NOVA YORK - O presidente da B3, Gilson Finkelsztain, afirmou que os ativos brasileiros só vão reagir de maneira positiva ao pacote fiscal em gestação pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva se o corte de gastos vier acima dos R$ 60 bilhões. Segundo ele, o mercado está preparado para algo perto dos R$ 40 bilhões.
“Se o governo anunciar um pacote robusto, de R$ 60 bilhões ou mais, endereçando os pontos mais críticos como mecanismos de correção de despesas, o mercado poderia se surpreender e melhorar bastante”, avaliou Finkelsztain, em entrevista ao Estadão/Broadcast , durante evento realizado pelo banco Bradesco, em Nova York.
Na visão do executivo, tanto o câmbio quanto os juros podem performar melhor. “Tem um prêmio no câmbio e na curva de juros por conta dessa expectativa de um pacote mais tímido”, justifica.
Apesar do dever de casa no lado fiscal, o Brasil está bem, com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) surpreendendo de forma positiva e um desemprego “muito baixo”, conforme o executivo.
Nas rodadas de conversas durante evento do Bradesco, em Nova York, ele disse que não ouviu reclamações de empresários. “Os negócios estão crescendo”, pontuou.
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“Só que, para haver dinheiro para o mercado de ações, vai precisar ter uma clareza maior do compromisso com a inflação na meta e juros mais baixos”, reforçou. De acordo com ele, a solução está “nas mãos do Brasil” e a visão do empresariado é de que é “mais fácil do que parece”. “Depende realmente de [o governo] coordenar as ações localmente para que a inflação volte à meta e demonstrar que há um compromisso em estabilizar a relação dívida/PIB”, concluiu Finkelsztain.
Mas, mesmo com um eventual pacote fiscal mais robusto, o cenário não é tão positivo para as ofertas públicas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) no Brasil, conforme o presidente da B3. Para isso, os juros precisam começar a cair e o futuro governo do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, não é um “problema”, avaliou. O Brasil está há três anos sem IPOs.
“Ainda é um desafio grande fazer a taxa de juros cair no Brasil. O IPO só começa a ficar viável se a gente tiver uma perspectiva de parada de subida dos juros. Enquanto isso, a agenda de IPO fica adiada”, disse Finkelsztain.
IPOs
De acordo com ele, há uma esperança de que em meados do ano que vem, possivelmente no segundo semestre de 2025, o mercado de IPOs no Brasil comece a reabrir. O presidente da B3 disse que muitas empresas estão prontas para ir a mercado, mas não se arriscou a dizer um número de operações para o próximo ano.
“Há uma esperança de que no segundo semestre de 2025 tenhamos mais operações. Tem uma série de empresas já se preparando”, disse. Mas a grande esperança de uma retomada mais forte é o ano de 2026. Por ora, a renda fixa está pagando a conta, conforme o presidente da B3.
Finkelsztain afirmou ainda que os ativos no Brasil estão muito descontados e, apesar disso, o estrangeiro está esperando a volta dos investidores domésticos para colocar mais dinheiro na bolsa brasileira. “O estrangeiro reconhece que o Brasil está barato, que é uma excelente oportunidade, mas ele só vai realmente colocar dinheiro quando os brasileiros reagirem. Acho que Trump não é um problema”, avaliou.