‘Nunca falamos em carro popular’, diz secretário do MDIC; programa pode durar de 4 meses a um ano


Uallace Moreira diz que duração da medida vai depender do equilíbrio fiscal e, por ser pontual, não integra nova política industrial, que será anunciada no 2º semestre

Por Adriana Fernandes e Mariana Carneiro
Atualização:
Foto: Renato Villas
Entrevista comUallace Moreirasecretário de Desenvolvimento Industrial do MDIC

BRASÍLIA - O secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirma que é um “tiro de curto prazo” o programa de incentivo à compra de carros, anunciado na semana passada, a ser detalhado em até 15 dias. Na equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, Uallace defende o programa das críticas que o governo vem recebendo e busca diferenciar a ajuda ao setor automobilístico da nova política industrial que será anunciada no segundo semestre, batizada de neoindustrialização. O programa foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural”, afirma. “O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor”, justifica. Segundo ele, a duração do programa dependerá do equilíbrio fiscal. “Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.” Fernando Haddad, porém, afirmou que o programa duraria “de três a quatro meses”, e não no mínimo quatro meses, podendo alcançar um ano.

Logo no início da entrevista ao Estadão, o secretário busca dissociar o programa de incentivo à redução de preços da marca de carro popular: “A gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro”. Ele antecipa que o governo para 2024 prepara o benefício tributário da depreciação acelerada para estimular os investimentos em máquinas e equipamentos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

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Uallace Moreira, secretário da Indústria do MDIC Foto: Renato Villas

O que a política do carro popular tem a ver com a ‘neoindustrialização’ citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?

Primeiro ponto: a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro. Eu nunca discuti isso no MDIC. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, que nós discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que, ao mesmo tempo, a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.

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E por que isso preocupa?

A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. No setor de peças, componentes eletroeletrônicos, vidro, plástico, e também nas concessionárias, nos postos de combustíveis, peças de reposições. Quando eu englobo isso, o setor automotivo diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas. Se essa conjuntura permanecer desfavorável, em um maior nível de paralisação das empresas, isso tenderia a demitir mais pessoas, aumentar a taxa de desemprego, impactando inclusive as receitas, porque aí você tem contração do PIB que vai impactar perda de arrecadação. O presidente Lula manifestou publicamente preocupação e pediu para o vice-presidente apresentar uma proposta conjuntural que estimulasse o setor. Se você paralisa tudo, quanto desemprego isso vai gerar?

Uma das críticas ao programa é que ele incentiva o consumo de carros e de combustível fóssil...

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O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. E nós já temos uma tecnologia que emite o mesmo nível de CO2 que um carro elétrico, que é o etanol. Então, quando a gente se preocupou com a proposta conjuntural, duas questões foram colocadas no diálogo com o Ministério da Fazenda. Primeiro, a sustentabilidade como elemento estratégico e, segundo, o equilíbrio fiscal. Em todo momento da discussão, essas duas dimensões foram extremamente relevantes. A partir dessa preocupação, construímos uma proposta de escalonamento tributário. Uma proposta em que elencamos três dimensões para estabelecer o benefício tributário de PIS e Cofins, que é o fator social (preço do automóvel), o fator de eficiência energética (sustentabilidade) e o fator da densidade produtiva (geração de emprego e renda), que é a nossa preocupação final.

E por que incluíram carros de R$ 120 mil?

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Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que, ao mesmo tempo, não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona, e os carros que alcancem maior nível nos três fatores -- social, coeficiente energético e densidade produtiva -- terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado.

Que tipo de modelo vai pegar o desconto máximo, de 10,96%?

Os modelos mais compactos (como o Kwid, o MOB).

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E o mínimo, de 1,53%, pega SUVs?

Não tem SUV de R$ 120 mil. O que pode acontecer é que as próprias empresas, o presidente da Anfavea tem dito, podem se adaptar a essa lógica do mercado para tentar se encaixar dentro do programa.

Quando concluem o programa?

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Em até 15 dias; todo mundo quer resolver logo. O programa foi construído em diálogo com a Fazenda. Nunca houve uma construção do programa do MDIC. Sempre existiu diálogo com o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, o MDIC não constrói nada sozinho. E é sempre uma questão de governo.

E qual será a medida?

(Desconto de) PIS e Cofins.

Não vai ter IOF e IPI?

O IPI não precisa de compensação, mas vai ter redução. IOF não está certo ainda. Ainda estamos discutindo.

Por quê?

O que estamos trabalhando, para os financiamentos, é a aprovação da Lei de Garantias de crédito, que está no Senado. São princípios que reduzem muito o spread bancário (taxa de juros). Está no Senado, já foi aprovado na Câmara. Então, tende a ajudar muito o crédito.

Mas daria para aprovar em 15 dias?

Sim, bem possível. Se o Senado conseguir fazer isso em 15 dias, vai ajudar muito.

As apostas esportivas são uma das medidas estudadas para compensação. O que está na mesa?

Estamos estudando com a Fazenda. A gente tem os cálculos do impacto fiscal. (O tamanho) Depende muito do prazo estabelecido. A duração do programa vai se dar de acordo com o equilíbrio fiscal, de não ameaçar a busca pela responsabilidade fiscal. Por isso que o diálogo entre os dois ministérios é fundamental.

Mas qual o intervalo de tempo que pode durar a medida?

Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.

A compensação da redução do tributo será feita com qual medida?

A compensação está sendo avaliada para garantir o equilíbrio fiscal. São várias possibilidades. O diálogo com o Ministério da Fazenda é sobre a duração e como encontramos o melhor equilíbrio fiscal.

Os críticos apontam que esse tipo de política com incentivo para a indústria automobilística representa um atraso.

Estamos falando de um 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos. É com isso que estamos preocupados, com toda a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, a proposta que estamos construindo tem um caráter da sustentabilidade muito presente. É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural. O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor. Ele tem relevância, gera emprego e está na ponta da alta média intensidade tecnológica. Está passando por um processo de transformação e que tende muito a contribuir para a descarbonização. É um setor que está com nível de capacidade instalada muito baixa. Pode se agravar (o quadro), gerando mais desemprego.

