BRASÍLIA - O novo CEO da Vale, Gustavo Pimenta, iniciou uma série de conversas com auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma primeira aproximação após a escolha do nome dele para o cargo. Procurada, a Vale não se manifestou.
Nesta sexta-feira, 13, Pimenta se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em São Paulo. Ele também já havia conversado com Renan Filho, dos Transportes.
As duas pastas têm uma discussão aberta com a Vale sobre o pagamento referente à renovação de outorgas das estradas de ferro Carajás e Vitória-Minas. O governo não concorda com o valor negociado na gestão Jair Bolsonaro pela antecipação dessas outorgas e cobra da Vale pouco mais de R$ 25 bilhões - a empresa fala em R$ 16 bilhões, segundo pessoas a par da negociação.
Parte desse valor consta das receitas extraordinárias que são esperadas pela equipe econômica para fechar o Orçamento deste ano. Pessoas envolvidas na negociação afirmam que o diálogo tem avançado, mas não prometem uma data para anunciar a conclusão do acordo. A incerteza vem levando especialistas em contas públicas a colocar em dúvida essa receita em 2024.
Na próxima semana, Pimenta deverá se reunir com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, de quem deverá ouvir cobranças para que o acordo sobre o pagamento das indenizações do desastre de Mariana (MG) seja finalizado. A Vale e a BHP, sócia da empresa no caso, fizeram uma segunda oferta ao governo, no valor de R$ 140 bilhões, mas ainda não houve resposta.
O novo CEO da Vale também vai procurar o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o próprio Lula nesse esforço de aproximação. O executivo tem tratado o relacionamento institucional como uma de suas prioridades no comando da companhia.
Ele sucede o atual presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, que foi criticado pela pouca interlocução com Brasília.
Nesta sexta, Lula fez críticas ao salário do atual presidente da empresa. “Sabe quanto ganha hoje o CEO da Vale? R$ 55 milhões por ano. Então, fico me perguntando: ‘Cadê a bondade dessa empresa privatizada? O que ela trouxe de verdade de lucro para o País? O que a Vale tem produzido de novo?’ Nada”, comentou o petista.
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A relação ficou ainda mais difícil durante o processo de sucessão na companhia, uma vez que Lula tentou colocar o ex-ministro Guido Mantega no comando da Vale, mas não teve sucesso. A investida do governo provocou mal-estar entre os acionistas privados da empresa, e parte dos sócios defendeu que Bartolomeo ficasse mais tempo no cargo como um anteparo - oficialmente o mandato dele só termina em dezembro.
Em agosto, os conselheiros decidiram pelo nome de Pimenta após a consultoria Russell Reynolds entregar uma lista de potenciais candidatos. A experiência interna (ele era vice-presidente financeiro) e a proximidade com acionistas fez com que fosse o escolhido. Pesou a seu favor também a “excepcional capacidade de comunicação”, segundo um representante dos acionistas, para superar a relação conflituosa com Brasília.
A expectativa é que Pimenta seja empossado nas próximas semanas, antecipando o calendário planejado, uma vez que a escolha do seu nome também ocorreu antes do previsto. Ele aguarda a decisão do Conselho de Administração, que deverá colocar em pauta a antecipação do fim do mandato de Bartolomeo.
Além dos ministros de Lula, Pimenta já se reuniu com os governadores Hélder Barbalho (MDB-PA) e Renato Casagrande (PSB-ES), que comandam os dois Estados onde a Vale tem as maiores operações no País. Ele também vai procurar Romeu Zema (Novo-MG) e Cláudio Castro (PL-RJ).
A primeira avaliação dele, feita pelo mundo político, é a de que Pimenta demonstra mais interesse em encerrar as questões em aberto com o governo e que tem dito ter interesse em fazer novos investimentos.