‘Círculo vicioso’: ondas de calor aumentam consumo global de combustíveis fósseis


Demanda por eletricidade faz com que mais carvão e gás natural sejam queimados para alimentar objetos de refrigeração

Por Timothy Puko
Atualização:

Os combustíveis fósseis estão se dando bem com as ondas de calor recorde assolando os Estados Unidos, a China e outros países.

Os EUA atingiram recordes de consumo de gás natural nas usinas de energia que estão mantendo os ar-condicionados do país funcionando nos últimos dias, de acordo com estimativas da S&P Global Commodity Insights. Na China, as usinas de energia estão queimando mais carvão para dar conta da necessidade de eletricidade, ajudando a atingir recordes na demanda pela maior fonte mundial de emissões de dióxido de carbono, informou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

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Essa demanda está alimentando o que a IEA chama de “círculo vicioso” que aumenta ainda mais as temperaturas mundiais. Conforme as ondas de calor se multiplicam e se intensificam, elas levam a uma maior demanda por combustíveis fósseis, o que aumenta as emissões de gás de efeito estufa que agravam o calor extremo em todo o planeta.

As redes elétricas do mundo continuam dependendo demais do gás e do carvão, dificultando os esforços da administração Biden e de outros governos para reduzir gradualmente a utilização deles. Apesar das promessas feitas para reduzir suas emissões, os governos enfrentam imperativos imediatos para evitar apagões e a disparada dos preços da energia para resfriar edifícios e proteger as pessoas de condições perigosas.

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“A projeção de quanta energia você precisa é cada vez maior porque a necessidade de refrigeração só aumenta”, disse Jason Bordoff, fundador e diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade Columbia. “Temos essas trágicas ironias em todo o cenário climático.”

O problema pode crescer à medida que as regiões pobres do planeta instalam mais sistemas de refrigeração. A IEA informou há poucos dias que apenas um décimo dos 2,8 bilhões de pessoas nas partes mais quentes do mundo têm ar-condicionado, um potencial enorme para levar a um aumento na demanda por mais energia e das emissões de gases de efeito estufa que já estão crescendo nos países em desenvolvimento.

Ondas de calor tem aumentado a frequência de incêndios florestais Foto: Rob Griffith / AFP
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No ano passado, quase um quinto do aumento global das emissões de dióxido de carbono veio do aumento da demanda por energia durante condições climáticas extremas, disse a IEA em março. O relatório da agência sobre as emissões globais de dióxido de carbono concluiu que as ondas de calor de verão foram a principal razão pela qual os EUA e a China, os países com as maiores emissões do mundo, não reduziram suas emissões anuais. Nos EUA, o consumo de gás foi o culpado, tendo aumentado para refrigerar os edifícios conforme a demanda por eletricidade atingia o pico, disse a IEA.

A Organização Meteorológica Mundial declarou que julho foi o mês mais quente já registrado, e as tendências do ano passado estão reaparecendo, com maior intensidade. O clima mais quente do verão está atingindo partes dos EUA, com mais de 180 milhões de pessoas sob alerta devido às temperaturas altas do nordeste ao sudoeste desértico do país recentemente.

Esse calor sufocante generalizado levou a demanda de gás dos EUA nas usinas de energia a quebrar um recorde estabelecido há apenas um ano em um dia, e em seguida, quebrá-lo outra vez 24 horas depois; subindo 3,6% em um único dia para mais de um bilhão de metros cúbicos, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.

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Na China, desde o final de maio, o calor ajudou a provocar um aumento significativo na demanda por eletricidade gerada com a queima de carvão em várias regiões populosas na costa do país, de acordo com dados compilados por analistas do Goldman Sachs. Isso acontece depois de um ano em que Pequim aprovou dezenas de novas usinas de energia movidas a carvão. Enquanto isso, o presidente chinês Xi Jinping declarou recentemente que apenas Pequim decidirá como – e com que rapidez – o país lidará com as mudanças climáticas.

Segundo a IEA, a demanda chinesa de carvão cresceu mais de 5% durante o primeiro semestre do ano, alimentando o crescimento da demanda global. No primeiro semestre de 2023, a demanda mundial de carvão superou o recorde do ano passado em 1,5%. A agência disse que o uso de carvão provavelmente diminuirá até o final do ano, mas isso vai depender do clima.

Vários países além dos EUA e da China estão seguindo o mesmo padrão de consumo neste verão. As redes elétricas de cerca de dez países atingiram recordes de pico de demanda nos últimos dois meses, disse a IEA. Isso inclui a Índia, o segundo maior consumidor de carvão do mundo, e o Japão, que vem queimando gás para enfrentar o calor, de acordo com os analistas do Goldman.

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Grandes cidades do hemisfério norte estão sofrendo com ondas de calor Foto: REUTERS/Toby Melville

“Se não aumentarmos a quantidade de energia limpa sendo gerada, isso continuará a acontecer e se agravará no futuro”, disse Robbie Orvis, diretor sênior de design de políticas energéticas do Energy Innovation, um think tank apartidário. “Os combustíveis fósseis não são a saída.”

