NOVA YORK E SÃO PAULO - O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que vê uma “situação mais complexa” daqui para frente e alertou para a necessidade de reformas ao redor do globo. Segundo ele, é a primeira vez na história que se tem uma produtividade global tão baixa e poucas reformas. Esse cenário é visto, em especial, em países emergentes, mas o Brasil é exceção, conforme Campos Neto.
“Faltaram reformas. os governos ficaram acomodados. O mundo precisa de reformas, principalmente, os países emergentes. O Brasil é exceção e fez bastante reformas”, avaliou ele, durante evento do LIDE - Grupo de Líderes Empresariais, que acontece entre ontem e hoje, em Nova York. Campos Neto afirmou que as reformas iniciadas no governo de Michel Temer tiveram influência na oferta, como se vê claramente na mão de obra.
Para ele, o momento atual é “muito importante”. “Há mudança muito grande de vários paradigmas na economia mundial”, disse.
De acordo com o presidente do BC, a pandemia deixou “cicatrizes grandes”, com a invasão da Rússia na Ucrânia gerando grande problema de inflação em energia e alimentos, mas é preciso mostrar compromisso com o fiscal. Durante a covid-19, foi feito o maior programa de incentivos no mundo, no valor de US$ 9 trilhões, equivalente a 10% da economia global, de US$ 80 trilhões.
Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central
Outro efeito da pandemia foi o salto nos preços dos bens, que ainda não voltou, enquanto o setor de serviços teve sua atividade bastante impactada, mas começa a voltar. “Temos pouca capacidade de adaptar a oferta à demanda. A inflação será mais volátil”, disse o presidente do BC.
Segundo Campos Neto, o BC identificou caráter mais persistente da inflação, foi primeiro a subir os juros. “Parte do que foi feito em termo de juro vai fazer efeito em 2023″, afirmou.
Saiba mais
Ele afirmou que há sinais incipientes que mostram melhora qualitativa da inflação, mas reforçou que é necessário cautela e atenção ao fiscal. “Somente plano coeso com responsabilidade fiscal e reformas vai garantir crescimento sustentável”, disse.
Campos Neto alertou ainda que o Brasil deveria evitar um “aumento de impostos desequilibrado”. Sobrecarregar demais capital, reduz produtividade, observou. “Precisamos de um conjunto de políticas que olhe o social, mas nos dê credibilidade para atrair o investidor externo”, concluiu.
Prioridade na inflação
Questionado sobre a possibilidade de o Banco Central adotar metas de atuação além da inflação, Campos Neto disse considerar que o controle da inflação é a melhor maneira de garantir o crescimento econômico e o emprego.
Segundo o presidente do BC, alguns bancos centrais de países desenvolvidos começaram a adotar metas para o mercado de trabalho durante o período de juros baixos e inflação baixa dos últimos dez anos, em uma época em que o mundo mais rico desenvolvido era capaz de emitir dinheiro sem gerar inflação. Mesmo assim, agora, autoridades monetárias como a dos Estados Unidos, que têm mandato para garantir o emprego, têm priorizado a inflação, lembrou.
Arrumação
O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, alertou para a necessidade de o País arrumar a casa sob a ótica fiscal para poder voltar a crescer com mais vigor. Na última década, o Brasil cresceu em média 0,5% ao ano, o que, na sua visão, está “muitíssimo aquém” do seu potencial.
“A economia brasileira vive um imobilismo e está crescendo em círculos nos últimos anos”, disse Sidney, durante o evento do Lide. “Crescer não é um fetiche econômico.”
Sidney reforçou a importância do fiscal. Segundo ele, o novo governo tem de se pautar pelo equilíbrio das contas. “Sem arrumar a casa sob ótica fiscal, não vamos a lugar algum”, alertou. Para ele, passadas as eleições, o Brasil tem um ambiente democrático consolidado e suas instituições não fracassaram.
“A harmonia entre os poderes não é só importante, mas imprescindível”, disse, afirmando que o Brasil carece de mais debate de ideias e menos ataques. Sidney defendeu ainda a necessidade de o País olhar para o lado social, adotando uma política estruturada. “Não é só chamar de Auxilio Brasil”, afirmou, em crítica à ação feita durante o governo Bolsonaro, que rebatizou o Bolsa Família para Auxílio Brasil.
O presidente da Febraban cobrou a necessidade de o Brasil colocar o setor privado no “centro” e na liderança, de mais investimentos, reformas e arrumar o fiscal. Segundo ele, o País não vai crescer mais sem capital e investimento em longo prazo. “Investimento não dialoga com instabilidade e falta de segurança jurídica”, afirmou.
Por fim, disse que o setor bancário está convicto de que Brasil deve e pode crescer a taxas mais promissoras. Disse ainda que os bancos estão prontos para suportar a economia, apesar de serem bastante criticados.