O que espera a economia brasileira nos próximos anos? Veja em 4 gráficos


Brasil deve ter um crescimento modesto nos próximos anos, aquém das necessidades do País para reverter o grau de desigualdade; economista apontam que País tem ampla agenda em melhorar educação e investimento

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

Nos últimos anos, a economia brasileira surpreendeu os analistas e colheu um desempenho melhor do que o esperado. Mas o que se projeta daqui para frente é um cenário pouco animador. O Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer num ritmo aquém das necessidades do País.

Entre 2024 e 2033, por exemplo, o crescimento médio do Brasil deve ser de 2,4% nas contas da consultoria Tendências. Num recorte de prazo mais curto, quando se olha para a mediana das projeções de mercado no relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o cenário é parecido. Neste ano, a previsão para o PIB é de alta de 1,6%. De 2025 a 2027, o avanço anual esperado é de 2%.

“É um crescimento ainda baixo para o que o País precisa, especialmente quando se olha para as necessidades sociais, de redução da desigualdade de renda”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “O Brasil precisaria ter um crescimento acima de 3% para conseguir endereçar essa questão mais rapidamente.”

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O que os analistas dizem é que o País tem um diagnóstico claro dos problemas que impedem uma aceleração do crescimento econômico nos próximos anos, mas ressaltam que não há uma agenda clara para endereçá-los. São entraves que passam pelo fraco nível de investimento do País, pela qualidade ruim da educação e, consequentemente, pela baixa produtividade.

“O Brasil tem diversos problemas. Não há enigma para o nosso baixo crescimento”, afirma Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “O diagnóstico é bem feito e temos o receituário. O problema é seguir esse receituário.”

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O que torna o cenário difícil é que o diagnóstico revela que os problemas não conseguem ser resolvidos no curto prazo. E, ao mesmo tempo, se transformaram em urgentes porque o Brasil já contou com impulsos importantes que contribuíram para o crescimento no passado, como o bônus demográfico, mas que já desapareceram.

“O País cresceu até os anos 80, basicamente, trazendo as pessoas da área rural para as cidades”, afirma Naercio Menezes, professor do Insper e coordenador da Cátedra Ruth Cardoso. “Elas vieram para a área urbana e passaram a trabalhar na indústria, no setor de serviço, em qualquer coisa com produtividade maior do que a da área rural. Isso foi um dos principais determinantes do aumento de produtividade até os anos 80.”

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Os bons resultados dos últimos anos acabam, em parte, sendo atribuídos a fatores pontuais. Em 2023, o crescimento ficou próximo de 3%, diante de uma contribuição expressiva da agropecuária e do impulso fiscal, com o reajuste real do salário mínimo.

“Agora, para aumentar a produtividade, precisa de inovação tecnológica, capital humano e estoque de capital. E essas coisas não estão indo bem nos últimos anos.”

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Uma produtividade que não avança

De fato, os números da produtividade do trabalhador brasileiro revelam como o cenário do País é preocupante. Quando comparado com um norte-americano, a produtividade brasileira é praticamente a mesma da observada nos anos 1950.

Em 2022, no último dado disponível, a produtividade do brasileiro equivalia a 22,3% da do norte-americano, de acordo com dados compilados pelo Ibre/FGV. Em 1950, essa relação era de 20,9%. No melhor momento, chegou a 36,7% em 1980.

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“O nosso trabalhador médio tem cerca de um quarto de produtividade de um trabalhador americano. Esse é o problema”, afirma Silvia. “Ele não consegue gerar o mesmo retorno de um trabalhador de um país desenvolvido.”

Sem o aumento da produtividade, o crescimento econômico acaba ressaltando as distorções econômicas do País, como inflação.

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Educação de má qualidade

O que ajuda a explicar essa baixa produtividade é o desempenho ruim do País nas avaliações educacionais, apesar dos avanços obtidos nos anos de escolaridade da população nas últimas décadas.

No último Pisa, por exemplo, o Brasil até subiu algumas colocações nos exames, mas seguiu nas últimas colocações entre 81 nações avaliadas. Em matemática, o Brasil ocupou a 65ª posição na edição 2022. Em ciências, ficou na 61º colocação. Por fim, em leitura, o País ocupou o 52º lugar.