Nos EUA, a dependência do gás natural se tornou o tema central dos debates políticos sobre as mudanças climáticas e a energia. Os conservadores e alguns políticos de centro são favoráveis ao gás porque o país tem reservas abundantes e sua queima produz cerca de metade das emissões que o carvão, frequentemente substituído por ele. No entanto, os ativistas do clima mais contundentes alertam que o país está se aproximando do limite de benefícios que o sistema pode produzir e deve interromper os investimentos de longo prazo em gás que possam começar a impedi-lo de reduzir ainda mais as emissões.

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A dependência dos EUA do gás aumentou nos últimos 15 anos. Outrora utilizado principalmente para o aquecimento doméstico, seu uso foi ampliado rapidamente à medida que uma nova tecnologia – fracking, também conhecido como fraturamento hidráulico – reduziu os custos de sua produção no país e os reguladores estaduais e federais fecharam o cerco contra as emissões tóxicas das usinas movidas a carvão.

Como consequência, o consumo anual de gás nos EUA aumentou quase 50% entre 2006 e 2022, estabelecendo repetidamente recordes de produção e consumo, segundo os dados da Administração de Informações de Energia do país (EIA, na sigla em inglês). Durante praticamente o mesmo período, suas emissões de gases de efeito estufa caíram mais de 14%, de acordo com dados da Agência de Proteção Ambiental.

Em parte devido a essas tendências, alguns pesquisadores afirmam que – pelo menos nos EUA – o calor extremo é apenas um dilema de curto prazo, solucionável com a criação contínua de parques solares e eólicos com zero emissões em todo o mundo. Para Andrew Dessler, cientista da Universidade Texas A&M que estudou essas dinâmicas no Texas, as energias renováveis estão ajudando, porém fatores como o crescimento populacional e a riqueza influenciam mais as emissões do que o gás natural.

“[O gás] Não tem um impacto enorme”, disse ele. “Sim, está nos empurrando para a direção errada, mas outros fatores estão aumentando muito mais a demanda.”

O país também avançou bastante na geração de energia sem emissão de dióxido de carbono, como a eólica e a solar. E há uma grande expectativa de que mais investimentos por meio da legislação aprovada no ano passado, a chamada Lei de Redução da Inflação, acelerem esse desenvolvimento e acabem reduzindo o consumo de gás natural. Entretanto, há uma enorme divergência em relação a quando isso poderia acontecer, com alguns esperando anos de forte demanda de gás antes disso virar realidade.

“O sistema não muda tão rápido. Nenhum sistema grande muda rapidamente”, disse Christi Tezak, diretora da ClearView Energy Partners, empresa de pesquisa independente. “Não tenho dúvidas de que ainda vamos usar gás por um bom tempo. E tenho quase certeza de que por mais tempo do que a maioria dos ambientalistas espera.”

Enquanto isso, as demandas de gás e carvão dos EUA – e suas emissões – estão se tornando ainda mais relacionadas ao clima. As operadoras da rede elétrica tendem a utilizar primeiro a energia renovável, quando ela está disponível, porque o vento e a luz solar não custam nada. À medida que a demanda aumenta, elas recorrem mais às usinas de geração de energia movidas a gás e a carvão.

“Praticamente em todo lugar nos EUA, qualquer aumento adicional na demanda de eletricidade é suprido por meio do uso de um recurso fóssil”, disse Glenn McGrath, que lidera a equipe de fornecimento de eletricidade da EIA.

Os últimos dois anos ilustram esse pico. Desde o fim de julho, todos os 22 dias em que houve um maior consumo de gás natural pelas usinas de energia dos EUA ocorreram no mês passado e no verão de 2022, segundo a S&P.

Parte do sul, a região mais quente do país, usa seis vezes mais energia para refrigerar edifícios comerciais do que as regiões mais frias dos EUA, de acordo com dados divulgados pela EIA recentemente. Como o calor é tão intenso, esses locais não estão apenas climatizando mais edifícios com maior frequência, como também resfriando mais a área útil de cada prédio para conseguir suportá-lo, criando uma demanda maior devido às altas temperaturas.

Muitos grupos de ambientalistas argumentam que essa demanda intensa comprova a necessidade urgente de abolir progressivamente os combustíveis fósseis. No entanto, alguns deles chegaram à conclusão de que essas tendências mostram que é impossível eliminá-los com rapidez suficiente para enfrentar as mudanças climáticas. Eles defendem a associação de sistemas de captura e armazenamento de dióxido de carbono às usinas de queima de combustíveis fósseis existentes como forma de reduzir as emissões.

O governo Biden propôs normas que poderiam levar muitas usinas movidas a gás e a carvão a instalar sistemas de captura e armazenamento de carbono a partir da década de 2030. Segundo a Clean Air Task Force, uma organização de defesa do meio ambiente, o país deve exigir essas mudanças em conjunto com a construção mais rápida de infraestruturas para a geração de energia renovável – em parte devido a como o clima extremo afeta o sistema energético.

