanto no Brasil, quanto no exterior. Por enquanto, não se vê o impacto, só investimentos, mas o resultado nós vamos colher mais à frente.

Se os resultados não apareceram, o que é preciso olhar?

Mais do que o lucro do ano, o melhor marcador do resultado da diversificação e internacionalização é nossa saúde financeira e nosso balanço, que estão mais fortes do que nunca. Tivemos novamente upgrade pelas agências de rating e somos a única empresa privada brasileira a obter grau de investimento das três agências, entre as não listadas. As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior, muito embora, ao se tornar mais diversa, por definição, seja muito difícil que todos os ativos andem para frente ao mesmo tempo. Esse modelo é feito justamente para compensar essas variações. O outro marcador é importante é que, com mesmo com todos os investimentos, o nível de liquidez na holding Votorantim S/A, está muito alto.

Para onde irá a diversificação da Votorantim S/A?

Nós olhamos a diversificação em três dimensões: geográfica, setorial e de fatores de risco. Do ponto de vista geográfico, temos uma plataforma muito grande no Brasil e em satélites da América Latina. Primeiramente, olhamos se faz sentido para os negócios. A Votorantim Cimentos, por exemplo, é uma plataforma multirregional. Além disso, por atuar em mineração, a empresa vai onde o recurso está: no Brasil e no Peru. Respeitando as particularidade de cada negócio, a Votorantim S/A olha, de forma macro, se há disposição a mercados desenvolvidos nessa estratégia, dado que a gente tem uma grande exposição a mercados emergentes. Além da Votorantim Cimentos, outra companhia do grupo nessa linha é a Altre. Ela tem investimentos no Brasil e particularmente na América do Norte, com todo desbalanceamento daquele mercado. Essas duas empresas são nosso carro-chefe (para a diversificação internacional).

Além da diversidade geográfica, o que mais entra nessa conta?

Olhamos também a composição do portfólio. Hoje, temos um bloco de ativos muito associado a commodities, com CBA, Nexa e Citrosuco. Esse é um bloco que tem volatilidade maior, por conta da própria flutuação das commodities. Temos um bloco de ativos ligados ao setor de construção, com cimentos e Altre. E ainda outro no que a gente chama de preservação de capital, que tem a infraestrutura, via CCR, e energia, por meio da Auren. São ativos com menos volatilidade versus o restante do portfólio. Há ainda a parte de investimentos, com o banco BV, um ativo importante para nós, e a 23S, parceria nossa com o Temasek. Em geral, dentro desses blocos, há elementos de diversificação e adicionamos alguns setores que fazem sentido. O exemplo principal é saúde. Nós sempre achamos que fazia sentido ter essa vertical dentro do nosso portfólio. Fizemos um primeiro movimento ao investir na Hypera (farmacêutica), com uma participação de 5,6% (do capital da empresa). Isso expõe nosso portfólio a uma dinâmica muito diferente do restante, porque o setor de saúde tem de uma dinâmica diferente da de PIB ou de renda. É ligada à longevidade, com outras tendências e fatores de risco. É possível ver um portfólio diferente do que tínhamos 10 anos atrás, que era essencialmente industrial, cíclico e commodities.

Fábrica da Votorantim Cimentos em Rio Branco do Sul, no Paraná Foto: Sérgio Zacchi/Votorantim

Esse processo de diversificação deve levar mais quanto tempo?

A diversificação é um valor permanente. O portfólio já é diversificado, mas não é imutável e vai evoluir. Há muitas oportunidades de investimento no próprio portfólio atual. Exemplo: a CCR está num ciclo de investimento bem importante, com grande demanda do setor de infraestrutura por capital. A Auren investiu R$ 2 bilhões no ano passado e continua muito interessada em acompanhar o crescimento da base de energia renovável do Brasil. A Votorantim Cimentos está fazendo investimentos em modernização, para aumentar a competitividade no País e na área internacional, que deve ter crescimento inorgânico. O próprio banco tem uma dinâmica particular e a gente está investindo muito em tecnologia, para participar mais do ecossistema com produtos muito competitivos, por exemplo, em toda a parte de mobilidade. Ao mesmo tempo, a holding Votorantim fica atenta a outras oportunidades que possam ser interessantes para essa composição.

A CBA melhorou a alavancagem e fez uma subscrição privada. Há a possibilidade de fechar o capital da empresa, já que ela vale bem menos desde que fez a abertura de capital?

Esse tema não faz parte da nossa discussão. A CBA está em um negócio cíclico e estamos no momento de baixa do alumínio, num mercado que sempre volta. A gente não tem o objetivo de ficar comprando e vendendo (ações) em cima do mercado. Esse não é nosso espírito. Nosso papel, como acionista de referência, é tocar bem o negócio para que ele se beneficie com a volta de preço.

