Nova ordem global: estratégia ‘China mais um’ leva empresas a países como Vietnã e Indonésia


Sudeste asiático deve ganhar relevância econômica mundial nas próximas décadas com multinacionais buscando mão de obra barata e diversificação de risco

Por Luiz Guilherme Gerbelli e Luciana Dyniewicz
Atualização:

Batizada em 2013 como “China plus one” (China mais um, em português), a estratégia de empresas de evitar investir apenas no gigante asiático e diversificar os negócios entre outros destinos da região ganhou força no pós-pandemia e em meio à guerra comercial entre Pequim e Washington. Assim como tem ocorrido com a Índia, países do sudeste asiático onde a mão de obra é barata, como Vietnã, Malásia, Indonésia e Tailândia, estão se beneficiando desse cenário e devem ganhar relevância global nas próximas décadas.

Em 2017, a PwC já apontava que o mundo iria ver uma transformação nessa região nos 30 anos seguintes. À época, um estudo indicou que a Indonésia, por exemplo, saltaria da então oitava posição do ranking mundial dos países com maior PIB em Paridade do Poder de Compra (PPP) para a quarta em 2050. O Vietnã, com um crescimento médio do PIB de 5,1% ao ano, seria a economia que mais avançaria de acordo com esse indicador, do 32º lugar para o 20º.

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O sócio da PwC Brasil Bruno Porto destaca que o mundo mudou muito desde 2017 e que questões imprevisíveis como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação acelerada nos países desenvolvidos podem alterar as projeções feitas à época. Mas, em geral, elas tendem a acelerar o crescimento dos países asiáticos e reduzir a velocidade de mercados avançados - o que não muda, portanto, a previsão de que a região ganhará relevância.

O que ajuda os países do sudeste asiático é que eles estão relativamente prontos para aproveitar as mudanças na economia global. Além de uma mão de obra relativamente barata e, em alguns países, qualificada, as nações estão integradas nas cadeias globais de valor.

Historicamente, a região se desenvolveu com base numa atividade econômica voltada para a exportação, com forte dependência de investimentos estrangeiros diretos e acordos comerciais. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que engloba 10 países da região, por exemplo, tem relações com as principais economias do mundo.

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“Em cadeias globais, eles (países do sudeste asiáticos) são supridores, mediadores, ou seja, tem muita coisa (peças) que vai para lá e depois sai (exportada). E também tem muitas coisas que compram como produto final, porque são mercado (consumidor)”, afirma Victor do Prado, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “E isso não é todo mundo que faz. Eles estão super inseridos na economia internacional”, acrescenta.

Um estudo do Banco de Desenvolvimento Asiático ajuda a dar a dimensão de como as economias estão inseridas na economia mundial. No setor eletroeletrônico, por exemplo, respondem por cerca de 10% das exportações globais de componentes e peças de semicondutores. Além disso, um a cada quatro empregos criados nos países estão ligados à cadeia global de valor.

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“75 milhões de trabalhadores do sudeste asiático tinham empregos relacionados à CGV (cadeia global de valor) em 2021, respondendo por mais de 25% do emprego total”, destacou o banco em seu relatório.

Empresas como Samsung, Foxconn e Canon, entre outras, têm plantas na região hoje. E a ampliação de seus investimentos tem sido anunciadas.

Ao lado de Índia e México, o sudeste asiático entrou no radar das empresas com a decisão do governo de Xi Jinping de orientar o crescimento da economia chinesa para o consumo, o que provocou um aumento no custo da mão de obra local. “O governo chinês falava que a economia do país estava desbalanceada, descoordenada e desorientada. Ou seja, estava muito focada em investimento”, afirma Roberto Dumas Damas, professor do Insper.

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Pesa também, claro, as tensões geopolíticas entre os governos chinês e americano, o que leva as empresas a buscarem alternativas para tentar reduzir o risco de operação.

“Na Ásia, o tema relevante trata de construir resiliência na cadeia de suprimentos, diversificando a produção para longe da China, a fim de reduzir tanto os riscos geopolíticos quanto outras fontes de interrupção”, afirma Johanna Chua, economista-chefe para Ásia no Citi. “Os maiores beneficiários têm sido, historicamente, o Vietnã, especialmente para bens mais intensivos em mão de obra, e a Malásia na área de semicondutores.”