“As temperaturas extremas sem dúvidas tornam os desafios mais difíceis”, disse Ben Longstreth, que lidera o setor de defesa de captura e armazenamento de carbono da organização. “Precisamos de todas essas ferramentas.”

Os combustíveis fósseis estão se dando bem com as ondas de calor recorde assolando os Estados Unidos, a China e outros países.

Os EUA atingiram recordes de consumo de gás natural nas usinas de energia que estão mantendo os ar-condicionados do país funcionando nos últimos dias, de acordo com estimativas da S&P Global Commodity Insights. Na China, as usinas de energia estão queimando mais carvão para dar conta da necessidade de eletricidade, ajudando a atingir recordes na demanda pela maior fonte mundial de emissões de dióxido de carbono, informou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

Essa demanda está alimentando o que a IEA chama de “círculo vicioso” que aumenta ainda mais as temperaturas mundiais. Conforme as ondas de calor se multiplicam e se intensificam, elas levam a uma maior demanda por combustíveis fósseis, o que aumenta as emissões de gás de efeito estufa que agravam o calor extremo em todo o planeta.

As redes elétricas do mundo continuam dependendo demais do gás e do carvão, dificultando os esforços da administração Biden e de outros governos para reduzir gradualmente a utilização deles. Apesar das promessas feitas para reduzir suas emissões, os governos enfrentam imperativos imediatos para evitar apagões e a disparada dos preços da energia para resfriar edifícios e proteger as pessoas de condições perigosas.

“A projeção de quanta energia você precisa é cada vez maior porque a necessidade de refrigeração só aumenta”, disse Jason Bordoff, fundador e diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade Columbia. “Temos essas trágicas ironias em todo o cenário climático.”

O problema pode crescer à medida que as regiões pobres do planeta instalam mais sistemas de refrigeração. A IEA informou há poucos dias que apenas um décimo dos 2,8 bilhões de pessoas nas partes mais quentes do mundo têm ar-condicionado, um potencial enorme para levar a um aumento na demanda por mais energia e das emissões de gases de efeito estufa que já estão crescendo nos países em desenvolvimento.

Ondas de calor tem aumentado a frequência de incêndios florestais Foto: Rob Griffith / AFP

No ano passado, quase um quinto do aumento global das emissões de dióxido de carbono veio do aumento da demanda por energia durante condições climáticas extremas, disse a IEA em março. O relatório da agência sobre as emissões globais de dióxido de carbono concluiu que as ondas de calor de verão foram a principal razão pela qual os EUA e a China, os países com as maiores emissões do mundo, não reduziram suas emissões anuais. Nos EUA, o consumo de gás foi o culpado, tendo aumentado para refrigerar os edifícios conforme a demanda por eletricidade atingia o pico, disse a IEA.

A Organização Meteorológica Mundial declarou que julho foi o mês mais quente já registrado, e as tendências do ano passado estão reaparecendo, com maior intensidade. O clima mais quente do verão está atingindo partes dos EUA, com mais de 180 milhões de pessoas sob alerta devido às temperaturas altas do nordeste ao sudoeste desértico do país recentemente.

Esse calor sufocante generalizado levou a demanda de gás dos EUA nas usinas de energia a quebrar um recorde estabelecido há apenas um ano em um dia, e em seguida, quebrá-lo outra vez 24 horas depois; subindo 3,6% em um único dia para mais de um bilhão de metros cúbicos, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.

Na China, desde o final de maio, o calor ajudou a provocar um aumento significativo na demanda por eletricidade gerada com a queima de carvão em várias regiões populosas na costa do país, de acordo com dados compilados por analistas do Goldman Sachs. Isso acontece depois de um ano em que Pequim aprovou dezenas de novas usinas de energia movidas a carvão. Enquanto isso, o presidente chinês Xi Jinping declarou recentemente que apenas Pequim decidirá como – e com que rapidez – o país lidará com as mudanças climáticas.

Segundo a IEA, a demanda chinesa de carvão cresceu mais de 5% durante o primeiro semestre do ano, alimentando o crescimento da demanda global. No primeiro semestre de 2023, a demanda mundial de carvão superou o recorde do ano passado em 1,5%. A agência disse que o uso de carvão provavelmente diminuirá até o final do ano, mas isso vai depender do clima.

Vários países além dos EUA e da China estão seguindo o mesmo padrão de consumo neste verão. As redes elétricas de cerca de dez países atingiram recordes de pico de demanda nos últimos dois meses, disse a IEA. Isso inclui a Índia, o segundo maior consumidor de carvão do mundo, e o Japão, que vem queimando gás para enfrentar o calor, de acordo com os analistas do Goldman.

Grandes cidades do hemisfério norte estão sofrendo com ondas de calor Foto: REUTERS/Toby Melville

“Se não aumentarmos a quantidade de energia limpa sendo gerada, isso continuará a acontecer e se agravará no futuro”, disse Robbie Orvis, diretor sênior de design de políticas energéticas do Energy Innovation, um think tank apartidário. “Os combustíveis fósseis não são a saída.”