A tributação entra nesse planejamento do portfólio? Há a perspectiva de aumento na tributação de dividendos e a Votorantim S/A tem planos de fazer mais aquisições no exterior. Como o regime tributário influencia nessas decisões?

As questões tributárias sempre têm impacto, obviamente. Mas o fato de termos um portfólio diversificado nos permite olhar além disso. Se houver uma tributação maior de dividendos, mas uma redução da alíquota da pessoa jurídica, certamente vai conduzir a maiores investimentos nas empresas. A gente já faz muito isso, então para nós é ‘segue o jogo’. Mas se tiver a tributação de dividendo sem reduzir a alíquota na pessoa jurídica, o que seria um absurdo, aí todo mundo tem de parar e repensar o que vai fazer. Mas não estou vendo essas mudanças como algo que transforma nosso planejamento estratégico.

Há uma determinação do acionista para, caso aumentem os tributos nos dividendos, o pagamento feito pela holding cresça?

Não. Na dinâmica de alocação de capital há três grandes decisões que tomamos a todo momento: se a gente usa o recurso excedente para reinvestir no negócio, para pagar dívidas ou para remunerar o acionista. Claro que, se tem uma tributação de dividendos, o balanceamento dessas decisões pode mudar. Assim como quando o custo da dívida sobe, ou o nível de retorno dos investimentos sobe ou desce. É um fator que deve ser considerado no contexto das decisões de alocação de capital, não no contexto de uma orientação do acionista. Temos uma política financeira, de dividendo e de investimentos, que tentam balancear esses três elementos para fazer uma gestão de valor no portfólio.

Em termos de perspectiva para 2024, como vocês estão enxergando o desempenho do portfólio?

Vejo um resultado de 2024 melhor que 2023. As dinâmicas são diferentes, mas hoje, a expectativa é de um ano melhor.

Por que a holding fez a parceria com a 23S, já que a Votorantim S/A tem uma estrutura para fazer investimentos?

A Votorantim é sempre um acionista de referência. Somos um investidor engajado, que gosta de influenciar os negócios e tem, na maior parte do portfólio, empresas históricas que controla, com posições de longo prazo. É um determinado estilo de investimentos. Como plataforma, a 23S tem o mesmo perfil: somos um grande acionista, engajados e vamos apoiar seu desenvolvimento. Dentro da 23S, porém, o estilo de investimento é em participações minoritárias, apoiando o empreendedor em teses de crescimento. Eles vão usar o conhecimento que a Votorantim tem do Brasil e o conhecimento setorial global do Temasek. São estilos de investimento diferentes, que a gente não conseguiria fazer aqui na holding.

Temos um governo que estabeleceu uma política industrial e busca estimular investimentos na área. Como um grupo centenário, como o Votorantim, navega pelas mudanças de gestão de política pública?

Temos 106 anos de história para mostrar que conseguimos olhar além do ruído do curto prazo e apostar na dinâmica de longo prazo, que é muito favorável para o Brasil. Essa combinação de nossa capacidade empresarial é bem particular da Votorantim. No longo prazo, criamos ativos muito competitivos. Investimos nas pessoas, na capacidade de gestão e, com isso, somos capazes de lidar com qualquer cenário que vier. É muito difícil tentar acertar com base na dinâmica política, não só no Brasil. Essas parcerias com (as gestoras) Temasek e CPP vêm nessa linha. São investidores de longo prazo que enxergam a gente como um competidor capaz de olhar além do ruído, com capital, reputação e integridade. O mercado tem suas delicadezas e, com isso, eles conseguem navegar os ciclos políticos e econômicos também.

A maior parte dos R$ 5 bilhões que a Votorantim S/A tem em caixa será usada para aquisições no exterior?

O dinheiro não está marcado. Nossa capacidade de investimento está em cada uma de nossas empresas, no nível de liquidez da holding Votorantim e em nossa capacidade de crédito de forma mais ampla. Quando se junta tudo isso, temos uma capacidade de investimento muito grande.

Quais grandes tendências globais o grupo leva em consideração na hora de investir?

O nearshoring (investimentos em países vizinhos) é muito interessante para o Brasil mas, em sua temática, não é algo que determina nossas decisões. Em termos de temas, olhamos muito mais pressão energética, descarbonização, digitalização, longevidade, novos padrões de consumo e de produção. O ESG é o jeito de fazer as coisas, o enabler (facilitador) disso tudo.

