Doutor em Economia

E se a xenofobia for a nova cara do bolsonarismo derrotado?


Que pautas engajariam Bolsonaro? Afinal, haveria um limite para o medo na temática de costumes depois que Lula for eleito e não fechar igrejas

Por Pedro Fernando Nery

Esta pode ser a nossa 1.ª eleição em que o vencedor dos votos totais não vence no colégio eleitoral. É, evidentemente, apenas um exercício: ao contrário dos EUA, não há colégio eleitoral no Brasil.

Lá, cada Estado tem um peso e quem ganha em cada um leva o Estado inteiro (tanto faz o tamanho da margem de vitória). É assim possível virar presidente sem ter a maioria do eleitorado nacional. Aconteceu com Trump, porque Hillary tinha uma votação muito concentrada em alguns Estados populosos.

Jair Bolsonaro, candidato à reeleição à Presidência da República; após o primeiro turno, bolsonaristas fizeram declarações contra nordestinos  Foto: Nelson Almeida/AFP
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Lá, o resultado expressa uma divisão entre urbano e rural. E aqui? Pelas pesquisas, Lula vence a votação nacional, mas Bolsonaro venceria em Estados de peso, levando todo o Sul, o Centro-Oeste e o Sudeste (exceto MG), além dos menores Estados do Norte.

Na semana após o 1.º turno, manifestações de xenofobia por influencers bolsonaristas apareceram, direcionadas ao Nordeste. No argumento, a região, apesar de sustentada pelo resto do País, teria o poder de escolher o presidente contra a vontade das regiões que a sustentam financeiramente.

E se a cara do bolsonarismo derrotado for essa? Matteo Salvini, o putinista próximo de Bolsonaro, ascendeu na Itália como líder do Lega Nord, partido cuja plataforma é basicamente a separação entre a parte rica e a parte pobre do país. Lá, é o Sul a parte indesejada. Sua força é tanta que Salvini chegou ao poder, mesmo com uma votação mínima em parte do território.

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Veríamos crescer uma agenda anti-impostos, e também por maior autonomia dos Estados brasileiros. Para que pudessem legislar, por exemplo, sobre Direito Penal (ex: redução da maioridade). Argumentariam que conseguiriam desta forma implementar a pauta desejada pelos eleitores locais que foi bloqueada pelos nordestinos. Veja que o bolsonarismo pode perder a Presidência mas ter eleito vários governadores.

Ray Dalio, megainvestidor americano, estimou recentemente haver 30% de chance de uma guerra civil nos EUA nos próximos anos. Entre as causas, a polarização eleitoral.

É possível imaginar um cenário em que um Bolsonaro derrotado desembarque de seu partido, que migra para o centro, e se reorganiza com sua base mais fiel em uma nova agremiação – retomando um projeto como o da criação do Aliança pelo Brasil. Que pautas o engajariam? Afinal, haveria um limite para o medo na temática de costumes depois que Lula for eleito e não fechar igrejas etc. Salvini e a Lega Nord parecem uma inspiração natural.

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O Brasil caminha, como teme Dalio, para uma maior tensão em relação à sua federação?

Esta pode ser a nossa 1.ª eleição em que o vencedor dos votos totais não vence no colégio eleitoral. É, evidentemente, apenas um exercício: ao contrário dos EUA, não há colégio eleitoral no Brasil.

Lá, cada Estado tem um peso e quem ganha em cada um leva o Estado inteiro (tanto faz o tamanho da margem de vitória). É assim possível virar presidente sem ter a maioria do eleitorado nacional. Aconteceu com Trump, porque Hillary tinha uma votação muito concentrada em alguns Estados populosos.

Jair Bolsonaro, candidato à reeleição à Presidência da República; após o primeiro turno, bolsonaristas fizeram declarações contra nordestinos  Foto: Nelson Almeida/AFP

Lá, o resultado expressa uma divisão entre urbano e rural. E aqui? Pelas pesquisas, Lula vence a votação nacional, mas Bolsonaro venceria em Estados de peso, levando todo o Sul, o Centro-Oeste e o Sudeste (exceto MG), além dos menores Estados do Norte.

Na semana após o 1.º turno, manifestações de xenofobia por influencers bolsonaristas apareceram, direcionadas ao Nordeste. No argumento, a região, apesar de sustentada pelo resto do País, teria o poder de escolher o presidente contra a vontade das regiões que a sustentam financeiramente.

