O filme vai se repetir no Brasil?


Maior locadora online dos EUA, Netflix chega hoje ao País com a expectativa de chacoalhar o mercado

Por Nayara Fraga

A Netflix, criada por Hastings, foi a principal responsável pela falência da Blockbuster

 

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Se a Blockbuster ainda não tivesse falido e considerasse, hoje, comprar a locadora de filmes online Netflix, o valor da aquisição não sairia por menos de US$ 11,2 bilhões - valor 224 vezes maior que os US$ 50 milhões que ela se recusou a desembolsar pela startup em 2000.A valorização da empresa, que anuncia hoje sua chegada ao mercado brasileiro - além de outros 42 países da América Latina e Caribe -, é resultado de um modelo de negócios que começou com a entrega de DVDs em casa, evoluiu para streaming (transmissão instantânea) na internet e conquistou os americanos. Atualmente, 25,6 milhões de usuários nos Estados Unidos e no Canadá assistem a filmes e seriados quando e como quiserem. É pouco mais que a população da Austrália.Durante o horário de pico (de 20h a 0h) na América do Norte, 29,7% das transmissões instantâneas ocorrem via Netflix, segundo pesquisa da Sandvine. Na América Latina, território não ocupado até ontem pela Netflix, o streaming colabora para 27,5% do tráfego no horário de pico dessa região.A decisão de atuar no Brasil se deve a esse tráfego intenso - além, é claro, da economia favorável e de iniciativas, ainda que tímidas, voltadas à expansão do acesso à internet. Para o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP Marcelo Zuffo, o Brasil vive a terceira revolução digital - a primeira foi na TV aberta e a segunda surgiu com as TVs conectadas, que mostram conteúdo da internet por meio de banda estreita. Mas a Netflix também vai encontrar desafios. O principal deles está na oferta de conteúdo. "Geralmente, grandes empresas americanas e europeias não sabem lidar com conteúdo regional. Você vê isso na TV a cabo, onde o número de programas produzidos aqui é irrisório."Outra barreira existente no País é a qualidade da banda larga. Para usar o serviço, é preciso boa capacidade de transmissão, realidade distante de boa parte dos brasileiros. A infraestrutura do setor é precária, lembra o professor, e existe a questão de prometer uma quantidade de megabytes e fornecer somente parte dela. "Além da banda larga, há outro problema: a baixa penetração de equipamentos como as TVs conectadas", diz Daniel Topel, fundador e presidente da NetMovies, o principal concorrente da Netflix no Brasil.Concorrência. O modelo da locadora brasileira não está baseado no streaming. Hoje, 70% da receita ainda vem do aluguel de filmes em DVD e Blu-Ray - a empresa faz entregas em 93 cidades de 20 Estados. Desde que vendeu o controle para o fundo de investimentos Tiger, no fim do ano passado, a NetMovies passou a