O grupo está olhando mais investimentos nos Estados Unidos, por conta das instabilidades na Europa?

O volume de investimentos de todas as empresas da Votorantim é muito maior no Brasil. Estamos querendo fazer mais coisas em mercados desenvolvidos, mas não dá para olhar o mapa do mundo inteiro. É preciso fazer escolhas que estão menos calcadas na dinâmica geopolítica e mais em áreas, setores e geografias que a gente já tem maior conhecimento. A gente opera há mais tempo nos Estados Unidos e no Canadá do que na Europa. Mesmo assim, nos últimos 24 meses, fizemos uma transação no Canadá e duas na Espanha ligadas a cimento. Na parte imobiliária, a gente está há mais tempo estudando o mercado dos Estados Unidos e conhecemos a dinâmica, inclusive por sermos um competidor em materiais de construção. No curto prazo, prestamos atenção nos movimentos geopolíticos, mas tem outras coisas que estão dominando mais as decisões de investimento.

Uma das maiores investidoras privadas do País, a holding Votorantim S/A tem se movido nos últimos anos para construir um portfólio menos dependente de commodities. O grupo, que nos primórdios produzia cimento, alumínio, zinco, aço e suco de laranja, colocou para dentro de casa ativos nos setores de energia, imobiliário, infraestrutura e saúde, entre outros. Também tem comprado operações em outros países. Essa diversificação, porém, deve trazer efeitos no longo prazo, já que muitos negócios ainda estão em fase de investimento. “De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio, que vão criar resultados no futuro”, diz João Schmidt, CEO da Votorantim S/A.

Assim, apesar de tanto a geração de caixa quanto o lucro líquido, de R$ 9,6 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente, terem caído 8% e 66% em 2023 relação ao ano anterior, o movimento não foi encarado como uma tendência. A avaliação é que foram resultados pontuais e não recorrentes, também impactados com baixas em algumas áreas de negócios. “As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior”, diz Schmidt. Segundo ele, a holding continuará com a diversificação geográfica, setorial e motivada por fatores de risco. O executivo conversou com o Estadão/Broadcast sobre esses assuntos - bem como sobre tributação de dividendos, capacidade de investimento e alavancagem - na entrevista a seguir:

A Votorantim S/A teve queda grande nos resultados, acima do esperado. A diversificação nos negócios funcionou para reduzir esse impacto?

Com um portfólio tão variado como o nosso, quando se pega o resultado contábil de determinado ano, há eventos desse tipo. Embora representem o resultado do ano, obviamente não necessariamente significam uma tendência. Do ponto de vista da gestão do portfólio, o principal marcador é o fato que, decorrente de tudo isso, as companhias pagaram R$ 3 bilhões em dividendos no ano passado.

Mas isso já é resultado da estratégia de diversificação?

Isso. De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio nos últimos anos, que vão criar resultados no futuro. Por exemplo, o recente investimento na CCR (concessionária de rodovias) é um ativo não consolidado. Estamos muito animados com o que estamos vendo lá e o trabalho que estamos fazendo. Toda a parte internacional da Votorantim Cimentos, com a transação no Canadá em 2021 e as na Espanha, em 2021 e 2022, já aparecem no resultado de 2023. Começamos a ver as sinergias acontecendo. A parte internacional representou um pouquinho mais da metade do resultado da Votorantim Cimentos, num ano de Ebitda (geração de caixa) recorde. Com o tempo, as mudanças se materializam. A própria Auren (geração de energia renovável) é uma plataforma que tem dois anos de idade e vai amadurecer. Além delas, há iniciativas como a 23S, nossa parceria para investimentos com o Temasek (fundo soberano de Cingapura), que tem pouco mais de um ano de idade e está ganhando tração. A Altre, de ativos imobiliários, está na fase de investimentos tanto no Brasil, quanto no exterior. Por enquanto, não se vê o impacto, só investimentos, mas o resultado nós vamos colher mais à frente.

Se os resultados não apareceram, o que é preciso olhar?

Mais do que o lucro do ano, o melhor marcador do resultado da diversificação e internacionalização é nossa saúde financeira e nosso balanço, que estão mais fortes do que nunca. Tivemos novamente upgrade pelas agências de rating e somos a única empresa privada brasileira a obter grau de investimento das três agências, entre as não listadas. As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior, muito embora, ao se tornar mais diversa, por definição, seja muito difícil que todos os ativos andem para frente ao mesmo tempo. Esse modelo é feito justamente para compensar essas variações. O outro marcador é importante é que, com mesmo com todos os investimentos, o nível de liquidez na holding Votorantim S/A, está muito alto.