No passado, o governo já concedeu incentivos e, em seguida, a indústria demitiu trabalhadores. Não pode acontecer a mesma coisa? Existe algum tipo de compromisso?

Veja, estamos falando de um programa de curto prazo, de caráter anticíclico. É tiro de curto prazo com a perspectiva de que outros fatores podem melhorar o cenário econômico. Como, por exemplo, o BNDES anunciou quase R$ 20 bilhões de financiamento para inovação à TR (Taxa Referencial) e R$ 2 bilhões para exportação para o setor exportador. Estamos, inclusive, discutindo com a Fazenda a possibilidade de implementação da política de depreciação acelerada para estimular o investimento para 2024.

Quanto é possível garantir de emprego?

Difícil afirmar.

Os empresários terão de assinar alguma cláusula de não poder demitir durante a vigência do programa?

A gente não colocou nenhum tipo de imposição dessa natureza. O que saiu na imprensa é que teria carro popular, com redução de conteúdo tecnológico… e isso a gente não aceita.

E de itens de segurança, como airbags?

Para mim nunca chegou essa proposta.

Quando vocês falam em sustentabilidade, é para produzir carros menos poluentes?

Não, eles vão produzir os mesmos carros. Na minha avaliação, o mérito do programa é que ele é um escalonamento tributário, com a estrutura produtiva que está dada, de acordo com a eficiência energética.

É um programa emergencial?

É para tentar minimizar um cenário desfavorável, uma conjuntura desfavorável. Eu acho que uma das grandes questões do debate é o que é conjuntura e o que é estrutura. Por exemplo, hoje mesmo saiu reportagem que tende a diminuir inclusive a inflação.

E vocês estão com pressa porque o anúncio paralisou o mercado?

Criou-se uma expectativa muito grande com todo o debate que foi gerado. Então, o nosso objetivo era dar previsibilidade do que a gente está discutindo, do que a gente quer fazer, para que as pessoas tenham clareza. As próprias montadoras e as próprias concessionárias estavam afirmando que essa expectativa estava parando o mercado, e a gente precisava dialogar com os atores que estão presentes nesse mercado.

Quando acha que a política industrial pode ser lançada?

A nossa ideia é, até o fim deste ano, ter um plano formado. O prazo estabelecido pelo CNDI é até dezembro; o nosso objetivo é encurtar ao máximo possível, para apresentar para a sociedade um plano de política Industrial. E o Rota 2030 vai estar dentro. Todas as leis de incentivos que nós temos no Brasil, a Lei de Informática, a Lei do Bem, o Padis, todas vão estar vinculadas na discussão sobre um plano de política industrial.

Hoje, a média é de dez anos para a depreciação acelerada. Cairia para um ano para o abatimento do imposto?

Seria de um a dois anos. Até 2025, talvez. É para todas as empresas que investem bens de capital (máquinas e equipamentos). O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial que está construindo uma política industrial dentro de novos parâmetros, que são as missões. Nos próximos dias, sairá o convite para a representação da sociedade civil (no conselho). As pessoas que serão convidadas são especializadas e podem contribuir para o debate. O vice-presidente está avaliando a representatividade.

Como alinhar com a reforma tributária, que é exatamente redução de incentivos?

A reforma tende a elevar a competitividade e a produtividade, e isso estimula o investimento. Como o próprio vice-presidente e a própria indústria reconhecem isso, nosso tecido tributário é muito grande. Então, se você faz uma reforma tributária que privilegia a indústria no sentido de estimular mais investimento, é uma das grandes políticas que nós temos, e de caráter horizontal.

BRASÍLIA - O secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirma que é um “tiro de curto prazo” o programa de incentivo à compra de carros, anunciado na semana passada, a ser detalhado em até 15 dias. Na equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, Uallace defende o programa das críticas que o governo vem recebendo e busca diferenciar a ajuda ao setor automobilístico da nova política industrial que será anunciada no segundo semestre, batizada de neoindustrialização. O programa foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural”, afirma. “O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor”, justifica. Segundo ele, a duração do programa dependerá do equilíbrio fiscal. “Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.” Fernando Haddad, porém, afirmou que o programa duraria “de três a quatro meses”, e não no mínimo quatro meses, podendo alcançar um ano.

Logo no início da entrevista ao Estadão, o secretário busca dissociar o programa de incentivo à redução de preços da marca de carro popular: “A gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro”. Ele antecipa que o governo para 2024 prepara o benefício tributário da depreciação acelerada para estimular os investimentos em máquinas e equipamentos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Uallace Moreira, secretário da Indústria do MDIC Foto: Renato Villas

O que a política do carro popular tem a ver com a ‘neoindustrialização’ citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?

Primeiro ponto: a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro. Eu nunca discuti isso no MDIC. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, que nós discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que, ao mesmo tempo, a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.

E por que isso preocupa?

A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. No setor de peças, componentes eletroeletrônicos, vidro, plástico, e também nas concessionárias, nos postos de combustíveis, peças de reposições. Quando eu englobo isso, o setor automotivo diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas. Se essa conjuntura permanecer desfavorável, em um maior nível de paralisação das empresas, isso tenderia a demitir mais pessoas, aumentar a taxa de desemprego, impactando inclusive as receitas, porque aí você tem contração do PIB que vai impactar perda de arrecadação. O presidente Lula manifestou publicamente preocupação e pediu para o vice-presidente apresentar uma proposta conjuntural que estimulasse o setor. Se você paralisa tudo, quanto desemprego isso vai gerar?

Uma das críticas ao programa é que ele incentiva o consumo de carros e de combustível fóssil...

O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. E nós já temos uma tecnologia que emite o mesmo nível de CO2 que um carro elétrico, que é o etanol. Então, quando a gente se preocupou com a proposta conjuntural, duas questões foram colocadas no diálogo com o Ministério da Fazenda. Primeiro, a sustentabilidade como elemento estratégico e, segundo, o equilíbrio fiscal. Em todo momento da discussão, essas duas dimensões foram extremamente relevantes. A partir dessa preocupação, construímos uma proposta de escalonamento tributário. Uma proposta em que elencamos três dimensões para estabelecer o benefício tributário de PIS e Cofins, que é o fator social (preço do automóvel), o fator de eficiência energética (sustentabilidade) e o fator da densidade produtiva (geração de emprego e renda), que é a nossa preocupação final.