Destaque asiático

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Dentre os países do sudeste asiático, o Vietnã é o que mais vem crescendo nas últimas décadas. Entre 1990 e 2022, seu PIB per capita avançou, em média, 6,7% ao ano. O governo, liderado pelo Partido Comunista há quase 50 anos, porém, tem uma meta ainda mais agressiva. A intenção é tornar o Vietnã um país de renda elevada até 2045, o que significa que o PIB per capita em paridade de poder de compra precisa passar dos US$ 13,3 mil registrados em 2022 para algo entre US$ 27 mil e US$ 32 mil. Isso implicaria em uma alta anual do PIB um pouco superior a 7%.

“O Vietnã se beneficiou dessas mudanças nas cadeias de produção global, já que muitas empresas se voltaram para o país como uma alternativa de menor custo à China, com um ambiente de negócios favorável”, diz Andrea Coppola, economista do Banco Mundial no Vietnã.

O economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), afirma que os países do sudeste asiático, sobretudo o Vietnã, têm investido pesado em educação, o que deve fazer com que se sobressaiam no longo prazo, ao contrário do Brasil, da Índia e do México. “Quando as pessoas falam sobre o modelo do sudeste asiático, parece que há algo exótico na região. Mas não há. Todos apostam na mesma fórmula: investir em recursos humanos.”

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Fábrica de veículos no norte do Vietnã; próxima à China, região é uma das que concentram parques fabris Foto: Thanh Hue/Reuters

Segundo Mody, a Malásia tem se saído economicamente “bem” nos últimos anos, e o Vietnã, “extraordinariamente bem”. “Talvez daqui a 30 anos, possamos ver o Vietnã emergindo como uma nova Coreia do Sul.” Por outro lado, ele destaca que a Tailândia tende a ser instável politicamente, o que prejudica seu desenvolvimento econômico quando comparada aos outros mercados da região.

Os desafios

Embora a região apresente boas vantagens para se consolidar no cenário internacional diante das mudanças da economia global, ela lida também com desafios importantes. Os principais são melhorar a infraestrutura, fortalecer a transição para uma produção industrial verde e ampliar a qualificação profissional.

Com a transição no mercado automotivo do veículo a combustão para o elétrico, por exemplo, os analistas alertam que pode haver um desemprego maior entre os profissionais de baixa qualificação, mas, por outro lado, haverá mais vagas para os escolarizados.

“O pessoal que trabalha na indústria automotiva de autopeças para veículo elétrico precisa ser melhor treinado do que o pessoal da indústria de autopeças para veículos de combustão. Eles (os países) sabem disso e estão investindo pesadamente em educação”, afirma Victor, do Cebri.

Batizada em 2013 como “China plus one” (China mais um, em português), a estratégia de empresas de evitar investir apenas no gigante asiático e diversificar os negócios entre outros destinos da região ganhou força no pós-pandemia e em meio à guerra comercial entre Pequim e Washington. Assim como tem ocorrido com a Índia, países do sudeste asiático onde a mão de obra é barata, como Vietnã, Malásia, Indonésia e Tailândia, estão se beneficiando desse cenário e devem ganhar relevância global nas próximas décadas.

Em 2017, a PwC já apontava que o mundo iria ver uma transformação nessa região nos 30 anos seguintes. À época, um estudo indicou que a Indonésia, por exemplo, saltaria da então oitava posição do ranking mundial dos países com maior PIB em Paridade do Poder de Compra (PPP) para a quarta em 2050. O Vietnã, com um crescimento médio do PIB de 5,1% ao ano, seria a economia que mais avançaria de acordo com esse indicador, do 32º lugar para o 20º.

O sócio da PwC Brasil Bruno Porto destaca que o mundo mudou muito desde 2017 e que questões imprevisíveis como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação acelerada nos países desenvolvidos podem alterar as projeções feitas à época. Mas, em geral, elas tendem a acelerar o crescimento dos países asiáticos e reduzir a velocidade de mercados avançados - o que não muda, portanto, a previsão de que a região ganhará relevância.