“O desempenho do Pisa não mudou, principalmente, entre os alunos mais pobres”, afirma Naercio. “As escolas não estão preparando os alunos para questões mais elaboradas.”

Uma matéria publicada pelo Estadão ajuda a dimensionar o tamanho da desigualdade na educação brasileira. Num recorte entre os alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil, a nota desse grupo de estudantes colocaria o País na quinta colocação em leitura, bem acima, portanto, da classificação geral do País.

“E difícil ter crescimento de produtividade só com uma elite. O Brasil tem uma elite superbem educada e que estuda nas melhores escolas do País. Mas isso não é suficiente para você ter um país com inovações”, afirma Naercio.

Carência de investimento

Para tonar o cenário ainda mais desafiador, nos últimos ano, o País tem sofrido para conseguir elevar os investimentos - não só em infraestrutura, mas também em inovação, tão necessário na nova economia.

Considerada uma dos vetores para a expansão do PIB potencial, a taxa de investimento como proporção do PIB do Brasil tem rodado próximo de 18%, abaixo dos 20%, um patamar observado em países vizinhos, como de Chile, México e Colômbia.

“Um dos motivos que a gente cresce pouco é que a gente investe pouco”, afirma Silvia, do Ibre. “O País tem uma carência enorme de infraestrutura. E isso não se resolve de uma hora para outra.”

Em infraestrutura, uma série de dificuldades inibe a melhora do cenário - como juros altos, escassez de recursos, e pouca previsibilidade nas regras de contratos.

Investimento brasileiro como proporção do PIB está abaixo do de outros países Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

“O Brasil avançou pouco na questão de segurança jurídica”, afirma Alessandra, da Tendências. “De repente, vem uma decisão judicial do além que suspende pagamento de pedágio, por exemplo.”

A boa notícia, na avaliação dos economistas, é que o Brasil pode crescer mais se adotar as medidas necessárias e endereçar essas questões. A reforma tributária - discutida há décadas - deve ajudar a aliviar o cenário dos investimentos no médio e longo prazo.

“Superando essas limitações, a gente pode crescer mais”, afirma Silvia. “Mas é um caminho que demanda reformas, inovação, capital humano e investimento.”

Nos últimos anos, a economia brasileira surpreendeu os analistas e colheu um desempenho melhor do que o esperado. Mas o que se projeta daqui para frente é um cenário pouco animador. O Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer num ritmo aquém das necessidades do País.

Entre 2024 e 2033, por exemplo, o crescimento médio do Brasil deve ser de 2,4% nas contas da consultoria Tendências. Num recorte de prazo mais curto, quando se olha para a mediana das projeções de mercado no relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o cenário é parecido. Neste ano, a previsão para o PIB é de alta de 1,6%. De 2025 a 2027, o avanço anual esperado é de 2%.

“É um crescimento ainda baixo para o que o País precisa, especialmente quando se olha para as necessidades sociais, de redução da desigualdade de renda”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “O Brasil precisaria ter um crescimento acima de 3% para conseguir endereçar essa questão mais rapidamente.”

O que os analistas dizem é que o País tem um diagnóstico claro dos problemas que impedem uma aceleração do crescimento econômico nos próximos anos, mas ressaltam que não há uma agenda clara para endereçá-los. São entraves que passam pelo fraco nível de investimento do País, pela qualidade ruim da educação e, consequentemente, pela baixa produtividade.

“O Brasil tem diversos problemas. Não há enigma para o nosso baixo crescimento”, afirma Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “O diagnóstico é bem feito e temos o receituário. O problema é seguir esse receituário.”

O que torna o cenário difícil é que o diagnóstico revela que os problemas não conseguem ser resolvidos no curto prazo. E, ao mesmo tempo, se transformaram em urgentes porque o Brasil já contou com impulsos importantes que contribuíram para o crescimento no passado, como o bônus demográfico, mas que já desapareceram.

“O País cresceu até os anos 80, basicamente, trazendo as pessoas da área rural para as cidades”, afirma Naercio Menezes, professor do Insper e coordenador da Cátedra Ruth Cardoso. “Elas vieram para a área urbana e passaram a trabalhar na indústria, no setor de serviço, em qualquer coisa com produtividade maior do que a da área rural. Isso foi um dos principais determinantes do aumento de produtividade até os anos 80.”

