Milton Friedman costumava dizer o seguinte: “A política monetária é como um jardim japonês, uma simplicidade aparente esconde uma sofisticada realidade”. Quase duas décadas após a morte de Friedman, o mundo se depara com esta realidade. A inflação no mundo desenvolvido diminuiu. Em maio de 2024, a inflação nos Estados Unidos, Zona do Euro e Reino Unido desacelerou para valores de 3,3%, 2,7% e 2,0%, respectivamente. Essa desaceleração, apesar de positiva, está longe da meta de inflação dos países, que é de 2%, com exceção do Reino Unido.
Em 2022, o Banco Central Europeu (BCE), o Banco da Inglaterra (BE) e o Banco Central Americano (Fed) colecionaram várias derrotas no campo monetário devido ao seu excesso de confiança. Após injetarem trilhões de dólares no enfrentamento da crise causada pela covid-19, os bancos centrais (BCs) tinham a missão de acabar com a inflação de dois dígitos. Então, os BCs apertaram a política monetária.
Algumas vitórias foram conquistadas. A inflação desacelerou. Mas, enquanto o BCE e o BE anunciam agora a intenção de iniciar o afrouxamento monetário, o Fed vai na direção oposta. A simplicidade da política monetária explicitada pelo presidente do Fed está se mostrando mais complexa.
É verdade que os BCs supracitados aumentaram significativamente as taxas de juros, mas, principalmente no caso do Fed, esse aumento não tornou a política monetária restritiva o suficiente. E isso está relacionado com o experimento do afrouxamento quantitativo (QE). O QE consistia no aumento do balanço do BC, com o objetivo de incrementar o estoque de moeda (M3). Nem o BCE nem o BE utilizaram este instrumento com tanta “generosidade” quanto o Fed.
Em maio de 2024, o balanço do Fed estava 77% acima do patamar pré-covid. Para efeito de comparação, no caso do Reino Unido, esse valor era de 56%; e na Zona do Euro era de 41%. Este aumento de balanço muito acima dos seus pares fez com que o estoque de moeda dos EUA subisse mais. Com base no último dado disponível de M3, de novembro de 2023, é possível observar que, enquanto o estoque de moeda do Reino Unido e da Zona do Euro se mantinha em 17% e 22%, respectivamente, acima do patamar pré-covid, no caso dos EUA, esse valor era de 34%. Por isso, a inflação nos EUA não diminuiu tanto.
Jerome Powell, presidente do Fed, deveria lembrar-se de Friedman e sua frase sobre o jardim japonês. Em vez de proferir discursos cada vez mais contraditórios, ele deveria passar a entender melhor “a sofisticada realidade” dos erros cometidos pelo Fed.