O Brasil tem o mais exitoso histórico de uso de etanol carburante em transporte. Em 2023, o etanol substituiu 41,3% da gasolina automotiva consumida no País, e seu uso não tem se limitado ao uso no setor automotivo. A Embraer desenvolveu uma bem-sucedida aplicação para o etanol na aviação agrícola através do Ipanema, com mais de 1.600 unidades comercializadas. É opção homologada, economicamente vantajosa e comprovadamente segura. No entanto, apesar deste histórico positivo, o etanol ainda não se estendeu a um uso mais geral na aviação civil.
Vários países enfrentam o desafio de formar pilotos, e empresas aéreas como American, British e Emirates criaram escolas próprias para sua formação. Um dos maiores obstáculos é o custo da hora voada, que tem como fator relevante o preço do combustível. No Brasil, o seu preço gira em torno de R$14 por litro e dependendo do equipamento utilizado, implica consumo de 23 a 85 litros por hora, representando 30% a 35% do custo da hora voada. Mas não só isso.
A gasolina de aviação implica outros cuidados. Com consumo nacional baixo, de cerca de 42 milhões de litros por ano, sua distribuição é onerosa num país continental. Contém chumbo tetraetila em sua composição para atingir octanagem próxima a 100 AKI, substância banida na gasolina automotiva pelo grave impacto à saúde. Sua operação exige o controle da contaminação com água gerada por condensação do ar nos tanques das aeronaves: 10 ml a 20 ml são suficientes para gerar pane, sendo causa de muitos acidentes.
Essas limitações podem ser eliminadas com o uso do etanol, como ocorre na aviação agrícola. Tem octanagem de 110 AKI que permite operações de alta performance sendo, inclusive, usada em acrobacia aérea nos Estados Unidos. É isento de chumbo, de compostos aromáticos cancerígenos, e de enxofre que causa chuva ácida.
Pequenas contaminações com água são absorvidas pelo etanol por ser hidrófilo, não alterando sua faixa de especificação. É disponível em mais de 41.800 pontos de revenda viabilizando seu abastecimento a qualquer tempo de forma confiável. É estável, não requerendo troca de produto armazenado por formação de goma, e seu preço atual ao consumidor gira em torno de R$3,20 por litro, permitindo redução considerável no custo da hora voada.
Com o desenvolvimento de opções usando etanol, poderá haver um grande impulso à aviação civil e à formação de novos pilotos, permitindo também a exportação dessas aeronaves à países onde o etanol já é distribuído.