Os bons resultados dos últimos anos acabam, em parte, sendo atribuídos a fatores pontuais. Em 2023, o crescimento ficou próximo de 3%, diante de uma contribuição expressiva da agropecuária e do impulso fiscal, com o reajuste real do salário mínimo.

“Agora, para aumentar a produtividade, precisa de inovação tecnológica, capital humano e estoque de capital. E essas coisas não estão indo bem nos últimos anos.”

Uma produtividade que não avança

De fato, os números da produtividade do trabalhador brasileiro revelam como o cenário do País é preocupante. Quando comparado com um norte-americano, a produtividade brasileira é praticamente a mesma da observada nos anos 1950.

Em 2022, no último dado disponível, a produtividade do brasileiro equivalia a 22,3% da do norte-americano, de acordo com dados compilados pelo Ibre/FGV. Em 1950, essa relação era de 20,9%. No melhor momento, chegou a 36,7% em 1980.

“O nosso trabalhador médio tem cerca de um quarto de produtividade de um trabalhador americano. Esse é o problema”, afirma Silvia. “Ele não consegue gerar o mesmo retorno de um trabalhador de um país desenvolvido.”

Sem o aumento da produtividade, o crescimento econômico acaba ressaltando as distorções econômicas do País, como inflação.

Educação de má qualidade

O que ajuda a explicar essa baixa produtividade é o desempenho ruim do País nas avaliações educacionais, apesar dos avanços obtidos nos anos de escolaridade da população nas últimas décadas.

No último Pisa, por exemplo, o Brasil até subiu algumas colocações nos exames, mas seguiu nas últimas colocações entre 81 nações avaliadas. Em matemática, o Brasil ocupou a 65ª posição na edição 2022. Em ciências, ficou na 61º colocação. Por fim, em leitura, o País ocupou o 52º lugar.

“O desempenho do Pisa não mudou, principalmente, entre os alunos mais pobres”, afirma Naercio. “As escolas não estão preparando os alunos para questões mais elaboradas.”

Uma matéria publicada pelo Estadão ajuda a dimensionar o tamanho da desigualdade na educação brasileira. Num recorte entre os alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil, a nota desse grupo de estudantes colocaria o País na quinta colocação em leitura, bem acima, portanto, da classificação geral do País.

“E difícil ter crescimento de produtividade só com uma elite. O Brasil tem uma elite superbem educada e que estuda nas melhores escolas do País. Mas isso não é suficiente para você ter um país com inovações”, afirma Naercio.

Carência de investimento

Para tonar o cenário ainda mais desafiador, nos últimos ano, o País tem sofrido para conseguir elevar os investimentos - não só em infraestrutura, mas também em inovação, tão necessário na nova economia.

Considerada uma dos vetores para a expansão do PIB potencial, a taxa de investimento como proporção do PIB do Brasil tem rodado próximo de 18%, abaixo dos 20%, um patamar observado em países vizinhos, como de Chile, México e Colômbia.

“Um dos motivos que a gente cresce pouco é que a gente investe pouco”, afirma Silvia, do Ibre. “O País tem uma carência enorme de infraestrutura. E isso não se resolve de uma hora para outra.”

Em infraestrutura, uma série de dificuldades inibe a melhora do cenário - como juros altos, escassez de recursos, e pouca previsibilidade nas regras de contratos.

Investimento brasileiro como proporção do PIB está abaixo do de outros países Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

“O Brasil avançou pouco na questão de segurança jurídica”, afirma Alessandra, da Tendências. “De repente, vem uma decisão judicial do além que suspende pagamento de pedágio, por exemplo.”

A boa notícia, na avaliação dos economistas, é que o Brasil pode crescer mais se adotar as medidas necessárias e endereçar essas questões. A reforma tributária - discutida há décadas - deve ajudar a aliviar o cenário dos investimentos no médio e longo prazo.

“Superando essas limitações, a gente pode crescer mais”, afirma Silvia. “Mas é um caminho que demanda reformas, inovação, capital humano e investimento.”