E por que incluíram carros de R$ 120 mil?

Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que, ao mesmo tempo, não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona, e os carros que alcancem maior nível nos três fatores -- social, coeficiente energético e densidade produtiva -- terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado.

Que tipo de modelo vai pegar o desconto máximo, de 10,96%?

Os modelos mais compactos (como o Kwid, o MOB).

E o mínimo, de 1,53%, pega SUVs?

Não tem SUV de R$ 120 mil. O que pode acontecer é que as próprias empresas, o presidente da Anfavea tem dito, podem se adaptar a essa lógica do mercado para tentar se encaixar dentro do programa.

Quando concluem o programa?

Em até 15 dias; todo mundo quer resolver logo. O programa foi construído em diálogo com a Fazenda. Nunca houve uma construção do programa do MDIC. Sempre existiu diálogo com o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, o MDIC não constrói nada sozinho. E é sempre uma questão de governo.

E qual será a medida?

(Desconto de) PIS e Cofins.

Não vai ter IOF e IPI?

O IPI não precisa de compensação, mas vai ter redução. IOF não está certo ainda. Ainda estamos discutindo.

Por quê?

O que estamos trabalhando, para os financiamentos, é a aprovação da Lei de Garantias de crédito, que está no Senado. São princípios que reduzem muito o spread bancário (taxa de juros). Está no Senado, já foi aprovado na Câmara. Então, tende a ajudar muito o crédito.

Mas daria para aprovar em 15 dias?

Sim, bem possível. Se o Senado conseguir fazer isso em 15 dias, vai ajudar muito.

As apostas esportivas são uma das medidas estudadas para compensação. O que está na mesa?

Estamos estudando com a Fazenda. A gente tem os cálculos do impacto fiscal. (O tamanho) Depende muito do prazo estabelecido. A duração do programa vai se dar de acordo com o equilíbrio fiscal, de não ameaçar a busca pela responsabilidade fiscal. Por isso que o diálogo entre os dois ministérios é fundamental.

Mas qual o intervalo de tempo que pode durar a medida?

Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.

A compensação da redução do tributo será feita com qual medida?

A compensação está sendo avaliada para garantir o equilíbrio fiscal. São várias possibilidades. O diálogo com o Ministério da Fazenda é sobre a duração e como encontramos o melhor equilíbrio fiscal.

Os críticos apontam que esse tipo de política com incentivo para a indústria automobilística representa um atraso.

Estamos falando de um 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos. É com isso que estamos preocupados, com toda a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, a proposta que estamos construindo tem um caráter da sustentabilidade muito presente. É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural. O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor. Ele tem relevância, gera emprego e está na ponta da alta média intensidade tecnológica. Está passando por um processo de transformação e que tende muito a contribuir para a descarbonização. É um setor que está com nível de capacidade instalada muito baixa. Pode se agravar (o quadro), gerando mais desemprego.

No passado, o governo já concedeu incentivos e, em seguida, a indústria demitiu trabalhadores. Não pode acontecer a mesma coisa? Existe algum tipo de compromisso?

Veja, estamos falando de um programa de curto prazo, de caráter anticíclico. É tiro de curto prazo com a perspectiva de que outros fatores podem melhorar o cenário econômico. Como, por exemplo, o BNDES anunciou quase R$ 20 bilhões de financiamento para inovação à TR (Taxa Referencial) e R$ 2 bilhões para exportação para o setor exportador. Estamos, inclusive, discutindo com a Fazenda a possibilidade de implementação da política de depreciação acelerada para estimular o investimento para 2024.

Quanto é possível garantir de emprego?

Difícil afirmar.

Os empresários terão de assinar alguma cláusula de não poder demitir durante a vigência do programa?

A gente não colocou nenhum tipo de imposição dessa natureza. O que saiu na imprensa é que teria carro popular, com redução de conteúdo tecnológico… e isso a gente não aceita.

E de itens de segurança, como airbags?

Para mim nunca chegou essa proposta.

Quando vocês falam em sustentabilidade, é para produzir carros menos poluentes?

Não, eles vão produzir os mesmos carros. Na minha avaliação, o mérito do programa é que ele é um escalonamento tributário, com a estrutura produtiva que está dada, de acordo com a eficiência energética.

É um programa emergencial?

É para tentar minimizar um cenário desfavorável, uma conjuntura desfavorável. Eu acho que uma das grandes questões do debate é o que é conjuntura e o que é estrutura. Por exemplo, hoje mesmo saiu reportagem que tende a diminuir inclusive a inflação.

E vocês estão com pressa porque o anúncio paralisou o mercado?

Criou-se uma expectativa muito grande com todo o debate que foi gerado. Então, o nosso objetivo era dar previsibilidade do que a gente está discutindo, do que a gente quer fazer, para que as pessoas tenham clareza. As próprias montadoras e as próprias concessionárias estavam afirmando que essa expectativa estava parando o mercado, e a gente precisava dialogar com os atores que estão presentes nesse mercado.

Quando acha que a política industrial pode ser lançada?

A nossa ideia é, até o fim deste ano, ter um plano formado. O prazo estabelecido pelo CNDI é até dezembro; o nosso objetivo é encurtar ao máximo possível, para apresentar para a sociedade um plano de política Industrial. E o Rota 2030 vai estar dentro. Todas as leis de incentivos que nós temos no Brasil, a Lei de Informática, a Lei do Bem, o Padis, todas vão estar vinculadas na discussão sobre um plano de política industrial.

Hoje, a média é de dez anos para a depreciação acelerada. Cairia para um ano para o abatimento do imposto?

Seria de um a dois anos. Até 2025, talvez. É para todas as empresas que investem bens de capital (máquinas e equipamentos). O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial que está construindo uma política industrial dentro de novos parâmetros, que são as missões. Nos próximos dias, sairá o convite para a representação da sociedade civil (no conselho). As pessoas que serão convidadas são especializadas e podem contribuir para o debate. O vice-presidente está avaliando a representatividade.