O que ajuda os países do sudeste asiático é que eles estão relativamente prontos para aproveitar as mudanças na economia global. Além de uma mão de obra relativamente barata e, em alguns países, qualificada, as nações estão integradas nas cadeias globais de valor.

Historicamente, a região se desenvolveu com base numa atividade econômica voltada para a exportação, com forte dependência de investimentos estrangeiros diretos e acordos comerciais. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que engloba 10 países da região, por exemplo, tem relações com as principais economias do mundo.

“Em cadeias globais, eles (países do sudeste asiáticos) são supridores, mediadores, ou seja, tem muita coisa (peças) que vai para lá e depois sai (exportada). E também tem muitas coisas que compram como produto final, porque são mercado (consumidor)”, afirma Victor do Prado, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “E isso não é todo mundo que faz. Eles estão super inseridos na economia internacional”, acrescenta.

Um estudo do Banco de Desenvolvimento Asiático ajuda a dar a dimensão de como as economias estão inseridas na economia mundial. No setor eletroeletrônico, por exemplo, respondem por cerca de 10% das exportações globais de componentes e peças de semicondutores. Além disso, um a cada quatro empregos criados nos países estão ligados à cadeia global de valor.

“75 milhões de trabalhadores do sudeste asiático tinham empregos relacionados à CGV (cadeia global de valor) em 2021, respondendo por mais de 25% do emprego total”, destacou o banco em seu relatório.

Empresas como Samsung, Foxconn e Canon, entre outras, têm plantas na região hoje. E a ampliação de seus investimentos tem sido anunciadas.

Ao lado de Índia e México, o sudeste asiático entrou no radar das empresas com a decisão do governo de Xi Jinping de orientar o crescimento da economia chinesa para o consumo, o que provocou um aumento no custo da mão de obra local. “O governo chinês falava que a economia do país estava desbalanceada, descoordenada e desorientada. Ou seja, estava muito focada em investimento”, afirma Roberto Dumas Damas, professor do Insper.

Pesa também, claro, as tensões geopolíticas entre os governos chinês e americano, o que leva as empresas a buscarem alternativas para tentar reduzir o risco de operação.

“Na Ásia, o tema relevante trata de construir resiliência na cadeia de suprimentos, diversificando a produção para longe da China, a fim de reduzir tanto os riscos geopolíticos quanto outras fontes de interrupção”, afirma Johanna Chua, economista-chefe para Ásia no Citi. “Os maiores beneficiários têm sido, historicamente, o Vietnã, especialmente para bens mais intensivos em mão de obra, e a Malásia na área de semicondutores.”

Destaque asiático

Dentre os países do sudeste asiático, o Vietnã é o que mais vem crescendo nas últimas décadas. Entre 1990 e 2022, seu PIB per capita avançou, em média, 6,7% ao ano. O governo, liderado pelo Partido Comunista há quase 50 anos, porém, tem uma meta ainda mais agressiva. A intenção é tornar o Vietnã um país de renda elevada até 2045, o que significa que o PIB per capita em paridade de poder de compra precisa passar dos US$ 13,3 mil registrados em 2022 para algo entre US$ 27 mil e US$ 32 mil. Isso implicaria em uma alta anual do PIB um pouco superior a 7%.

“O Vietnã se beneficiou dessas mudanças nas cadeias de produção global, já que muitas empresas se voltaram para o país como uma alternativa de menor custo à China, com um ambiente de negócios favorável”, diz Andrea Coppola, economista do Banco Mundial no Vietnã.

O economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), afirma que os países do sudeste asiático, sobretudo o Vietnã, têm investido pesado em educação, o que deve fazer com que se sobressaiam no longo prazo, ao contrário do Brasil, da Índia e do México. “Quando as pessoas falam sobre o modelo do sudeste asiático, parece que há algo exótico na região. Mas não há. Todos apostam na mesma fórmula: investir em recursos humanos.”

Fábrica de veículos no norte do Vietnã; próxima à China, região é uma das que concentram parques fabris Foto: Thanh Hue/Reuters

Segundo Mody, a Malásia tem se saído economicamente “bem” nos últimos anos, e o Vietnã, “extraordinariamente bem”. “Talvez daqui a 30 anos, possamos ver o Vietnã emergindo como uma nova Coreia do Sul.” Por outro lado, ele destaca que a Tailândia tende a ser instável politicamente, o que prejudica seu desenvolvimento econômico quando comparada aos outros mercados da região.

