Pastore: ‘Lula está desmontando o BC com ataques; isso não é conduta de um estadista’


Ex-presidente do banco, Affonso Celso Pastore afirma que economistas precisam ter coragem para defender a instituição que conquistou ‘respeito e credibilidade na economia mundial’ a duras penas

Por Daniela Amorim e Francisco Carlos de Assis
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - As críticas do governo Lula ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, estão levando a um desmonte da reputação da instituição, avaliou nesta sexta-feira, 23, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore.

Os ataques à autoridade monetária são motivados pela manutenção prolongada da taxa básica de juro, a Selic, em 13,75% ao ano. Em defesa da autarquia, Pastore avalia que, ao centrar críticas no BC, o governo está destruindo uma instituição que conseguiu, “a duras penas, por competência de seus dirigentes, adquirir um respeito e uma credibilidade na economia mundial que são raros”. Para ele, “a discussão é de quem quer fazer um downgrade institucional do Banco Central”.

“Quando você começa a bater no presidente do BC, chamando ele de ‘aquele cidadão que lá está’, você está fazendo um ataque à instituição chamada Banco Central. Este governo está desmontando uma instituição. Eu quero deixar isso bem claro”, disse Pastore ao participar do 9º Seminário Anual de Política Monetária, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

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O ex-presidente do BC disse que “economistas precisam ter coragem de darem um grito em defesa de uma instituição que vem fazendo exemplarmente o seu trabalho”. “Temos de denunciar este governo que vem atacando esta instituição. Isto não é conduta que um estadista deveria ter”, disse Pastore.

“Espero que parem, espero que parem! Se abrirem uma meta mais alta, com intervalo maior, etc., o processo continua e isso será um resultado péssimo para a economia brasileira. Senhor presidente da República e senhores ministros, preservem a instituição. É obrigação de vocês preservarem a instituição chamada Banco Central do Brasil”, disparou.

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O BC reduzirá a taxa básica de juros, a Selic, quando se sentir confortável para esse movimento, avaliou Pastore. “Simplesmente estamos discutindo quando o Banco Central vai começar a baixar, quando omitimos o que segura juros em nível alto, que é a politica fiscal expansionista”, declarou.

Segundo ele, o BC não deveria ser criticado por “fazer seu trabalho”. “Agora o juro, quando ele terminar de fazer o trabalho dele, vai estar muito alto”, disse. “Existe um erro crasso da política fiscal, não do Banco Central.”

O ex-presidente do BC criticou o desejo do governo de elevar a meta de inflação como solução para uma política fiscal. “Temos uma política fiscal errada, então vamos botar uma meta de inflação maior”, queixou-se Pastore. “Acho que a meta tem de ter nível semelhante aos outros países emergentes, em torno de 3%. Quanto ao intervalo, o Banco Central tem de mirar no centro, não em qualquer ponto do intervalo”, defendeu.

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Quanto ao momento de início do ciclo de corte de juros, ele afirmou que não gosta de fazer projeções, mas deixou seu palpite: “Não vou dizer quando vai começar, mas acho que começa em agosto”.

Definição da meta

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne no próximo dia 29 deste mês para determinar a futura meta da inflação. Integrantes do governo federal vêm defendendo a alteração do modelo, tanto em relação ao prazo, deixando de ser uma meta anual para se tornar uma meta contínua, quanto ao número-alvo e intervalo de tolerância, que poderiam ser ampliados.

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Para 2023, a meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, ou seja, a inflação precisaria ficar entre 1,75% e 4,75% no encerramento do ano. Para 2024 e 2025, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A discussão em torno da meta de inflação foi conduzida de maneira ruidosa, avaliou Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual. Embora o debate tenha se acalmado mais recentemente, o executivo lembra que ainda não se sabe o que será feito.

“Foi uma discussão de maneira ruidosa, muito mais calor do que luz a respeito do que se poderia fazer”, disse o ex-diretor do Banco Central, também no seminário do Ibre/FGV.

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Loyo acredita que o CMN poderia decidir por uma meta de longo prazo de 3%, desde que sem desvios em relação ao centro, nem que o alcance do objetivo seja rolado para o futuro, sem que os responsáveis precisem responder por um eventual não cumprimento. Para ele, desde que seja bem-feita, a mudança de meta anual para uma meta contínua poderia ser bem-vinda.

“Acho que pode ser inclusive um ganho de produtividade do regime de metas de inflação”, afirmou Loyo, lembrando que a alteração poderia livrar o Conselho Monetário Nacional de uma tensão anual de definir meta de inflação à frente de forma supostamente “casuística”. “Eu escolheria um regime em que você tem a perseguição contínua do cumprimento da meta.”

Loyo ressalta que aumentar a meta de inflação não tornaria mais fácil cumpri-la. Embora veja a migração para o modelo de meta contínua de 3% como uma melhoria, ele crê que seria importante manter o mecanismo de confecção de uma carta anual pelo Banco Central para que a autoridade monetária dê suas explicações à sociedade e ao governo sobre o cenário inflacionário e as medidas de política monetária. Sobre eventuais mudanças no intervalo de tolerância, o sócio do BTG alerta para a possibilidade de que um aumento no teto leve, na prática, a uma ampliação da meta.