Nos últimos anos, a economia brasileira surpreendeu os analistas e colheu um desempenho melhor do que o esperado. Mas o que se projeta daqui para frente é um cenário pouco animador. O Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer num ritmo aquém das necessidades do País.

Entre 2024 e 2033, por exemplo, o crescimento médio do Brasil deve ser de 2,4% nas contas da consultoria Tendências. Num recorte de prazo mais curto, quando se olha para a mediana das projeções de mercado no relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o cenário é parecido. Neste ano, a previsão para o PIB é de alta de 1,6%. De 2025 a 2027, o avanço anual esperado é de 2%.

“É um crescimento ainda baixo para o que o País precisa, especialmente quando se olha para as necessidades sociais, de redução da desigualdade de renda”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “O Brasil precisaria ter um crescimento acima de 3% para conseguir endereçar essa questão mais rapidamente.”

O que os analistas dizem é que o País tem um diagnóstico claro dos problemas que impedem uma aceleração do crescimento econômico nos próximos anos, mas ressaltam que não há uma agenda clara para endereçá-los. São entraves que passam pelo fraco nível de investimento do País, pela qualidade ruim da educação e, consequentemente, pela baixa produtividade.

“O Brasil tem diversos problemas. Não há enigma para o nosso baixo crescimento”, afirma Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “O diagnóstico é bem feito e temos o receituário. O problema é seguir esse receituário.”

O que torna o cenário difícil é que o diagnóstico revela que os problemas não conseguem ser resolvidos no curto prazo. E, ao mesmo tempo, se transformaram em urgentes porque o Brasil já contou com impulsos importantes que contribuíram para o crescimento no passado, como o bônus demográfico, mas que já desapareceram.

“O País cresceu até os anos 80, basicamente, trazendo as pessoas da área rural para as cidades”, afirma Naercio Menezes, professor do Insper e coordenador da Cátedra Ruth Cardoso. “Elas vieram para a área urbana e passaram a trabalhar na indústria, no setor de serviço, em qualquer coisa com produtividade maior do que a da área rural. Isso foi um dos principais determinantes do aumento de produtividade até os anos 80.”

Os bons resultados dos últimos anos acabam, em parte, sendo atribuídos a fatores pontuais. Em 2023, o crescimento ficou próximo de 3%, diante de uma contribuição expressiva da agropecuária e do impulso fiscal, com o reajuste real do salário mínimo.

“Agora, para aumentar a produtividade, precisa de inovação tecnológica, capital humano e estoque de capital. E essas coisas não estão indo bem nos últimos anos.”

Uma produtividade que não avança

De fato, os números da produtividade do trabalhador brasileiro revelam como o cenário do País é preocupante. Quando comparado com um norte-americano, a produtividade brasileira é praticamente a mesma da observada nos anos 1950.

Em 2022, no último dado disponível, a produtividade do brasileiro equivalia a 22,3% da do norte-americano, de acordo com dados compilados pelo Ibre/FGV. Em 1950, essa relação era de 20,9%. No melhor momento, chegou a 36,7% em 1980.

“O nosso trabalhador médio tem cerca de um quarto de produtividade de um trabalhador americano. Esse é o problema”, afirma Silvia. “Ele não consegue gerar o mesmo retorno de um trabalhador de um país desenvolvido.”

Sem o aumento da produtividade, o crescimento econômico acaba ressaltando as distorções econômicas do País, como inflação.

Educação de má qualidade

O que ajuda a explicar essa baixa produtividade é o desempenho ruim do País nas avaliações educacionais, apesar dos avanços obtidos nos anos de escolaridade da população nas últimas décadas.

No último Pisa, por exemplo, o Brasil até subiu algumas colocações nos exames, mas seguiu nas últimas colocações entre 81 nações avaliadas. Em matemática, o Brasil ocupou a 65ª posição na edição 2022. Em ciências, ficou na 61º colocação. Por fim, em leitura, o País ocupou o 52º lugar.

“O desempenho do Pisa não mudou, principalmente, entre os alunos mais pobres”, afirma Naercio. “As escolas não estão preparando os alunos para questões mais elaboradas.”

