BRASÍLIA - O “choque liberal” prometido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, “se existiu, teve voltagem baixa”. Essa é a avaliação de Paulo Gontijo, diretor executivo do Livres, associação que atua em defesa do liberalismo. Segundo ele, o ministro tem um discurso que “não coincide com os fatos” e que, se estivesse na iniciativa privada, “possivelmente” não estaria mais no cargo. “Pouco está sendo entregue, principalmente nas grandes medidas”, completa.
O ministro Paulo Guedes assumiu a pasta em janeiro de 2019 prometendo um choque liberalizante na economia. O choque liberal existiu?
Se existiu, a voltagem foi baixa. Tem iniciativas interessantes, mas não são as mais relevantes. A MP da liberdade econômica é interessante, mas a reforma administrativa não sai. A reforma tributária enviada na terça-feira foi primária, não discutida, parcial. A PEC 45 (proposta tributária em tramitação na Câmara dos Deputados) é melhor e faz muito mais sentido caminhar com ela.
Foram feitas muitas promessas?
Tem um problema crônico de eterno desalinhamento de expectativas. Você não pode falar que vai vender R$ 1 trilhão de imóveis. Virou piada. Eu como cidadão e ativista (do liberalismo), queria reforma tributária, abertura econômica, Estado mais enxuto. Pouco disso está sendo entregue, principalmente nas grandes medidas. O discurso de Guedes não coincide com os fatos e com o cumprimento de metas. Se fosse em uma empresa privada, ele estaria encrencado.
Estaria no cargo?
Possivelmente, não.
Como o sr. vê o andamento a agenda de privatizações?
Patinando. Correios, nada. Bancos e Petrobrás, sabemos que não vão ser privatizados. É super difícil falar de uma agenda que não emplaca. Por que não anda? Parece que não tem respaldo político.
Guedes falou que ia fazer quatro grandes privatizações em 90 dias.
Essa mania de número mágico é complicada. Não é o primeiro, são “R$ 5 bilhões para acabar com o coronavírus”, são “15 semanas para mudar o País”. É melhor não dizer um número.