Nos EUA, a dependência do gás natural se tornou o tema central dos debates políticos sobre as mudanças climáticas e a energia. Os conservadores e alguns políticos de centro são favoráveis ao gás porque o país tem reservas abundantes e sua queima produz cerca de metade das emissões que o carvão, frequentemente substituído por ele. No entanto, os ativistas do clima mais contundentes alertam que o país está se aproximando do limite de benefícios que o sistema pode produzir e deve interromper os investimentos de longo prazo em gás que possam começar a impedi-lo de reduzir ainda mais as emissões.

A dependência dos EUA do gás aumentou nos últimos 15 anos. Outrora utilizado principalmente para o aquecimento doméstico, seu uso foi ampliado rapidamente à medida que uma nova tecnologia – fracking, também conhecido como fraturamento hidráulico – reduziu os custos de sua produção no país e os reguladores estaduais e federais fecharam o cerco contra as emissões tóxicas das usinas movidas a carvão.

Como consequência, o consumo anual de gás nos EUA aumentou quase 50% entre 2006 e 2022, estabelecendo repetidamente recordes de produção e consumo, segundo os dados da Administração de Informações de Energia do país (EIA, na sigla em inglês). Durante praticamente o mesmo período, suas emissões de gases de efeito estufa caíram mais de 14%, de acordo com dados da Agência de Proteção Ambiental.

Em parte devido a essas tendências, alguns pesquisadores afirmam que – pelo menos nos EUA – o calor extremo é apenas um dilema de curto prazo, solucionável com a criação contínua de parques solares e eólicos com zero emissões em todo o mundo. Para Andrew Dessler, cientista da Universidade Texas A&M que estudou essas dinâmicas no Texas, as energias renováveis estão ajudando, porém fatores como o crescimento populacional e a riqueza influenciam mais as emissões do que o gás natural.

“[O gás] Não tem um impacto enorme”, disse ele. “Sim, está nos empurrando para a direção errada, mas outros fatores estão aumentando muito mais a demanda.”

O país também avançou bastante na geração de energia sem emissão de dióxido de carbono, como a eólica e a solar. E há uma grande expectativa de que mais investimentos por meio da legislação aprovada no ano passado, a chamada Lei de Redução da Inflação, acelerem esse desenvolvimento e acabem reduzindo o consumo de gás natural. Entretanto, há uma enorme divergência em relação a quando isso poderia acontecer, com alguns esperando anos de forte demanda de gás antes disso virar realidade.

“O sistema não muda tão rápido. Nenhum sistema grande muda rapidamente”, disse Christi Tezak, diretora da ClearView Energy Partners, empresa de pesquisa independente. “Não tenho dúvidas de que ainda vamos usar gás por um bom tempo. E tenho quase certeza de que por mais tempo do que a maioria dos ambientalistas espera.”

Enquanto isso, as demandas de gás e carvão dos EUA – e suas emissões – estão se tornando ainda mais relacionadas ao clima. As operadoras da rede elétrica tendem a utilizar primeiro a energia renovável, quando ela está disponível, porque o vento e a luz solar não custam nada. À medida que a demanda aumenta, elas recorrem mais às usinas de geração de energia movidas a gás e a carvão.

“Praticamente em todo lugar nos EUA, qualquer aumento adicional na demanda de eletricidade é suprido por meio do uso de um recurso fóssil”, disse Glenn McGrath, que lidera a equipe de fornecimento de eletricidade da EIA.

Os últimos dois anos ilustram esse pico. Desde o fim de julho, todos os 22 dias em que houve um maior consumo de gás natural pelas usinas de energia dos EUA ocorreram no mês passado e no verão de 2022, segundo a S&P.

Parte do sul, a região mais quente do país, usa seis vezes mais energia para refrigerar edifícios comerciais do que as regiões mais frias dos EUA, de acordo com dados divulgados pela EIA recentemente. Como o calor é tão intenso, esses locais não estão apenas climatizando mais edifícios com maior frequência, como também resfriando mais a área útil de cada prédio para conseguir suportá-lo, criando uma demanda maior devido às altas temperaturas.

Muitos grupos de ambientalistas argumentam que essa demanda intensa comprova a necessidade urgente de abolir progressivamente os combustíveis fósseis. No entanto, alguns deles chegaram à conclusão de que essas tendências mostram que é impossível eliminá-los com rapidez suficiente para enfrentar as mudanças climáticas. Eles defendem a associação de sistemas de captura e armazenamento de dióxido de carbono às usinas de queima de combustíveis fósseis existentes como forma de reduzir as emissões.

O governo Biden propôs normas que poderiam levar muitas usinas movidas a gás e a carvão a instalar sistemas de captura e armazenamento de carbono a partir da década de 2030. Segundo a Clean Air Task Force, uma organização de defesa do meio ambiente, o país deve exigir essas mudanças em conjunto com a construção mais rápida de infraestruturas para a geração de energia renovável – em parte devido a como o clima extremo afeta o sistema energético.

“As temperaturas extremas sem dúvidas tornam os desafios mais difíceis”, disse Ben Longstreth, que lidera o setor de defesa de captura e armazenamento de carbono da organização. “Precisamos de todas essas ferramentas.”