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“A não ser que tenhamos convicção de que vamos perseguir o teto”, criticou Loyo. “A inflação vai estacionar porque não vai ser o centro e sim o teto da banda (de tolerância). Aí é muito ruim aumentar a banda, porque você não está aumentando a banda coisa nenhuma, está aumentando a meta.”

Comunicado do Copom após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, dizem economistas Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Uma eventual decisão do CMN sobre a manutenção da meta de inflação é o que falta para o Banco Central poder decidir o rumo da política monetária no País, opinou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

“Uma eventual decisão do CMN de manutenção da meta de inflação vai dar um impulso extra do momento favorável que estamos vivendo”, declarou Senna. “É o que o BC está esperando para tomar decisão.”

Senna lembrou que as expectativas estão mais favoráveis, os juros reais de prazo mais longo recuaram e o Risco Brasil caiu. No entanto, Senna pondera que os núcleos de inflação permanecem elevados, assim como a inflação de serviços. “O trabalho (da política monetária) ainda não acabou”, afirmou.

Corte da Selic em agosto

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, disseram os especialistas presentes no seminário. O texto não descarta a possibilidade de um início do ciclo de cortes, que poderia ocorrer tanto em agosto quanto em setembro, avaliou Eduardo Loyo, do BTG Pactual.

“Não acho que o Banco Central está impondo condições para iniciar um ciclo de afrouxamento”, opinou Loyo. “Não é normal que a gente saiba exatamente sempre o que vai acontecer, e não é normal que Banco Central esteja sempre decidindo de véspera.”

Segundo o ex-diretor do BC, a reação ao comunicado do Copom “foi exagerada”, uma vez que o texto libera a autoridade monetária para tomar a decisão que considerar mais adequada. “Acho que o comunicado está na medida para deixar cortar se quiser”, disse ele.

Loyo defendeu que, se estivesse no BC contemplando cortar a Selic em agosto, este seria o comunicado que teria escrito. Portanto, ele crê que o comunicado do último Copom é compatível com um corte de juro em agosto.

José Júlio Senna corroborou que o Copom colocou em seu último comunicado o que já estava em textos anteriores, “nada entrou pela janela”. Segundo ele, bancos centrais “não fazem apostas”, tomam decisões seguras, com base em dados reais.

“O Banco Central tem que ser muito cauteloso, de não jogar o juro para baixo, e lá adiante isso não se sustente”, apontou Senna.

Embora Senna critique o cenário de incertezas e o modelo do novo arcabouço fiscal em tramitação no Congresso, ele aposta em algum afrouxamento da taxa Selic, de forma lenta, ainda sem precisão se será iniciado em agosto. Para Senna, ninguém sabe qual será o verdadeiro futuro da política fiscal brasileira, e o Banco Central “tem que reduzir ao mínimo essa incerteza”.

“Por outro lado, se o Banco Central ficar esperando solução de incerteza para baixar os juros, ele não vai baixar nunca os juros no Brasil”, apontou Senna. “Se esperar os grandes problemas se resolverem, não vai reduzir nunca. Então eu acho que alguma coisa vai reduzir”, previu.

RIO E SÃO PAULO - As críticas do governo Lula ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, estão levando a um desmonte da reputação da instituição, avaliou nesta sexta-feira, 23, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore.

Os ataques à autoridade monetária são motivados pela manutenção prolongada da taxa básica de juro, a Selic, em 13,75% ao ano. Em defesa da autarquia, Pastore avalia que, ao centrar críticas no BC, o governo está destruindo uma instituição que conseguiu, “a duras penas, por competência de seus dirigentes, adquirir um respeito e uma credibilidade na economia mundial que são raros”. Para ele, “a discussão é de quem quer fazer um downgrade institucional do Banco Central”.

“Quando você começa a bater no presidente do BC, chamando ele de ‘aquele cidadão que lá está’, você está fazendo um ataque à instituição chamada Banco Central. Este governo está desmontando uma instituição. Eu quero deixar isso bem claro”, disse Pastore ao participar do 9º Seminário Anual de Política Monetária, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O ex-presidente do BC disse que “economistas precisam ter coragem de darem um grito em defesa de uma instituição que vem fazendo exemplarmente o seu trabalho”. “Temos de denunciar este governo que vem atacando esta instituição. Isto não é conduta que um estadista deveria ter”, disse Pastore.

“Espero que parem, espero que parem! Se abrirem uma meta mais alta, com intervalo maior, etc., o processo continua e isso será um resultado péssimo para a economia brasileira. Senhor presidente da República e senhores ministros, preservem a instituição. É obrigação de vocês preservarem a instituição chamada Banco Central do Brasil”, disparou.

O BC reduzirá a taxa básica de juros, a Selic, quando se sentir confortável para esse movimento, avaliou Pastore. “Simplesmente estamos discutindo quando o Banco Central vai começar a baixar, quando omitimos o que segura juros em nível alto, que é a politica fiscal expansionista”, declarou.