Uma matéria publicada pelo Estadão ajuda a dimensionar o tamanho da desigualdade na educação brasileira. Num recorte entre os alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil, a nota desse grupo de estudantes colocaria o País na quinta colocação em leitura, bem acima, portanto, da classificação geral do País.

“E difícil ter crescimento de produtividade só com uma elite. O Brasil tem uma elite superbem educada e que estuda nas melhores escolas do País. Mas isso não é suficiente para você ter um país com inovações”, afirma Naercio.

Carência de investimento

Para tonar o cenário ainda mais desafiador, nos últimos ano, o País tem sofrido para conseguir elevar os investimentos - não só em infraestrutura, mas também em inovação, tão necessário na nova economia.

Considerada uma dos vetores para a expansão do PIB potencial, a taxa de investimento como proporção do PIB do Brasil tem rodado próximo de 18%, abaixo dos 20%, um patamar observado em países vizinhos, como de Chile, México e Colômbia.

“Um dos motivos que a gente cresce pouco é que a gente investe pouco”, afirma Silvia, do Ibre. “O País tem uma carência enorme de infraestrutura. E isso não se resolve de uma hora para outra.”

Em infraestrutura, uma série de dificuldades inibe a melhora do cenário - como juros altos, escassez de recursos, e pouca previsibilidade nas regras de contratos.

Investimento brasileiro como proporção do PIB está abaixo do de outros países Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

“O Brasil avançou pouco na questão de segurança jurídica”, afirma Alessandra, da Tendências. “De repente, vem uma decisão judicial do além que suspende pagamento de pedágio, por exemplo.”

A boa notícia, na avaliação dos economistas, é que o Brasil pode crescer mais se adotar as medidas necessárias e endereçar essas questões. A reforma tributária - discutida há décadas - deve ajudar a aliviar o cenário dos investimentos no médio e longo prazo.

“Superando essas limitações, a gente pode crescer mais”, afirma Silvia. “Mas é um caminho que demanda reformas, inovação, capital humano e investimento.”

Nos últimos anos, a economia brasileira surpreendeu os analistas e colheu um desempenho melhor do que o esperado. Mas o que se projeta daqui para frente é um cenário pouco animador. O Produto Interno Bruto (PIB) vai crescer num ritmo aquém das necessidades do País.

Entre 2024 e 2033, por exemplo, o crescimento médio do Brasil deve ser de 2,4% nas contas da consultoria Tendências. Num recorte de prazo mais curto, quando se olha para a mediana das projeções de mercado no relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, o cenário é parecido. Neste ano, a previsão para o PIB é de alta de 1,6%. De 2025 a 2027, o avanço anual esperado é de 2%.

“É um crescimento ainda baixo para o que o País precisa, especialmente quando se olha para as necessidades sociais, de redução da desigualdade de renda”, afirma Alessandra Ribeiro, economista e sócia da consultoria Tendências. “O Brasil precisaria ter um crescimento acima de 3% para conseguir endereçar essa questão mais rapidamente.”

O que os analistas dizem é que o País tem um diagnóstico claro dos problemas que impedem uma aceleração do crescimento econômico nos próximos anos, mas ressaltam que não há uma agenda clara para endereçá-los. São entraves que passam pelo fraco nível de investimento do País, pela qualidade ruim da educação e, consequentemente, pela baixa produtividade.

“O Brasil tem diversos problemas. Não há enigma para o nosso baixo crescimento”, afirma Silvia Matos, economista do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). “O diagnóstico é bem feito e temos o receituário. O problema é seguir esse receituário.”

O que torna o cenário difícil é que o diagnóstico revela que os problemas não conseguem ser resolvidos no curto prazo. E, ao mesmo tempo, se transformaram em urgentes porque o Brasil já contou com impulsos importantes que contribuíram para o crescimento no passado, como o bônus demográfico, mas que já desapareceram.

“O País cresceu até os anos 80, basicamente, trazendo as pessoas da área rural para as cidades”, afirma Naercio Menezes, professor do Insper e coordenador da Cátedra Ruth Cardoso. “Elas vieram para a área urbana e passaram a trabalhar na indústria, no setor de serviço, em qualquer coisa com produtividade maior do que a da área rural. Isso foi um dos principais determinantes do aumento de produtividade até os anos 80.”