Para onde irá a diversificação da Votorantim S/A?

Nós olhamos a diversificação em três dimensões: geográfica, setorial e de fatores de risco. Do ponto de vista geográfico, temos uma plataforma muito grande no Brasil e em satélites da América Latina. Primeiramente, olhamos se faz sentido para os negócios. A Votorantim Cimentos, por exemplo, é uma plataforma multirregional. Além disso, por atuar em mineração, a empresa vai onde o recurso está: no Brasil e no Peru. Respeitando as particularidade de cada negócio, a Votorantim S/A olha, de forma macro, se há disposição a mercados desenvolvidos nessa estratégia, dado que a gente tem uma grande exposição a mercados emergentes. Além da Votorantim Cimentos, outra companhia do grupo nessa linha é a Altre. Ela tem investimentos no Brasil e particularmente na América do Norte, com todo desbalanceamento daquele mercado. Essas duas empresas são nosso carro-chefe (para a diversificação internacional).

Além da diversidade geográfica, o que mais entra nessa conta?

Olhamos também a composição do portfólio. Hoje, temos um bloco de ativos muito associado a commodities, com CBA, Nexa e Citrosuco. Esse é um bloco que tem volatilidade maior, por conta da própria flutuação das commodities. Temos um bloco de ativos ligados ao setor de construção, com cimentos e Altre. E ainda outro no que a gente chama de preservação de capital, que tem a infraestrutura, via CCR, e energia, por meio da Auren. São ativos com menos volatilidade versus o restante do portfólio. Há ainda a parte de investimentos, com o banco BV, um ativo importante para nós, e a 23S, parceria nossa com o Temasek. Em geral, dentro desses blocos, há elementos de diversificação e adicionamos alguns setores que fazem sentido. O exemplo principal é saúde. Nós sempre achamos que fazia sentido ter essa vertical dentro do nosso portfólio. Fizemos um primeiro movimento ao investir na Hypera (farmacêutica), com uma participação de 5,6% (do capital da empresa). Isso expõe nosso portfólio a uma dinâmica muito diferente do restante, porque o setor de saúde tem de uma dinâmica diferente da de PIB ou de renda. É ligada à longevidade, com outras tendências e fatores de risco. É possível ver um portfólio diferente do que tínhamos 10 anos atrás, que era essencialmente industrial, cíclico e commodities.

Fábrica da Votorantim Cimentos em Rio Branco do Sul, no Paraná Foto: Sérgio Zacchi/Votorantim

Esse processo de diversificação deve levar mais quanto tempo?

A diversificação é um valor permanente. O portfólio já é diversificado, mas não é imutável e vai evoluir. Há muitas oportunidades de investimento no próprio portfólio atual. Exemplo: a CCR está num ciclo de investimento bem importante, com grande demanda do setor de infraestrutura por capital. A Auren investiu R$ 2 bilhões no ano passado e continua muito interessada em acompanhar o crescimento da base de energia renovável do Brasil. A Votorantim Cimentos está fazendo investimentos em modernização, para aumentar a competitividade no País e na área internacional, que deve ter crescimento inorgânico. O próprio banco tem uma dinâmica particular e a gente está investindo muito em tecnologia, para participar mais do ecossistema com produtos muito competitivos, por exemplo, em toda a parte de mobilidade. Ao mesmo tempo, a holding Votorantim fica atenta a outras oportunidades que possam ser interessantes para essa composição.

A CBA melhorou a alavancagem e fez uma subscrição privada. Há a possibilidade de fechar o capital da empresa, já que ela vale bem menos desde que fez a abertura de capital?

Esse tema não faz parte da nossa discussão. A CBA está em um negócio cíclico e estamos no momento de baixa do alumínio, num mercado que sempre volta. A gente não tem o objetivo de ficar comprando e vendendo (ações) em cima do mercado. Esse não é nosso espírito. Nosso papel, como acionista de referência, é tocar bem o negócio para que ele se beneficie com a volta de preço.

A tributação entra nesse planejamento do portfólio? Há a perspectiva de aumento na tributação de dividendos e a Votorantim S/A tem planos de fazer mais aquisições no exterior. Como o regime tributário influencia nessas decisões?

As questões tributárias sempre têm impacto, obviamente. Mas o fato de termos um portfólio diversificado nos permite olhar além disso. Se houver uma tributação maior de dividendos, mas uma redução da alíquota da pessoa jurídica, certamente vai conduzir a maiores investimentos nas empresas. A gente já faz muito isso, então para nós é ‘segue o jogo’. Mas se tiver a tributação de dividendo sem reduzir a alíquota na pessoa jurídica, o que seria um absurdo, aí todo mundo tem de parar e repensar o que vai fazer. Mas não estou vendo essas mudanças como algo que transforma nosso planejamento estratégico.