Os combustíveis fósseis estão se dando bem com as ondas de calor recorde assolando os Estados Unidos, a China e outros países.

Os EUA atingiram recordes de consumo de gás natural nas usinas de energia que estão mantendo os ar-condicionados do país funcionando nos últimos dias, de acordo com estimativas da S&P Global Commodity Insights. Na China, as usinas de energia estão queimando mais carvão para dar conta da necessidade de eletricidade, ajudando a atingir recordes na demanda pela maior fonte mundial de emissões de dióxido de carbono, informou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

Essa demanda está alimentando o que a IEA chama de “círculo vicioso” que aumenta ainda mais as temperaturas mundiais. Conforme as ondas de calor se multiplicam e se intensificam, elas levam a uma maior demanda por combustíveis fósseis, o que aumenta as emissões de gás de efeito estufa que agravam o calor extremo em todo o planeta.

As redes elétricas do mundo continuam dependendo demais do gás e do carvão, dificultando os esforços da administração Biden e de outros governos para reduzir gradualmente a utilização deles. Apesar das promessas feitas para reduzir suas emissões, os governos enfrentam imperativos imediatos para evitar apagões e a disparada dos preços da energia para resfriar edifícios e proteger as pessoas de condições perigosas.

“A projeção de quanta energia você precisa é cada vez maior porque a necessidade de refrigeração só aumenta”, disse Jason Bordoff, fundador e diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade Columbia. “Temos essas trágicas ironias em todo o cenário climático.”

O problema pode crescer à medida que as regiões pobres do planeta instalam mais sistemas de refrigeração. A IEA informou há poucos dias que apenas um décimo dos 2,8 bilhões de pessoas nas partes mais quentes do mundo têm ar-condicionado, um potencial enorme para levar a um aumento na demanda por mais energia e das emissões de gases de efeito estufa que já estão crescendo nos países em desenvolvimento.

Ondas de calor tem aumentado a frequência de incêndios florestais Foto: Rob Griffith / AFP

No ano passado, quase um quinto do aumento global das emissões de dióxido de carbono veio do aumento da demanda por energia durante condições climáticas extremas, disse a IEA em março. O relatório da agência sobre as emissões globais de dióxido de carbono concluiu que as ondas de calor de verão foram a principal razão pela qual os EUA e a China, os países com as maiores emissões do mundo, não reduziram suas emissões anuais. Nos EUA, o consumo de gás foi o culpado, tendo aumentado para refrigerar os edifícios conforme a demanda por eletricidade atingia o pico, disse a IEA.

A Organização Meteorológica Mundial declarou que julho foi o mês mais quente já registrado, e as tendências do ano passado estão reaparecendo, com maior intensidade. O clima mais quente do verão está atingindo partes dos EUA, com mais de 180 milhões de pessoas sob alerta devido às temperaturas altas do nordeste ao sudoeste desértico do país recentemente.

Esse calor sufocante generalizado levou a demanda de gás dos EUA nas usinas de energia a quebrar um recorde estabelecido há apenas um ano em um dia, e em seguida, quebrá-lo outra vez 24 horas depois; subindo 3,6% em um único dia para mais de um bilhão de metros cúbicos, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.

Na China, desde o final de maio, o calor ajudou a provocar um aumento significativo na demanda por eletricidade gerada com a queima de carvão em várias regiões populosas na costa do país, de acordo com dados compilados por analistas do Goldman Sachs. Isso acontece depois de um ano em que Pequim aprovou dezenas de novas usinas de energia movidas a carvão. Enquanto isso, o presidente chinês Xi Jinping declarou recentemente que apenas Pequim decidirá como – e com que rapidez – o país lidará com as mudanças climáticas.

Segundo a IEA, a demanda chinesa de carvão cresceu mais de 5% durante o primeiro semestre do ano, alimentando o crescimento da demanda global. No primeiro semestre de 2023, a demanda mundial de carvão superou o recorde do ano passado em 1,5%. A agência disse que o uso de carvão provavelmente diminuirá até o final do ano, mas isso vai depender do clima.

Vários países além dos EUA e da China estão seguindo o mesmo padrão de consumo neste verão. As redes elétricas de cerca de dez países atingiram recordes de pico de demanda nos últimos dois meses, disse a IEA. Isso inclui a Índia, o segundo maior consumidor de carvão do mundo, e o Japão, que vem queimando gás para enfrentar o calor, de acordo com os analistas do Goldman.

Grandes cidades do hemisfério norte estão sofrendo com ondas de calor Foto: REUTERS/Toby Melville

“Se não aumentarmos a quantidade de energia limpa sendo gerada, isso continuará a acontecer e se agravará no futuro”, disse Robbie Orvis, diretor sênior de design de políticas energéticas do Energy Innovation, um think tank apartidário. “Os combustíveis fósseis não são a saída.”