Segundo ele, o BC não deveria ser criticado por “fazer seu trabalho”. “Agora o juro, quando ele terminar de fazer o trabalho dele, vai estar muito alto”, disse. “Existe um erro crasso da política fiscal, não do Banco Central.”

O ex-presidente do BC criticou o desejo do governo de elevar a meta de inflação como solução para uma política fiscal. “Temos uma política fiscal errada, então vamos botar uma meta de inflação maior”, queixou-se Pastore. “Acho que a meta tem de ter nível semelhante aos outros países emergentes, em torno de 3%. Quanto ao intervalo, o Banco Central tem de mirar no centro, não em qualquer ponto do intervalo”, defendeu.

Quanto ao momento de início do ciclo de corte de juros, ele afirmou que não gosta de fazer projeções, mas deixou seu palpite: “Não vou dizer quando vai começar, mas acho que começa em agosto”.

Definição da meta

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne no próximo dia 29 deste mês para determinar a futura meta da inflação. Integrantes do governo federal vêm defendendo a alteração do modelo, tanto em relação ao prazo, deixando de ser uma meta anual para se tornar uma meta contínua, quanto ao número-alvo e intervalo de tolerância, que poderiam ser ampliados.

Para 2023, a meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, ou seja, a inflação precisaria ficar entre 1,75% e 4,75% no encerramento do ano. Para 2024 e 2025, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A discussão em torno da meta de inflação foi conduzida de maneira ruidosa, avaliou Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual. Embora o debate tenha se acalmado mais recentemente, o executivo lembra que ainda não se sabe o que será feito.

“Foi uma discussão de maneira ruidosa, muito mais calor do que luz a respeito do que se poderia fazer”, disse o ex-diretor do Banco Central, também no seminário do Ibre/FGV.

Loyo acredita que o CMN poderia decidir por uma meta de longo prazo de 3%, desde que sem desvios em relação ao centro, nem que o alcance do objetivo seja rolado para o futuro, sem que os responsáveis precisem responder por um eventual não cumprimento. Para ele, desde que seja bem-feita, a mudança de meta anual para uma meta contínua poderia ser bem-vinda.

“Acho que pode ser inclusive um ganho de produtividade do regime de metas de inflação”, afirmou Loyo, lembrando que a alteração poderia livrar o Conselho Monetário Nacional de uma tensão anual de definir meta de inflação à frente de forma supostamente “casuística”. “Eu escolheria um regime em que você tem a perseguição contínua do cumprimento da meta.”

Loyo ressalta que aumentar a meta de inflação não tornaria mais fácil cumpri-la. Embora veja a migração para o modelo de meta contínua de 3% como uma melhoria, ele crê que seria importante manter o mecanismo de confecção de uma carta anual pelo Banco Central para que a autoridade monetária dê suas explicações à sociedade e ao governo sobre o cenário inflacionário e as medidas de política monetária. Sobre eventuais mudanças no intervalo de tolerância, o sócio do BTG alerta para a possibilidade de que um aumento no teto leve, na prática, a uma ampliação da meta.

“A não ser que tenhamos convicção de que vamos perseguir o teto”, criticou Loyo. “A inflação vai estacionar porque não vai ser o centro e sim o teto da banda (de tolerância). Aí é muito ruim aumentar a banda, porque você não está aumentando a banda coisa nenhuma, está aumentando a meta.”

Comunicado do Copom após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, dizem economistas Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Uma eventual decisão do CMN sobre a manutenção da meta de inflação é o que falta para o Banco Central poder decidir o rumo da política monetária no País, opinou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

“Uma eventual decisão do CMN de manutenção da meta de inflação vai dar um impulso extra do momento favorável que estamos vivendo”, declarou Senna. “É o que o BC está esperando para tomar decisão.”

Senna lembrou que as expectativas estão mais favoráveis, os juros reais de prazo mais longo recuaram e o Risco Brasil caiu. No entanto, Senna pondera que os núcleos de inflação permanecem elevados, assim como a inflação de serviços. “O trabalho (da política monetária) ainda não acabou”, afirmou.

Corte da Selic em agosto

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, disseram os especialistas presentes no seminário. O texto não descarta a possibilidade de um início do ciclo de cortes, que poderia ocorrer tanto em agosto quanto em setembro, avaliou Eduardo Loyo, do BTG Pactual.

“Não acho que o Banco Central está impondo condições para iniciar um ciclo de afrouxamento”, opinou Loyo. “Não é normal que a gente saiba exatamente sempre o que vai acontecer, e não é normal que Banco Central esteja sempre decidindo de véspera.”

Segundo o ex-diretor do BC, a reação ao comunicado do Copom “foi exagerada”, uma vez que o texto libera a autoridade monetária para tomar a decisão que considerar mais adequada. “Acho que o comunicado está na medida para deixar cortar se quiser”, disse ele.

Loyo defendeu que, se estivesse no BC contemplando cortar a Selic em agosto, este seria o comunicado que teria escrito. Portanto, ele crê que o comunicado do último Copom é compatível com um corte de juro em agosto.