Como alinhar com a reforma tributária, que é exatamente redução de incentivos?

A reforma tende a elevar a competitividade e a produtividade, e isso estimula o investimento. Como o próprio vice-presidente e a própria indústria reconhecem isso, nosso tecido tributário é muito grande. Então, se você faz uma reforma tributária que privilegia a indústria no sentido de estimular mais investimento, é uma das grandes políticas que nós temos, e de caráter horizontal.

BRASÍLIA - O secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirma que é um “tiro de curto prazo” o programa de incentivo à compra de carros, anunciado na semana passada, a ser detalhado em até 15 dias. Na equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, Uallace defende o programa das críticas que o governo vem recebendo e busca diferenciar a ajuda ao setor automobilístico da nova política industrial que será anunciada no segundo semestre, batizada de neoindustrialização. O programa foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural”, afirma. “O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor”, justifica. Segundo ele, a duração do programa dependerá do equilíbrio fiscal. “Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.” Fernando Haddad, porém, afirmou que o programa duraria “de três a quatro meses”, e não no mínimo quatro meses, podendo alcançar um ano.

Logo no início da entrevista ao Estadão, o secretário busca dissociar o programa de incentivo à redução de preços da marca de carro popular: “A gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro”. Ele antecipa que o governo para 2024 prepara o benefício tributário da depreciação acelerada para estimular os investimentos em máquinas e equipamentos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Uallace Moreira, secretário da Indústria do MDIC Foto: Renato Villas

O que a política do carro popular tem a ver com a ‘neoindustrialização’ citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?

Primeiro ponto: a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro. Eu nunca discuti isso no MDIC. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, que nós discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que, ao mesmo tempo, a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.

E por que isso preocupa?

A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. No setor de peças, componentes eletroeletrônicos, vidro, plástico, e também nas concessionárias, nos postos de combustíveis, peças de reposições. Quando eu englobo isso, o setor automotivo diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas. Se essa conjuntura permanecer desfavorável, em um maior nível de paralisação das empresas, isso tenderia a demitir mais pessoas, aumentar a taxa de desemprego, impactando inclusive as receitas, porque aí você tem contração do PIB que vai impactar perda de arrecadação. O presidente Lula manifestou publicamente preocupação e pediu para o vice-presidente apresentar uma proposta conjuntural que estimulasse o setor. Se você paralisa tudo, quanto desemprego isso vai gerar?

Uma das críticas ao programa é que ele incentiva o consumo de carros e de combustível fóssil...

O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. E nós já temos uma tecnologia que emite o mesmo nível de CO2 que um carro elétrico, que é o etanol. Então, quando a gente se preocupou com a proposta conjuntural, duas questões foram colocadas no diálogo com o Ministério da Fazenda. Primeiro, a sustentabilidade como elemento estratégico e, segundo, o equilíbrio fiscal. Em todo momento da discussão, essas duas dimensões foram extremamente relevantes. A partir dessa preocupação, construímos uma proposta de escalonamento tributário. Uma proposta em que elencamos três dimensões para estabelecer o benefício tributário de PIS e Cofins, que é o fator social (preço do automóvel), o fator de eficiência energética (sustentabilidade) e o fator da densidade produtiva (geração de emprego e renda), que é a nossa preocupação final.

E por que incluíram carros de R$ 120 mil?

Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que, ao mesmo tempo, não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona, e os carros que alcancem maior nível nos três fatores -- social, coeficiente energético e densidade produtiva -- terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado.

Que tipo de modelo vai pegar o desconto máximo, de 10,96%?

Os modelos mais compactos (como o Kwid, o MOB).

E o mínimo, de 1,53%, pega SUVs?

Não tem SUV de R$ 120 mil. O que pode acontecer é que as próprias empresas, o presidente da Anfavea tem dito, podem se adaptar a essa lógica do mercado para tentar se encaixar dentro do programa.

Quando concluem o programa?

Em até 15 dias; todo mundo quer resolver logo. O programa foi construído em diálogo com a Fazenda. Nunca houve uma construção do programa do MDIC. Sempre existiu diálogo com o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, o MDIC não constrói nada sozinho. E é sempre uma questão de governo.

E qual será a medida?

(Desconto de) PIS e Cofins.

Não vai ter IOF e IPI?

O IPI não precisa de compensação, mas vai ter redução. IOF não está certo ainda. Ainda estamos discutindo.

Por quê?

O que estamos trabalhando, para os financiamentos, é a aprovação da Lei de Garantias de crédito, que está no Senado. São princípios que reduzem muito o spread bancário (taxa de juros). Está no Senado, já foi aprovado na Câmara. Então, tende a ajudar muito o crédito.

Mas daria para aprovar em 15 dias?

Sim, bem possível. Se o Senado conseguir fazer isso em 15 dias, vai ajudar muito.

As apostas esportivas são uma das medidas estudadas para compensação. O que está na mesa?

Estamos estudando com a Fazenda. A gente tem os cálculos do impacto fiscal. (O tamanho) Depende muito do prazo estabelecido. A duração do programa vai se dar de acordo com o equilíbrio fiscal, de não ameaçar a busca pela responsabilidade fiscal. Por isso que o diálogo entre os dois ministérios é fundamental.

Mas qual o intervalo de tempo que pode durar a medida?

Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.

A compensação da redução do tributo será feita com qual medida?

A compensação está sendo avaliada para garantir o equilíbrio fiscal. São várias possibilidades. O diálogo com o Ministério da Fazenda é sobre a duração e como encontramos o melhor equilíbrio fiscal.

Os críticos apontam que esse tipo de política com incentivo para a indústria automobilística representa um atraso.

Estamos falando de um 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos. É com isso que estamos preocupados, com toda a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, a proposta que estamos construindo tem um caráter da sustentabilidade muito presente. É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural. O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor. Ele tem relevância, gera emprego e está na ponta da alta média intensidade tecnológica. Está passando por um processo de transformação e que tende muito a contribuir para a descarbonização. É um setor que está com nível de capacidade instalada muito baixa. Pode se agravar (o quadro), gerando mais desemprego.