Os desafios

Embora a região apresente boas vantagens para se consolidar no cenário internacional diante das mudanças da economia global, ela lida também com desafios importantes. Os principais são melhorar a infraestrutura, fortalecer a transição para uma produção industrial verde e ampliar a qualificação profissional.

Com a transição no mercado automotivo do veículo a combustão para o elétrico, por exemplo, os analistas alertam que pode haver um desemprego maior entre os profissionais de baixa qualificação, mas, por outro lado, haverá mais vagas para os escolarizados.

“O pessoal que trabalha na indústria automotiva de autopeças para veículo elétrico precisa ser melhor treinado do que o pessoal da indústria de autopeças para veículos de combustão. Eles (os países) sabem disso e estão investindo pesadamente em educação”, afirma Victor, do Cebri.

Batizada em 2013 como “China plus one” (China mais um, em português), a estratégia de empresas de evitar investir apenas no gigante asiático e diversificar os negócios entre outros destinos da região ganhou força no pós-pandemia e em meio à guerra comercial entre Pequim e Washington. Assim como tem ocorrido com a Índia, países do sudeste asiático onde a mão de obra é barata, como Vietnã, Malásia, Indonésia e Tailândia, estão se beneficiando desse cenário e devem ganhar relevância global nas próximas décadas.

Em 2017, a PwC já apontava que o mundo iria ver uma transformação nessa região nos 30 anos seguintes. À época, um estudo indicou que a Indonésia, por exemplo, saltaria da então oitava posição do ranking mundial dos países com maior PIB em Paridade do Poder de Compra (PPP) para a quarta em 2050. O Vietnã, com um crescimento médio do PIB de 5,1% ao ano, seria a economia que mais avançaria de acordo com esse indicador, do 32º lugar para o 20º.

O sócio da PwC Brasil Bruno Porto destaca que o mundo mudou muito desde 2017 e que questões imprevisíveis como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação acelerada nos países desenvolvidos podem alterar as projeções feitas à época. Mas, em geral, elas tendem a acelerar o crescimento dos países asiáticos e reduzir a velocidade de mercados avançados - o que não muda, portanto, a previsão de que a região ganhará relevância.

O que ajuda os países do sudeste asiático é que eles estão relativamente prontos para aproveitar as mudanças na economia global. Além de uma mão de obra relativamente barata e, em alguns países, qualificada, as nações estão integradas nas cadeias globais de valor.

Historicamente, a região se desenvolveu com base numa atividade econômica voltada para a exportação, com forte dependência de investimentos estrangeiros diretos e acordos comerciais. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que engloba 10 países da região, por exemplo, tem relações com as principais economias do mundo.

“Em cadeias globais, eles (países do sudeste asiáticos) são supridores, mediadores, ou seja, tem muita coisa (peças) que vai para lá e depois sai (exportada). E também tem muitas coisas que compram como produto final, porque são mercado (consumidor)”, afirma Victor do Prado, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “E isso não é todo mundo que faz. Eles estão super inseridos na economia internacional”, acrescenta.

Um estudo do Banco de Desenvolvimento Asiático ajuda a dar a dimensão de como as economias estão inseridas na economia mundial. No setor eletroeletrônico, por exemplo, respondem por cerca de 10% das exportações globais de componentes e peças de semicondutores. Além disso, um a cada quatro empregos criados nos países estão ligados à cadeia global de valor.

“75 milhões de trabalhadores do sudeste asiático tinham empregos relacionados à CGV (cadeia global de valor) em 2021, respondendo por mais de 25% do emprego total”, destacou o banco em seu relatório.

Empresas como Samsung, Foxconn e Canon, entre outras, têm plantas na região hoje. E a ampliação de seus investimentos tem sido anunciadas.

Ao lado de Índia e México, o sudeste asiático entrou no radar das empresas com a decisão do governo de Xi Jinping de orientar o crescimento da economia chinesa para o consumo, o que provocou um aumento no custo da mão de obra local. “O governo chinês falava que a economia do país estava desbalanceada, descoordenada e desorientada. Ou seja, estava muito focada em investimento”, afirma Roberto Dumas Damas, professor do Insper.

