O Prêmio Nobel de Economia de 2001 e ex-economista-chefe do Banco Mundial, Joseph Stiglitz, considera que a instabilidade na economia mundial tende a perdurar por mais alguns anos. Em palestra na Federação do Comércio do Rio de Janeiro, em que estão presentes os assessores dos quatro principais candidatos à presidência da República, Stiglitz traçou um breve histórico das origens da crise atual, ressaltando que há aspectos diferentes em relação ao passado. Uma questão que o preocupa, por exemplo, é o impacto sobre o consumidor norte-americano da grande queda dos preços das ações nos últimos dois anos. "A cada mês a classe média americana recebe um extrato, onde lhe é informado que seu patrimônio diminuiu. Acredito que isso vai reduzir a propensão ao consumo, mas não sei avaliar como", disse. FMI O economista, conhecido pelas críticas que faz às organizações internacionais, como FMI e Banco Mundial, apóia o recente acordo do Brasil com o Fundo. Ele afirmou que não se pode ter políticas iguais para países diferentes e cada um deve buscar as condições mais adequadas a cada situação. "Hoje sabemos que não há um só tipo de capitalismo. Há o capitalismo americano, o japonês, o asiático, e vários outros. Em todos há o predomínio da economia de mercado, mas as instituições são diferentes em cada caso". O ganhador do Nobel de Economia defendeu que a questão da independência dos bancos centrais está associada aos objetivos e à representatividade dessas instituições. Stiglitz observou que o banco central norte-americano, o Fed, "olha não só para a inflação, mas também para o desenvolvimento e empregos". O economista defendeu também que "o banco central deve ter alguma forma de representatividade democrática". Trabalhadores no BC Ele citou, como exemplo, que os trabalhadores deveriam ser representados no Banco Central. "Mesmo se o banco central tiver independência", afirmou. Stiglitz observou que um dos principais argumentos para os bancos centrais serem independentes é que eles não seriam políticos. No entanto, disse, em países como os Estados Unidos, o banco central "tem tomado posições políticas". Ele afirmou que os Estados Unidos passaram de um superávit fiscal de US$ 3 trilhões para um déficit de US$ 2 trilhões. "Há um óbvio envolvimento político do banco central", disse. "É uma virada de US$ 5 trilhões. É um fantástico exemplo de irresponsabilidade do Banco Central", afirmou. Perguntado sobre o que faria se estivesse no governo da Argentina, o economista, brincando, disse que renunciaria. Depois, respondeu a sério que "não se pode restaurar a confiança em recessão ou depressão. Tem que recomeçar a economia".