O andamento da agenda econômica no País a partir de 2023 deve mudar de ritmo devido à nova configuração do Congresso, que terá a direita bolsonarista fortalecida. Como essa mudança vai ocorrer, porém, ainda depende do resultado do segundo turno, segundo analistas. Se o ex-presidente Lula (PT) vencer no próximo dia 30, ele terá de enfrentar uma oposição dura no Senado e na Câmara dos Deputados, o que dificultará a aprovação de suas reformas. Caso o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja reeleito, a tendência é que a pauta econômica fique nas mãos dos parlamentares – como já vem ocorrendo –, enquanto o Executivo foca na sua agenda de “costumes”, que envolve questões como o porte de armas.
A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, vê o risco de uma “paralisia” na pauta caso Lula vença e Arthur Lira (PP-AL) se mantenha na presidência da Câmara. Isso porque, como oposicionista, o deputado poderia travar as votações dos projetos do governo, inclusive a de uma reforma tributária mais ampla – como o PT indica que gostaria de fazer. Ela diz também que seria mais difícil que Lula conseguisse reverter pontos de reformas que foram aprovadas nos últimos anos, como a trabalhista.
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Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, considerando o cenário de o PT voltar ao Executivo e a composição do novo Congresso, Lula teria de trabalhar com uma pauta econômica mais de centro, o que inclui uma regra fiscal também mais dura do que seus assessores econômicos vêm sinalizado.
Já diante da hipótese de Bolsonaro se reeleger, Vale diz que há risco de a reforma tributária ser mais modesta. “O que o governo lançou nessa área até agora é bastante ruim”, destaca. O economista afirma também que o ministro da Economia, Paulo Guedes, entraria em seu quinto ano de mandato bastante enfraquecido e sem “ideias novas”. Isso deve resultar em uma agenda econômica sendo pautada pelo Congresso, acrescenta. Para Alessandra, no entanto, nesse caso, o alinhamento com os parlamentares poderia dar tração à privatização dos Correios. “Vejo a questão das privatizações andando mais que a tributária, mas não sei se a da Petrobras seria bancada.”
Na visão do economista Bernard Appy, diretor do Centro de Cidadania Fiscal, há dúvidas se, mesmo reeleito e com o bolsonarismo mais forte entre os parlamentares, Bolsonaro conseguiria ter alguma independência do Centrão. “Se isso (o resultado da eleição no Congresso) muda a equação, fortalecendo o presidente na negociação com o Congresso o suficiente para ter autonomia? Não sei.”
Appy lembra que o Centrão também saiu reforçado dessa eleição e, na hipótese de Lula vencer, ele teria de conversar com os parlamentares que compõem essa ala. “Uma parte do Centrão é ideológica e dificilmente haverá espaço para uma negociação, mas uma parte é mais pragmática e talvez haja algum espaço”, acrescenta.
Nelson Marconi, economista que fez parte da equipe econômica do candidato Ciro Gomes, destaca que, ainda que o Congresso seja mais conservador, o presidente eleito costuma ter, no início do mandato, mais força para colocar na pauta projetos de seu interesse. “O presidente tem de aproveitar esse momento inicial”, diz.