Pesa também, claro, as tensões geopolíticas entre os governos chinês e americano, o que leva as empresas a buscarem alternativas para tentar reduzir o risco de operação.

“Na Ásia, o tema relevante trata de construir resiliência na cadeia de suprimentos, diversificando a produção para longe da China, a fim de reduzir tanto os riscos geopolíticos quanto outras fontes de interrupção”, afirma Johanna Chua, economista-chefe para Ásia no Citi. “Os maiores beneficiários têm sido, historicamente, o Vietnã, especialmente para bens mais intensivos em mão de obra, e a Malásia na área de semicondutores.”

Destaque asiático

Dentre os países do sudeste asiático, o Vietnã é o que mais vem crescendo nas últimas décadas. Entre 1990 e 2022, seu PIB per capita avançou, em média, 6,7% ao ano. O governo, liderado pelo Partido Comunista há quase 50 anos, porém, tem uma meta ainda mais agressiva. A intenção é tornar o Vietnã um país de renda elevada até 2045, o que significa que o PIB per capita em paridade de poder de compra precisa passar dos US$ 13,3 mil registrados em 2022 para algo entre US$ 27 mil e US$ 32 mil. Isso implicaria em uma alta anual do PIB um pouco superior a 7%.

“O Vietnã se beneficiou dessas mudanças nas cadeias de produção global, já que muitas empresas se voltaram para o país como uma alternativa de menor custo à China, com um ambiente de negócios favorável”, diz Andrea Coppola, economista do Banco Mundial no Vietnã.

O economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), afirma que os países do sudeste asiático, sobretudo o Vietnã, têm investido pesado em educação, o que deve fazer com que se sobressaiam no longo prazo, ao contrário do Brasil, da Índia e do México. “Quando as pessoas falam sobre o modelo do sudeste asiático, parece que há algo exótico na região. Mas não há. Todos apostam na mesma fórmula: investir em recursos humanos.”

Fábrica de veículos no norte do Vietnã; próxima à China, região é uma das que concentram parques fabris Foto: Thanh Hue/Reuters

Segundo Mody, a Malásia tem se saído economicamente “bem” nos últimos anos, e o Vietnã, “extraordinariamente bem”. “Talvez daqui a 30 anos, possamos ver o Vietnã emergindo como uma nova Coreia do Sul.” Por outro lado, ele destaca que a Tailândia tende a ser instável politicamente, o que prejudica seu desenvolvimento econômico quando comparada aos outros mercados da região.

Os desafios

Embora a região apresente boas vantagens para se consolidar no cenário internacional diante das mudanças da economia global, ela lida também com desafios importantes. Os principais são melhorar a infraestrutura, fortalecer a transição para uma produção industrial verde e ampliar a qualificação profissional.

Com a transição no mercado automotivo do veículo a combustão para o elétrico, por exemplo, os analistas alertam que pode haver um desemprego maior entre os profissionais de baixa qualificação, mas, por outro lado, haverá mais vagas para os escolarizados.

“O pessoal que trabalha na indústria automotiva de autopeças para veículo elétrico precisa ser melhor treinado do que o pessoal da indústria de autopeças para veículos de combustão. Eles (os países) sabem disso e estão investindo pesadamente em educação”, afirma Victor, do Cebri.

Batizada em 2013 como “China plus one” (China mais um, em português), a estratégia de empresas de evitar investir apenas no gigante asiático e diversificar os negócios entre outros destinos da região ganhou força no pós-pandemia e em meio à guerra comercial entre Pequim e Washington. Assim como tem ocorrido com a Índia, países do sudeste asiático onde a mão de obra é barata, como Vietnã, Malásia, Indonésia e Tailândia, estão se beneficiando desse cenário e devem ganhar relevância global nas próximas décadas.

Em 2017, a PwC já apontava que o mundo iria ver uma transformação nessa região nos 30 anos seguintes. À época, um estudo indicou que a Indonésia, por exemplo, saltaria da então oitava posição do ranking mundial dos países com maior PIB em Paridade do Poder de Compra (PPP) para a quarta em 2050. O Vietnã, com um crescimento médio do PIB de 5,1% ao ano, seria a economia que mais avançaria de acordo com esse indicador, do 32º lugar para o 20º.