investir mais na expansão regional, na compra de conteúdo, em ações de marketing e no aumento do número de equipamentos em que seu serviço pode ser acessado. "É claro que a gente está atento à chegada da Netflix, mas temos vantagens competitivas importantes", acredita Topel.A Netflix também vai concorrer com o Terra TV Video Store e a Saraiva. As demais locadoras virtuais, incluindo as de grandes empresas do setor de TV a cabo, também podem ser afetadas.A Sky se prepara para esse novo mercado. Além do Sky on Demand, que vende conteúdo para assinantes HD (o pacote mais completo da operadora), ela pretende lançar em outubro deste ano um serviço com proposta semelhante à da Netflix, chamado Sky Online. A Net trilha um caminho próximo. Depois do Now, sua locadora virtual, ela lança com a Globosat um portal na internet, Muu, para oferecer conteúdo ao qual o assinante da Net tem acesso na TV, sem custo adicional.Por ora, a competição com a Netflix não a preocupa. Segundo o diretor de produtos e serviços da empresa, Márcio Carvalho, filmes em alta definição, os quais envolvem direitos autorais, tendem a não ser licenciados para plataformas móveis, como a da americana e da NetMovies . "O alcance dela se resumirá a quem quer algo a mais. É ainda um negócio de nicho", diz Carvalho.Se a opinião de Reed Hastings, fundador da Netflix, continua a mesma de anos atrás, a afirmação acima sairia irônica. Em uma entrevista à revista Wired em 2002, depois de dizer que queria construir seu negócio assim como a Starbucks - que cresceu pouco a pouco diante da Dunkin' Donuts -, ouviu do repórter que já existia uma Starbucks no ramo de filmes, e que ela se chamava Blockbuster. E Hastings respondeu: "A Blockbuster é a Dunkin' Donuts dos filmes. Quando a Starbucks surgiu, a Dunkin' Donuts disse: 'US$ 3,50 por um café só porque tem espuma em cima? Isso é um nicho'", respondeu Hastings. Ele se referia ao fato de a Donuts não ter apostado na popularização do negócio da concorrente, assim como o fez a Blockbuster em relação à Netflix.Mas a locadora online não vive só de glórias. Desde julho, quando mudou seus planos de assinatura nos EUA, cobrando separadamente pelos serviços de locação de DVDs e de streaming, recebeu uma enxurrada de reclamações e viu suas ações caírem na Nasdaq. Em princípio, a empresa oferecerá no Brasil apenas a opção de streaming. Os preços serão revelados hoje. PARA LEMBRARIdeia surgiu há 14 anosO primeiro negócio da Netflix foi entregar DVDs nas casas dos americanos. Mas Reed Hastings, o presidente e fundados da companhia, previa desde 1997 a possibilidade de oferecer conteúdo pela internet. Esse modelo acabou colaborando para a falência da Blockbuster, que anunciou na sexta-feira o fechamento de suas 253 lojas no Canadá. A TV paga nos Estados Unidos também sofre: perdeu 380 mil assinantes no segundo trimestre.