José Júlio Senna corroborou que o Copom colocou em seu último comunicado o que já estava em textos anteriores, “nada entrou pela janela”. Segundo ele, bancos centrais “não fazem apostas”, tomam decisões seguras, com base em dados reais.

“O Banco Central tem que ser muito cauteloso, de não jogar o juro para baixo, e lá adiante isso não se sustente”, apontou Senna.

Embora Senna critique o cenário de incertezas e o modelo do novo arcabouço fiscal em tramitação no Congresso, ele aposta em algum afrouxamento da taxa Selic, de forma lenta, ainda sem precisão se será iniciado em agosto. Para Senna, ninguém sabe qual será o verdadeiro futuro da política fiscal brasileira, e o Banco Central “tem que reduzir ao mínimo essa incerteza”.

“Por outro lado, se o Banco Central ficar esperando solução de incerteza para baixar os juros, ele não vai baixar nunca os juros no Brasil”, apontou Senna. “Se esperar os grandes problemas se resolverem, não vai reduzir nunca. Então eu acho que alguma coisa vai reduzir”, previu.

RIO E SÃO PAULO - As críticas do governo Lula ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, estão levando a um desmonte da reputação da instituição, avaliou nesta sexta-feira, 23, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore.

Os ataques à autoridade monetária são motivados pela manutenção prolongada da taxa básica de juro, a Selic, em 13,75% ao ano. Em defesa da autarquia, Pastore avalia que, ao centrar críticas no BC, o governo está destruindo uma instituição que conseguiu, “a duras penas, por competência de seus dirigentes, adquirir um respeito e uma credibilidade na economia mundial que são raros”. Para ele, “a discussão é de quem quer fazer um downgrade institucional do Banco Central”.

“Quando você começa a bater no presidente do BC, chamando ele de ‘aquele cidadão que lá está’, você está fazendo um ataque à instituição chamada Banco Central. Este governo está desmontando uma instituição. Eu quero deixar isso bem claro”, disse Pastore ao participar do 9º Seminário Anual de Política Monetária, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O ex-presidente do BC disse que “economistas precisam ter coragem de darem um grito em defesa de uma instituição que vem fazendo exemplarmente o seu trabalho”. “Temos de denunciar este governo que vem atacando esta instituição. Isto não é conduta que um estadista deveria ter”, disse Pastore.

“Espero que parem, espero que parem! Se abrirem uma meta mais alta, com intervalo maior, etc., o processo continua e isso será um resultado péssimo para a economia brasileira. Senhor presidente da República e senhores ministros, preservem a instituição. É obrigação de vocês preservarem a instituição chamada Banco Central do Brasil”, disparou.

O BC reduzirá a taxa básica de juros, a Selic, quando se sentir confortável para esse movimento, avaliou Pastore. “Simplesmente estamos discutindo quando o Banco Central vai começar a baixar, quando omitimos o que segura juros em nível alto, que é a politica fiscal expansionista”, declarou.

Segundo ele, o BC não deveria ser criticado por “fazer seu trabalho”. “Agora o juro, quando ele terminar de fazer o trabalho dele, vai estar muito alto”, disse. “Existe um erro crasso da política fiscal, não do Banco Central.”

O ex-presidente do BC criticou o desejo do governo de elevar a meta de inflação como solução para uma política fiscal. “Temos uma política fiscal errada, então vamos botar uma meta de inflação maior”, queixou-se Pastore. “Acho que a meta tem de ter nível semelhante aos outros países emergentes, em torno de 3%. Quanto ao intervalo, o Banco Central tem de mirar no centro, não em qualquer ponto do intervalo”, defendeu.

Quanto ao momento de início do ciclo de corte de juros, ele afirmou que não gosta de fazer projeções, mas deixou seu palpite: “Não vou dizer quando vai começar, mas acho que começa em agosto”.

Definição da meta

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne no próximo dia 29 deste mês para determinar a futura meta da inflação. Integrantes do governo federal vêm defendendo a alteração do modelo, tanto em relação ao prazo, deixando de ser uma meta anual para se tornar uma meta contínua, quanto ao número-alvo e intervalo de tolerância, que poderiam ser ampliados.

Para 2023, a meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, ou seja, a inflação precisaria ficar entre 1,75% e 4,75% no encerramento do ano. Para 2024 e 2025, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A discussão em torno da meta de inflação foi conduzida de maneira ruidosa, avaliou Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual. Embora o debate tenha se acalmado mais recentemente, o executivo lembra que ainda não se sabe o que será feito.

“Foi uma discussão de maneira ruidosa, muito mais calor do que luz a respeito do que se poderia fazer”, disse o ex-diretor do Banco Central, também no seminário do Ibre/FGV.

Loyo acredita que o CMN poderia decidir por uma meta de longo prazo de 3%, desde que sem desvios em relação ao centro, nem que o alcance do objetivo seja rolado para o futuro, sem que os responsáveis precisem responder por um eventual não cumprimento. Para ele, desde que seja bem-feita, a mudança de meta anual para uma meta contínua poderia ser bem-vinda.