Há uma determinação do acionista para, caso aumentem os tributos nos dividendos, o pagamento feito pela holding cresça?

Não. Na dinâmica de alocação de capital há três grandes decisões que tomamos a todo momento: se a gente usa o recurso excedente para reinvestir no negócio, para pagar dívidas ou para remunerar o acionista. Claro que, se tem uma tributação de dividendos, o balanceamento dessas decisões pode mudar. Assim como quando o custo da dívida sobe, ou o nível de retorno dos investimentos sobe ou desce. É um fator que deve ser considerado no contexto das decisões de alocação de capital, não no contexto de uma orientação do acionista. Temos uma política financeira, de dividendo e de investimentos, que tentam balancear esses três elementos para fazer uma gestão de valor no portfólio.

Em termos de perspectiva para 2024, como vocês estão enxergando o desempenho do portfólio?

Vejo um resultado de 2024 melhor que 2023. As dinâmicas são diferentes, mas hoje, a expectativa é de um ano melhor.

Por que a holding fez a parceria com a 23S, já que a Votorantim S/A tem uma estrutura para fazer investimentos?

A Votorantim é sempre um acionista de referência. Somos um investidor engajado, que gosta de influenciar os negócios e tem, na maior parte do portfólio, empresas históricas que controla, com posições de longo prazo. É um determinado estilo de investimentos. Como plataforma, a 23S tem o mesmo perfil: somos um grande acionista, engajados e vamos apoiar seu desenvolvimento. Dentro da 23S, porém, o estilo de investimento é em participações minoritárias, apoiando o empreendedor em teses de crescimento. Eles vão usar o conhecimento que a Votorantim tem do Brasil e o conhecimento setorial global do Temasek. São estilos de investimento diferentes, que a gente não conseguiria fazer aqui na holding.

Temos um governo que estabeleceu uma política industrial e busca estimular investimentos na área. Como um grupo centenário, como o Votorantim, navega pelas mudanças de gestão de política pública?

Temos 106 anos de história para mostrar que conseguimos olhar além do ruído do curto prazo e apostar na dinâmica de longo prazo, que é muito favorável para o Brasil. Essa combinação de nossa capacidade empresarial é bem particular da Votorantim. No longo prazo, criamos ativos muito competitivos. Investimos nas pessoas, na capacidade de gestão e, com isso, somos capazes de lidar com qualquer cenário que vier. É muito difícil tentar acertar com base na dinâmica política, não só no Brasil. Essas parcerias com (as gestoras) Temasek e CPP vêm nessa linha. São investidores de longo prazo que enxergam a gente como um competidor capaz de olhar além do ruído, com capital, reputação e integridade. O mercado tem suas delicadezas e, com isso, eles conseguem navegar os ciclos políticos e econômicos também.

A maior parte dos R$ 5 bilhões que a Votorantim S/A tem em caixa será usada para aquisições no exterior?

O dinheiro não está marcado. Nossa capacidade de investimento está em cada uma de nossas empresas, no nível de liquidez da holding Votorantim e em nossa capacidade de crédito de forma mais ampla. Quando se junta tudo isso, temos uma capacidade de investimento muito grande.

Quais grandes tendências globais o grupo leva em consideração na hora de investir?

O nearshoring (investimentos em países vizinhos) é muito interessante para o Brasil mas, em sua temática, não é algo que determina nossas decisões. Em termos de temas, olhamos muito mais pressão energética, descarbonização, digitalização, longevidade, novos padrões de consumo e de produção. O ESG é o jeito de fazer as coisas, o enabler (facilitador) disso tudo.

O grupo está olhando mais investimentos nos Estados Unidos, por conta das instabilidades na Europa?

O volume de investimentos de todas as empresas da Votorantim é muito maior no Brasil. Estamos querendo fazer mais coisas em mercados desenvolvidos, mas não dá para olhar o mapa do mundo inteiro. É preciso fazer escolhas que estão menos calcadas na dinâmica geopolítica e mais em áreas, setores e geografias que a gente já tem maior conhecimento. A gente opera há mais tempo nos Estados Unidos e no Canadá do que na Europa. Mesmo assim, nos últimos 24 meses, fizemos uma transação no Canadá e duas na Espanha ligadas a cimento. Na parte imobiliária, a gente está há mais tempo estudando o mercado dos Estados Unidos e conhecemos a dinâmica, inclusive por sermos um competidor em materiais de construção. No curto prazo, prestamos atenção nos movimentos geopolíticos, mas tem outras coisas que estão dominando mais as decisões de investimento.