No passado, o governo já concedeu incentivos e, em seguida, a indústria demitiu trabalhadores. Não pode acontecer a mesma coisa? Existe algum tipo de compromisso?

Veja, estamos falando de um programa de curto prazo, de caráter anticíclico. É tiro de curto prazo com a perspectiva de que outros fatores podem melhorar o cenário econômico. Como, por exemplo, o BNDES anunciou quase R$ 20 bilhões de financiamento para inovação à TR (Taxa Referencial) e R$ 2 bilhões para exportação para o setor exportador. Estamos, inclusive, discutindo com a Fazenda a possibilidade de implementação da política de depreciação acelerada para estimular o investimento para 2024.

Quanto é possível garantir de emprego?

Difícil afirmar.

Os empresários terão de assinar alguma cláusula de não poder demitir durante a vigência do programa?

A gente não colocou nenhum tipo de imposição dessa natureza. O que saiu na imprensa é que teria carro popular, com redução de conteúdo tecnológico… e isso a gente não aceita.

E de itens de segurança, como airbags?

Para mim nunca chegou essa proposta.

Quando vocês falam em sustentabilidade, é para produzir carros menos poluentes?

Não, eles vão produzir os mesmos carros. Na minha avaliação, o mérito do programa é que ele é um escalonamento tributário, com a estrutura produtiva que está dada, de acordo com a eficiência energética.

É um programa emergencial?

É para tentar minimizar um cenário desfavorável, uma conjuntura desfavorável. Eu acho que uma das grandes questões do debate é o que é conjuntura e o que é estrutura. Por exemplo, hoje mesmo saiu reportagem que tende a diminuir inclusive a inflação.

E vocês estão com pressa porque o anúncio paralisou o mercado?

Criou-se uma expectativa muito grande com todo o debate que foi gerado. Então, o nosso objetivo era dar previsibilidade do que a gente está discutindo, do que a gente quer fazer, para que as pessoas tenham clareza. As próprias montadoras e as próprias concessionárias estavam afirmando que essa expectativa estava parando o mercado, e a gente precisava dialogar com os atores que estão presentes nesse mercado.

Quando acha que a política industrial pode ser lançada?

A nossa ideia é, até o fim deste ano, ter um plano formado. O prazo estabelecido pelo CNDI é até dezembro; o nosso objetivo é encurtar ao máximo possível, para apresentar para a sociedade um plano de política Industrial. E o Rota 2030 vai estar dentro. Todas as leis de incentivos que nós temos no Brasil, a Lei de Informática, a Lei do Bem, o Padis, todas vão estar vinculadas na discussão sobre um plano de política industrial.

Hoje, a média é de dez anos para a depreciação acelerada. Cairia para um ano para o abatimento do imposto?

Seria de um a dois anos. Até 2025, talvez. É para todas as empresas que investem bens de capital (máquinas e equipamentos). O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial que está construindo uma política industrial dentro de novos parâmetros, que são as missões. Nos próximos dias, sairá o convite para a representação da sociedade civil (no conselho). As pessoas que serão convidadas são especializadas e podem contribuir para o debate. O vice-presidente está avaliando a representatividade.

Como alinhar com a reforma tributária, que é exatamente redução de incentivos?

A reforma tende a elevar a competitividade e a produtividade, e isso estimula o investimento. Como o próprio vice-presidente e a própria indústria reconhecem isso, nosso tecido tributário é muito grande. Então, se você faz uma reforma tributária que privilegia a indústria no sentido de estimular mais investimento, é uma das grandes políticas que nós temos, e de caráter horizontal.

BRASÍLIA - O secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirma que é um “tiro de curto prazo” o programa de incentivo à compra de carros, anunciado na semana passada, a ser detalhado em até 15 dias. Na equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, Uallace defende o programa das críticas que o governo vem recebendo e busca diferenciar a ajuda ao setor automobilístico da nova política industrial que será anunciada no segundo semestre, batizada de neoindustrialização. O programa foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural”, afirma. “O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor”, justifica. Segundo ele, a duração do programa dependerá do equilíbrio fiscal. “Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.” Fernando Haddad, porém, afirmou que o programa duraria “de três a quatro meses”, e não no mínimo quatro meses, podendo alcançar um ano.

Logo no início da entrevista ao Estadão, o secretário busca dissociar o programa de incentivo à redução de preços da marca de carro popular: “A gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro”. Ele antecipa que o governo para 2024 prepara o benefício tributário da depreciação acelerada para estimular os investimentos em máquinas e equipamentos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Uallace Moreira, secretário da Indústria do MDIC Foto: Renato Villas

O que a política do carro popular tem a ver com a ‘neoindustrialização’ citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?

Primeiro ponto: a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro. Eu nunca discuti isso no MDIC. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, que nós discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que, ao mesmo tempo, a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.

E por que isso preocupa?

A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. No setor de peças, componentes eletroeletrônicos, vidro, plástico, e também nas concessionárias, nos postos de combustíveis, peças de reposições. Quando eu englobo isso, o setor automotivo diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas. Se essa conjuntura permanecer desfavorável, em um maior nível de paralisação das empresas, isso tenderia a demitir mais pessoas, aumentar a taxa de desemprego, impactando inclusive as receitas, porque aí você tem contração do PIB que vai impactar perda de arrecadação. O presidente Lula manifestou publicamente preocupação e pediu para o vice-presidente apresentar uma proposta conjuntural que estimulasse o setor. Se você paralisa tudo, quanto desemprego isso vai gerar?

Uma das críticas ao programa é que ele incentiva o consumo de carros e de combustível fóssil...

O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. E nós já temos uma tecnologia que emite o mesmo nível de CO2 que um carro elétrico, que é o etanol. Então, quando a gente se preocupou com a proposta conjuntural, duas questões foram colocadas no diálogo com o Ministério da Fazenda. Primeiro, a sustentabilidade como elemento estratégico e, segundo, o equilíbrio fiscal. Em todo momento da discussão, essas duas dimensões foram extremamente relevantes. A partir dessa preocupação, construímos uma proposta de escalonamento tributário. Uma proposta em que elencamos três dimensões para estabelecer o benefício tributário de PIS e Cofins, que é o fator social (preço do automóvel), o fator de eficiência energética (sustentabilidade) e o fator da densidade produtiva (geração de emprego e renda), que é a nossa preocupação final.