“Acho que pode ser inclusive um ganho de produtividade do regime de metas de inflação”, afirmou Loyo, lembrando que a alteração poderia livrar o Conselho Monetário Nacional de uma tensão anual de definir meta de inflação à frente de forma supostamente “casuística”. “Eu escolheria um regime em que você tem a perseguição contínua do cumprimento da meta.”

Loyo ressalta que aumentar a meta de inflação não tornaria mais fácil cumpri-la. Embora veja a migração para o modelo de meta contínua de 3% como uma melhoria, ele crê que seria importante manter o mecanismo de confecção de uma carta anual pelo Banco Central para que a autoridade monetária dê suas explicações à sociedade e ao governo sobre o cenário inflacionário e as medidas de política monetária. Sobre eventuais mudanças no intervalo de tolerância, o sócio do BTG alerta para a possibilidade de que um aumento no teto leve, na prática, a uma ampliação da meta.

“A não ser que tenhamos convicção de que vamos perseguir o teto”, criticou Loyo. “A inflação vai estacionar porque não vai ser o centro e sim o teto da banda (de tolerância). Aí é muito ruim aumentar a banda, porque você não está aumentando a banda coisa nenhuma, está aumentando a meta.”

Comunicado do Copom após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, dizem economistas Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Uma eventual decisão do CMN sobre a manutenção da meta de inflação é o que falta para o Banco Central poder decidir o rumo da política monetária no País, opinou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

“Uma eventual decisão do CMN de manutenção da meta de inflação vai dar um impulso extra do momento favorável que estamos vivendo”, declarou Senna. “É o que o BC está esperando para tomar decisão.”

Senna lembrou que as expectativas estão mais favoráveis, os juros reais de prazo mais longo recuaram e o Risco Brasil caiu. No entanto, Senna pondera que os núcleos de inflação permanecem elevados, assim como a inflação de serviços. “O trabalho (da política monetária) ainda não acabou”, afirmou.

Corte da Selic em agosto

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, disseram os especialistas presentes no seminário. O texto não descarta a possibilidade de um início do ciclo de cortes, que poderia ocorrer tanto em agosto quanto em setembro, avaliou Eduardo Loyo, do BTG Pactual.

“Não acho que o Banco Central está impondo condições para iniciar um ciclo de afrouxamento”, opinou Loyo. “Não é normal que a gente saiba exatamente sempre o que vai acontecer, e não é normal que Banco Central esteja sempre decidindo de véspera.”

Segundo o ex-diretor do BC, a reação ao comunicado do Copom “foi exagerada”, uma vez que o texto libera a autoridade monetária para tomar a decisão que considerar mais adequada. “Acho que o comunicado está na medida para deixar cortar se quiser”, disse ele.

Loyo defendeu que, se estivesse no BC contemplando cortar a Selic em agosto, este seria o comunicado que teria escrito. Portanto, ele crê que o comunicado do último Copom é compatível com um corte de juro em agosto.

José Júlio Senna corroborou que o Copom colocou em seu último comunicado o que já estava em textos anteriores, “nada entrou pela janela”. Segundo ele, bancos centrais “não fazem apostas”, tomam decisões seguras, com base em dados reais.

“O Banco Central tem que ser muito cauteloso, de não jogar o juro para baixo, e lá adiante isso não se sustente”, apontou Senna.

Embora Senna critique o cenário de incertezas e o modelo do novo arcabouço fiscal em tramitação no Congresso, ele aposta em algum afrouxamento da taxa Selic, de forma lenta, ainda sem precisão se será iniciado em agosto. Para Senna, ninguém sabe qual será o verdadeiro futuro da política fiscal brasileira, e o Banco Central “tem que reduzir ao mínimo essa incerteza”.

“Por outro lado, se o Banco Central ficar esperando solução de incerteza para baixar os juros, ele não vai baixar nunca os juros no Brasil”, apontou Senna. “Se esperar os grandes problemas se resolverem, não vai reduzir nunca. Então eu acho que alguma coisa vai reduzir”, previu.

RIO E SÃO PAULO - As críticas do governo Lula ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, estão levando a um desmonte da reputação da instituição, avaliou nesta sexta-feira, 23, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore.

Os ataques à autoridade monetária são motivados pela manutenção prolongada da taxa básica de juro, a Selic, em 13,75% ao ano. Em defesa da autarquia, Pastore avalia que, ao centrar críticas no BC, o governo está destruindo uma instituição que conseguiu, “a duras penas, por competência de seus dirigentes, adquirir um respeito e uma credibilidade na economia mundial que são raros”. Para ele, “a discussão é de quem quer fazer um downgrade institucional do Banco Central”.

“Quando você começa a bater no presidente do BC, chamando ele de ‘aquele cidadão que lá está’, você está fazendo um ataque à instituição chamada Banco Central. Este governo está desmontando uma instituição. Eu quero deixar isso bem claro”, disse Pastore ao participar do 9º Seminário Anual de Política Monetária, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O ex-presidente do BC disse que “economistas precisam ter coragem de darem um grito em defesa de uma instituição que vem fazendo exemplarmente o seu trabalho”. “Temos de denunciar este governo que vem atacando esta instituição. Isto não é conduta que um estadista deveria ter”, disse Pastore.