Uma das maiores investidoras privadas do País, a holding Votorantim S/A tem se movido nos últimos anos para construir um portfólio menos dependente de commodities. O grupo, que nos primórdios produzia cimento, alumínio, zinco, aço e suco de laranja, colocou para dentro de casa ativos nos setores de energia, imobiliário, infraestrutura e saúde, entre outros. Também tem comprado operações em outros países. Essa diversificação, porém, deve trazer efeitos no longo prazo, já que muitos negócios ainda estão em fase de investimento. “De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio, que vão criar resultados no futuro”, diz João Schmidt, CEO da Votorantim S/A.

Assim, apesar de tanto a geração de caixa quanto o lucro líquido, de R$ 9,6 bilhões e R$ 1,8 bilhão, respectivamente, terem caído 8% e 66% em 2023 relação ao ano anterior, o movimento não foi encarado como uma tendência. A avaliação é que foram resultados pontuais e não recorrentes, também impactados com baixas em algumas áreas de negócios. “As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior”, diz Schmidt. Segundo ele, a holding continuará com a diversificação geográfica, setorial e motivada por fatores de risco. O executivo conversou com o Estadão/Broadcast sobre esses assuntos - bem como sobre tributação de dividendos, capacidade de investimento e alavancagem - na entrevista a seguir:

A Votorantim S/A teve queda grande nos resultados, acima do esperado. A diversificação nos negócios funcionou para reduzir esse impacto?

Com um portfólio tão variado como o nosso, quando se pega o resultado contábil de determinado ano, há eventos desse tipo. Embora representem o resultado do ano, obviamente não necessariamente significam uma tendência. Do ponto de vista da gestão do portfólio, o principal marcador é o fato que, decorrente de tudo isso, as companhias pagaram R$ 3 bilhões em dividendos no ano passado.

Mas isso já é resultado da estratégia de diversificação?

Isso. De forma mais ampla, nós abrimos muitas frentes no portfólio nos últimos anos, que vão criar resultados no futuro. Por exemplo, o recente investimento na CCR (concessionária de rodovias) é um ativo não consolidado. Estamos muito animados com o que estamos vendo lá e o trabalho que estamos fazendo. Toda a parte internacional da Votorantim Cimentos, com a transação no Canadá em 2021 e as na Espanha, em 2021 e 2022, já aparecem no resultado de 2023. Começamos a ver as sinergias acontecendo. A parte internacional representou um pouquinho mais da metade do resultado da Votorantim Cimentos, num ano de Ebitda (geração de caixa) recorde. Com o tempo, as mudanças se materializam. A própria Auren (geração de energia renovável) é uma plataforma que tem dois anos de idade e vai amadurecer. Além delas, há iniciativas como a 23S, nossa parceria para investimentos com o Temasek (fundo soberano de Cingapura), que tem pouco mais de um ano de idade e está ganhando tração. A Altre, de ativos imobiliários, está na fase de investimentos tanto no Brasil, quanto no exterior. Por enquanto, não se vê o impacto, só investimentos, mas o resultado nós vamos colher mais à frente.

Se os resultados não apareceram, o que é preciso olhar?

Mais do que o lucro do ano, o melhor marcador do resultado da diversificação e internacionalização é nossa saúde financeira e nosso balanço, que estão mais fortes do que nunca. Tivemos novamente upgrade pelas agências de rating e somos a única empresa privada brasileira a obter grau de investimento das três agências, entre as não listadas. As agências de rating reconhecem essa diversificação do portfólio como solidez maior, muito embora, ao se tornar mais diversa, por definição, seja muito difícil que todos os ativos andem para frente ao mesmo tempo. Esse modelo é feito justamente para compensar essas variações. O outro marcador é importante é que, com mesmo com todos os investimentos, o nível de liquidez na holding Votorantim S/A, está muito alto.

Para onde irá a diversificação da Votorantim S/A?

Nós olhamos a diversificação em três dimensões: geográfica, setorial e de fatores de risco. Do ponto de vista geográfico, temos uma plataforma muito grande no Brasil e em satélites da América Latina. Primeiramente, olhamos se faz sentido para os negócios. A Votorantim Cimentos, por exemplo, é uma plataforma multirregional. Além disso, por atuar em mineração, a empresa vai onde o recurso está: no Brasil e no Peru. Respeitando as particularidade de cada negócio, a Votorantim S/A olha, de forma macro, se há disposição a mercados desenvolvidos nessa estratégia, dado que a gente tem uma grande exposição a mercados emergentes. Além da Votorantim Cimentos, outra companhia do grupo nessa linha é a Altre. Ela tem investimentos no Brasil e particularmente na América do Norte, com todo desbalanceamento daquele mercado. Essas duas empresas são nosso carro-chefe (para a diversificação internacional).