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Se a Blockbuster ainda não tivesse falido e considerasse, hoje, comprar a locadora de filmes online Netflix, o valor da aquisição não sairia por menos de US$ 11,2 bilhões - valor 224 vezes maior que os US$ 50 milhões que ela se recusou a desembolsar pela startup em 2000.A valorização da empresa, que anuncia hoje sua chegada ao mercado brasileiro - além de outros 42 países da América Latina e Caribe -, é resultado de um modelo de negócios que começou com a entrega de DVDs em casa, evoluiu para streaming (transmissão instantânea) na internet e conquistou os americanos. Atualmente, 25,6 milhões de usuários nos Estados Unidos e no Canadá assistem a filmes e seriados quando e como quiserem. É pouco mais que a população da Austrália.Durante o horário de pico (de 20h a 0h) na América do Norte, 29,7% das transmissões instantâneas ocorrem via Netflix, segundo pesquisa da Sandvine. Na América Latina, território não ocupado até ontem pela Netflix, o streaming colabora para 27,5% do tráfego no horário de pico dessa região.A decisão de atuar no Brasil se deve a esse tráfego intenso - além, é claro, da economia favorável e de iniciativas, ainda que tímidas, voltadas à expansão do acesso à internet. Para o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP Marcelo Zuffo, o Brasil vive a terceira revolução digital - a primeira foi na TV aberta e a segunda surgiu com as TVs conectadas, que mostram conteúdo da internet por meio de banda estreita. Mas a Netflix também vai encontrar desafios. O principal deles está na oferta de conteúdo. "Geralmente, grandes empresas americanas e europeias não sabem lidar com conteúdo regional. Você vê isso na TV a cabo, onde o número de programas produzidos aqui é irrisório."Outra barreira existente no País é a qualidade da banda larga. Para usar o serviço, é preciso boa capacidade de transmissão, realidade distante de boa parte dos brasileiros. A infraestrutura do setor é precária, lembra o professor, e existe a questão de prometer uma quantidade de megabytes e fornecer somente parte dela. "Além da banda larga, há outro problema: a baixa penetração de equipamentos como as TVs conectadas", diz Daniel Topel, fundador e presidente da NetMovies, o principal concorrente da Netflix no Brasil.Concorrência. O modelo da locadora brasileira não está baseado no streaming. Hoje, 70% da receita ainda vem do aluguel de filmes em DVD e Blu-Ray - a empresa faz entregas em 93 cidades de 20 Estados. Desde que vendeu o controle para o fundo de investimentos Tiger, no fim do ano passado, a NetMovies passou a investir mais na expansão regional, na compra de conteúdo, em ações de marketing e no aumento do número de equipamentos em que seu serviço pode ser acessado. "É claro que a gente está atento à chegada da Netflix, mas temos vantagens competitivas importantes", acredita Topel.A Netflix também vai concorrer com o Terra TV Video Store e a Saraiva. As demais locadoras virtuais, incluindo as de grandes empresas do setor de TV a cabo, também podem ser afetadas.A Sky se prepara para esse novo mercado. Além do Sky on Demand, que vende conteúdo para assinantes HD (o pacote mais completo da operadora), ela pretende lançar em outubro deste ano um serviço com proposta semelhante à da Netflix, chamado Sky Online. A Net trilha um caminho próximo. Depois do Now, sua locadora virtual, ela lança com a Globosat um portal na internet, Muu, para oferecer conteúdo ao qual o assinante da Net tem acesso na TV, sem custo adicional.Por ora, a competição com a Netflix não a preocupa. Segundo o diretor de produtos e serviços da empresa, Márcio Carvalho, filmes em alta definição, os quais envolvem direitos autorais, tendem a não ser licenciados para plataformas móveis, como a da americana e da NetMovies . "O alcance dela se resumirá a quem quer algo a mais. É ainda um negócio de nicho", diz Carvalho.Se a opinião de Reed Hastings, fundador da Netflix, continua a mesma de anos atrás, a afirmação acima sairia irônica. Em uma entrevista à revista Wired em 2002, depois de dizer que queria construir seu negócio assim como a Starbucks - que cresceu pouco a pouco diante da Dunkin' Donuts -, ouviu do repórter que já existia uma Starbucks no ramo de filmes, e que ela se chamava Blockbuster. E Hastings respondeu: "A Blockbuster é a Dunkin' Donuts dos filmes. Quando a Starbucks surgiu, a Dunkin' Donuts disse: 'US$ 3,50 por um café só porque tem espuma em cima? Isso é um nicho'", respondeu Hastings. Ele se referia ao fato de a Donuts não ter apostado na popularização do negócio da concorrente, assim como o fez a Blockbuster em relação à Netflix.Mas a locadora online não vive só de glórias. Desde julho, quando mudou seus planos de assinatura nos EUA, cobrando separadamente pelos serviços de locação de DVDs e de streaming, recebeu uma enxurrada de reclamações e viu suas ações caírem na Nasdaq. Em princípio, a empresa oferecerá no Brasil apenas a opção de streaming. Os preços serão revelados hoje. PARA LEMBRARIdeia surgiu há 14 anosO primeiro negócio da Netflix foi entregar DVDs nas casas dos americanos. Mas Reed Hastings, o presidente e fundados da companhia, previa desde 1997 a possibilidade de oferecer conteúdo pela internet. Esse modelo acabou colaborando para a falência da Blockbuster, que anunciou na sexta-feira o fechamento de suas 253 lojas no Canadá. A TV paga nos Estados Unidos também sofre: perdeu 380 mil assinantes no segundo trimestre.