“Espero que parem, espero que parem! Se abrirem uma meta mais alta, com intervalo maior, etc., o processo continua e isso será um resultado péssimo para a economia brasileira. Senhor presidente da República e senhores ministros, preservem a instituição. É obrigação de vocês preservarem a instituição chamada Banco Central do Brasil”, disparou.

O BC reduzirá a taxa básica de juros, a Selic, quando se sentir confortável para esse movimento, avaliou Pastore. “Simplesmente estamos discutindo quando o Banco Central vai começar a baixar, quando omitimos o que segura juros em nível alto, que é a politica fiscal expansionista”, declarou.

Segundo ele, o BC não deveria ser criticado por “fazer seu trabalho”. “Agora o juro, quando ele terminar de fazer o trabalho dele, vai estar muito alto”, disse. “Existe um erro crasso da política fiscal, não do Banco Central.”

O ex-presidente do BC criticou o desejo do governo de elevar a meta de inflação como solução para uma política fiscal. “Temos uma política fiscal errada, então vamos botar uma meta de inflação maior”, queixou-se Pastore. “Acho que a meta tem de ter nível semelhante aos outros países emergentes, em torno de 3%. Quanto ao intervalo, o Banco Central tem de mirar no centro, não em qualquer ponto do intervalo”, defendeu.

Quanto ao momento de início do ciclo de corte de juros, ele afirmou que não gosta de fazer projeções, mas deixou seu palpite: “Não vou dizer quando vai começar, mas acho que começa em agosto”.

Definição da meta

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne no próximo dia 29 deste mês para determinar a futura meta da inflação. Integrantes do governo federal vêm defendendo a alteração do modelo, tanto em relação ao prazo, deixando de ser uma meta anual para se tornar uma meta contínua, quanto ao número-alvo e intervalo de tolerância, que poderiam ser ampliados.

Para 2023, a meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, ou seja, a inflação precisaria ficar entre 1,75% e 4,75% no encerramento do ano. Para 2024 e 2025, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A discussão em torno da meta de inflação foi conduzida de maneira ruidosa, avaliou Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual. Embora o debate tenha se acalmado mais recentemente, o executivo lembra que ainda não se sabe o que será feito.

“Foi uma discussão de maneira ruidosa, muito mais calor do que luz a respeito do que se poderia fazer”, disse o ex-diretor do Banco Central, também no seminário do Ibre/FGV.

Loyo acredita que o CMN poderia decidir por uma meta de longo prazo de 3%, desde que sem desvios em relação ao centro, nem que o alcance do objetivo seja rolado para o futuro, sem que os responsáveis precisem responder por um eventual não cumprimento. Para ele, desde que seja bem-feita, a mudança de meta anual para uma meta contínua poderia ser bem-vinda.

“Acho que pode ser inclusive um ganho de produtividade do regime de metas de inflação”, afirmou Loyo, lembrando que a alteração poderia livrar o Conselho Monetário Nacional de uma tensão anual de definir meta de inflação à frente de forma supostamente “casuística”. “Eu escolheria um regime em que você tem a perseguição contínua do cumprimento da meta.”

Loyo ressalta que aumentar a meta de inflação não tornaria mais fácil cumpri-la. Embora veja a migração para o modelo de meta contínua de 3% como uma melhoria, ele crê que seria importante manter o mecanismo de confecção de uma carta anual pelo Banco Central para que a autoridade monetária dê suas explicações à sociedade e ao governo sobre o cenário inflacionário e as medidas de política monetária. Sobre eventuais mudanças no intervalo de tolerância, o sócio do BTG alerta para a possibilidade de que um aumento no teto leve, na prática, a uma ampliação da meta.

“A não ser que tenhamos convicção de que vamos perseguir o teto”, criticou Loyo. “A inflação vai estacionar porque não vai ser o centro e sim o teto da banda (de tolerância). Aí é muito ruim aumentar a banda, porque você não está aumentando a banda coisa nenhuma, está aumentando a meta.”

Comunicado do Copom após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, dizem economistas Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Uma eventual decisão do CMN sobre a manutenção da meta de inflação é o que falta para o Banco Central poder decidir o rumo da política monetária no País, opinou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

“Uma eventual decisão do CMN de manutenção da meta de inflação vai dar um impulso extra do momento favorável que estamos vivendo”, declarou Senna. “É o que o BC está esperando para tomar decisão.”

Senna lembrou que as expectativas estão mais favoráveis, os juros reais de prazo mais longo recuaram e o Risco Brasil caiu. No entanto, Senna pondera que os núcleos de inflação permanecem elevados, assim como a inflação de serviços. “O trabalho (da política monetária) ainda não acabou”, afirmou.

Corte da Selic em agosto

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, disseram os especialistas presentes no seminário. O texto não descarta a possibilidade de um início do ciclo de cortes, que poderia ocorrer tanto em agosto quanto em setembro, avaliou Eduardo Loyo, do BTG Pactual.