E por que incluíram carros de R$ 120 mil?

Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que, ao mesmo tempo, não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona, e os carros que alcancem maior nível nos três fatores -- social, coeficiente energético e densidade produtiva -- terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado.

Que tipo de modelo vai pegar o desconto máximo, de 10,96%?

Os modelos mais compactos (como o Kwid, o MOB).

E o mínimo, de 1,53%, pega SUVs?

Não tem SUV de R$ 120 mil. O que pode acontecer é que as próprias empresas, o presidente da Anfavea tem dito, podem se adaptar a essa lógica do mercado para tentar se encaixar dentro do programa.

Quando concluem o programa?

Em até 15 dias; todo mundo quer resolver logo. O programa foi construído em diálogo com a Fazenda. Nunca houve uma construção do programa do MDIC. Sempre existiu diálogo com o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, o MDIC não constrói nada sozinho. E é sempre uma questão de governo.

E qual será a medida?

(Desconto de) PIS e Cofins.

Não vai ter IOF e IPI?

O IPI não precisa de compensação, mas vai ter redução. IOF não está certo ainda. Ainda estamos discutindo.

Por quê?

O que estamos trabalhando, para os financiamentos, é a aprovação da Lei de Garantias de crédito, que está no Senado. São princípios que reduzem muito o spread bancário (taxa de juros). Está no Senado, já foi aprovado na Câmara. Então, tende a ajudar muito o crédito.

Mas daria para aprovar em 15 dias?

Sim, bem possível. Se o Senado conseguir fazer isso em 15 dias, vai ajudar muito.

As apostas esportivas são uma das medidas estudadas para compensação. O que está na mesa?

Estamos estudando com a Fazenda. A gente tem os cálculos do impacto fiscal. (O tamanho) Depende muito do prazo estabelecido. A duração do programa vai se dar de acordo com o equilíbrio fiscal, de não ameaçar a busca pela responsabilidade fiscal. Por isso que o diálogo entre os dois ministérios é fundamental.

Mas qual o intervalo de tempo que pode durar a medida?

Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.

A compensação da redução do tributo será feita com qual medida?

A compensação está sendo avaliada para garantir o equilíbrio fiscal. São várias possibilidades. O diálogo com o Ministério da Fazenda é sobre a duração e como encontramos o melhor equilíbrio fiscal.

Os críticos apontam que esse tipo de política com incentivo para a indústria automobilística representa um atraso.

Estamos falando de um 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos. É com isso que estamos preocupados, com toda a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, a proposta que estamos construindo tem um caráter da sustentabilidade muito presente. É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural. O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor. Ele tem relevância, gera emprego e está na ponta da alta média intensidade tecnológica. Está passando por um processo de transformação e que tende muito a contribuir para a descarbonização. É um setor que está com nível de capacidade instalada muito baixa. Pode se agravar (o quadro), gerando mais desemprego.

No passado, o governo já concedeu incentivos e, em seguida, a indústria demitiu trabalhadores. Não pode acontecer a mesma coisa? Existe algum tipo de compromisso?

Veja, estamos falando de um programa de curto prazo, de caráter anticíclico. É tiro de curto prazo com a perspectiva de que outros fatores podem melhorar o cenário econômico. Como, por exemplo, o BNDES anunciou quase R$ 20 bilhões de financiamento para inovação à TR (Taxa Referencial) e R$ 2 bilhões para exportação para o setor exportador. Estamos, inclusive, discutindo com a Fazenda a possibilidade de implementação da política de depreciação acelerada para estimular o investimento para 2024.

Quanto é possível garantir de emprego?

Difícil afirmar.

Os empresários terão de assinar alguma cláusula de não poder demitir durante a vigência do programa?

A gente não colocou nenhum tipo de imposição dessa natureza. O que saiu na imprensa é que teria carro popular, com redução de conteúdo tecnológico… e isso a gente não aceita.

E de itens de segurança, como airbags?

Para mim nunca chegou essa proposta.

Quando vocês falam em sustentabilidade, é para produzir carros menos poluentes?

Não, eles vão produzir os mesmos carros. Na minha avaliação, o mérito do programa é que ele é um escalonamento tributário, com a estrutura produtiva que está dada, de acordo com a eficiência energética.

É um programa emergencial?

É para tentar minimizar um cenário desfavorável, uma conjuntura desfavorável. Eu acho que uma das grandes questões do debate é o que é conjuntura e o que é estrutura. Por exemplo, hoje mesmo saiu reportagem que tende a diminuir inclusive a inflação.

E vocês estão com pressa porque o anúncio paralisou o mercado?

Criou-se uma expectativa muito grande com todo o debate que foi gerado. Então, o nosso objetivo era dar previsibilidade do que a gente está discutindo, do que a gente quer fazer, para que as pessoas tenham clareza. As próprias montadoras e as próprias concessionárias estavam afirmando que essa expectativa estava parando o mercado, e a gente precisava dialogar com os atores que estão presentes nesse mercado.

Quando acha que a política industrial pode ser lançada?

A nossa ideia é, até o fim deste ano, ter um plano formado. O prazo estabelecido pelo CNDI é até dezembro; o nosso objetivo é encurtar ao máximo possível, para apresentar para a sociedade um plano de política Industrial. E o Rota 2030 vai estar dentro. Todas as leis de incentivos que nós temos no Brasil, a Lei de Informática, a Lei do Bem, o Padis, todas vão estar vinculadas na discussão sobre um plano de política industrial.

Hoje, a média é de dez anos para a depreciação acelerada. Cairia para um ano para o abatimento do imposto?