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Se a Blockbuster ainda não tivesse falido e considerasse, hoje, comprar a locadora de filmes online Netflix, o valor da aquisição não sairia por menos de US$ 11,2 bilhões - valor 224 vezes maior que os US$ 50 milhões que ela se recusou a desembolsar pela startup em 2000.A valorização da empresa, que anuncia hoje sua chegada ao mercado brasileiro - além de outros 42 países da América Latina e Caribe -, é resultado de um modelo de negócios que começou com a entrega de DVDs em casa, evoluiu para streaming (transmissão instantânea) na internet e conquistou os americanos. Atualmente, 25,6 milhões de usuários nos Estados Unidos e no Canadá assistem a filmes e seriados quando e como quiserem. É pouco mais que a população da Austrália.Durante o horário de pico (de 20h a 0h) na América do Norte, 29,7% das transmissões instantâneas ocorrem via Netflix, segundo pesquisa da Sandvine. Na América Latina, território não ocupado até ontem pela Netflix, o streaming colabora para 27,5% do tráfego no horário de pico dessa região.A decisão de atuar no Brasil se deve a esse tráfego intenso - além, é claro, da economia favorável e de iniciativas, ainda que tímidas, voltadas à expansão do acesso à internet. Para o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP Marcelo Zuffo, o Brasil vive a terceira revolução digital - a primeira foi na TV aberta e a segunda surgiu com as TVs conectadas, que mostram conteúdo da internet por meio de banda estreita. Mas a Netflix também vai encontrar desafios. O principal deles está na oferta de conteúdo. "Geralmente, grandes empresas americanas e europeias não sabem lidar com conteúdo regional. Você vê isso na TV a cabo, onde o número de programas produzidos aqui é irrisório."Outra barreira existente no País é a qualidade da banda larga. Para usar o serviço, é preciso boa capacidade de transmissão, realidade distante de boa parte dos brasileiros. A infraestrutura do setor é precária, lembra o professor, e existe a questão de prometer uma quantidade de megabytes e fornecer somente parte dela. "Além da banda larga, há outro problema: a baixa penetração de equipamentos como as TVs conectadas", diz Daniel Topel, fundador e presidente da NetMovies, o principal concorrente da Netflix no Brasil.Concorrência. O modelo da locadora brasileira não está baseado no streaming. Hoje, 70% da receita ainda vem do aluguel de filmes em DVD e Blu-Ray - a empresa faz entregas em 93 cidades de 20 Estados. Desde que vendeu o controle para o fundo de investimentos Tiger, no fim do ano passado, a NetMovies passou a investir mais na expansão regional, na compra de conteúdo, em ações de marketing e no aumento do número de equipamentos em que seu serviço pode ser acessado. "É claro que a gente está atento à chegada da Netflix, mas temos vantagens competitivas importantes", acredita Topel.A Netflix também vai concorrer com o Terra TV Video Store e a Saraiva. As demais locadoras virtuais, incluindo as de grandes empresas do setor de TV a cabo, também podem ser afetadas.A Sky se prepara para esse novo mercado. Além do Sky on Demand, que vende conteúdo para assinantes HD (o pacote mais completo da operadora), ela pretende lançar em outubro deste ano um serviço com proposta semelhante à da Netflix, chamado Sky Online. A Net trilha um caminho próximo. Depois do Now, sua locadora virtual, ela lança com a Globosat um portal na internet, Muu, para oferecer conteúdo ao qual o assinante da Net tem acesso na TV, sem custo adicional.Por ora, a competição com a Netflix não a preocupa. Segundo o diretor de produtos e serviços da empresa, Márcio Carvalho, filmes em alta definição, os quais envolvem direitos autorais, tendem a não ser licenciados para plataformas móveis, como a da americana e da NetMovies . "O alcance dela se resumirá a quem quer algo a mais. É ainda um negócio de nicho", diz Carvalho.Se a opinião de Reed Hastings, fundador da Netflix, continua a mesma de anos atrás, a afirmação acima sairia irônica. Em uma entrevista à revista Wired em 2002, depois de dizer que queria construir seu negócio assim como a Starbucks - que cresceu pouco a pouco diante da Dunkin' Donuts -, ouviu do repórter que já existia uma Starbucks no ramo de filmes, e que ela se chamava Blockbuster. E Hastings respondeu: "A Blockbuster é a Dunkin' Donuts dos filmes. Quando a Starbucks surgiu, a Dunkin' Donuts disse: 'US$ 3,50 por um café só porque tem espuma em cima? Isso é um nicho'", respondeu Hastings. Ele se referia ao fato de a Donuts não ter apostado na popularização do negócio da concorrente, assim como o fez a Blockbuster em relação à Netflix.Mas a locadora online não vive só de glórias. Desde julho, quando mudou seus planos de assinatura nos EUA, cobrando separadamente pelos serviços de locação de DVDs e de streaming, recebeu uma enxurrada de reclamações e viu suas ações caírem na Nasdaq. Em princípio, a empresa oferecerá no Brasil apenas a opção de streaming. Os preços serão revelados hoje. PARA LEMBRARIdeia surgiu há 14 anosO primeiro negócio da Netflix foi entregar DVDs nas casas dos americanos. Mas Reed Hastings, o presidente e fundados da companhia, previa desde 1997 a possibilidade de oferecer conteúdo pela internet. Esse modelo acabou colaborando para a falência da Blockbuster, que anunciou na sexta-feira o fechamento de suas 253 lojas no Canadá. A TV paga nos Estados Unidos também sofre: perdeu 380 mil assinantes no segundo trimestre.