“Não acho que o Banco Central está impondo condições para iniciar um ciclo de afrouxamento”, opinou Loyo. “Não é normal que a gente saiba exatamente sempre o que vai acontecer, e não é normal que Banco Central esteja sempre decidindo de véspera.”

Segundo o ex-diretor do BC, a reação ao comunicado do Copom “foi exagerada”, uma vez que o texto libera a autoridade monetária para tomar a decisão que considerar mais adequada. “Acho que o comunicado está na medida para deixar cortar se quiser”, disse ele.

Loyo defendeu que, se estivesse no BC contemplando cortar a Selic em agosto, este seria o comunicado que teria escrito. Portanto, ele crê que o comunicado do último Copom é compatível com um corte de juro em agosto.

José Júlio Senna corroborou que o Copom colocou em seu último comunicado o que já estava em textos anteriores, “nada entrou pela janela”. Segundo ele, bancos centrais “não fazem apostas”, tomam decisões seguras, com base em dados reais.

“O Banco Central tem que ser muito cauteloso, de não jogar o juro para baixo, e lá adiante isso não se sustente”, apontou Senna.

Embora Senna critique o cenário de incertezas e o modelo do novo arcabouço fiscal em tramitação no Congresso, ele aposta em algum afrouxamento da taxa Selic, de forma lenta, ainda sem precisão se será iniciado em agosto. Para Senna, ninguém sabe qual será o verdadeiro futuro da política fiscal brasileira, e o Banco Central “tem que reduzir ao mínimo essa incerteza”.

“Por outro lado, se o Banco Central ficar esperando solução de incerteza para baixar os juros, ele não vai baixar nunca os juros no Brasil”, apontou Senna. “Se esperar os grandes problemas se resolverem, não vai reduzir nunca. Então eu acho que alguma coisa vai reduzir”, previu.

RIO E SÃO PAULO - As críticas do governo Lula ao Banco Central e ao seu presidente, Roberto Campos Neto, estão levando a um desmonte da reputação da instituição, avaliou nesta sexta-feira, 23, o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore.

Os ataques à autoridade monetária são motivados pela manutenção prolongada da taxa básica de juro, a Selic, em 13,75% ao ano. Em defesa da autarquia, Pastore avalia que, ao centrar críticas no BC, o governo está destruindo uma instituição que conseguiu, “a duras penas, por competência de seus dirigentes, adquirir um respeito e uma credibilidade na economia mundial que são raros”. Para ele, “a discussão é de quem quer fazer um downgrade institucional do Banco Central”.

“Quando você começa a bater no presidente do BC, chamando ele de ‘aquele cidadão que lá está’, você está fazendo um ataque à instituição chamada Banco Central. Este governo está desmontando uma instituição. Eu quero deixar isso bem claro”, disse Pastore ao participar do 9º Seminário Anual de Política Monetária, promovido pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

O ex-presidente do BC disse que “economistas precisam ter coragem de darem um grito em defesa de uma instituição que vem fazendo exemplarmente o seu trabalho”. “Temos de denunciar este governo que vem atacando esta instituição. Isto não é conduta que um estadista deveria ter”, disse Pastore.

“Espero que parem, espero que parem! Se abrirem uma meta mais alta, com intervalo maior, etc., o processo continua e isso será um resultado péssimo para a economia brasileira. Senhor presidente da República e senhores ministros, preservem a instituição. É obrigação de vocês preservarem a instituição chamada Banco Central do Brasil”, disparou.

O BC reduzirá a taxa básica de juros, a Selic, quando se sentir confortável para esse movimento, avaliou Pastore. “Simplesmente estamos discutindo quando o Banco Central vai começar a baixar, quando omitimos o que segura juros em nível alto, que é a politica fiscal expansionista”, declarou.

Segundo ele, o BC não deveria ser criticado por “fazer seu trabalho”. “Agora o juro, quando ele terminar de fazer o trabalho dele, vai estar muito alto”, disse. “Existe um erro crasso da política fiscal, não do Banco Central.”

O ex-presidente do BC criticou o desejo do governo de elevar a meta de inflação como solução para uma política fiscal. “Temos uma política fiscal errada, então vamos botar uma meta de inflação maior”, queixou-se Pastore. “Acho que a meta tem de ter nível semelhante aos outros países emergentes, em torno de 3%. Quanto ao intervalo, o Banco Central tem de mirar no centro, não em qualquer ponto do intervalo”, defendeu.

Quanto ao momento de início do ciclo de corte de juros, ele afirmou que não gosta de fazer projeções, mas deixou seu palpite: “Não vou dizer quando vai começar, mas acho que começa em agosto”.

Definição da meta

O Conselho Monetário Nacional (CMN) se reúne no próximo dia 29 deste mês para determinar a futura meta da inflação. Integrantes do governo federal vêm defendendo a alteração do modelo, tanto em relação ao prazo, deixando de ser uma meta anual para se tornar uma meta contínua, quanto ao número-alvo e intervalo de tolerância, que poderiam ser ampliados.