Além da diversidade geográfica, o que mais entra nessa conta?

Olhamos também a composição do portfólio. Hoje, temos um bloco de ativos muito associado a commodities, com CBA, Nexa e Citrosuco. Esse é um bloco que tem volatilidade maior, por conta da própria flutuação das commodities. Temos um bloco de ativos ligados ao setor de construção, com cimentos e Altre. E ainda outro no que a gente chama de preservação de capital, que tem a infraestrutura, via CCR, e energia, por meio da Auren. São ativos com menos volatilidade versus o restante do portfólio. Há ainda a parte de investimentos, com o banco BV, um ativo importante para nós, e a 23S, parceria nossa com o Temasek. Em geral, dentro desses blocos, há elementos de diversificação e adicionamos alguns setores que fazem sentido. O exemplo principal é saúde. Nós sempre achamos que fazia sentido ter essa vertical dentro do nosso portfólio. Fizemos um primeiro movimento ao investir na Hypera (farmacêutica), com uma participação de 5,6% (do capital da empresa). Isso expõe nosso portfólio a uma dinâmica muito diferente do restante, porque o setor de saúde tem de uma dinâmica diferente da de PIB ou de renda. É ligada à longevidade, com outras tendências e fatores de risco. É possível ver um portfólio diferente do que tínhamos 10 anos atrás, que era essencialmente industrial, cíclico e commodities.

Fábrica da Votorantim Cimentos em Rio Branco do Sul, no Paraná Foto: Sérgio Zacchi/Votorantim

Esse processo de diversificação deve levar mais quanto tempo?

A diversificação é um valor permanente. O portfólio já é diversificado, mas não é imutável e vai evoluir. Há muitas oportunidades de investimento no próprio portfólio atual. Exemplo: a CCR está num ciclo de investimento bem importante, com grande demanda do setor de infraestrutura por capital. A Auren investiu R$ 2 bilhões no ano passado e continua muito interessada em acompanhar o crescimento da base de energia renovável do Brasil. A Votorantim Cimentos está fazendo investimentos em modernização, para aumentar a competitividade no País e na área internacional, que deve ter crescimento inorgânico. O próprio banco tem uma dinâmica particular e a gente está investindo muito em tecnologia, para participar mais do ecossistema com produtos muito competitivos, por exemplo, em toda a parte de mobilidade. Ao mesmo tempo, a holding Votorantim fica atenta a outras oportunidades que possam ser interessantes para essa composição.

A CBA melhorou a alavancagem e fez uma subscrição privada. Há a possibilidade de fechar o capital da empresa, já que ela vale bem menos desde que fez a abertura de capital?

Esse tema não faz parte da nossa discussão. A CBA está em um negócio cíclico e estamos no momento de baixa do alumínio, num mercado que sempre volta. A gente não tem o objetivo de ficar comprando e vendendo (ações) em cima do mercado. Esse não é nosso espírito. Nosso papel, como acionista de referência, é tocar bem o negócio para que ele se beneficie com a volta de preço.

A tributação entra nesse planejamento do portfólio? Há a perspectiva de aumento na tributação de dividendos e a Votorantim S/A tem planos de fazer mais aquisições no exterior. Como o regime tributário influencia nessas decisões?

As questões tributárias sempre têm impacto, obviamente. Mas o fato de termos um portfólio diversificado nos permite olhar além disso. Se houver uma tributação maior de dividendos, mas uma redução da alíquota da pessoa jurídica, certamente vai conduzir a maiores investimentos nas empresas. A gente já faz muito isso, então para nós é ‘segue o jogo’. Mas se tiver a tributação de dividendo sem reduzir a alíquota na pessoa jurídica, o que seria um absurdo, aí todo mundo tem de parar e repensar o que vai fazer. Mas não estou vendo essas mudanças como algo que transforma nosso planejamento estratégico.

Há uma determinação do acionista para, caso aumentem os tributos nos dividendos, o pagamento feito pela holding cresça?

Não. Na dinâmica de alocação de capital há três grandes decisões que tomamos a todo momento: se a gente usa o recurso excedente para reinvestir no negócio, para pagar dívidas ou para remunerar o acionista. Claro que, se tem uma tributação de dividendos, o balanceamento dessas decisões pode mudar. Assim como quando o custo da dívida sobe, ou o nível de retorno dos investimentos sobe ou desce. É um fator que deve ser considerado no contexto das decisões de alocação de capital, não no contexto de uma orientação do acionista. Temos uma política financeira, de dividendo e de investimentos, que tentam balancear esses três elementos para fazer uma gestão de valor no portfólio.