E se a cara do bolsonarismo derrotado for essa? Matteo Salvini, o putinista próximo de Bolsonaro, ascendeu na Itália como líder do Lega Nord, partido cuja plataforma é basicamente a separação entre a parte rica e a parte pobre do país. Lá, é o Sul a parte indesejada. Sua força é tanta que Salvini chegou ao poder, mesmo com uma votação mínima em parte do território.

Veríamos crescer uma agenda anti-impostos, e também por maior autonomia dos Estados brasileiros. Para que pudessem legislar, por exemplo, sobre Direito Penal (ex: redução da maioridade). Argumentariam que conseguiriam desta forma implementar a pauta desejada pelos eleitores locais que foi bloqueada pelos nordestinos. Veja que o bolsonarismo pode perder a Presidência mas ter eleito vários governadores.

Ray Dalio, megainvestidor americano, estimou recentemente haver 30% de chance de uma guerra civil nos EUA nos próximos anos. Entre as causas, a polarização eleitoral.

É possível imaginar um cenário em que um Bolsonaro derrotado desembarque de seu partido, que migra para o centro, e se reorganiza com sua base mais fiel em uma nova agremiação – retomando um projeto como o da criação do Aliança pelo Brasil. Que pautas o engajariam? Afinal, haveria um limite para o medo na temática de costumes depois que Lula for eleito e não fechar igrejas etc. Salvini e a Lega Nord parecem uma inspiração natural.

O Brasil caminha, como teme Dalio, para uma maior tensão em relação à sua federação?

Esta pode ser a nossa 1.ª eleição em que o vencedor dos votos totais não vence no colégio eleitoral. É, evidentemente, apenas um exercício: ao contrário dos EUA, não há colégio eleitoral no Brasil.

Lá, cada Estado tem um peso e quem ganha em cada um leva o Estado inteiro (tanto faz o tamanho da margem de vitória). É assim possível virar presidente sem ter a maioria do eleitorado nacional. Aconteceu com Trump, porque Hillary tinha uma votação muito concentrada em alguns Estados populosos.

Jair Bolsonaro, candidato à reeleição à Presidência da República; após o primeiro turno, bolsonaristas fizeram declarações contra nordestinos  Foto: Nelson Almeida/AFP

Lá, o resultado expressa uma divisão entre urbano e rural. E aqui? Pelas pesquisas, Lula vence a votação nacional, mas Bolsonaro venceria em Estados de peso, levando todo o Sul, o Centro-Oeste e o Sudeste (exceto MG), além dos menores Estados do Norte.

Na semana após o 1.º turno, manifestações de xenofobia por influencers bolsonaristas apareceram, direcionadas ao Nordeste. No argumento, a região, apesar de sustentada pelo resto do País, teria o poder de escolher o presidente contra a vontade das regiões que a sustentam financeiramente.

E se a cara do bolsonarismo derrotado for essa? Matteo Salvini, o putinista próximo de Bolsonaro, ascendeu na Itália como líder do Lega Nord, partido cuja plataforma é basicamente a separação entre a parte rica e a parte pobre do país. Lá, é o Sul a parte indesejada. Sua força é tanta que Salvini chegou ao poder, mesmo com uma votação mínima em parte do território.

Veríamos crescer uma agenda anti-impostos, e também por maior autonomia dos Estados brasileiros. Para que pudessem legislar, por exemplo, sobre Direito Penal (ex: redução da maioridade). Argumentariam que conseguiriam desta forma implementar a pauta desejada pelos eleitores locais que foi bloqueada pelos nordestinos. Veja que o bolsonarismo pode perder a Presidência mas ter eleito vários governadores.

Ray Dalio, megainvestidor americano, estimou recentemente haver 30% de chance de uma guerra civil nos EUA nos próximos anos. Entre as causas, a polarização eleitoral.

É possível imaginar um cenário em que um Bolsonaro derrotado desembarque de seu partido, que migra para o centro, e se reorganiza com sua base mais fiel em uma nova agremiação – retomando um projeto como o da criação do Aliança pelo Brasil. Que pautas o engajariam? Afinal, haveria um limite para o medo na temática de costumes depois que Lula for eleito e não fechar igrejas etc. Salvini e a Lega Nord parecem uma inspiração natural.

O Brasil caminha, como teme Dalio, para uma maior tensão em relação à sua federação?

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