Seria de um a dois anos. Até 2025, talvez. É para todas as empresas que investem bens de capital (máquinas e equipamentos). O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial que está construindo uma política industrial dentro de novos parâmetros, que são as missões. Nos próximos dias, sairá o convite para a representação da sociedade civil (no conselho). As pessoas que serão convidadas são especializadas e podem contribuir para o debate. O vice-presidente está avaliando a representatividade.

Como alinhar com a reforma tributária, que é exatamente redução de incentivos?

A reforma tende a elevar a competitividade e a produtividade, e isso estimula o investimento. Como o próprio vice-presidente e a própria indústria reconhecem isso, nosso tecido tributário é muito grande. Então, se você faz uma reforma tributária que privilegia a indústria no sentido de estimular mais investimento, é uma das grandes políticas que nós temos, e de caráter horizontal.

BRASÍLIA - O secretário de Desenvolvimento Industrial, Uallace Moreira, afirma que é um “tiro de curto prazo” o programa de incentivo à compra de carros, anunciado na semana passada, a ser detalhado em até 15 dias. Na equipe do vice-presidente Geraldo Alckmin no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Serviços, Uallace defende o programa das críticas que o governo vem recebendo e busca diferenciar a ajuda ao setor automobilístico da nova política industrial que será anunciada no segundo semestre, batizada de neoindustrialização. O programa foi um pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural”, afirma. “O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor”, justifica. Segundo ele, a duração do programa dependerá do equilíbrio fiscal. “Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.” Fernando Haddad, porém, afirmou que o programa duraria “de três a quatro meses”, e não no mínimo quatro meses, podendo alcançar um ano.

Logo no início da entrevista ao Estadão, o secretário busca dissociar o programa de incentivo à redução de preços da marca de carro popular: “A gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro”. Ele antecipa que o governo para 2024 prepara o benefício tributário da depreciação acelerada para estimular os investimentos em máquinas e equipamentos. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Uallace Moreira, secretário da Indústria do MDIC Foto: Renato Villas

O que a política do carro popular tem a ver com a ‘neoindustrialização’ citada pelo presidente Lula e pelo vice, Geraldo Alckmin?

Primeiro ponto: a gente nunca falou em carro popular. Isso é importante e para deixar claro. Eu nunca discuti isso no MDIC. A gente tem um programa aqui que é o Rota 2030, que nós discutimos as rotas tecnológicas que promovam um processo de descarbonização. Ele entra na sua segunda fase a partir de agosto e, do ponto de vista do setor automotivo, era isso que nós discutimos. Só que, ao mesmo tempo, a gente está atento à conjuntura, ao que está acontecendo com o setor, que tem uma capacidade produtiva de 4,5 milhões de automóveis e que está no nível de utilização da capacidade instalada nos mais baixos que já se viu, em torno de 49%.

E por que isso preocupa?

A gente precisa pensar no setor automotivo não isoladamente, mas em todo o sistema. No setor de peças, componentes eletroeletrônicos, vidro, plástico, e também nas concessionárias, nos postos de combustíveis, peças de reposições. Quando eu englobo isso, o setor automotivo diretamente emprega 101,6 mil pessoas e indiretamente, considerando toda a cadeia, 1,2 milhão de pessoas. Se essa conjuntura permanecer desfavorável, em um maior nível de paralisação das empresas, isso tenderia a demitir mais pessoas, aumentar a taxa de desemprego, impactando inclusive as receitas, porque aí você tem contração do PIB que vai impactar perda de arrecadação. O presidente Lula manifestou publicamente preocupação e pediu para o vice-presidente apresentar uma proposta conjuntural que estimulasse o setor. Se você paralisa tudo, quanto desemprego isso vai gerar?

Uma das críticas ao programa é que ele incentiva o consumo de carros e de combustível fóssil...

O Brasil tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo. E nós já temos uma tecnologia que emite o mesmo nível de CO2 que um carro elétrico, que é o etanol. Então, quando a gente se preocupou com a proposta conjuntural, duas questões foram colocadas no diálogo com o Ministério da Fazenda. Primeiro, a sustentabilidade como elemento estratégico e, segundo, o equilíbrio fiscal. Em todo momento da discussão, essas duas dimensões foram extremamente relevantes. A partir dessa preocupação, construímos uma proposta de escalonamento tributário. Uma proposta em que elencamos três dimensões para estabelecer o benefício tributário de PIS e Cofins, que é o fator social (preço do automóvel), o fator de eficiência energética (sustentabilidade) e o fator da densidade produtiva (geração de emprego e renda), que é a nossa preocupação final.

E por que incluíram carros de R$ 120 mil?

Se considerássemos apenas os carros 1.0, eles ocupariam apenas 10% do mercado. Então, com carros de até R$ 120 mil, ocupamos quase 40% do mercado e, portanto, uma política de caráter conjuntural teria um impacto maior para manter emprego e renda. Só que, ao mesmo tempo, não poderíamos dar o mesmo incentivo tributário para um carro de R$ 120 mil e outro de R$ 68 mil, já que a gente estava incorporando as três dimensões. Por isso, escalona, e os carros que alcancem maior nível nos três fatores -- social, coeficiente energético e densidade produtiva -- terão o maior nível de incentivo tributário. E os com menores patamares alcançam o menor nível de incentivo tributário. Isso dá um número de 33 modelos de carros de 11 empresas, que representam quase 40% do mercado.

Que tipo de modelo vai pegar o desconto máximo, de 10,96%?

Os modelos mais compactos (como o Kwid, o MOB).

E o mínimo, de 1,53%, pega SUVs?

Não tem SUV de R$ 120 mil. O que pode acontecer é que as próprias empresas, o presidente da Anfavea tem dito, podem se adaptar a essa lógica do mercado para tentar se encaixar dentro do programa.

Quando concluem o programa?

Em até 15 dias; todo mundo quer resolver logo. O programa foi construído em diálogo com a Fazenda. Nunca houve uma construção do programa do MDIC. Sempre existiu diálogo com o ministro (da Fazenda, Fernando) Haddad, o MDIC não constrói nada sozinho. E é sempre uma questão de governo.

E qual será a medida?

(Desconto de) PIS e Cofins.

Não vai ter IOF e IPI?

O IPI não precisa de compensação, mas vai ter redução. IOF não está certo ainda. Ainda estamos discutindo.