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Área digital ganha poder nas agências

O domínio chinês chega ao segmento de energia solar

A Netflix, criada por Hastings, foi a principal responsável pela falência da Blockbuster

 

Se a Blockbuster ainda não tivesse falido e considerasse, hoje, comprar a locadora de filmes online Netflix, o valor da aquisição não sairia por menos de US$ 11,2 bilhões - valor 224 vezes maior que os US$ 50 milhões que ela se recusou a desembolsar pela startup em 2000.A valorização da empresa, que anuncia hoje sua chegada ao mercado brasileiro - além de outros 42 países da América Latina e Caribe -, é resultado de um modelo de negócios que começou com a entrega de DVDs em casa, evoluiu para streaming (transmissão instantânea) na internet e conquistou os americanos. Atualmente, 25,6 milhões de usuários nos Estados Unidos e no Canadá assistem a filmes e seriados quando e como quiserem. É pouco mais que a população da Austrália.Durante o horário de pico (de 20h a 0h) na América do Norte, 29,7% das transmissões instantâneas ocorrem via Netflix, segundo pesquisa da Sandvine. Na América Latina, território não ocupado até ontem pela Netflix, o streaming colabora para 27,5% do tráfego no horário de pico dessa região.A decisão de atuar no Brasil se deve a esse tráfego intenso - além, é claro, da economia favorável e de iniciativas, ainda que tímidas, voltadas à expansão do acesso à internet. Para o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP Marcelo Zuffo, o Brasil vive a terceira revolução digital - a primeira foi na TV aberta e a segunda surgiu com as TVs conectadas, que mostram conteúdo da internet por meio de banda estreita. Mas a Netflix também vai encontrar desafios. O principal deles está na oferta de conteúdo. "Geralmente, grandes empresas americanas e europeias não sabem lidar com conteúdo regional. Você vê isso na TV a cabo, onde o número de programas produzidos aqui é irrisório."Outra barreira existente no País é a qualidade da banda larga. Para usar o serviço, é preciso boa capacidade de transmissão, realidade distante de boa parte dos brasileiros. A infraestrutura do setor é precária, lembra o professor, e existe a questão de prometer uma quantidade de megabytes e fornecer somente parte dela. "Além da banda larga, há outro problema: a baixa penetração de equipamentos como as TVs conectadas", diz Daniel Topel, fundador e presidente da NetMovies, o principal concorrente da Netflix no Brasil.Concorrência. O modelo da locadora brasileira não está baseado no streaming. Hoje, 70% da receita ainda vem do aluguel de filmes em DVD e Blu-Ray - a empresa faz entregas em 93 cidades de 20 Estados. Desde que vendeu o controle para o fundo de investimentos Tiger, no fim do ano passado, a NetMovies passou a investir mais na expansão regional, na compra de conteúdo, em ações de marketing e no aumento do número de equipamentos em que seu