Em termos de perspectiva para 2024, como vocês estão enxergando o desempenho do portfólio?

Vejo um resultado de 2024 melhor que 2023. As dinâmicas são diferentes, mas hoje, a expectativa é de um ano melhor.

Por que a holding fez a parceria com a 23S, já que a Votorantim S/A tem uma estrutura para fazer investimentos?

A Votorantim é sempre um acionista de referência. Somos um investidor engajado, que gosta de influenciar os negócios e tem, na maior parte do portfólio, empresas históricas que controla, com posições de longo prazo. É um determinado estilo de investimentos. Como plataforma, a 23S tem o mesmo perfil: somos um grande acionista, engajados e vamos apoiar seu desenvolvimento. Dentro da 23S, porém, o estilo de investimento é em participações minoritárias, apoiando o empreendedor em teses de crescimento. Eles vão usar o conhecimento que a Votorantim tem do Brasil e o conhecimento setorial global do Temasek. São estilos de investimento diferentes, que a gente não conseguiria fazer aqui na holding.

Temos um governo que estabeleceu uma política industrial e busca estimular investimentos na área. Como um grupo centenário, como o Votorantim, navega pelas mudanças de gestão de política pública?

Temos 106 anos de história para mostrar que conseguimos olhar além do ruído do curto prazo e apostar na dinâmica de longo prazo, que é muito favorável para o Brasil. Essa combinação de nossa capacidade empresarial é bem particular da Votorantim. No longo prazo, criamos ativos muito competitivos. Investimos nas pessoas, na capacidade de gestão e, com isso, somos capazes de lidar com qualquer cenário que vier. É muito difícil tentar acertar com base na dinâmica política, não só no Brasil. Essas parcerias com (as gestoras) Temasek e CPP vêm nessa linha. São investidores de longo prazo que enxergam a gente como um competidor capaz de olhar além do ruído, com capital, reputação e integridade. O mercado tem suas delicadezas e, com isso, eles conseguem navegar os ciclos políticos e econômicos também.

A maior parte dos R$ 5 bilhões que a Votorantim S/A tem em caixa será usada para aquisições no exterior?

O dinheiro não está marcado. Nossa capacidade de investimento está em cada uma de nossas empresas, no nível de liquidez da holding Votorantim e em nossa capacidade de crédito de forma mais ampla. Quando se junta tudo isso, temos uma capacidade de investimento muito grande.

Quais grandes tendências globais o grupo leva em consideração na hora de investir?

O nearshoring (investimentos em países vizinhos) é muito interessante para o Brasil mas, em sua temática, não é algo que determina nossas decisões. Em termos de temas, olhamos muito mais pressão energética, descarbonização, digitalização, longevidade, novos padrões de consumo e de produção. O ESG é o jeito de fazer as coisas, o enabler (facilitador) disso tudo.

O grupo está olhando mais investimentos nos Estados Unidos, por conta das instabilidades na Europa?

O volume de investimentos de todas as empresas da Votorantim é muito maior no Brasil. Estamos querendo fazer mais coisas em mercados desenvolvidos, mas não dá para olhar o mapa do mundo inteiro. É preciso fazer escolhas que estão menos calcadas na dinâmica geopolítica e mais em áreas, setores e geografias que a gente já tem maior conhecimento. A gente opera há mais tempo nos Estados Unidos e no Canadá do que na Europa. Mesmo assim, nos últimos 24 meses, fizemos uma transação no Canadá e duas na Espanha ligadas a cimento. Na parte imobiliária, a gente está há mais tempo estudando o mercado dos Estados Unidos e conhecemos a dinâmica, inclusive por sermos um competidor em materiais de construção. No curto prazo, prestamos atenção nos movimentos geopolíticos, mas tem outras coisas que estão dominando mais as decisões de investimento.

Entrevista por Cristiane Barbieri

Cristiane Barbieri é repórter especial, especializada na cobertura de Economia e Negócios. Venceu os prêmios Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e Citi Journalistic Excellence Award, entre outros. Completou o Citibank Journalistic Excellence Program, na Universidade de Columbia.

Jorge Barbosa

Jorge Barbosa é repórter do Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. Responsável pela cobertura de commodities, é formado em jornalismo pela UFF e tem extensão em jornalismo econômico pela FGV-SP. Já escreveu para o E-Investidor e O Dia.

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