A Nestlé anunciou que vai investir R$ 2,7 bilhões em suas fábricas de biscoitos e chocolates no Brasil até 2026. No último ciclo, de 2019 a 2022, o valor aportado pela empresa no País foi bem menor, próximo de R$ 1 bilhão. Do total de novos recursos, cerca de 50% serão destinados à modernização e ampliação de capacidade das linhas de produção, 30% à inovação e desenvolvimento de novos produtos e linhas, e 20% às ações de meio ambiente, social e governança (ESG, na sigla em inglês).
“O investimento, que passa de R$ 1 bilhão para R$ 2,7 bilhões, se fundamenta na confiança que temos no mercado brasileiro. Temos essa confiança porque esse mercado cresce já há algum tempo. E cresce acima da curva em nível mundial. E uma das razões para isso é que o consumo per capita no País ainda é baixo”, disse o vice-presidente de Chocolates e Biscoitos da Nestlé Brasil, Patrício Torres, ao Estadão/Broadcast. Para ele, a alta competitividade de fabricantes locais, regionais e globais no Brasil também ajuda a impulsionar esse crescimento do mercado.
Leia mais sobre economia
‘Brasil é essencial para Nestlé atingir metas ambientais’, diz líder global de ESG da empresa
Revolução do cacau transforma sul da Bahia em celeiro de negócios com marcas premiadas no exterior
Desenrola Brasil: Caixa já retirou 225 mil pessoas com dívidas de até R$ 100 do negativo
‘Ninguém quer um KitKat feito com trabalho infantil’, diz vice-presidente da Nestlé
Confiança
Levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), em parceria com a consultoria KPMG, mostra que a produção nacional de chocolates cresceu 9,8% no primeiro trimestre em relação à igual período do ano passado, atingindo 219 mil toneladas. Em 2022, a produção chegou a 760 mil toneladas, uma expansão de 8% ante 2021. Para se ter uma ideia de como esses números chamam a atenção da companhia suíça, o total a ser investido nos próximos três anos aqui representa mais de 50% do que a Nestlé vai investir em chocolates e biscoitos em todo o mundo.
“O crescimento do mercado gera confiança para fazer investimentos e também a necessidade de inovações. Estamos fazendo um grande investimento em quatro linhas novas. Virão outras à frente. São linhas que não tínhamos no Brasil, nem na Nestlé nem na concorrência”, disse Torres, referindo-se às linhas de biscoitos e da marca KitKat.
Em relação às melhorias da operação fabril, elas serão direcionadas ao aumento de capacidade nas linhas de produção de embalagens, evolução na implantação de 5G nas plantas e maior digitalização dos processos, a fim de aumentar a produtividade e a eficiência.
Garoto
Entre as fábricas da companhia no País, 40% dos recursos serão investidos na unidade de Caçapava; 40% na fábrica da Garoto, em Vila Velha (ES); e 20% na unidade de Marília.
Questionado se a recente decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) — que aprovou depois de 20 anos a compra da Garoto — teve influência nas decisões de novos investimentos da companhia, Torres disse que a Nestlé nunca tratou a empresa como se não fosse sua.
“Quando compramos a Garoto, há 20 anos, desde aquele dia até a decisão do Cade, colocamos cinco novas linhas de produtos na sua fábrica. Nunca tratamos a Garoto como se não fosse nossa. Tanto do ponto de vista de investimentos, de desenvolvimento de marcas ou do ponto de vista de nossas equipes. Temos pessoas na alta gestão da companhia hoje que vieram da Garoto”, disse o vice-presidente da Nestlé. “Obviamente, é muito melhor ter fechado esse tema, pois ficava sempre um barulho.”
Cacau sustentável
Além dos aportes em suas fábricas, a Nestlé vai investir R$ 100 milhões em seu plano de sustentabilidade e rastreabilidade do cacau. Hoje, 65% do cacau que a empresa utiliza no Brasil vem de fazendas monitoradas e rastreadas para garantir práticas sustentáveis em relação ao meio ambiente e às exigências trabalhistas. Em 2019, essa porcentagem era de cerca de 20% e a meta é chegar a 100% em 2025.
Sobre os 35% da produção de cacau que, hoje, ainda não tem essas garantias, a Nestlé informa que está trabalhando para que os produtores ajustem suas práticas para ter as certificações necessárias. “Não se torna um fornecedor certificado de uma hora para outra”, diz o vice-presidente da Nestlé.