Para 2023, a meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo, ou seja, a inflação precisaria ficar entre 1,75% e 4,75% no encerramento do ano. Para 2024 e 2025, a meta de inflação é de 3%, com intervalo de tolerância entre 1,5% e 4,5%.

A discussão em torno da meta de inflação foi conduzida de maneira ruidosa, avaliou Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual. Embora o debate tenha se acalmado mais recentemente, o executivo lembra que ainda não se sabe o que será feito.

“Foi uma discussão de maneira ruidosa, muito mais calor do que luz a respeito do que se poderia fazer”, disse o ex-diretor do Banco Central, também no seminário do Ibre/FGV.

Loyo acredita que o CMN poderia decidir por uma meta de longo prazo de 3%, desde que sem desvios em relação ao centro, nem que o alcance do objetivo seja rolado para o futuro, sem que os responsáveis precisem responder por um eventual não cumprimento. Para ele, desde que seja bem-feita, a mudança de meta anual para uma meta contínua poderia ser bem-vinda.

“Acho que pode ser inclusive um ganho de produtividade do regime de metas de inflação”, afirmou Loyo, lembrando que a alteração poderia livrar o Conselho Monetário Nacional de uma tensão anual de definir meta de inflação à frente de forma supostamente “casuística”. “Eu escolheria um regime em que você tem a perseguição contínua do cumprimento da meta.”

Loyo ressalta que aumentar a meta de inflação não tornaria mais fácil cumpri-la. Embora veja a migração para o modelo de meta contínua de 3% como uma melhoria, ele crê que seria importante manter o mecanismo de confecção de uma carta anual pelo Banco Central para que a autoridade monetária dê suas explicações à sociedade e ao governo sobre o cenário inflacionário e as medidas de política monetária. Sobre eventuais mudanças no intervalo de tolerância, o sócio do BTG alerta para a possibilidade de que um aumento no teto leve, na prática, a uma ampliação da meta.

“A não ser que tenhamos convicção de que vamos perseguir o teto”, criticou Loyo. “A inflação vai estacionar porque não vai ser o centro e sim o teto da banda (de tolerância). Aí é muito ruim aumentar a banda, porque você não está aumentando a banda coisa nenhuma, está aumentando a meta.”

Comunicado do Copom após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, dizem economistas Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Uma eventual decisão do CMN sobre a manutenção da meta de inflação é o que falta para o Banco Central poder decidir o rumo da política monetária no País, opinou José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV.

“Uma eventual decisão do CMN de manutenção da meta de inflação vai dar um impulso extra do momento favorável que estamos vivendo”, declarou Senna. “É o que o BC está esperando para tomar decisão.”

Senna lembrou que as expectativas estão mais favoráveis, os juros reais de prazo mais longo recuaram e o Risco Brasil caiu. No entanto, Senna pondera que os núcleos de inflação permanecem elevados, assim como a inflação de serviços. “O trabalho (da política monetária) ainda não acabou”, afirmou.

Corte da Selic em agosto

O comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após a última reunião deixa espaço para uma redução na taxa básica de juros, embora não seja possível determinar quando, disseram os especialistas presentes no seminário. O texto não descarta a possibilidade de um início do ciclo de cortes, que poderia ocorrer tanto em agosto quanto em setembro, avaliou Eduardo Loyo, do BTG Pactual.

“Não acho que o Banco Central está impondo condições para iniciar um ciclo de afrouxamento”, opinou Loyo. “Não é normal que a gente saiba exatamente sempre o que vai acontecer, e não é normal que Banco Central esteja sempre decidindo de véspera.”

Segundo o ex-diretor do BC, a reação ao comunicado do Copom “foi exagerada”, uma vez que o texto libera a autoridade monetária para tomar a decisão que considerar mais adequada. “Acho que o comunicado está na medida para deixar cortar se quiser”, disse ele.

Loyo defendeu que, se estivesse no BC contemplando cortar a Selic em agosto, este seria o comunicado que teria escrito. Portanto, ele crê que o comunicado do último Copom é compatível com um corte de juro em agosto.

José Júlio Senna corroborou que o Copom colocou em seu último comunicado o que já estava em textos anteriores, “nada entrou pela janela”. Segundo ele, bancos centrais “não fazem apostas”, tomam decisões seguras, com base em dados reais.

“O Banco Central tem que ser muito cauteloso, de não jogar o juro para baixo, e lá adiante isso não se sustente”, apontou Senna.

Embora Senna critique o cenário de incertezas e o modelo do novo arcabouço fiscal em tramitação no Congresso, ele aposta em algum afrouxamento da taxa Selic, de forma lenta, ainda sem precisão se será iniciado em agosto. Para Senna, ninguém sabe qual será o verdadeiro futuro da política fiscal brasileira, e o Banco Central “tem que reduzir ao mínimo essa incerteza”.

“Por outro lado, se o Banco Central ficar esperando solução de incerteza para baixar os juros, ele não vai baixar nunca os juros no Brasil”, apontou Senna. “Se esperar os grandes problemas se resolverem, não vai reduzir nunca. Então eu acho que alguma coisa vai reduzir”, previu.

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