Nos EUA, a dependência do gás natural se tornou o tema central dos debates políticos sobre as mudanças climáticas e a energia. Os conservadores e alguns políticos de centro são favoráveis ao gás porque o país tem reservas abundantes e sua queima produz cerca de metade das emissões que o carvão, frequentemente substituído por ele. No entanto, os ativistas do clima mais contundentes alertam que o país está se aproximando do limite de benefícios que o sistema pode produzir e deve interromper os investimentos de longo prazo em gás que possam começar a impedi-lo de reduzir ainda mais as emissões.

A dependência dos EUA do gás aumentou nos últimos 15 anos. Outrora utilizado principalmente para o aquecimento doméstico, seu uso foi ampliado rapidamente à medida que uma nova tecnologia – fracking, também conhecido como fraturamento hidráulico – reduziu os custos de sua produção no país e os reguladores estaduais e federais fecharam o cerco contra as emissões tóxicas das usinas movidas a carvão.

Como consequência, o consumo anual de gás nos EUA aumentou quase 50% entre 2006 e 2022, estabelecendo repetidamente recordes de produção e consumo, segundo os dados da Administração de Informações de Energia do país (EIA, na sigla em inglês). Durante praticamente o mesmo período, suas emissões de gases de efeito estufa caíram mais de 14%, de acordo com dados da Agência de Proteção Ambiental.

Em parte devido a essas tendências, alguns pesquisadores afirmam que – pelo menos nos EUA – o calor extremo é apenas um dilema de curto prazo, solucionável com a criação contínua de parques solares e eólicos com zero emissões em todo o mundo. Para Andrew Dessler, cientista da Universidade Texas A&M que estudou essas dinâmicas no Texas, as energias renováveis estão ajudando, porém fatores como o crescimento populacional e a riqueza influenciam mais as emissões do que o gás natural.

“[O gás] Não tem um impacto enorme”, disse ele. “Sim, está nos empurrando para a direção errada, mas outros fatores estão aumentando muito mais a demanda.”

O país também avançou bastante na geração de energia sem emissão de dióxido de carbono, como a eólica e a solar. E há uma grande expectativa de que mais investimentos por meio da legislação aprovada no ano passado, a chamada Lei de Redução da Inflação, acelerem esse desenvolvimento e acabem reduzindo o consumo de gás natural. Entretanto, há uma enorme divergência em relação a quando isso poderia acontecer, com alguns esperando anos de forte demanda de gás antes disso virar realidade.

“O sistema não muda tão rápido. Nenhum sistema grande muda rapidamente”, disse Christi Tezak, diretora da ClearView Energy Partners, empresa de pesquisa independente. “Não tenho dúvidas de que ainda vamos usar gás por um bom tempo. E tenho quase certeza de que por mais tempo do que a maioria dos ambientalistas espera.”

Enquanto isso, as demandas de gás e carvão dos EUA – e suas emissões – estão se tornando ainda mais relacionadas ao clima. As operadoras da rede elétrica tendem a utilizar primeiro a energia renovável, quando ela está disponível, porque o vento e a luz solar não custam nada. À medida que a demanda aumenta, elas recorrem mais às usinas de geração de energia movidas a gás e a carvão.

“Praticamente em todo lugar nos EUA, qualquer aumento adicional na demanda de eletricidade é suprido por meio do uso de um recurso fóssil”, disse Glenn McGrath, que lidera a equipe de fornecimento de eletricidade da EIA.

Os últimos dois anos ilustram esse pico. Desde o fim de julho, todos os 22 dias em que houve um maior consumo de gás natural pelas usinas de energia dos EUA ocorreram no mês passado e no verão de 2022, segundo a S&P.

Parte do sul, a região mais quente do país, usa seis vezes mais energia para refrigerar edifícios comerciais do que as regiões mais frias dos EUA, de acordo com dados divulgados pela EIA recentemente. Como o calor é tão intenso, esses locais não estão apenas climatizando mais edifícios com maior frequência, como também resfriando mais a área útil de cada prédio para conseguir suportá-lo, criando uma demanda maior devido às altas temperaturas.

Muitos grupos de ambientalistas argumentam que essa demanda intensa comprova a necessidade urgente de abolir progressivamente os combustíveis fósseis. No entanto, alguns deles chegaram à conclusão de que essas tendências mostram que é impossível eliminá-los com rapidez suficiente para enfrentar as mudanças climáticas. Eles defendem a associação de sistemas de captura e armazenamento de dióxido de carbono às usinas de queima de combustíveis fósseis existentes como forma de reduzir as emissões.

O governo Biden propôs normas que poderiam levar muitas usinas movidas a gás e a carvão a instalar sistemas de captura e armazenamento de carbono a partir da década de 2030. Segundo a Clean Air Task Force, uma organização de defesa do meio ambiente, o país deve exigir essas mudanças em conjunto com a construção mais rápida de infraestruturas para a geração de energia renovável – em parte devido a como o clima extremo afeta o sistema energético.

“As temperaturas extremas sem dúvidas tornam os desafios mais difíceis”, disse Ben Longstreth, que lidera o setor de defesa de captura e armazenamento de carbono da organização. “Precisamos de todas essas ferramentas.”