O sócio da PwC Brasil Bruno Porto destaca que o mundo mudou muito desde 2017 e que questões imprevisíveis como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação acelerada nos países desenvolvidos podem alterar as projeções feitas à época. Mas, em geral, elas tendem a acelerar o crescimento dos países asiáticos e reduzir a velocidade de mercados avançados - o que não muda, portanto, a previsão de que a região ganhará relevância.

O que ajuda os países do sudeste asiático é que eles estão relativamente prontos para aproveitar as mudanças na economia global. Além de uma mão de obra relativamente barata e, em alguns países, qualificada, as nações estão integradas nas cadeias globais de valor.

Historicamente, a região se desenvolveu com base numa atividade econômica voltada para a exportação, com forte dependência de investimentos estrangeiros diretos e acordos comerciais. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que engloba 10 países da região, por exemplo, tem relações com as principais economias do mundo.

“Em cadeias globais, eles (países do sudeste asiáticos) são supridores, mediadores, ou seja, tem muita coisa (peças) que vai para lá e depois sai (exportada). E também tem muitas coisas que compram como produto final, porque são mercado (consumidor)”, afirma Victor do Prado, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “E isso não é todo mundo que faz. Eles estão super inseridos na economia internacional”, acrescenta.

Um estudo do Banco de Desenvolvimento Asiático ajuda a dar a dimensão de como as economias estão inseridas na economia mundial. No setor eletroeletrônico, por exemplo, respondem por cerca de 10% das exportações globais de componentes e peças de semicondutores. Além disso, um a cada quatro empregos criados nos países estão ligados à cadeia global de valor.

“75 milhões de trabalhadores do sudeste asiático tinham empregos relacionados à CGV (cadeia global de valor) em 2021, respondendo por mais de 25% do emprego total”, destacou o banco em seu relatório.

Empresas como Samsung, Foxconn e Canon, entre outras, têm plantas na região hoje. E a ampliação de seus investimentos tem sido anunciadas.

Ao lado de Índia e México, o sudeste asiático entrou no radar das empresas com a decisão do governo de Xi Jinping de orientar o crescimento da economia chinesa para o consumo, o que provocou um aumento no custo da mão de obra local. “O governo chinês falava que a economia do país estava desbalanceada, descoordenada e desorientada. Ou seja, estava muito focada em investimento”, afirma Roberto Dumas Damas, professor do Insper.

Pesa também, claro, as tensões geopolíticas entre os governos chinês e americano, o que leva as empresas a buscarem alternativas para tentar reduzir o risco de operação.

“Na Ásia, o tema relevante trata de construir resiliência na cadeia de suprimentos, diversificando a produção para longe da China, a fim de reduzir tanto os riscos geopolíticos quanto outras fontes de interrupção”, afirma Johanna Chua, economista-chefe para Ásia no Citi. “Os maiores beneficiários têm sido, historicamente, o Vietnã, especialmente para bens mais intensivos em mão de obra, e a Malásia na área de semicondutores.”

Destaque asiático

Dentre os países do sudeste asiático, o Vietnã é o que mais vem crescendo nas últimas décadas. Entre 1990 e 2022, seu PIB per capita avançou, em média, 6,7% ao ano. O governo, liderado pelo Partido Comunista há quase 50 anos, porém, tem uma meta ainda mais agressiva. A intenção é tornar o Vietnã um país de renda elevada até 2045, o que significa que o PIB per capita em paridade de poder de compra precisa passar dos US$ 13,3 mil registrados em 2022 para algo entre US$ 27 mil e US$ 32 mil. Isso implicaria em uma alta anual do PIB um pouco superior a 7%.

“O Vietnã se beneficiou dessas mudanças nas cadeias de produção global, já que muitas empresas se voltaram para o país como uma alternativa de menor custo à China, com um ambiente de negócios favorável”, diz Andrea Coppola, economista do Banco Mundial no Vietnã.

O economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), afirma que os países do sudeste asiático, sobretudo o Vietnã, têm investido pesado em educação, o que deve fazer com que se sobressaiam no longo prazo, ao contrário do Brasil, da Índia e do México. “Quando as pessoas falam sobre o modelo do sudeste asiático, parece que há algo exótico na região. Mas não há. Todos apostam na mesma fórmula: investir em recursos humanos.”

Fábrica de veículos no norte do Vietnã; próxima à China, região é uma das que concentram parques fabris Foto: Thanh Hue/Reuters

Segundo Mody, a Malásia tem se saído economicamente “bem” nos últimos anos, e o Vietnã, “extraordinariamente bem”. “Talvez daqui a 30 anos, possamos ver o Vietnã emergindo como uma nova Coreia do Sul.” Por outro lado, ele destaca que a Tailândia tende a ser instável politicamente, o que prejudica seu desenvolvimento econômico quando comparada aos outros mercados da região.

Os desafios

Embora a região apresente boas vantagens para se consolidar no cenário internacional diante das mudanças da economia global, ela lida também com desafios importantes. Os principais são melhorar a infraestrutura, fortalecer a transição para uma produção industrial verde e ampliar a qualificação profissional.

Com a transição no mercado automotivo do veículo a combustão para o elétrico, por exemplo, os analistas alertam que pode haver um desemprego maior entre os profissionais de baixa qualificação, mas, por outro lado, haverá mais vagas para os escolarizados.

“O pessoal que trabalha na indústria automotiva de autopeças para veículo elétrico precisa ser melhor treinado do que o pessoal da indústria de autopeças para veículos de combustão. Eles (os países) sabem disso e estão investindo pesadamente em educação”, afirma Victor, do Cebri.

Batizada em 2013 como “China plus one” (China mais um, em português), a estratégia de empresas de evitar investir apenas no gigante asiático e diversificar os negócios entre outros destinos da região ganhou força no pós-pandemia e em meio à guerra comercial entre Pequim e Washington. Assim como tem ocorrido com a Índia, países do sudeste asiático onde a mão de obra é barata, como Vietnã, Malásia, Indonésia e Tailândia, estão se beneficiando desse cenário e devem ganhar relevância global nas próximas décadas.

Em 2017, a PwC já apontava que o mundo iria ver uma transformação nessa região nos 30 anos seguintes. À época, um estudo indicou que a Indonésia, por exemplo, saltaria da então oitava posição do ranking mundial dos países com maior PIB em Paridade do Poder de Compra (PPP) para a quarta em 2050. O Vietnã, com um crescimento médio do PIB de 5,1% ao ano, seria a economia que mais avançaria de acordo com esse indicador, do 32º lugar para o 20º.

O sócio da PwC Brasil Bruno Porto destaca que o mundo mudou muito desde 2017 e que questões imprevisíveis como a pandemia, a guerra na Ucrânia e a inflação acelerada nos países desenvolvidos podem alterar as projeções feitas à época. Mas, em geral, elas tendem a acelerar o crescimento dos países asiáticos e reduzir a velocidade de mercados avançados - o que não muda, portanto, a previsão de que a região ganhará relevância.

O que ajuda os países do sudeste asiático é que eles estão relativamente prontos para aproveitar as mudanças na economia global. Além de uma mão de obra relativamente barata e, em alguns países, qualificada, as nações estão integradas nas cadeias globais de valor.

Historicamente, a região se desenvolveu com base numa atividade econômica voltada para a exportação, com forte dependência de investimentos estrangeiros diretos e acordos comerciais. A Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), que engloba 10 países da região, por exemplo, tem relações com as principais economias do mundo.

“Em cadeias globais, eles (países do sudeste asiáticos) são supridores, mediadores, ou seja, tem muita coisa (peças) que vai para lá e depois sai (exportada). E também tem muitas coisas que compram como produto final, porque são mercado (consumidor)”, afirma Victor do Prado, conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “E isso não é todo mundo que faz. Eles estão super inseridos na economia internacional”, acrescenta.

Um estudo do Banco de Desenvolvimento Asiático ajuda a dar a dimensão de como as economias estão inseridas na economia mundial. No setor eletroeletrônico, por exemplo, respondem por cerca de 10% das exportações globais de componentes e peças de semicondutores. Além disso, um a cada quatro empregos criados nos países estão ligados à cadeia global de valor.