serviço pode ser acessado. "É claro que a gente está atento à chegada da Netflix, mas temos vantagens competitivas importantes", acredita Topel.A Netflix também vai concorrer com o Terra TV Video Store e a Saraiva. As demais locadoras virtuais, incluindo as de grandes empresas do setor de TV a cabo, também podem ser afetadas.A Sky se prepara para esse novo mercado. Além do Sky on Demand, que vende conteúdo para assinantes HD (o pacote mais completo da operadora), ela pretende lançar em outubro deste ano um serviço com proposta semelhante à da Netflix, chamado Sky Online. A Net trilha um caminho próximo. Depois do Now, sua locadora virtual, ela lança com a Globosat um portal na internet, Muu, para oferecer conteúdo ao qual o assinante da Net tem acesso na TV, sem custo adicional.Por ora, a competição com a Netflix não a preocupa. Segundo o diretor de produtos e serviços da empresa, Márcio Carvalho, filmes em alta definição, os quais envolvem direitos autorais, tendem a não ser licenciados para plataformas móveis, como a da americana e da NetMovies . "O alcance dela se resumirá a quem quer algo a mais. É ainda um negócio de nicho", diz Carvalho.Se a opinião de Reed Hastings, fundador da Netflix, continua a mesma de anos atrás, a afirmação acima sairia irônica. Em uma entrevista à revista Wired em 2002, depois de dizer que queria construir seu negócio assim como a Starbucks - que cresceu pouco a pouco diante da Dunkin' Donuts -, ouviu do repórter que já existia uma Starbucks no ramo de filmes, e que ela se chamava Blockbuster. E Hastings respondeu: "A Blockbuster é a Dunkin' Donuts dos filmes. Quando a Starbucks surgiu, a Dunkin' Donuts disse: 'US$ 3,50 por um café só porque tem espuma em cima? Isso é um nicho'", respondeu Hastings. Ele se referia ao fato de a Donuts não ter apostado na popularização do negócio da concorrente, assim como o fez a Blockbuster em relação à Netflix.Mas a locadora online não vive só de glórias. Desde julho, quando mudou seus planos de assinatura nos EUA, cobrando separadamente pelos serviços de locação de DVDs e de streaming, recebeu uma enxurrada de reclamações e viu suas ações caírem na Nasdaq. Em princípio, a empresa oferecerá no Brasil apenas a opção de streaming. Os preços serão revelados hoje. PARA LEMBRARIdeia surgiu há 14 anosO primeiro negócio da Netflix foi entregar DVDs nas casas dos americanos. Mas Reed Hastings, o presidente e fundados da companhia, previa desde 1997 a possibilidade de oferecer conteúdo pela internet. Esse modelo acabou colaborando para a falência da Blockbuster, que anunciou na sexta-feira o fechamento de suas 253 lojas no Canadá. A TV paga nos Estados Unidos também sofre: perdeu 380 mil assinantes no segundo trimestre.

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O domínio chinês chega ao segmento de energia solar

A Netflix, criada por Hastings, foi a principal responsável pela falência da Blockbuster

 