Os combustíveis fósseis estão se dando bem com as ondas de calor recorde assolando os Estados Unidos, a China e outros países.

Os EUA atingiram recordes de consumo de gás natural nas usinas de energia que estão mantendo os ar-condicionados do país funcionando nos últimos dias, de acordo com estimativas da S&P Global Commodity Insights. Na China, as usinas de energia estão queimando mais carvão para dar conta da necessidade de eletricidade, ajudando a atingir recordes na demanda pela maior fonte mundial de emissões de dióxido de carbono, informou a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

Essa demanda está alimentando o que a IEA chama de “círculo vicioso” que aumenta ainda mais as temperaturas mundiais. Conforme as ondas de calor se multiplicam e se intensificam, elas levam a uma maior demanda por combustíveis fósseis, o que aumenta as emissões de gás de efeito estufa que agravam o calor extremo em todo o planeta.

As redes elétricas do mundo continuam dependendo demais do gás e do carvão, dificultando os esforços da administração Biden e de outros governos para reduzir gradualmente a utilização deles. Apesar das promessas feitas para reduzir suas emissões, os governos enfrentam imperativos imediatos para evitar apagões e a disparada dos preços da energia para resfriar edifícios e proteger as pessoas de condições perigosas.

“A projeção de quanta energia você precisa é cada vez maior porque a necessidade de refrigeração só aumenta”, disse Jason Bordoff, fundador e diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade Columbia. “Temos essas trágicas ironias em todo o cenário climático.”

O problema pode crescer à medida que as regiões pobres do planeta instalam mais sistemas de refrigeração. A IEA informou há poucos dias que apenas um décimo dos 2,8 bilhões de pessoas nas partes mais quentes do mundo têm ar-condicionado, um potencial enorme para levar a um aumento na demanda por mais energia e das emissões de gases de efeito estufa que já estão crescendo nos países em desenvolvimento.

Ondas de calor tem aumentado a frequência de incêndios florestais Foto: Rob Griffith / AFP

No ano passado, quase um quinto do aumento global das emissões de dióxido de carbono veio do aumento da demanda por energia durante condições climáticas extremas, disse a IEA em março. O relatório da agência sobre as emissões globais de dióxido de carbono concluiu que as ondas de calor de verão foram a principal razão pela qual os EUA e a China, os países com as maiores emissões do mundo, não reduziram suas emissões anuais. Nos EUA, o consumo de gás foi o culpado, tendo aumentado para refrigerar os edifícios conforme a demanda por eletricidade atingia o pico, disse a IEA.

A Organização Meteorológica Mundial declarou que julho foi o mês mais quente já registrado, e as tendências do ano passado estão reaparecendo, com maior intensidade. O clima mais quente do verão está atingindo partes dos EUA, com mais de 180 milhões de pessoas sob alerta devido às temperaturas altas do nordeste ao sudoeste desértico do país recentemente.

Esse calor sufocante generalizado levou a demanda de gás dos EUA nas usinas de energia a quebrar um recorde estabelecido há apenas um ano em um dia, e em seguida, quebrá-lo outra vez 24 horas depois; subindo 3,6% em um único dia para mais de um bilhão de metros cúbicos, de acordo com a S&P Global Commodity Insights.

Na China, desde o final de maio, o calor ajudou a provocar um aumento significativo na demanda por eletricidade gerada com a queima de carvão em várias regiões populosas na costa do país, de acordo com dados compilados por analistas do Goldman Sachs. Isso acontece depois de um ano em que Pequim aprovou dezenas de novas usinas de energia movidas a carvão. Enquanto isso, o presidente chinês Xi Jinping declarou recentemente que apenas Pequim decidirá como – e com que rapidez – o país lidará com as mudanças climáticas.

Segundo a IEA, a demanda chinesa de carvão cresceu mais de 5% durante o primeiro semestre do ano, alimentando o crescimento da demanda global. No primeiro semestre de 2023, a demanda mundial de carvão superou o recorde do ano passado em 1,5%. A agência disse que o uso de carvão provavelmente diminuirá até o final do ano, mas isso vai depender do clima.

Vários países além dos EUA e da China estão seguindo o mesmo padrão de consumo neste verão. As redes elétricas de cerca de dez países atingiram recordes de pico de demanda nos últimos dois meses, disse a IEA. Isso inclui a Índia, o segundo maior consumidor de carvão do mundo, e o Japão, que vem queimando gás para enfrentar o calor, de acordo com os analistas do Goldman.

Grandes cidades do hemisfério norte estão sofrendo com ondas de calor Foto: REUTERS/Toby Melville

“Se não aumentarmos a quantidade de energia limpa sendo gerada, isso continuará a acontecer e se agravará no futuro”, disse Robbie Orvis, diretor sênior de design de políticas energéticas do Energy Innovation, um think tank apartidário. “Os combustíveis fósseis não são a saída.”