Os bons resultados dos últimos anos acabam, em parte, sendo atribuídos a fatores pontuais. Em 2023, o crescimento ficou próximo de 3%, diante de uma contribuição expressiva da agropecuária e do impulso fiscal, com o reajuste real do salário mínimo.

“Agora, para aumentar a produtividade, precisa de inovação tecnológica, capital humano e estoque de capital. E essas coisas não estão indo bem nos últimos anos.”

Uma produtividade que não avança

De fato, os números da produtividade do trabalhador brasileiro revelam como o cenário do País é preocupante. Quando comparado com um norte-americano, a produtividade brasileira é praticamente a mesma da observada nos anos 1950.

Em 2022, no último dado disponível, a produtividade do brasileiro equivalia a 22,3% da do norte-americano, de acordo com dados compilados pelo Ibre/FGV. Em 1950, essa relação era de 20,9%. No melhor momento, chegou a 36,7% em 1980.

“O nosso trabalhador médio tem cerca de um quarto de produtividade de um trabalhador americano. Esse é o problema”, afirma Silvia. “Ele não consegue gerar o mesmo retorno de um trabalhador de um país desenvolvido.”

Sem o aumento da produtividade, o crescimento econômico acaba ressaltando as distorções econômicas do País, como inflação.

Educação de má qualidade

O que ajuda a explicar essa baixa produtividade é o desempenho ruim do País nas avaliações educacionais, apesar dos avanços obtidos nos anos de escolaridade da população nas últimas décadas.

No último Pisa, por exemplo, o Brasil até subiu algumas colocações nos exames, mas seguiu nas últimas colocações entre 81 nações avaliadas. Em matemática, o Brasil ocupou a 65ª posição na edição 2022. Em ciências, ficou na 61º colocação. Por fim, em leitura, o País ocupou o 52º lugar.

“O desempenho do Pisa não mudou, principalmente, entre os alunos mais pobres”, afirma Naercio. “As escolas não estão preparando os alunos para questões mais elaboradas.”

Uma matéria publicada pelo Estadão ajuda a dimensionar o tamanho da desigualdade na educação brasileira. Num recorte entre os alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil, a nota desse grupo de estudantes colocaria o País na quinta colocação em leitura, bem acima, portanto, da classificação geral do País.

“E difícil ter crescimento de produtividade só com uma elite. O Brasil tem uma elite superbem educada e que estuda nas melhores escolas do País. Mas isso não é suficiente para você ter um país com inovações”, afirma Naercio.

Carência de investimento

Para tonar o cenário ainda mais desafiador, nos últimos ano, o País tem sofrido para conseguir elevar os investimentos - não só em infraestrutura, mas também em inovação, tão necessário na nova economia.

Considerada uma dos vetores para a expansão do PIB potencial, a taxa de investimento como proporção do PIB do Brasil tem rodado próximo de 18%, abaixo dos 20%, um patamar observado em países vizinhos, como de Chile, México e Colômbia.

“Um dos motivos que a gente cresce pouco é que a gente investe pouco”, afirma Silvia, do Ibre. “O País tem uma carência enorme de infraestrutura. E isso não se resolve de uma hora para outra.”

Em infraestrutura, uma série de dificuldades inibe a melhora do cenário - como juros altos, escassez de recursos, e pouca previsibilidade nas regras de contratos.

Investimento brasileiro como proporção do PIB está abaixo do de outros países Foto: DANIEL TEIXEIRA / ESTADAO

“O Brasil avançou pouco na questão de segurança jurídica”, afirma Alessandra, da Tendências. “De repente, vem uma decisão judicial do além que suspende pagamento de pedágio, por exemplo.”

A boa notícia, na avaliação dos economistas, é que o Brasil pode crescer mais se adotar as medidas necessárias e endereçar essas questões. A reforma tributária - discutida há décadas - deve ajudar a aliviar o cenário dos investimentos no médio e longo prazo.

“Superando essas limitações, a gente pode crescer mais”, afirma Silvia. “Mas é um caminho que demanda reformas, inovação, capital humano e investimento.”

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