Se a Blockbuster ainda não tivesse falido e considerasse, hoje, comprar a locadora de filmes online Netflix, o valor da aquisição não sairia por menos de US$ 11,2 bilhões - valor 224 vezes maior que os US$ 50 milhões que ela se recusou a desembolsar pela startup em 2000.A valorização da empresa, que anuncia hoje sua chegada ao mercado brasileiro - além de outros 42 países da América Latina e Caribe -, é resultado de um modelo de negócios que começou com a entrega de DVDs em casa, evoluiu para streaming (transmissão instantânea) na internet e conquistou os americanos. Atualmente, 25,6 milhões de usuários nos Estados Unidos e no Canadá assistem a filmes e seriados quando e como quiserem. É pouco mais que a população da Austrália.Durante o horário de pico (de 20h a 0h) na América do Norte, 29,7% das transmissões instantâneas ocorrem via Netflix, segundo pesquisa da Sandvine. Na América Latina, território não ocupado até ontem pela Netflix, o streaming colabora para 27,5% do tráfego no horário de pico dessa região.A decisão de atuar no Brasil se deve a esse tráfego intenso - além, é claro, da economia favorável e de iniciativas, ainda que tímidas, voltadas à expansão do acesso à internet. Para o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP Marcelo Zuffo, o Brasil vive a terceira revolução digital - a primeira foi na TV aberta e a segunda surgiu com as TVs conectadas, que mostram conteúdo da internet por meio de banda estreita. Mas a Netflix também vai encontrar desafios. O principal deles está na oferta de conteúdo. "Geralmente, grandes empresas americanas e europeias não sabem lidar com conteúdo regional. Você vê isso na TV a cabo, onde o número de programas produzidos aqui é irrisório."Outra barreira existente no País é a qualidade da banda larga. Para usar o serviço, é preciso boa capacidade de transmissão, realidade distante de boa parte dos brasileiros. A infraestrutura do setor é precária, lembra o professor, e existe a questão de prometer uma quantidade de megabytes e fornecer somente parte dela. "Além da banda larga, há outro problema: a baixa penetração de equipamentos como as TVs conectadas", diz Daniel Topel, fundador e presidente da NetMovies, o principal concorrente da Netflix no Brasil.Concorrência. O modelo da locadora brasileira não está baseado no streaming. Hoje, 70% da receita ainda vem do aluguel de filmes em DVD e Blu-Ray - a empresa faz entregas em 93 cidades de 20 Estados. Desde que vendeu o controle para o fundo de investimentos Tiger, no fim do ano passado, a NetMovies passou a investir mais na expansão regional, na compra de conteúdo, em ações de marketing e no aumento do número de equipamentos em que seu serviço pode ser acessado. "É claro que a gente está atento à chegada da Netflix, mas temos vantagens competitivas importantes", acredita Topel.A Netflix também vai concorrer com o Terra TV Video Store e a Saraiva. As demais locadoras virtuais, incluindo as de grandes empresas do setor de TV a cabo, também podem ser afetadas.A Sky se prepara para esse novo mercado. Além do Sky on Demand, que vende conteúdo para assinantes HD (o pacote mais completo da operadora), ela pretende lançar em outubro deste ano um serviço com proposta semelhante à da Netflix, chamado Sky Online. A Net trilha um caminho próximo. Depois do Now, sua locadora virtual, ela lança com a Globosat um portal na internet, Muu, para oferecer conteúdo ao qual o assinante da Net tem acesso na TV, sem custo adicional.Por ora, a competição com a Netflix não a preocupa. 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Ele se referia ao fato de a Donuts não ter apostado na popularização do negócio da concorrente, assim como o fez a Blockbuster em relação à Netflix.Mas a locadora online não vive só de glórias. Desde julho, quando mudou seus planos de assinatura nos EUA, cobrando separadamente pelos serviços de locação de DVDs e de streaming, recebeu uma enxurrada de reclamações e viu suas ações caírem na Nasdaq. Em princípio, a empresa oferecerá no Brasil apenas a opção de streaming. Os preços serão revelados hoje. PARA LEMBRARIdeia surgiu há 14 anosO primeiro negócio da Netflix foi entregar DVDs nas casas dos americanos. Mas Reed Hastings, o presidente e fundados da companhia, previa desde 1997 a possibilidade de oferecer conteúdo pela internet. Esse modelo acabou colaborando para a falência da Blockbuster, que anunciou na sexta-feira o fechamento de suas 253 lojas no Canadá. A TV paga nos Estados Unidos também sofre: perdeu 380 mil assinantes no segundo trimestre.

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