Nos EUA, a dependência do gás natural se tornou o tema central dos debates políticos sobre as mudanças climáticas e a energia. Os conservadores e alguns políticos de centro são favoráveis ao gás porque o país tem reservas abundantes e sua queima produz cerca de metade das emissões que o carvão, frequentemente substituído por ele. No entanto, os ativistas do clima mais contundentes alertam que o país está se aproximando do limite de benefícios que o sistema pode produzir e deve interromper os investimentos de longo prazo em gás que possam começar a impedi-lo de reduzir ainda mais as emissões.

A dependência dos EUA do gás aumentou nos últimos 15 anos. Outrora utilizado principalmente para o aquecimento doméstico, seu uso foi ampliado rapidamente à medida que uma nova tecnologia – fracking, também conhecido como fraturamento hidráulico – reduziu os custos de sua produção no país e os reguladores estaduais e federais fecharam o cerco contra as emissões tóxicas das usinas movidas a carvão.

Como consequência, o consumo anual de gás nos EUA aumentou quase 50% entre 2006 e 2022, estabelecendo repetidamente recordes de produção e consumo, segundo os dados da Administração de Informações de Energia do país (EIA, na sigla em inglês). Durante praticamente o mesmo período, suas emissões de gases de efeito estufa caíram mais de 14%, de acordo com dados da Agência de Proteção Ambiental.

Em parte devido a essas tendências, alguns pesquisadores afirmam que – pelo menos nos EUA – o calor extremo é apenas um dilema de curto prazo, solucionável com a criação contínua de parques solares e eólicos com zero emissões em todo o mundo. Para Andrew Dessler, cientista da Universidade Texas A&M que estudou essas dinâmicas no Texas, as energias renováveis estão ajudando, porém fatores como o crescimento populacional e a riqueza influenciam mais as emissões do que o gás natural.

“[O gás] Não tem um impacto enorme”, disse ele. “Sim, está nos empurrando para a direção errada, mas outros fatores estão aumentando muito mais a demanda.”

O país também avançou bastante na geração de energia sem emissão de dióxido de carbono, como a eólica e a solar. E há uma grande expectativa de que mais investimentos por meio da legislação aprovada no ano passado, a chamada Lei de Redução da Inflação, acelerem esse desenvolvimento e acabem reduzindo o consumo de gás natural. Entretanto, há uma enorme divergência em relação a quando isso poderia acontecer, com alguns esperando anos de forte demanda de gás antes disso virar realidade.

“O sistema não muda tão rápido. Nenhum sistema grande muda rapidamente”, disse Christi Tezak, diretora da ClearView Energy Partners, empresa de pesquisa independente. “Não tenho dúvidas de que ainda vamos usar gás por um bom tempo. E tenho quase certeza de que por mais tempo do que a maioria dos ambientalistas espera.”

Enquanto isso, as demandas de gás e carvão dos EUA – e suas emissões – estão se tornando ainda mais relacionadas ao clima. As operadoras da rede elétrica tendem a utilizar primeiro a energia renovável, quando ela está disponível, porque o vento e a luz solar não custam nada. À medida que a demanda aumenta, elas recorrem mais às usinas de geração de energia movidas a gás e a carvão.

“Praticamente em todo lugar nos EUA, qualquer aumento adicional na demanda de eletricidade é suprido por meio do uso de um recurso fóssil”, disse Glenn McGrath, que lidera a equipe de fornecimento de eletricidade da EIA.

Os últimos dois anos ilustram esse pico. Desde o fim de julho, todos os 22 dias em que houve um maior consumo de gás natural pelas usinas de energia dos EUA ocorreram no mês passado e no verão de 2022, segundo a S&P.

Parte do sul, a região mais quente do país, usa seis vezes mais energia para refrigerar edifícios comerciais do que as regiões mais frias dos EUA, de acordo com dados divulgados pela EIA recentemente. Como o calor é tão intenso, esses locais não estão apenas climatizando mais edifícios com maior frequência, como também resfriando mais a área útil de cada prédio para conseguir suportá-lo, criando uma demanda maior devido às altas temperaturas.

Muitos grupos de ambientalistas argumentam que essa demanda intensa comprova a necessidade urgente de abolir progressivamente os combustíveis fósseis. No entanto, alguns deles chegaram à conclusão de que essas tendências mostram que é impossível eliminá-los com rapidez suficiente para enfrentar as mudanças climáticas. Eles defendem a associação de sistemas de captura e armazenamento de dióxido de carbono às usinas de queima de combustíveis fósseis existentes como forma de reduzir as emissões.

O governo Biden propôs normas que poderiam levar muitas usinas movidas a gás e a carvão a instalar sistemas de captura e armazenamento de carbono a partir da década de 2030. Segundo a Clean Air Task Force, uma organização de defesa do meio ambiente, o país deve exigir essas mudanças em conjunto com a construção mais rápida de infraestruturas para a geração de energia renovável – em parte devido a como o clima extremo afeta o sistema energético.

“As temperaturas extremas sem dúvidas tornam os desafios mais difíceis”, disse Ben Longstreth, que lidera o setor de defesa de captura e armazenamento de carbono da organização. “Precisamos de todas essas ferramentas.”

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