“75 milhões de trabalhadores do sudeste asiático tinham empregos relacionados à CGV (cadeia global de valor) em 2021, respondendo por mais de 25% do emprego total”, destacou o banco em seu relatório.

Empresas como Samsung, Foxconn e Canon, entre outras, têm plantas na região hoje. E a ampliação de seus investimentos tem sido anunciadas.

Ao lado de Índia e México, o sudeste asiático entrou no radar das empresas com a decisão do governo de Xi Jinping de orientar o crescimento da economia chinesa para o consumo, o que provocou um aumento no custo da mão de obra local. “O governo chinês falava que a economia do país estava desbalanceada, descoordenada e desorientada. Ou seja, estava muito focada em investimento”, afirma Roberto Dumas Damas, professor do Insper.

Pesa também, claro, as tensões geopolíticas entre os governos chinês e americano, o que leva as empresas a buscarem alternativas para tentar reduzir o risco de operação.

“Na Ásia, o tema relevante trata de construir resiliência na cadeia de suprimentos, diversificando a produção para longe da China, a fim de reduzir tanto os riscos geopolíticos quanto outras fontes de interrupção”, afirma Johanna Chua, economista-chefe para Ásia no Citi. “Os maiores beneficiários têm sido, historicamente, o Vietnã, especialmente para bens mais intensivos em mão de obra, e a Malásia na área de semicondutores.”

Destaque asiático

Dentre os países do sudeste asiático, o Vietnã é o que mais vem crescendo nas últimas décadas. Entre 1990 e 2022, seu PIB per capita avançou, em média, 6,7% ao ano. O governo, liderado pelo Partido Comunista há quase 50 anos, porém, tem uma meta ainda mais agressiva. A intenção é tornar o Vietnã um país de renda elevada até 2045, o que significa que o PIB per capita em paridade de poder de compra precisa passar dos US$ 13,3 mil registrados em 2022 para algo entre US$ 27 mil e US$ 32 mil. Isso implicaria em uma alta anual do PIB um pouco superior a 7%.

“O Vietnã se beneficiou dessas mudanças nas cadeias de produção global, já que muitas empresas se voltaram para o país como uma alternativa de menor custo à China, com um ambiente de negócios favorável”, diz Andrea Coppola, economista do Banco Mundial no Vietnã.

O economista Ashoka Mody, professor visitante em Princeton e autor do livro “India is Broken” (A Índia está quebrada, em tradução livre), afirma que os países do sudeste asiático, sobretudo o Vietnã, têm investido pesado em educação, o que deve fazer com que se sobressaiam no longo prazo, ao contrário do Brasil, da Índia e do México. “Quando as pessoas falam sobre o modelo do sudeste asiático, parece que há algo exótico na região. Mas não há. Todos apostam na mesma fórmula: investir em recursos humanos.”

Fábrica de veículos no norte do Vietnã; próxima à China, região é uma das que concentram parques fabris Foto: Thanh Hue/Reuters

Segundo Mody, a Malásia tem se saído economicamente “bem” nos últimos anos, e o Vietnã, “extraordinariamente bem”. “Talvez daqui a 30 anos, possamos ver o Vietnã emergindo como uma nova Coreia do Sul.” Por outro lado, ele destaca que a Tailândia tende a ser instável politicamente, o que prejudica seu desenvolvimento econômico quando comparada aos outros mercados da região.

Os desafios

Embora a região apresente boas vantagens para se consolidar no cenário internacional diante das mudanças da economia global, ela lida também com desafios importantes. Os principais são melhorar a infraestrutura, fortalecer a transição para uma produção industrial verde e ampliar a qualificação profissional.

Com a transição no mercado automotivo do veículo a combustão para o elétrico, por exemplo, os analistas alertam que pode haver um desemprego maior entre os profissionais de baixa qualificação, mas, por outro lado, haverá mais vagas para os escolarizados.

“O pessoal que trabalha na indústria automotiva de autopeças para veículo elétrico precisa ser melhor treinado do que o pessoal da indústria de autopeças para veículos de combustão. Eles (os países) sabem disso e estão investindo pesadamente em educação”, afirma Victor, do Cebri.

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