Por quê?

O que estamos trabalhando, para os financiamentos, é a aprovação da Lei de Garantias de crédito, que está no Senado. São princípios que reduzem muito o spread bancário (taxa de juros). Está no Senado, já foi aprovado na Câmara. Então, tende a ajudar muito o crédito.

Mas daria para aprovar em 15 dias?

Sim, bem possível. Se o Senado conseguir fazer isso em 15 dias, vai ajudar muito.

As apostas esportivas são uma das medidas estudadas para compensação. O que está na mesa?

Estamos estudando com a Fazenda. A gente tem os cálculos do impacto fiscal. (O tamanho) Depende muito do prazo estabelecido. A duração do programa vai se dar de acordo com o equilíbrio fiscal, de não ameaçar a busca pela responsabilidade fiscal. Por isso que o diálogo entre os dois ministérios é fundamental.

Mas qual o intervalo de tempo que pode durar a medida?

Em até um ano. E no mínimo quatro meses, como o próprio ministro da Fazenda mencionou.

A compensação da redução do tributo será feita com qual medida?

A compensação está sendo avaliada para garantir o equilíbrio fiscal. São várias possibilidades. O diálogo com o Ministério da Fazenda é sobre a duração e como encontramos o melhor equilíbrio fiscal.

Os críticos apontam que esse tipo de política com incentivo para a indústria automobilística representa um atraso.

Estamos falando de um 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos. É com isso que estamos preocupados, com toda a cadeia produtiva. Ao mesmo tempo, a proposta que estamos construindo tem um caráter da sustentabilidade muito presente. É preciso diferenciar muito o que é uma política de caráter anticíclico, de curto prazo, de uma política estrutural. O setor automotivo representa quase 20% da indústria. É extremamente importante. Não estamos falando de qualquer setor. Ele tem relevância, gera emprego e está na ponta da alta média intensidade tecnológica. Está passando por um processo de transformação e que tende muito a contribuir para a descarbonização. É um setor que está com nível de capacidade instalada muito baixa. Pode se agravar (o quadro), gerando mais desemprego.

No passado, o governo já concedeu incentivos e, em seguida, a indústria demitiu trabalhadores. Não pode acontecer a mesma coisa? Existe algum tipo de compromisso?

Veja, estamos falando de um programa de curto prazo, de caráter anticíclico. É tiro de curto prazo com a perspectiva de que outros fatores podem melhorar o cenário econômico. Como, por exemplo, o BNDES anunciou quase R$ 20 bilhões de financiamento para inovação à TR (Taxa Referencial) e R$ 2 bilhões para exportação para o setor exportador. Estamos, inclusive, discutindo com a Fazenda a possibilidade de implementação da política de depreciação acelerada para estimular o investimento para 2024.

Quanto é possível garantir de emprego?

Difícil afirmar.

Os empresários terão de assinar alguma cláusula de não poder demitir durante a vigência do programa?

A gente não colocou nenhum tipo de imposição dessa natureza. O que saiu na imprensa é que teria carro popular, com redução de conteúdo tecnológico… e isso a gente não aceita.

E de itens de segurança, como airbags?

Para mim nunca chegou essa proposta.

Quando vocês falam em sustentabilidade, é para produzir carros menos poluentes?

Não, eles vão produzir os mesmos carros. Na minha avaliação, o mérito do programa é que ele é um escalonamento tributário, com a estrutura produtiva que está dada, de acordo com a eficiência energética.

É um programa emergencial?

É para tentar minimizar um cenário desfavorável, uma conjuntura desfavorável. Eu acho que uma das grandes questões do debate é o que é conjuntura e o que é estrutura. Por exemplo, hoje mesmo saiu reportagem que tende a diminuir inclusive a inflação.

E vocês estão com pressa porque o anúncio paralisou o mercado?

Criou-se uma expectativa muito grande com todo o debate que foi gerado. Então, o nosso objetivo era dar previsibilidade do que a gente está discutindo, do que a gente quer fazer, para que as pessoas tenham clareza. As próprias montadoras e as próprias concessionárias estavam afirmando que essa expectativa estava parando o mercado, e a gente precisava dialogar com os atores que estão presentes nesse mercado.

Quando acha que a política industrial pode ser lançada?

A nossa ideia é, até o fim deste ano, ter um plano formado. O prazo estabelecido pelo CNDI é até dezembro; o nosso objetivo é encurtar ao máximo possível, para apresentar para a sociedade um plano de política Industrial. E o Rota 2030 vai estar dentro. Todas as leis de incentivos que nós temos no Brasil, a Lei de Informática, a Lei do Bem, o Padis, todas vão estar vinculadas na discussão sobre um plano de política industrial.

Hoje, a média é de dez anos para a depreciação acelerada. Cairia para um ano para o abatimento do imposto?

Seria de um a dois anos. Até 2025, talvez. É para todas as empresas que investem bens de capital (máquinas e equipamentos). O Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial que está construindo uma política industrial dentro de novos parâmetros, que são as missões. Nos próximos dias, sairá o convite para a representação da sociedade civil (no conselho). As pessoas que serão convidadas são especializadas e podem contribuir para o debate. O vice-presidente está avaliando a representatividade.

Como alinhar com a reforma tributária, que é exatamente redução de incentivos?

A reforma tende a elevar a competitividade e a produtividade, e isso estimula o investimento. Como o próprio vice-presidente e a própria indústria reconhecem isso, nosso tecido tributário é muito grande. Então, se você faz uma reforma tributária que privilegia a indústria no sentido de estimular mais investimento, é uma das grandes políticas que nós temos, e de caráter horizontal.

Entrevista por Adriana Fernandes

Repórter especial de Economia em Brasília

Mariana Carneiro

Repórter especial de Economia em Brasília. Foi editora da Coluna do Estadão. Graduada em comunicação social pela PUC-Rio, com MBA em mercado financeiro pela B3 e especialização em análise de conjuntura econômica pela UFRJ. Foi correspondente na Argentina (2015) pela Folha de S.Paulo e também trabalhou em O Globo, TV Globo, JB e Jornal do Commercio.

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